Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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“La Casa de Papel”, segunda temporada: crítica brasileira não quer entender a série, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Enquanto a crítica europeia sobre a série da TV espanhola “La Casa de Papel” (2017) é diversificada, a crítica brasileira da mídia corporativa rejeita em bloco a produção do canal Antena 3. “Arremedo de Tarantino”, “série absolutamente ridícula” etc. dão o tom, enquanto para os espectadores brasileiros a série se transformou em um fenômeno. Os críticos da grande mídia descontextualizam a atual safra de produções espanholas que tematizam as consequências sócio-econômicas da crise do euro e da especulação financeira no país, para ficarem no confortável discurso do “gosto ou não gosto”, tomando como termo de comparação para análise os próprios clichês que Hollywood faz das produções fora do seu eixo. Principalmente na segunda temporada, a série assume o manifesto político contra o rentismo, a especulação e o fetichismo do dinheiro. Talvez porque seus patrões também sejam rentistas, os críticos tentam exorcizar de “La Casa de Papel” o fantasma do mal-estar que paira sobre a Globalização: com a financeirização, as fronteiras entre legal e ilegal, crime e virtude ou bem e mal desapareceram.  

Que o Brasil sempre foi subserviente à geopolítica dos países hegemônicos acima da linha do equador, isso nunca foi uma novidade. Está aí o recente golpe político que retirou o País de vez dos BRICS para jogá-lo de volta à condição de nação sub-industrializada e exportadora de commodities (produtos primários de baixo grau de transformação).

Porém essa subserviência e dependência parece que vai mais além e se incrusta na própria crítica cultural de arte, cinema e TV. Primeiro pelo ranço e má vontade contra qualquer produção fora do eixo hollywoodiano, independentes norte-americanos ou diretores europeus queridinhos da crítica cujas produções atraem os grandes distribuidores internacionais.

E quando uma plataforma de streaming como Netflix disponibiliza produções fora desse eixo, a má vontade se manifesta duplamente: além do ranço, a má vontade de uma produção em uma plataforma que ameaça da hegemonia da mídia corporativa nacional como Grupo Globo  et caterva.

Ranço e má vontade tão grandes que acabam descontextualizando a produção televisiva e cinematográfica. O que resulta em análises de filmes e séries a partir dos clichês do repertório fílmico da crítica – geralmente os clichês que Hollywood cria para ver produções fora do seu eixo de dominação.

 

Descontextualizando “La Casa de Papel”

O melhor exemplo é a recepção da crítica brasileira, principalmente da grande mídia, à série espanhola La Casa de Papel (2017). Enquanto na Espanha e no restante da Europa, há uma diversidade da crítica, ao contrário, no Brasil é flagrante como a crítica da mídia corporativa cerra fileiras contra a série. Certamente porque é uma atração de uma plataforma ameaçadora ao monopólio dos grupos de mídia nacional – aliás, modus operandi por essas plagas: qualquer produto Netflix será cercado por “entretantos” e “poréns”. Isso quando não se parte para a tentativa de destruição total. Como no caso de La Casa de Papel.  

“Arremedo de Tarantino”, “inspirada em filmes de assalto”, “série absolutamente ridícula”, “personagens absolutamente ridículos”, “mesmice com grife”, “compêndio do cinema policial-aventuresco para pessoas de 14 anos”. Essas são as críticas respectivamente de Folha de São Paulo, O Globo e UOL, críticas de jornalões, portais e blogs pertencentes a grandes grupos de mídia.

 Enquanto a crítica acaba concentrada na falsa questão se a série é “boa ou ruim” ou no “ gosto ou não gosto”, passa batida pela principal mensagem do argumento da série: La Casa de Papel não é uma mera estilização ao estilo Tarantino de Cães de Aluguel, ou um jogo entre polícia e bandido – reflete o mal-estar de um país com a globalização (cuja submissão dos países ao Euro é um capítulo), expresso pelos altos índices de desemprego e o movimento separatista da Catalunha.

Em postagem anterior sobre a série (clique aqui), discutíamos como La Casa de Papel é mais uma produção audiovisual espanhola recente que reflete a realidade sócio-econômica do país: o desemprego, a perda dos direitos sociais e a falta de perspectivas de toda uma geração.

 

Sem mocinhos ou bandidos

Das produções recentes sobre esse mal-estar espanhol, a série do canal Antena 3 é a mais contundente ao propor que no momento atual é impossível delinear a fronteira entre os mocinhos e os bandidos – como pensar a ilegalidade dos golpistas e falsários quando o próprio sistema global se funda na fabricação arbitrária de papéis, títulos, moeda e crédito? E mais: com as bênçãos de governos e grandes agências classificadores de risco como Moody’s, Standard & Pool e Fitch.

Na primeira temporada da série, a narrativa ficou mais concentrada no jogo de xadrez entre o Professor e a inspetora Raquel Murillo. O Professor, o cérebro que por meses planejou milimetricamente o que seria “o maior assalto da História”: invadir a Casa da Moeda da Espanha, fechar-se lá dentro com os reféns e imprimir mais de dois bilhões de euros, sem matar ninguém ou dar prejuízo aos contribuintes.

Simplesmente imprimir papel, assim como os governos fazem (“injeção de liquidez”) para salvar bancos insolventes, como ocorreu na crise de 2008. Só que dessa vez toda a liquidez impressa iria para um grupo de assaltantes com vidas miseráveis. Vidas arruinadas pela financeirização que tira a riqueza sociedade para dar ao sistema especulativo. 

 

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

30 Comentários

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    1. Fraquìssima?Se vc assistiu
      Fraquìssima?Se vc assistiu até o final é porque gostou neh??
      Estão com inveja do sucesso Wilma e esta sendo.

  1. Belas mensagens

    A cena com o hino antifascista “Bella Ciao” já é um clássico. Jamais esquecerei!

    Bella Ciao Questa mattina mi sono alzatoO bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciaoQuesta mattina mi sono alzatoE ho trovato l’invasor O partigiano, portami viaO bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciaoO partigiano, portami viaChé mi sento di morir E se muoio da partigianoO bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciaoE se muoio da partigianoTu mi devi seppellir E seppellire lassù in montagnaO bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciaoE seppellire lassù in montagnaSotto l’ombra di un bel fior E le genti che passerannoO bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciaoE le genti che passerannoMi diranno: Che bel fior! E quest’ è il fiore del partigianoO bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciaoE quest’è il fiore del partigianoMorto per la libertà E quest’è il fiore del partigianoMorto per la libertà  Querida, Adeus Uma manhã, eu acordeiOh, querida, adeus, querida, adeus, querida, adeus, adeus, adeusUma manhã, eu acordeiE encontrei um invasor Oh, membro da Resistência, leve-me emboraOh, querida, adeus, querida, adeus, querida, adeus, adeus, adeusOh, membro da Resistência, leve-me emboraPorque sinto que vou morrer E se eu morrer como um membro da ResistênciaOh, querida, adeus, querida, adeus, querida, adeus, adeus, adeusE se eu morrer como um membro da ResistênciaVocê deve me enterrar E me enterre no alto das montanhasOh, querida, adeus, querida, adeus, querida, adeus, adeus, adeusE me enterre no alto das montanhasSob a sombra de uma bela flor Todas as pessoas que passaremOh, querida, adeus, querida, adeus, querida, adeus, adeus, adeusTodas as pessoas que passaremMe dirão: Que bela flor! E essa será a flor da ResistênciaOh, querida, adeus, querida, adeus, querida, adeus, adeus, adeusE essa será a flor da ResistênciaDaquele que morreu pela liberdade E essa será a flor da ResistênciaDaquele que morreu pela liberdade  

     

  2. Belas mensagens

    A cena com o hino antifascista “Bella Ciao” já é um clássico. Jamais esquecerei!

    Bella Ciao Questa mattina mi sono alzatoO bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciaoQuesta mattina mi sono alzatoE ho trovato l’invasor O partigiano, portami viaO bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciaoO partigiano, portami viaChé mi sento di morir E se muoio da partigianoO bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciaoE se muoio da partigianoTu mi devi seppellir E seppellire lassù in montagnaO bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciaoE seppellire lassù in montagnaSotto l’ombra di un bel fior E le genti che passerannoO bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciaoE le genti che passerannoMi diranno: Che bel fior! E quest’ è il fiore del partigianoO bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciaoE quest’è il fiore del partigianoMorto per la libertà E quest’è il fiore del partigianoMorto per la libertà  Querida, Adeus Uma manhã, eu acordeiOh, querida, adeus, querida, adeus, querida, adeus, adeus, adeusUma manhã, eu acordeiE encontrei um invasor Oh, membro da Resistência, leve-me emboraOh, querida, adeus, querida, adeus, querida, adeus, adeus, adeusOh, membro da Resistência, leve-me emboraPorque sinto que vou morrer E se eu morrer como um membro da ResistênciaOh, querida, adeus, querida, adeus, querida, adeus, adeus, adeusE se eu morrer como um membro da ResistênciaVocê deve me enterrar E me enterre no alto das montanhasOh, querida, adeus, querida, adeus, querida, adeus, adeus, adeusE me enterre no alto das montanhasSob a sombra de uma bela flor Todas as pessoas que passaremOh, querida, adeus, querida, adeus, querida, adeus, adeus, adeusTodas as pessoas que passaremMe dirão: Que bela flor! E essa será a flor da ResistênciaOh, querida, adeus, querida, adeus, querida, adeus, adeus, adeusE essa será a flor da ResistênciaDaquele que morreu pela liberdade E essa será a flor da ResistênciaDaquele que morreu pela liberdade  

     

  3. Já que os críticos
    Já que os críticos brasileiros estão falando que a série é ruim e tal, pq eles não fazem uma melhor, pq tds as séries e filmes que eu já vi de autores brasileiros nenhuma prestou, ai quando vem uma série boa eles vem falar mal a pelo amor de Deus, fazem melhor então…

  4. Mas claro que a crítica vai
    Mas claro que a crítica vai falar mal, ainda mais a brasileira onde a nossa casa de papel e roubada todos os dias pelos trabalhadores do planalto.

  5. Excelente matéria!

    A maioria dos críticos fazem exatamente isso com séries e filmes que não hollywoodianos.

    Parabéns pela matéria.

  6. La Casa de Papel
    Assisti a primeira é a segunda temporada e o filme é ótimo.
    Espero que lancem outros filmes. Por favor…não liguem para estes idiotas que só gostam de assistir o Pablo VOMITAR. Kkkkkkkkkkk

      1. Isso não é homofobia.
        Isso não é homofobia. Homofobia seria se se defendesse que não se pode ver um show ou ouvir música de um transformista, o que não foi o caso. Ele só canta mal mesmo! Não chega aos pés de um Cazuza ou Fred Mercury.

  7. Até agora foi a única série do Netflix que vi

    até o fim. Foi meu filho de 25 anos que me indicou. Gostei muito.

    E na verdade, se eu subesse que os “críticos” dos ex-FSP e consorte não gostaram, aí que eu ia fazer questão de ver!

  8. Bella ciao
    Cara, não é uma seria nota 10, não é nota 9, não é nota 8 (friamente falando), mas é muito boa e eu fiquei muito satisfeito de ter assistido.

    Eu acho que devemos apoiar essas produções estrangeiras (não americanas) para que eles façam melhor… Aliás, fazemos parte desse grupo aos olhos da Netflix.

  9. La casa de papel
    A melhor série do momento, viciante, ótimos personagens, não foi feita em Hollywood e daí, temos que valorizar um trabalho, principalmente se foi feito fora da caixinha, já assisti toda e não possuo Netflix. Recomendo. Que venham as produções de Bollywood.

  10. La casa de Papel
    Não vou e nunca fui na onda de críticos, gosto é de cada um, se para eles (criticos) é ruim…eé uma opiniao deles…na minha opinião “La casa de papel” é simplesmente fantástico…assistiria o 3 o 4 o 5 o 6 e por ai vai…

  11. Se o Brasil não gostou é
    Se o Brasil não gostou é porque a série é ótima, amei série perfeita. O Brasil nunca terá uma produção tão boa quanto. acho que tá passando até o nível de muitas Hollywoodianas e aprendam, se os críticos do Brasil não gostam é porque é bom foda se…uma das Melhores séries que eu já vi! Queremosas temporadas ❤️

  12. A série é de fato muito ruim,
    A série é de fato muito ruim, independente de onde foi feita e em que canal é transmitida! A história não é ruim, mas alguns personagens são surreais, por tudo a perder por “amor” ou a policial encarregada pelas negociações não suspeitar das atitudes de uma pessoa que ela não conhece se aproximar dela naquelas circunstâncias e esta também morar com a própria mãe e não saber que a mesma tem Alzheimer e o bandido ainda dizer que está se apaixonando pela policial são coisas incompreensíveis naquele contexto! Pior que novela da Globo, falta cultura em quem disser que esta série é boa.

  13. Clichê
    “Se os brasileiros gostaram é pq é ruim….”
    Concordo com todas as críticas,a série não mostra nada de diferente nem significativo… só ter um pouco de cérebro pra perceber os furos do roteiro…chega a dar preguiça!
    Imitação fracassada das produções de Hollywood!
    Acho que a Netflix deveria investir em produções mais inteligentes,já que aumentou o valor da mensalidade!

  14. Lá Casa de Papel
    Ótima série, criticar e muito fácil, ficar de mínimo também. Para os críticos que nem de série entendem, antes de criticar, tem que ir lá e fazer melhor. Senão, nem se apresenta. O Brasil está muito longe de chegar perto do nível dessa série, só despeito da crítica, gente idiota.

  15. Sem dúvida a melhor serie que
    Sem dúvida a melhor serie que ja ví.Imprevisivel instigante e absolutamente perfeita.Por enquanto não há outra serie a altura de la casa de papel.Deveriam vir mais temporadas.

  16. A segunda temporada já está
    A segunda temporada já está disponível em torrent, mas na Netflix só no mês que vêm… Netflix ta parecendo a tv antiga agora. Tá perdendo pra ela mesma. Em fim, a série é boa, e a Tokio me irrita por não conseguir seguir ordens bestas.

  17. Miopia
    Série com os policiais mais cegos do planeta, granadas que incendeiam ao invés de fragmentar, ninguém acerta uma pessoa numa moto e ela consegue entrar no prédio, trocas de tiro que se baseiam em segurar o gatilho até acabar enquanto o outro se esconde, parar pra recarregar, se esconder e continuar atirando no padrão mais bizarro possível, policiais com escudos e pistolas não conseguem segurar o escudo balístico e atirar ao mesmo tempo, personagens meio bobos, é uma disputinha de poder chata em que em 1 segundo um aponta uma arma pro outro e quase se matam e no outro estão cooperando. Pelo menos ela teve fim, diferente de Mr. Robot, Shooter e outros lixos.

  18. A série é uma obra-prima. Aceitem!

    Sinceramente, dane-se a crítica! Quem se importa? O que importa é que 99% das pessoas que assistiram amaram a série. Pra mim, ela é uma obra-prima. Tem alguns furos de roteiro, mas nada que tire a beleza da série como um todo. Sem contar que o final é espetacular! Fiquei com medo de me decepcionar, mas não, felizmente.

  19. Cadê o FORA TEMER?

    Só faltou a hashtag #LulaLivre no final desse texto. A série é boa (não é excepcional), mas essa tentativa de politizar tudo, até mesmo um programa de TV, como visto nessa resenha, é risível. Se por um lado, a “crítica” brasileira não quer entender o seriado, por outro não significa que toda essa baboseira esquerdista compreenda bulhufas do que ela se trata. Os bancos são tão bandidos quanto os sequestradores, todo mundo quer uma grana e ninguém tá ali pra dividir a riqueza com os pobres. Ponto. O resto é mimimi.

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