Economia e poder americano

Por Hugo Albuquerque

O capitalismo que dominou o mundo pós-soviético está centralizado na economia americana e, por conseguinte, nos dólares americanos. É um intrincado sistema global que, no entanto, possui um centro bem claro e definido.

Isso, sem dúvida dá um poder considerável aos EUA. Veja bem, poder considerável, não infinito; de Reagan para cá os EUA tem vivido bem além de suas possibilidades, mas foi no governo Walker Bush que eles ultrapassaram o limite.

Qualquer um sabe que o poder americano pós-soviético sobre bases políticas e não econômicas; os dólares em circulação pelo mundo somavam (e somam) um valor muito maior do que o da produção americana; seu valor se fundamenta no fato de que os Estados Unidos, por serem sido a única superpotência global, tinham força e credibilidade para manter a sua estabilidade.

Como país emissor da moeda de reserva mundial, isso dava um espaço de manobra muito grande; poder sustentar determinados déficits, posto que em caso de endividamento, eles estariam se endividando em sua própria moeda.

O que Bushinho não percebeu, no entanto, é que na medida em que ele endividava os EUA, o poder e a credibilidade de seu país caíam quase que na mesma proporção que a dívida subia; se são justamente a credibilidade e poder americano que sustentam o dólar, então quer dizer que ele aproximou o próprio país do fundo do poço fazendo as duas curvas se aproximarem.

É problema de fundamentos da economia; não acho que haja algum remédio doce para isso e não é um mero caso de reativação do crescimento mediante estímulos fiscais de natureza populista – como os muitos feitos pelo governo atual. A saída é seguir uma dieta rígida que possibilite políticas firmes de disciplina fiscal e monetária. Isso não será nada popular em um primeiro momento porque vai ser como um choque para uma população acostumada a viver em condições muito além do que ela pode sustentar, mas será uma atitude necessária e fundamental para o futuro, própria de um estadista – que não sabemos se Obama é ou não.

Se os EUA não derem um jeito para eliminar os déficits gêmeos, vão explodir; isso, claro, não será nada bom, porque os EUA estão para o sistema econômico global como o Sol está para o sistema solar; se ele explodir as consequências serão catastróficas e até os países/astros recuperarem seu equilíbrio, muita coisa vai se abalar severamente. E isso, sem dúvida, acabaria com o capitalismo por essas bandas da galáxia.

A saída, em um futuro não muito distante será a planificação econômica, mas a experiência soviética provou de maneira incontestável que isso é mais complicado do que parece e não poderá ser feita sem democracia e instituições republicanas fortes.

É um momento extremamente perigoso e interessante; mesmo que cismem em matar a História, ele teima em nos pregar peças….

Luis Nassif

11 Comentários

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  1. Tudo certo, menos num ponto:
    Tudo certo, menos num ponto: o poder americano advem igualmente da economia, mas também do poder de guerra. O maior perigo do desastre econômico americano é o seu poder de guerra.

  2. Sugiro como Excelentes
    Sugiro como Excelentes complementos ao artigo acima as discussões e debates à respeito da estrutura monetária mundial como relatada no documentário “Money Masters” ( facilmente encontrado no YouTube ), aqui alguns ex.s:

    http://br.youtube.com/watch?v=Cl7FGFjQOaI&feature=related

    http://br.youtube.com/watch?v=_seZd4oKxyE&feature=related à partir dos 7’30” ( 7min30seg ) ;

    http://br.youtube.com/watch?v=3n0wOvqRYLM&feature=related
    à partir dos 5’25” e

    http://br.youtube.com/watch?v=ixGeA_-ZQ4g&feature=related à partir dos 7’05”

    …Se interessar ( mesmo não sendo novidade ) veja o resto

    A grande pilantragem explicada: http://www.youtube.com/watch?v=7p4jvxWI4cE&feature=related entre 3’25’’ e 4’40” na teoria durante a década d 1910 ( como depois seria na prática e em detalhes reportada no livro cabeça d planilha d. L.Nassif – em ref. a eventos da economia Brasileira dos anos 1980-90 ) sobre como “ishpertush” bem posicionados ficam + ricos.

    Aqui um ex. das discussões q estão correndo à respeito: http://www.youtube.com/watch?v=7Mit2opDfP8&feature=related

    Assim como este artigo d Robert Kurz: http://obeco.planetaclix.pt/exit_projecto_teorico.htm

  3. Se a América do Norte cair,
    Se a América do Norte cair, como a muito vem sendo justificado por diversos teóricos, o capitalismo que conhecemos vai junto, e a Europa já vislumbra isso, com um empuxo a uma nova visão Capitalista, e gerenciada pelos Estados e/ou dirigentes dos blocos econômicos existentes, e que ão de surgir…

  4. Esse momento será visto no
    Esse momento será visto no futuro como a maior tranferencia de renda na forma de dívidas da história da humanidade. As empresas com capital aberto nas bolsas desvalorizaram-se em mais de 3 trilhões de dólares. Os programas de reativação da economia endividarão os governos junto aos bancos centrais em outros trilhões, através de uma ação coordenada dos grandes bancos norte americanos, onde o J.P.Morgan foi apenas um peão sacrificado.
    O FED terá poder absoluto sobre governo e cidadãos americanos falidos. Os movimentos de fusão dos bancos e a aquisição dos pequenos fundos e empresas descapitalizadas diminuirá ainda mais o topo da piramide no mundo capitalista. Os bancos centrais do G20 estarão unidos sob o comando do FED, mas os protagonistas serão o FED e o banco central chines (a China adota um capitalismo de estado, o estado é o Banco Central), que ditarão a nova ordem mundial. Mas as contradições do sistema estarão mais claras do que nunca. O conflito entre o sistema político totalitário (uma confluencia entre oriente e ocidente) que se implanta ao nível mundial e a ampliação das liberdades individuais, propiciada pela tecnologia será a próxima contradição a ser superada.
    É uma nova etapa do capitalismo, o topo visível do iceberg que é essa palhaçada da globalização.
    A situação do Brasil e da América Latina é ainda um mistério pra esse velho palhaço, depende da vontade do Grande Irmão, que anda meio esquecido da gente. Chaves&Cia.Ltda ME sobreviverão a 2009? E Lula, sobreviverá a 2010 e a um Banco Central independente?

  5. Creio que tudo depende da
    Creio que tudo depende da Política Econômica que vier a ser adotada, se o mundo optar pelo liberalismo econômico, as contradições se aprofundarão e certamente para corrigir o exageros do mercado, a concetração do poder será uma das alternativas, e as guerras são a mais forte expressão do uso desta saída para resolver as contradições.

    O fundamental agora é abandonar as práticas do liberalismo econômico e tentar guiar a economia mundial de maneira centralizada para evitar um confronto social em escala planetária.

    No Brasil é justamente isto que oposição ainda não entendeu. Acabou um livre mercado, mas não o mercado.

    Continuaremos a ter uma economia de mercado, só que com regulamentos, supervisão e fiscalização.

    A oposição já perdeu as bandeiras socias para o Governo do Presdidente Lula, agora está perdendo também as bandeiras dos principios da política econômica.

    Creio que precisamos promover uma distribuição de renda via estado enão via mercado.
    Passado o momento ctítico em que as instiuições do capitalismo estão abaladas, será possível voltar as práticas de mercado.
    O que precismo fazer depois é regular, sepervisionar e fiscalizar permamnentemente os mercados para evitar novos exageros.

    E não esquecer´que uma das funções do estado é esta mesmo a de intervir em momentos de crises agudas do sistema.

  6. Muito antes desta crise, que
    Muito antes desta crise, que expôs a fragilidade do sistema neoliberal norte-americano, Celso Furtado alertou para os riscos da estabilidade econômica mundial, dizendo que os EUA eram um gigante com pés de barro. Não precisava dizer mais nada. Bastou uma correnteza, um pouco mais forte, para derrubar o gigante. Não se acreditou, o resultado foi este. Não basta ser um império ou ter a maior força militar do universo para garantir a estabilidade econômica e social. Se não entenderem a situação tende a piorar e explodir, poderá ser o fim da Nova Roma.

  7. Sugiro leitura do livro “O
    Sugiro leitura do livro “O mito do colapso do poder americano” de Fiori, Medeiros e Serrano, professores da UFRJ (Ed. Record, 2008).

    As pesquisas deles fogem muito do senso comum que tanto profetiza um fim do poder norte-americano que a mim parece ser mais a manifestalção de um nosso desejo do que algo efetivamente comprovado. Eles mostram, pr exemplo, que em 70, a hegemonia dos EUA era muito mais questionada que hoje em dia e mesmo assim o que se sucedeu na década de 70 foram decisões unilaterais dos EUA que fortaleceram o dólar, levaram o mundo para a depressão e um enorme acúmulo e não decréscimo do poder americano. Com ápice no início da década de 90, pós queda do muro e pós guerra do Golfo.

    Além disso, mostram como os números atuais estão longe de comprovar um declínio da economia norte-americana e de sua hegemonia, pelo contrário,

  8. Ontem eu encostei minha
    Ontem eu encostei minha cabecinha numa bola de cristal e meus neurônios ativaram contatos com a mesma. E depois me comentaram:

    com a deflação aparecendo no horizonte o novo governo Obama vai imprimir papel verde e jogar de helicóptero para quem tem lobby em Uachintão;

    a quantidade impressa será só um pouco maior do que o índice de deflação, para recompor os preços;

    daí, a conta vai para quem tem verdinhas na carteira fora do Obamistão.

    Corolário: use pontes, não verdinhas, como a Giselle Bündchen !

  9. Nassif,
    Os déficits
    Nassif,
    Os déficits americanos não podem ser analisados como
    nos manuais de economia por causa do papel do dólar
    Os EUA possuem déficits desde Reagan , ou seja, a quase trinta anos.
    Todo este tempo os analistas falaram sobre como eles eram insustentáveis e eles continuam.
    Não se pode utilizar este argumento de que eles vivem acima de seus meios. A analogia não pode ser com uma empresa , os EUA paracem mais como um banco.
    Este privilégio de ter a moeda reserva permite um endividamento que nenhum outro país pode ter, até onde ele pode ir, até onde a corda pode esticar ninguém sabe. Mas no curto prazo, não há moeda ou outro ativo no sistema financeiro internacional que se compare ao dólar e aos títulos do governo americano.
    Isto garante o financiamento de seus déficits.

  10. Também discordo dessa
    Também discordo dessa afirmação “qualquer um sabe que o poder americano pós-soviético sobre bases políticas e não econômicas”. Tal como todo império, que se alimenta do trabalho dos seus dependentes, no caso americano, o resto do mundo “pós-soviético”, o que sempre sustentou o poder americano foi justamente a sua economia, que, ao longo do século XX, foi totalmente globalizada e ascendeu a estágios de desenvolvimento tecnológico jamais vistos. A rede de empresas multinacionais americanas é a base de sustentação financeiro-econômica do poder americano, além do militar evidentemente.

    “A saída, em um futuro não muito distante será a planificação econômica, mas a experiência soviética provou de maneira incontestável que isso é mais complicado do que parece e não poderá ser feita sem democracia e instituições republicanas fortes.” Concordo. Há questões técnico-lógicas colossais por trás da planificação econômica. Mas isso não nega a sua viabilidade; ao contrário, segundo o que venho concluindo. Por que então não começamos desde já a resolvê-las? É para isso que servem os matemáticos, os físicos, os cientistas da computação, principalmente, os engenheiros, etc. Um corpo técnico multidisciplinar, cooperativo e dinâmico.

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