Nasser vê nova cooperação internacional na decisão da Inglaterra

Saída da UE não é isolamento, mas rearticulação do pensamento liberal à direita. Não perca hoje entrevista completa, às 18h, aqui no GGN
 
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Jornal GGN – “O Canal da Mancha é muito maior do que o Oceano Atlântico”, a frase antiga, relembrada pelo professor e internacionalista da PUC-SP, Reginaldo Nasser, serve para explicar a verdadeira relação que a Inglaterra tem, historicamente, com os países vizinhos e com os Estados Unidos. Em outras palavras, é muito mais fácil o Reino Unido fazer parcerias com a ex-colônia do que com as nações europeias à sua volta.
 
Em entrevista a Luis Nassif no programa Na Sala de Visitas, Nasser destaca ainda, que a decisão dos ingleses de sair da União Europeia aponta simplesmente para a antiga tendência do país de manter certa distância nos acordos locais, pontuando que, mesmo quando aceitou fazer parte do bloco a Inglaterra manteve sua moeda.
 
O que o mundo necessita observar agora, ressalta o professor, são os atores por trás do movimento que levou o Reino Unido a sair da União Europeia, mas não exatamente a população que votou ou os deputados que defenderam a separação, mas o grupo, invisível pra maioria de nós, que manipula as peças de xadrez. A partir desse estudo será possível discutir de forma mais clara os reais desdobramentos do plebiscito.
 
“Um sociólogo inglês chamado Erving Goffman, que escreveu na década de 50, comparava a política ao teatro, que se tem o palco, que é o que estamos vendo”, pondera Nasser. “O quadro de pessoas atrás da cortina não enxergamos, a menos ele queira se apresentar no final da peça”. 
 
O professor confessa que nem mesmo ele sabe com clareza dar essa resposta, mas levanta alguns pontos que podem ajudar, como, por exemplo, o fato do governo dos Estados Unidos não ter se manifestado contrário a decisão inglesa. Ele também destaca que nomes importantes da elite econômica financeira do Reino Unido também chancelaram a decisão. 
 
Porém o mais importante verificado por Nasser é uma aparente movimentação que aponta para uma nova forma de internacionalismo. Em outras palavras, a saída da Inglaterra da União Europeia não significa que o país está se isolando, mas sim que está pondo em prática uma nova forma de se internacionalizar, com tendências claramente liberais.
 
“O que está pintando aí é um racha do pensamento liberal, isso está claro, chamado internacionalismo liberal, que vem desde a década de 90 e entrou em crise. Tem setores mais a direita e alguém se desgarrou e está se articulando e acho que algo está se formando em torno disso, mais à direita”, conclui Reginaldo Nasser.
 
Quanto a um fim da União Europeia, o professor acha cedo demais falar nisso. Para ele o bloco entraria rapidamente em derrocada se nações mais importantes para o grupo, como França e Alemanha saíssem, porém ele não nega que há um movimento crescente nessa direção.
 
“[A saída da Inglaterra é uma sinalização na Europa pra vários grupos que estão se estruturando em torno disso e se valerão dessa votação”. Acompanhe entrevista completa hoje, na estreia da segunda edição do Na Sala de Visitas com Luis Nassif, nesta quarta (13), aqui no GGN, às 18h. 
 
Redação

4 Comentários

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  1. Vou indicar aqui algo que já

    Vou indicar aqui algo que já recomendei em comentário anterior, pois há muitas opiniões divergentes a respeito do que o Brexit significa (e muita confusão por parte da esquerda, diga-se). Não tenho teses categóricas a respeito; mas é preciso se abrir para as diversas opiniões. Cito e indico, para a reflexão:

    “The most effective propagandists of the “European ideal” have not been the far right, but an insufferably patrician class for whom metropolitan London is the United Kingdom. Its leading members see themselves as liberal, enlightened, cultivated tribunes of the 21st century zeitgeist, even “cool”. What they really are is a bourgeoisie with insatiable consumerist tastes and ancient instincts of their own superiority. In their house paper, the Guardian, they have gloated, day after day, at those who would even consider the EU profoundly undemocratic, a source of social injustice and a virulent extremism known as “neoliberalism”.

    The aim of this extremism is to install a permanent, capitalist theocracy that ensures a two-thirds society, with the majority divided and indebted, managed by a corporate class, and a permanent working poor. In Britain today, 63 per cent of poor children grow up in families where one member is working. For them, the trap has closed. More than 600,000 residents of Britain’s second city, Greater Manchester, are, reports a study, “experiencing the effects of extreme poverty” and 1.6 million are slipping into penury.”

    https://off-guardian.org/2016/06/26/why-the-british-said-no-to-europe/

     

    Por aqui, é revelador o editorial da Folha do oligarca “otavinho”, essa nulidade intelectual, sobre o Brexit:

    “David Cameron, o premiê conservador que enterrou a carreira com o plebiscito sobre a saída britânica da União Europeia, cometeu um grave erro de liderança. […]

    Os efeitos de médio e longo prazo do plebiscito, no entanto, dificilmente deixarão de ser prejudiciais ao crescimento do comércio e da atividade econômica no mundo, a começar do Reino Unido. Tudo isso porque um líder, que caminha para perfilar-se entre os piores na longa história de seu país, pôs-se no papel de aprendiz de feiticeiro.”

    De facto, Cameron, o aprendiz de feiticeiro, julgou que o poder da mídia neoliberal e das oligarquias políticas fariam o povo votar da “forma certa”. Deu errado. Essa história de deixar o povo decidir é complicado…

  2. Brexit

    ….Al contrario de lo que hoy escribe la prensa europea, el Brexit no afectará directamente a la City de Londres, o sea a la gran finanza. Dado su particular estatus de Estado independiente bajo la autoridad directa de la Corona, la City no ha sido nunca parte de la Unión Europea. Por supuesto, ya no podrá seguir siendo sede de algunas casas madres de empresas que tendrán que replegarse hacia los territorios de la Unión Europea. Pero podrá utilizar la soberanía de Londres para desarrollar el mercado del yuan. Ya en abril, la City obtuvo los privilegios necesarios para ello mediante la firma de un acuerdo con el Banco Central chino. Y también desarrollará sus actividades como paraíso fiscal para los europeos

  3. Há quem diga que a saída da

    Há quem diga que a saída da UE deu-se mais por iniciativa dos próprios conservadores mais empedernidos que por novos atores de direita, e que significa independência e não atrelamento para a Inglaterra (Reino Unido) em relação aos EUA. Os ingleses estariam a deixar a Europa a se contorcer sob a dominação financeiro-americana, e iriam à busca de novos horizontes mais realistas em relação ao novo xadrez da geopolítica global. São realistas e são pragmáticos bem mais que os americanos. Nesse sentido, parece ter uma importância que transcendeu em muito os comentários jornalísticos sobre a rudeza dos diplomatas asiáticos, o brinde que a Rainha e o Presidente Xi Jinping trocaram em banquete realizado em Londres ano passado. Parece que a City quer vantagens exclusivas no mundo ocidental, sobre a inserção da moeda chinesa no Ocidente. A Velha Ilha está em busca de novos caminhos, e nesta busca, deixar a UE não significa cair nos braços dos EUA, muito pelo contrário. Significa se afastar de um esquema dominado por americanos, para navegar com mais liberdade em busca de novos caminhos.    

  4. Perguntas

       O “internacionalismo liberal” , que vem desde Thatcher e Reagan, a globalização compulsória, a necessidade de um “europeismo” centrado em Bruxelas, terá se distanciado tanto das populações, que movimentos politicos nacionalistas, até mesmo extremistas, ao fornecerem respostas facilmete compreendidas, mas inexequiveis, ressuscitaram uma “direita” semelhante a dos anos 30 do século passado ?

        Qual espectro politico esta mais “confuso”, os liberais e neoliberais estamentais, ou as esquerdas em geral ?

        Como explicar que partidos extremistas de direita europeus, não importando a origem nacional, admiram Putin ?

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