Militar admite que atuou nas negociações de venda de vacina por Dominghetti

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Coronel da reserva Helcio Bruno Almeida, de instituto bolsonarista, organizou encontro de Dominghetti com o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco. Em nota, admite que intermediou conversa

Foto: Reprodução Youtube

Jornal GGN – O encontro em que o vendedor de vacinas, Luiz Paulo Dominghetti, o executivo da Davati, Cristiano Carvalho, e o reverendo Amilton Gomes de Paula, da Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários) ofertaram 400 milhões de doses da AstraZeneca ao secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, no dia 12 de março, foi viabilizada e organizada pelo coronel da reserva Helcio Bruno Almeida.

A conexão de Helcio com os integrantes do governo vem do meio militar. Ele é o presidente do Instituto Força Brasil, que defende bandeiras bolsonaristas de extrema-direita (armamento, desqualificação das eleições digitais e o tratamento precoce da Covid-19).

Em seu depoimento à CPI da Covid, Dominghetti afirmou que Helcio Almeida foi quem viabilizou o encontro com o secretário-executivo da pasta no início de fevereiro e que ele tinha acesso a Elcio Franco, “por ele ser dos comandos”.

Em nota, o Instituto Força Brasil tentou se defender das acusações mas, ao mesmo tempo, acabou admitindo que interferiu sobre o encontro para a negociação de compra das vacinas.

“Conforme protocolo do Ministério da Saúde (MS), qualquer negociação decorrente da audiência solicitada pelo IFB no dia 12 de março último, deveria ser realizada, diretamente, entre o MS e o Laboratório Fabricante das Vacinas (Astrazeneca ou Johnson & Johnson), sem intermediários”, escreveu Helcio.

Nesse sentido, justificou que as negociações não deveriam envolver nenhum entidade externa, somente os laboratórios oficiais e a pasta da Saúde, “sem intermediários”, como diz a nota.

Mas continuou: “A Distribuidora [Davati] argumentava que tais dados [comprovação de que representava o laboratório de vacinas] somente poderiam ser repassados ao Laboratório Fabricante, mediante uma manifestação de interesse do MS à DAVATI, que não ocorreu.”

A explicação ocorre porque a Davati tentava buscar junto ao governo Bolsonaro uma carta de intenções de aquisição das vacinas e, somente então, iria procurar o laboratório para fazer essa intermediação, e tentaria obter dele [neste caso a AstraZeneca] a comprovação que o governo solicitava de que a Davati seria a representante oficial da venda da vacina.

Neste imbróglio, o Instituto ainda confirmou a sua intervenção e influência nos processos de negociação: “A cooperação do IFB residia na possibilidade de que o mercado brasileiro fosse atendido por uma expressiva quantidade de vacinas, em curto prazo, e que este número seria suficiente para alcançar, inclusive o Setor Privado (objeto da audiência), aliviando a forte demanda do produto.”

“A reunião foi curta, encerrada, e não houve desdobramento para o IFB”, apontou, ainda.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador