Lula e FHC, a esperança do Pacto de Moncloa brasileiro, por Luis Nassif

Será a última oportunidade para a geração das diretas legar um país minimamente viável para as novas gerações

Reprodução Twittter @LulaOficial

Na resistência a Bolsonaro, o fato político mais relevante dos últimos tempos pode ter sidoi a aproximação entre Lula e Fernando Henrique Cardoso. Os próximos lances mostrarão a profundidade (ou não) desse movimento. Seria a reedição do faroeste “Os Imperdoáveis” na política brasileira. Dois velhos companheiros, depois adversários políticos, responsáveis pela grande travessia pós-ditadura, esquecendo mágoas acumuladas, em nome do grande desafio de salvar o país.

Na saída da ditadura, FHC deu uma feição civilizada a uma centro-esquerda que foi gradativamente descambando para a direita quando Lula ocupou o espaço  da social-democracia com o PT. Lula deu régua e compasso para movimentos sociais e sindicalistas que encaminharam a disputa para o campo político.

Poderia ter saído dali uma democracia estabilizada, dentro do modelo europeu pré-2008, com movimentos pendulares à esquerda ou direita, sem fugir muito do centro.

Tiveram seus erros. Nas crises da redemocratização, em muitos momentos a auto-suficiência impediu pactos de governabilidade que poderiam ter impedido que o monstro da intolerância escapasse da jaula. Foram incapazes de prevenir a radicalização, o PSDB estimulando o golpe, o PT incapaz de defender-se e à democracia. De parceiros das diretas tornaram-se inimigos radicais.

Agora, é hora do pacto, ainda que tardio.

Em um país com a mais medíocre geração de homens públicos da história, sem que Congresso, Judiciário, Forças Armadas, sindicatos, partidos políticos consigam entender seu novo papel, em um mundo pulverizado por bolhas e radicalismo, é hora da volta dos “Imperdoáveis”.

Não há muito tempo mais. O país enfrentou muitas ditaduras, golpes, nada que se equiparasse ao quadro atual, de ameaça concreta de cair nas mãos do crime organizado, da mais total anarquia, uma reedição dos Trujillo colocando em risco o próprio projeto de Nação.

Do velho PSDB restaram poucas figuras referenciais. Não há espaço para o passado barra-pesada de Serra e Aécio, nem para a ambição desmedida de Dória. Mas resta, entre outros, a figura simbólica do senador Tasso Jereissati, que poderia ser o representante político de FHC no futuro pacto.  Do lado do PT, há um enorme desafio de arejar o partido e abrir espaço para figuras novas. 

Nos dois lados, há as figuras simbólicas de ambos e a liderança inquestionável de Lula.

Recentemente, em entrevista ao GGN, José Genoino explicitou uma estratégia de radicalização do discurso político – e que não se confunda o termo com nenhum chamamento às armas, mas o endosso a teses econômicas e políticas mais ousadas, como tributação de fortunas, reforma agrária e outros temas esquecidos da social-democracia. Deu como exemplo o caso peruano, em que uma candidata da esquerda clássica alterou o discurso, para conquistar o centro, e jogou a insatisfação popular nas mãos de um candidato jurássico fundamentalista.

Daí – segundo ele -, a importância de reaproximar o PT das bases perdidas e montar um grande arco de esquerda, dentro do lema, “ninguém manda, ninguém veta”.

De qualquer forma, seria um posicionamento de partido, visando se colocar no segundo tempo do jogo, que será a ampliação do pacto político, ante a ameaça concreta do bolsonarismo.

Há muitos desafios pela frente, o maior dos quais é o de superar as mágoas recíprocas, acumuladas em um período em que disputas políticas se tonaram guerras encarniçadas.

Será a última oportunidade para a geração das diretas legar um país minimamente viável para as novas gerações.

Luis Nassif

7 Comentários

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  1. Nassif

    Para ver um cabedal de medidas econômicas e políticas mais ousadas que resultaram na social-democracia europeia, é essencial ler/debater aquelas apresentadas pelo economista francês Thomas Piketty no seu livro “Capital e Ideologia (2019)”.

    Não é preciso reinventar a roda, mas é fundamental conhecer a experiência histórica europeia e norte-americana, como primeiro passo para querer aplica-la no Brasil.

    Conceitos como “Propriedade Pública, Propriedade Social e Propriedade Temporária” deveriam ser divulgados para a sociedade brasileira.

    Quem se habilita? Deposito minhas esperanças no Jornal GGN.

  2. Duvido.

    O boçalnaro REPRESENTA, sim, o mercado. Não é só olho no que resta de patrimônio a ser privatizado, não, são devotos da tortura e do assassinato, sim, assim como de outras ideologias antissociais.

    O PSDB nao assume mais a cabeça da chapa da direita, ainda mais com o fim do financiamento empresarial.

  3. É só o bozo avançar na vacinação e uns 4 meses antes da eleição relançar o auxílio de R$ 600 que a reeleição estará no papo.
    Não tem para ninguém.
    E isto vai ser nossa desgraça e das futuras gerações.

  4. Às vezes, parece que Bolsonaro, os militares,a s polícias, as milícias e parte do emrpesariado e agornegócio estão à beira de concretizar um golpe com tanques e violência, tudo pronto para ser ativadoa qualquer instante. às vezes, parece que isso é ilusão que na verdade, a chance dessa galera apoiar um novo golpe de 64 é muito distante, pois é uma geração covarde, que tem medo de radicalizar, tem vergonha de ser comparada aos apoiadors de 64. Afinal, em que estágio estamos? Há como saber? Os militares não apoiaram o golpe (que bolsoanro queria ter realizado ontem se pudesse) porque não concordam com ele, querem dmcoracia (ainda que mitigada)? Não apoiaram porque temem no que pode dar a radicalização? Ou querem e apoiam mas acham que o momento oprtuno ainda está sendo cosntruído?

  5. “Há muitos desafios pela frente, o maior dos quais é o de superar as mágoas recíprocas”.
    Você se engana, Nassif. O maior obstáculo sempre foi a arrogância hegemônica de Lula.
    Você alimenta essa idolatria:”liderança inquestionável de Lula”. Liderança de quem ?
    A saída seria todos os democratas sentarem à mesa. Mas uma mesa sem cabeceira. E com Lula isso não é possível e você sabe muito bem disso.

  6. Verdade, Marcos. O Lula poderia pedir uma campanha as avessas e solicitar que ninguém vote nele, seria no mínimo criativo. Lula ficou quase 2 anos presos e ninguém conseguiu ocupar o seu espaço, ele voltou e já aparece a frente naspesquisas. Faça uma análise mais coeerente com a reliadade e esqueça o que seria a sua vontade.

  7. “Arejamento do PT”? E onde está o mesmo “arejamento” do PSDB? Com TASSO?

    Todas as lideranças do PT foram perseguidas. Lula, Genoino, Dirceu, Delubio. Escaparam Gleisi, Pimenta, quem mais? Haddad também sofre perseguição mas representa o novo no PT, embora já tenha sido chamado do maior PSDBista do PT.

    Concordo com Genoino, o PT precisa de uma guinada a esquerda, porque o centro não o respeita.

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