O boicote ao governo Erundina

Comentário ao post As dificuldades para governar São Paulo

Erundina foi punida pela cúpula do PT porque, totalmente boicotada dentro de seu próprio partido, para sobreviver politicamente, aceitou o convite do “honesto” Itamar para ser ministra da administração federal e moralizar o serviço público herança de 21 anos de ditadura militar, 6 anos de José Sarney e 2 anos de Fernando Collor. Assumiu em 28 de janeiro de 1993 e não durou 4 meses, sendo demitida em 20 de Maio, por pressionar Itamar a tomar atitudes contra a corrupção e por impedir violência policial contra servidores grevistas.

A Erundina fez ótimo governo priorizando a saúde (entregou 6 novos hospitais ao município, além dos postos de saúde) a educação (revolucionou com Paulo Freire secretário, merenda e valorização dos alunos e dos professores) e os transportes (os ônibus recebiam por kilometragem e então estavam sempre passando pelos pontos, diminuindo o tempo de espera e a lotação do veículo), além da construção de moradias (com grande incentivo ao sistema de mutirão).

Como o dinheiro era pouco, pois o governo do estado (Quércia) e o federal (Sarney) não lhe faziam os repasses devidos (por dívida) para lhe boicotar a administração e impedir sua ascensão política, não conseguiu fazer muitas outras coisas, como o asfaltamento das ruas, tão caro, na época (pois hoje o Kassab não faz e ninguém reclama), aos proprietários  das “carroças motorizadas” da época, inclusive os taxistas, sempre direitistas de carteirinha e que tinham um grande poder de divulgação de infâmias e desinformações, parecido com certos emails de hoje em dia.

Enfim, Erundina “fez milagres” com o dinheiro disponível, tendo ainda que gastar com prioridades que não eram suas, como terminar o carí$$imo (mas útil e bonito) projeto de repaginação do Anhangabaú, herança do governo Jânio Quadros.

Erundina foi tremendamente massacrada pelo PIG (pesquisando no acervo da Folha dá pra sentir o tratamento) articulado com organizações civis malufistas de empresários e juízes politizados de direita que perseguiam descaradamente seu governo.

Também foi muito criticada (e boicotada) por várias alas do PT, inicialmente pelas “à direita” e depois também pelas “à esquerda”. Ela havia conquistado a prefeitura inicialmente pela pressão e mobilização das bases mais populares e à esquerda no PT, vencendo nas eleições da prévia partidária o candidato da cúpula que era o Plinio de Arruda Sampaio, hoje no “esquerdista” PSOL. Posteriormente, “mais centrada” como prefeita de toda a cidade, sem o radicalismo ideológico de governante neófita, para conseguir governar naquele momento histórico, (e não de algumas tendências ideológicas) passou a ser criticada pelas alas petistas à esquerda.

De rara integridade de caráter ético-moral e ideológico no mundo político brasileiro, nunca aceitou mau uso do dinheiro público, nem mesmo para caixa de campanha eleitoral, sentindo-se traída pelo seu vice-prefeito Luiz Eduardo Greenhalgh, acusado  de arrecadar fundos para a campanha presidencial de 1990 num nebuloso “caso Lubeca” denunciado por Ronaldo Caiado.

Eu tenho cá pra mim que Erundina sempre foi boicotada pela cúpula do PT porque sua imagem é muito parecida com a de Lula. Nascida numa cidadezinha do interior da Paraiba, de família numerosa e pobre, lutou bastante para vencer. Só que tinha uma diferença muito importante para o povo, que era um “handcap” para Erundina, e que a duras penas Lula conseguiu superar perante o preconceito (não sem razão) popular: Erundina apesar de todas as dificuldades, estudou e se formou. Virou professora universitária.

Entretanto não digo que mesmo com todos os seus predicados Erundina teria sido uma liderança tão carismática e transformadora de nosso país como foi e é o nosso grande Lula, exemplo único no mundo, capaz de fazer tudo isso nesse imenso ninho de cobras que são as instituições da política nacional e seus meios de comunicação de massa.

Mas penso que Erundina, assim como Marta Suplicy, são ótimas opções para a prefeitura de São Paulo. Foram as que melhor governaram nossa cidade nos últimos 40 anos.

Luis Nassif

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