O debate entre candidatos à prefeitura do RJ

Por Vinicius Carioca

Candidatos questionam modelo de transporte adotado por Eduardo Paes

De Rodrigo Otávio, Na Carta Maior

O primeiro debate televisivo dos candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro mostrou os concorrentes questionando a gestão do atual prefeito Eduardo Paes (PMDB), principalmente no tema transporte, e o desinteresse dos eleitores em geral. Na pesquisa de intenção de votos divulgada pelo Ibope na sexta-feira, Paes é o favorito à reeleição em 1ᵒ turno, com 49% das respostas. Em segundo lugar está Marcelo Freixo (PSOL), com 8%, e em terceiro Rodrigo Maia (DEM), com 6%.


Rio de Janeiro – O primeiro debate televisivo dos candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro mostrou os concorrentes questionando a gestão do atual prefeito Eduardo Paes, principalmente no tema transporte, e o desinteresse dos eleitores em geral. O programa começou às 22 horas de quinta-feira (2), na TV Band, e contou com a presença dos cinco principais concorrentes ao cargo: Eduardo Paes (PMDB, PT, PP, PDT, PTB, PSB, PPS, PSC, PC do B, PRB, PRP, PMN, PSL, PTC, PSDC, PT do B, PHS, PSD, PTN, PRTB), Marcelo Freixo (PSOL), Rodrigo Maia (DEM, PR), Otavio Leite (PSDB) e Aspásia Camargo (PV).

Na pesquisa de intenção de votos divulgada pelo Ibope na sexta-feira (3), Paes é o favorito à reeleição em 1ᵒ turno, com 49% das respostas. Em segundo lugar está o candidato do Psol, com 8%, e em terceiro Rodrigo Maia, com 6% das intenções de voto. Segundo o Ibope, o encontro de quinta-feira à noite registrou média de 1 ponto de audiência. Em levantamento feito na sexta-feira por Carta Maior com dez residentes da cidade, entre eles dois cientistas políticos, dois economistas e uma historiadora, apenas duas pessoas declararam terem visto partes do debate.

No estúdio, Marcelo Freixo e Rodrigo Maia aproveitaram as perguntas de populares gravadas pela emissora e as questões diretas entre candidatos nos dois primeiros blocos do programa para encurralarem o prefeito combinando temas. Freixo quis saber de Paes porque o prefeito insiste no modelo de transporte rodoviário em lugar do transporte sobre trilhos, seja trem ou metrô.

Em defesa de seu mandato, Paes fez um histórico do assunto. “Quando acabaram com os lotações, nos anos 60, fizeram 60 ou 70 empresas de ônibus e esse modelo permaneceu. No meu governo fizemos um processo licitatório e quatro consórcios assumiram quatro diferentes áreas da cidade, com um contrato e regras muito objetivas”, disse. E Freixo não perdeu tempo em questionar. “O Tribunal de Contas do Município viu indícios de formação de cartel na licitação de 2010. É isso que tem por trás do seu grande apoio, a Fetranspor (federação das empresas de ônibus). O endereço de todos os consórcios é o mesmo. Abriram o CNPJ no mesmo dia. Abriram conta no mesmo banco e no mesmo dia”, denunciou o candidato do PSOL.

Paes então trocou a história pelos números. “Implementamos o bilhete único, que hoje atende a mais de 350 mil pessoas. Começamos o BRT (Bus Rapid Transit, ônibus tipo “minhocões” em faixas exclusivas), implantamos o Transoeste, com 56 km. Hoje o morador de Santa Cruz demora 1h30 a menos para chegar em seu trabalho em direção à Barra da Tijuca. Em breve será isso com a Transcarioca, Transolímpica e com a TransBrasil (conjunto de vias expressas planejado para fechar o arco viário da cidade)”. Mas Freixo rebateu ao afirmar que “o BRT vocês anunciam que vai carregar 30 mil pessoas por hora e ele tem 160 vagas. Só se passar um BRT a cada 20 segundos. Então não é verdade o que você diz”.

Milícias e vans
Maia manteve o prefeito nas cordas. “Fui à Vila Kennedy. De cada dez ônibus que saem de lá para o Centro, nove são com ar-condicionado, cobrando R$ 6 do trabalhador, e apenas um a R$ 2,75”, disse. Depois, o filho do ex-prefeito Cesar Maia perguntou sobre milícias ao candidato Marcelo Freixo, com o tema recaindo sobre a gestão dos transportes de Eduardo Paes.

“Presidi a CPI das milícias em 2008, que gerou a prisão de 680 milicianos, entre eles deputados, vereadores, nenhum do meu partido, e mais importante, gerou a mudança de opinião pública. Elas eram bem vindas para muitos. Teve gente do poder público que foi para os meios de comunicação elogiar a milícia, dizer que era um mal necessário”, afirmou Freixo. “As milícias só cresceram porque a elite política do Rio teve benefício nisso. Ajudou a eleger muita gente, muito prefeito inclusive, aqui no Rio de Janeiro”, completou.

“Se não tirar o braço econômico deles, se o estado não regulamentar o transporte alternativo, por exemplo, através de licenças individuais, não vai adiantar. O número de milícias aumentou de 2008 para cá, apesar das prisões. Então ainda é uma ameaça concreta à sociedade”, disse Freixo, cobrando uma atuação pública abrangente e permanente, além das denúncias e punições.

Quando teve a oportunidade, Freixo dirigiu-se a Paes. “Eu entreguei o relatório da CPI das milícias nas suas mãos, e disse: faça a licitação das vans individualmente. Você não só não cumpriu, isso foi em 2008, como em 2009 se reuniu com uma série de pessoas indiciadas no relatório da CPI, alguns deles presos hoje, e fez a licitação por cooperativas que pertenciam a essas pessoas. Então hoje o caos do transporte alternativo tem uma forte responsabilidade sua”.

Sem emoção
Apesar de os candidatos terem abordado a falta de médicos nos postos de saúde, discordado sobre as causas do baixo desempenho do município no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e concordado que a política cultural fora da Zona Sul não pode se resumir a alguns shows musicais gratuitos, os questionamentos dos opositores e a defesa de Paes sobre os caminhos da cidade não parecem ter empolgado os telespectadores.

“Vi os dois primeiros módulos, as perguntas das pessoas e depois um candidato perguntando para o outro. Achei que o Rodrigo Maia não se saiu bem. O Eduardo Paes se sai bem, tem domínio de fala. E o Marcelo Freixo e a Aspásia se saíram bem, com mais ênfase até para o Marcelo Freixo”, avaliou a historiadora Angela Gomes, do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

“Proposta nova não teve, mas o que me chamou atenção, até da parte da Aspásia, foi a questão do processamento de resíduos sólidos e a coisa do lixo, dando crédito ao Eduardo Paes pelo fim do lixão de Gramacho, mas criticando bastante a Comlurb (companhia municipal de lixo)”, disse Angela.

Em uma de suas intervenções, a candidata do PV defendeu uma revisão dos métodos da Comlurb. “Nós sabemos muito bem que a Comlurb não é uma empresa orientada para o desenvolvimento sustentável nem a redução da quantidade de lixo. A Comlurb tem que repensar suas funções, a reciclagem é um problema que exige mais ousadia. O que nós precisamos é atrair para o Rio complexos industriais que estejam interessados em fazer essa recuperação”, disse Aspásia.

Em pauta
Carlos Lessa, economista e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), declarou à reportagem não ter visto o debate, mas como profundo conhecedor da cidade não se furtou a comentar e sugerir temas.

“O metrô é uma vergonha. Não anda. O Rio tem um problema dramático de deslocamento de pessoas, e tem dois eixos metroviários espetaculares, que são Central e Leopoldina, inteiramente subutilizados. Subutilizados por um sistema ferroviário que funciona mal, mas que é muito melhor do que o sistema de ônibus. Então colocar toda a aposta nos ônibus e simplesmente dar continuidade a uma distorção do sistema de transporte coletivo do Rio”, diz ele, reconhecendo que o tema não depende só de atuação municipal.

Lessa avalia que a aliança da atual prefeitura com os governos estadual e federal muitas vezes não vai além da figuração. “Tem muitas coisas que o governo municipal deveria pressionar o governo federal. Uma delas é resolver a situação dos imóveis federais subutilizados ou não utilizados, porque são pontos de tecido morto no Rio. Cada ponto desses gera gangrena em todo o entorno, que inicialmente funcionavam em função deles. Grande parte das favelas são em terrenos federais, e não dão os títulos de propriedade. Qual o prefeito do Rio que assumiu essas bandeiras? São bandeiras inexequíveis, mas tem que atuar politicamente”, afirma.

Luis Nassif

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