Nosso erro analítico costumaz: a crença na onipresença controladora do Governo

Por Francy Lisboa

O texto do Nassif sobre o politicamente correto transformando-se em incorreto gerou saraivada de comentários que, no conjunto da obra, detectaram que o capitão do Blog parece ter deixado de fora alguns doutrinamentos sobre o que não se deve fazer. Lá ele lista coisas como não associar qualquer critica à Dilma como sendo de cunho machista (correto);  não atribuir a crise somente a mídia (correto). Mas, deveria ser acrescentado algo que, por não agradar ao autor, tenha passado desapercebido.

É sabido que pessoas sem qualquer relação natural, dissimilares em seu modo de atuar e perceber o mundo possam, em conjuntura excepcional, concordarem. A confluência de opiniões toma contornos bem extraordinários nesse momento de crise política e econômica em que vive o Brasil.

Pois bem, o espantalho maior do Governo Dilma para a dita blogosfera progressista, e aí incluo o próprio Nassif, é sem dúvida encarnado pelo Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Seu imobilismo vem reiteradamente sendo denunciado aqui e acolá, a ponto de ser bombardeado por todos os lados.

É óbvio que esse bombardeio tem motivações distintas, mas todos parecem confluir para a ideia generalizada de que o ser Governo é ter onipresença e controle absoluto sobre as ações de outras instituições, em especial as de investigação. Por exemplo, a oposição acusa Cardozo de aparelhar a PF em prol do Governo, quando da ação desta contra políticos adversários do Governo. Em outra ponta, a situação acusa Cardozo de ser leniente e deixar a PF correr solta demais, ao bel prazer do triste partidarismo que atualmente assola esta instituição que já foi referência maior da esperança brasileira.

Perceberam a confluência?. No nosso imaginário, no imaginário do brasileiro em geral, culpar o Executivo por tudo traz também a ideia de que as outras instituições, cantadas como pilares da Democracia, são, pelo menos em dada extensão, subjugadas pelo Executivo da ocasião, que não há ação sem aval de ministros e da presidente. A bem da verdade, tal situação parece com aquela em que pessoas acham possível predizer o comportamento de agentes públicos de prefeituras apenas usando a determinação federal.

Isso fica claro nos tempos atuais onde as investigações do MPF são vistas como orquestradas pelo Executivo. Sim, o MPF, instituto independente do Executivo, e nos tempos de PT muito mais.  A ira ensandecida do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, contra o Governo, logo depois de ser acusado de receber R$ 5 milhões em propina pelo delator Júlio Camargo, poderá encontrar ressonância, em especial naqueles que assumiram o antipetismo como modo de ser.

É fácil destrinchar os componentes dessa sopa, pelo menos aqueles cortados em cubos de maior dimensão. Mesmo o brasileiro dito despolitizado pode não cair inteiramente na tentativa de Cunha de associar toda investigação a um plano maquiavélico da búlgara escarlate objetivando evitar sombras golpistas.

Infelizmente a atitude de Eduardo Cunha, de Kim Kataguris da vida, Gentili et caverna, mesmo com objetivo, classe, e elegância visivelmente dissimilares, assemelha-se à nossa quando atribuímos poderes sobrenaturais ao Executivo, em especial ao ministro Cardozo e seu “dever” de controlar a PF. Daí vem a surpresa de muitos com o depoimento de Cardozo na CPI da Petrobrás onde ele respondeu com segurança e eloquência muito, mas muito dissimilares do quadro reiteradamente pintado por todos os legumes da sopa da análise política brasileira.

As vezes pergunto-me o que nós realmente queremos? Uma PF republicana, de fato autônoma, ou um órgão investigativo que deve necessariamente deixar de investigar pessoas ligadas ao Governo da hora? Resquícios de antirrepublicaníssimo são encontrados em textos onde o descontrole da PF é o mote principal. Compara-se muito a gestão do finado Thomaz Bastos com a do atual ministro e tenta-se colocar a ideia de que boa parte da crise seria resolvida por uma polícia controlada, não republicanamente infantil. Isso é plausível? É possível dentro de um ambiente onde todos querem fama e status e que o caminho mais curto, aparentemente, é acossar o petismo? Alguém acredita que o antipetismo dentro da PF, do chamado baixo clero, nunca esteve a postos durante a gestão Thomaz Bastos esperando um momento de baixa popularidade governamental?

Podem acusar – me de petismo, fanatismo, etc. Não há como controlar o julgamento das pessoas. Não há porque esforçar-me para parecer imparcial uma vez que isso não adianta, pois independe de nós. Mas convenhamos que  a sede pela imparcialidade trás consequências que poderiam ser evitadas. Não há critica a um fato envolvendo apenas a oposição em que não se encontre espaço para incluir Dilma e o PT.

A gestão Dilma tem elementos suficientes para que possamos criticar, mas não a ponto de, assim como o E. Cunha, transmitir, propagar a ideia do “basta que o Governo controle a PF”, criando-se a imagem de que qualquer investigação tem o dedo onipresente deste Governo que, via de regra, vem sendo acusando de deixar correr solto e fazer doer a quem tiver de doer.

Redação

9 Comentários

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  1. Não confundir inação com republicanismo.

    Entre defender a interferencia nas ações de agentes publicos e concordar com a omissão diante de excessos escandalosos, existe certamente uma posição em que quem tem poder e obrigação de comando está obrigado a atuar em respeito às suas atribuições e responsabilidades.

    Exemplos:

    1 – Quando uma meia dúzia de delegados aloprados resolvem invadir o escritório da Presidencia da República na Avenida mais famosa da principal capital, do principal estado do país, não me parece possível acreditar em republicanismo que me permita crer que não houve excesso na ação e intenções fora do regramento da corporação voluntariosa.

    2 – Quando esses mesmos agentes voluntariosos resolvem realizar dezenas de operações de afogadilho, com nomes espetaculosos e um dia resolvem denominar uma operação de “Operação do Fim do mundo”, ou “Que país é esse”, no meu entendimento, é passada a hora de que esses agentes de puliça sejam chamados pela autoridade competente para entender o que é o fim do mundo e que país e esse, na verdade.

    3 – Quando uma série de comportamentos inadequados, como vazamentos de informações, atitudes escandalosas de agentes em ataques à autoridades e manifestações públicas de preferencias politico partidárias, há que haver investigações mas, o publico que paga o salário dessa gente tem o direito de saber que os SUSPEITOS de pratica de atos inadequados foram afastados de suas funções enquanto seguem as apurações.

    4 – Quando um sujeito que se supõe tenha responsabilidade de chefia dessa voluntariosa tropa sente-se no direito de conceder entrevista a jornal de notória atuação partidária contra o Governo a que ele tem obrigação de servir, em respeito ao próprio Governo e ao povo que o elegeu e paga o seu salário, ele deve ser imediatamente afastado de suas funções até que se compreenda o que o motivou e quem o autorizou a assumir atuação política incompatível com as suas funções.

    Isso tudo é o mínimo que se espera para que tudo não vire uma casa de mãe joana onde Ministro do STF, procuradores e tudo que é “sub do sub” se achem no direito de fazer o que bem entendem e a população a que devem servir observe tudo, perplexa sem entender, e uma choldra se julgue no direito de desrespeitar qualquer princípio de civilidade e saia por aí cometendo crimes e barbaridades. Em todos esses quatro casos, e em tantos outros, faltou uma mínima manifestação da autoridade competente. Se não se presta para isso, Capitão Nascimento, Pede Pra Sair!!! Com a palavra a Dona Dilma.

  2. Que barafunda!

    “…a oposição acusa Cardozo de aparelhar a PF em prol do Governo, quando da ação desta contra políticos adversários do Governo. Em outra ponta, a situação acusa Cardozo de ser leniente e deixar a PF correr solta demais…”

    O próprio ministro, na sabatina ao qual foi submetido na cpi, apontou, ao que me parece também, uma certa esquisofrenia nisso tudo e eu, que andei tendendo a enxergar o Cardoso com certa desconfiança, vou colocá-lo em observação…

  3. VOCE  devem  saber que  um

    VOCE  devem  saber que  um possivel controle  de   Cardoso  a  policia federal  passa  por  demissao  do  superintendente e  de diretores  da pf   que  foram   recolocados  nos cargos  apos  a crise  no governo Lula  e Lula  a meu ver  acabou cedendo  as pressoes  e  temos  o  que temos  hoje na  PF. 

    É  impossivel para   qualquer ministro da justiça   manter   controle  na pf  sem  que  o  elementos  acima  citados  nao sejam de  sua  extrema confiança.  fora  isso  é   tudo conjecturas e  nao chegaremos  a  nada.  Mesmo que   o  Cardoso  quizesse  manter algum controle  sobre  a pf   o  superintendente  e  seus  direitores mafiosos  agiriam  por   baixo do  pano. 

    Isso  é comparado  a  UM  Presidente  onde  seus  ministros  sao todos  de oposiçao, por  acaso  eles  iriam  trabalhar  para que  o governo desse  presidente   fosse  bem sucesdido?  Clano que nao  

    A policia  federal  precisa realmente  trabalhar  com isençao ,  coisa  quase impossivel  de  acontecer  mais  pelo  menos  deveria  ser  o  mais  possivel  isenta  de  politicagem,  porem  ela  precisa  mais do que nunca de   sentir   que  tem  APOIO , que o  governo  assim como  a justiça  lhe  apoia   para  que ela  nao se  sinta  orgao  e  dominada  por  forças  ocultas que  acabam  prevalecendo.

    Uma  das medidas que o governo Dilma  deveria tomar  era  retirar  do  predio da  PF   os  serviços  secretos  americanos  colocado la  por  Fernando Henrique,  e  que  com  absoluta  certeza  vem   controlando  a  policia  federal, e que  comandos  que  deveriam ser  exercidos  pelo ministro da justiça  e feito  exatamente  pelo  serviço secreto  americano  no Brasil. 

    Portanto  se cobrar  somente  açoes do  ministro da justiça  é  pouco, muito pouco, tem  que  haver uma operaçao conjunta  onde  certos  setores  devem ser  afastados do convivio da  PF. 

  4. comentarios

    as vezes  esqueço de me logar  e  faço comentario  como  agora mesmo  e  por  nao  esta logado  fico sem saber se  ele  será publicado ou nao  ou  se foi  perdido.  alguem pode  me  explicar  

  5. Na minha opinião, que é minha

    Na minha opinião, que é minha mesmo, a distância entre a capacidade e sabedoria dos dois ministros, de Lula e Dilma, são quilométricas. Márcio Thomaz Bastos não fazia parte do quadro petista, e toda a sua história vinha das suas ações como advogado reconhecido, respeitado, que sabia se impor, e jamais teria sua gestão como ministro questionada. O momento era bem outro, se comparado ao que vimos acontecer na gestão de Eduardo Cardoso, que chega a ser ridículo muitas das vezes, achacado pela oposição e situação. Parece um quadro na parede. É o tipo que fica em cima do muro. Se por um lado não lhe cabe interferir na conduta de Sérgio Moro, e nem faria sentido, poderia, ao menos se mostrar indignado com os modos truculentos pelos quais a PF trata alguns. O caso Vaccari foi gritante, e inesquecível. Serviu de pauta a todos os jornais, inclusive os televisivos, sobretudo porque a PF ditou à imprensa a hora em que invadiria a casa do ex-tesouteiro do PT a fim de obter mais visibilidade, o que deveria ser ilegal, não apenas a forma com que adentraram a casa do homem, que não era foragido, nem levantava suspeita de sê-lo, mas, e sobretudo, por tornar aquela ação um mote para se auto-promover, o que jamais deveria ser prática de uma PF em qualquer lugar do mundo.

    Sempre citarei o caso dessa nvasão na casa de Vaccari porque ali ficou patente o abuso de poder da PF, sob todos os aspectos. Foi televisonada até mesmo a entrada dos policiais no quarto do homem, quando filmaram os policiais abrindo as suas gavetas.

    Como não questionar os atos da PF? Como não questionar os atos do Ministro da Justiça? No caso exposto acima, caberia, sim, ao ministro ter tomado uma posição, sem contestar as investigações, mas mostrando sua indignação, que é minha, de tratar aquelas circunstâncias como chefe da corporação, apontando os erros cometidos. Nessa linha, por que não questionar também a seletividade das investigações? Há modos e modos para um ministro falar a verdade. Certamente Márcio Thomaz Bastos teria outra postura.

    1. Não sei se Márcio Thomaz

      Não sei se Márcio Thomaz Bastos foi quadro petista oficial, mas soube que ele sempre militou junto ao PT e a alguns movimentos sociais. Não confere?

  6. AS CONSPIRAÇÕES E GOLPES CONFUNDEM MAIS OS QUE VIVEM DO PODER.

    O povo já é enganado diuturnamente, porém os que mais se enganam são os que são já inseridos no poder principalmente os que vivem das futricas do poder, o Nassif e muitos outros que nos informam e desinformam tão bem, também são vítimas das crises, pois elas são como feridas pequenas que não são tratadas a tempo. O PT repousou em acreditar na democracia direta, o povo me colocou ninguém me tira, errado, tira sim, a GLOBO coloca e tira a hora que quiser e do jeito que quiser, basta querer e não ter seus cofres irrigados com muita grana. Os blogs tem um ou outro parlamentar como informante, mas quando o assunto é o executivo, é uma rede de intrigas que se você não pedir a forças divinas não conseguem entender. O caso cachoeira, morreu assim como nasceu a margem de nenhuma informação. Ali estava a raiz e a pequena ferida do golpe, teve morte de PF, teve todos os ingredientes de uma conspirata, mas, e aí, a CPI foi “funeralmente” sepultada pelo PT. Então o governo não tem do que reclamar, parece que adora golpes e conspirações. Entender esse imbróglio é impossível, são tantos atores e tantas tramas que uma se misturam com a outras e outras se misturam com uma, e uma coisa é certa, já não existe mais GOVERNO POLÍTICO, só administrativo por enquanto, e uma coisa também e certo o GOVERNO ADMINISTRATIVO já sabe que são os conspiradores, porém precisa deles para manter o administrativo, o problema é que esse governo não governa mais como antes. Não pode controlar nada, absolutamente nada, então os conspiradores erraram em atiçar a onça com vara curta, a onça fingi de morta e deixam as hienas e urubus tomarem a vara e trucidar os conspiradores. Mas onça mesmo fingindo de morta come muitas presas e até raposas.

  7. O controle do governo sobre

    O controle do governo sobre as instituições que lhe são subordinadas tem que ser plausível, do contrário, é anarquia. Ninguém pede a intromissão de Cardozo no Judiciário ou no Legislativo, mas na corporação que está diretemante a ele subordinada. Meu chefe manda muito mais em mim do que o ministro no Ministério. Isso é administração, e não política. O ministro da Justiça é tão culpado do comportamento dos policiais na Lava Jato quanto no caso da cocaína que passeia de helicóptero. Quem não quer aceitar as agruras de ser chefe, deve reconhecer suas limitações e pegar o boné. O que não dá é para ser ministro e fazer doutorado ao mesmo tempo. Eu não consigo isso nem sendo assistente social.

    Como é que Dilma afastou um ministro por causa de uma porra de uma tapioca e o ministro não afasta policiais criminosos que instalam grampos ilegais? Como não afasta o Superintendente da PF no Paraná? Isso é irresponsabilidade com o interesse público. Investigação tem normas, procedimentos, critérios. Não há possibilidade de autonomia policial nos procedimentos adotados em uma investigação. Se um policial não cumpre os procedimentos, tem que ser afastado. Se a PF do Paraná convoca a Globo para as prisões, tem que ser punida porque vazamento é crime, como bem sabe o ex-policial Protógenes Queiroz. E não precisa esperar transitar em julgado para tomar as providências, porque policial não é inamovível, como juiz e promotor. 

  8. Ok, Francy, mas existe um

    Ok, Francy, mas existe um detalhe. A PF é constitucionalmente submetida ao ministério da justiça. Não existe soberania entre poderes, no que diz respeito ao governo e PF, como tem com executivo, judiciário (que inclui o MP), e legislativo. 

    A PF faz parte do executivo, ou deveria fazer. A rigor o governo pode interferir quantas vezes quiser. Como fazia o FHC que colocou Itagiba, um tucano de carteirinha, no comando. Mas claro que isso tem um custo político. Os governos petistas optaram por dar “autonomia” à PF, inclusive para cortar na própria carne. Foi uma opção política. Que até certo ponto rendeu dividentos eleitorais, com a classe média, principalmente

    Mas a partir do momento que voce abre mão da autoridade sobre a PF, o que está na constituição, voce abre brecha para  que a crise institucional comece a aprtir da sua casa. E nem precisa repetir a hsitória de deixar os delegados da Lava jato fazerem campanha para o Aécio, chamando a presidenta, a chefe do chefe, de anta.

    Basta imaginar que um delegado da banda petista (deve ter) cance desse carnaval tucano e resolva fazer a mesma coisa contra figuras do PSDB. Os petistas da PF (nem que sejam só meia-dúzia) dando o troco com abuso policial contra tucano. E aí onde essa zona vai parar, num orgão que deveria ser o braço (armado) da lei?

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