Dos Novos Bahianos à Casa Fora do Eixo.

Achei muito interessante a entrevista do Bruno Torturra e Pablo Capilé no Roda Viva. Foi, no mínimo, uma atualização do vocabulário. Coletivo, plataforma, crowdfunding. Deu para entender o encantamento do Nassif com o “novo das redes sociais”, é bom ver uma nova geração enérgica, pensando e transmitindo suas ideias.

E essa energia foi o que principalmente despertou o meu interesse. Há uma nova geração pensante fazendo política pelas ruas.

Não aquela massa disforme das manifestações de junho meio que teleguiada pela grande mídia com garotos de vinte e poucos anos rasgando a bandeira do PT nos dentes e hostilizando qualquer representação de esquerda se dizendo “apartidários”. Não senhoras de classe média com cartazes pedindo “qualquer coisa padrão-FIFA” como se algum dia tivesse lhes faltado algo que fosse padrão FIFA – da escola particular dos filhos ao convênio médico com serviço de socorro por helicóptero – passando pelo segurança do condomínio vestindo paletó e gravata preta e a empregada uniformizada utilizando o elevador de serviço.

Como dizer de uma maneira gentil: “eles não nos representam”?

Aparentemente, conheça a sair das redes sociais e integrar a sociedade física uma nova geração com consciência social. Pergunto agora para aqueles do blog que têm idade para ter filhos cursando a faculdade:há quanto tempo não víamos isso? O MPL e o FdE são bons ventos disso. Com o MPL e o FdE alguns contornos começam a ficar mais nítidos. 

Feito esse enorme nariz de cera, vamos agora ao assunto do post.

O MPL não é novo, é o mesmo e benfazejo movimento estudantil, sempre vanguarda das causas que depois são adotadas pela sociedade como um todo.

O FdE? Em que o FdE ou os tais coletivos são diferentes dos Novos Bahianos e sua vida em comunidade. Em que moradas coletivas são diferentes do Solar da Fossa?

Quanto a Capilé, é um líder. Tal qual Nina Cappello e Lucas Monteiro de Oliveira do MPL são líderes. E isso é muito bom. Mas Capilé é um líder diferente. Algo entre carismático e messiânico. E messiânico é diferente de carismático. Todos os líderes têm um objetivo ao qual procuram incentivar e guiar o grupo a alcançar, mas o messiânico tem uma missão de vida.Vivendo na fina linha entre o mártir e o déspota, a missão é sua razão de existir e importa mais que o grupo e até que o líder. Não o ví assim no Roda Viva, porém, posts posteriores aqui no blog o retrataram assim. Não estranhe um certo desprezo pelos clássicos, algumas pessoas são tão encantadas com suas próprias idéias que podem transparecer que julgam que nada tenha existido antes dele. Capilé não me pareceu um artista e sim um organizador. Para pessoas assim,o show acaba quando começa. Talvez por isso o “desprezo com os artistas” denunciado pela cinesta Beatriz Seigner. Do mesmo modo, os artistas se preocupam com o preparador de palco? Mas ambos são necessários.

Capilé lembrou-me Ciro Gomes. Verborrágico e contundente. Nem aí é novo.

Quanto à forma de financiamento, parece clássica, subvenções públicas para a cultura e patrocínio privado. Crowdfunding? Um nome bonito para a velha “ação entre amigos”.

Trabalho escravo ou análogo à escravidão? Só se quem trabalha nos coletivos for impedido de deixá-los. Até lá, é trabalho voluntário. Em que difere dos trabalhos missionários das religiões cristãs? Direito autoral? Sem dúvida não está sendo respeitado. Mas sempre tive dúvidas se o padres-gatões-cantores da Renovação Carismática recebem algo ou se o dinheiro fica com a Igreja Católica. Aliás, a Igreja Católica reconhece direitos autorais das músicas religiosas que utiliza nas missas?

Aqui também o FdE não inova.

Na dúvida se Capilé é um líder messiânico ou não, é prudente que suas ações sejam analisadas com cuidado. Mas daí a chamá-lo de pilantra cabe antes apresentar provas ou pelo menos indícios fortes de que ele se locupleta com as atividades do FdE. Até porque o sucesso por si já não atrai solidadriedades e a postura pessoal de Capilé atrairá sempre muita crítica, uma boa parte por ciúme, se não inveja, outra por aversão ao discurso auto-referente.

Enfim, se no cenário aqui descrito nada é exatamente novo, ainda que muito bem vindo, o que nos causa surpresa na atuação do FdE e também do MPL?  A velocidade e abrangência que esses movimentos conseguiram com aparentemente tão poucos recursos. Ou seja, eles conseguiram desenvolver competência, expertise, no uso de algo que estava à disposição de todos e nem mesmo grandes empresas e grandes grupos de mídia conseguiram – o poder de mobilização das redes sociais.

Mas mais do que isso, o maior salto, saíram de lá e estão nas ruas. E estar nas ruas é ser real.

Virtual sou eu aqui acessando o home banking.

 

 

Luis Nassif

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