O caminho da esquerda pós-PT

Do Blog da Boitempo

A esquerda depois do PT

Por Luis Felipe Miguel

É possível dizer que é injusta a maneira pela qual o Partido dos Trabalhadores se tornou o emblema de todos os vícios da política brasileira, enquanto seus concorrentes da direita são preservados sistematicamente por uma cobertura de mídia manipulada. É verdade. Caixa dois, loteamento do Estado, relações de compadrio com grandes grupos econômicos, corrupção: o PT não inventou nada disso; pelo contrário, tornou-se participante tardio de uma festa que começara muito antes (e, aliás, para a qual nem fora convidado). Nem por isso, os efeitos do desgaste do PT no eleitorado deixam de ser sentidos. Para a classe média, que se sentiu ameaçada pelo pequeno avanço dos mais pobres nos três mandatos presidenciais petistas, o discurso da indignação moral permite extravasar sua insatisfação, de maneira mais legítima do que se ficasse apenas no registro do simples egoísmo. E a maioria politicamente desmobilizada, com menor acesso a outros canais de informação, tem poucos recursos para resistir ao bombardeio da mídia.

Ao mesmo tempo, os grupos mais politizados à esquerda se sentem cada vez menos contemplados pelo partido que é responsável por um governo que implanta políticas altamente prejudiciais aos interesses dos trabalhadores e que, na busca da permanência no poder, não imagina outro caminho além de uma submissão cada vez mais profunda ao capital. Em nove meses de segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff não foi capaz sequer de fazer um aceno simbólico aos movimentos populares, certamente por imaginar que tal gesto assustaria aqueles que ela tenta desesperadamente agradar. Na visão política de Dilma e seu círculo, os movimentos populares não existem. Todas as equações que fazem para sair da crise incluem os mesmo elementos: os grandes grupos econômicos, as elites políticas tradicionais, as oligarquias partidárias. Por mais que a conta nunca feche, não se cogita agregar um novo fator.

No início deste segundo mandato ainda era possível imaginar que, apesar de todo desgaste, o PT possuía lastro nos movimentos sociais para manter sua relevância como força política. Hoje, está claro que não. Por mais que o golpismo dos defensores do impeachment seja evidente, por mais que ver Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves entronizados no papel de guardiães da moralidade pública cause repulsa, quem quer defender um governo cujo único programa é o aumento do desemprego e a redução do investimento social?

Espremido entre a campanha ascendente da direita, uma mídia cada vez mais abertamente hostil e o seu governo, que age diariamente contra sua base social, o PT caminha para se esfarelar com uma velocidade inimaginável um ano atrás. Movimentos sociais acomodados com a interlocução com o PT estão percebendo que o partido perdeu a capacidade de expressar suas demandas. Mas também muitos deputados, prefeitos e vereadores petistas buscam novas legendas, por vezes até na direita, em geral por simples oportunismo – o que revela, por si só, como o PT se tornou parecido com os partidos tradicionais.

Evidentemente, tudo isso não é efeito apenas do descalabro do segundo governo Dilma. O PT nasceu com um projeto – inacabado, em aberto, contraditório. Apontava para um horizonte de transformação profunda da sociedade, incluindo algum tipo indefinido de socialismo, alguma forma nova de fazer política e também a revalorização da experiência das classes trabalhadoras. A busca de relações radicalmente democráticas, de uma política efetivamente popular, fazia parte da “alma do Sion”, como André Singer definiu o espírito original do partido, fazendo referência à sua fundação no Colégio Sion, em São Paulo, em 1980.

Para pessoas treinadas nas tradições organizativas da esquerda, o PT original possuía uma perigosa indefinição programática, além de ser vítima de um basismo e de um purismo paralisantes. De fato, o partido surgiu num momento em que essas tradições estavam em xeque. Os equívocos do PT foram fruto de sua vontade de não repetir o trajeto dos partidos leninistas ou da social-democracia, que, cada um a seu modo, tenderam a se fossilizar em estruturas hierárquicas e burocráticas. Tratou-se de uma experiência inovadora, inspiradora para a parte da esquerda que tentava se renovar em muitos lugares do mundo.

Tal inovação apresentava custos crescentes, à medida em que o partido crescia. Na famosa lei de ferro das oligarquias, no início do século XX, Robert Michels afirmou que “quem fala organização, fala oligarquização”. Deixando de lado seu determinismo retrógrado, é possível dar crédito ao pensador alemão nos dois eixos centrais de sua reflexão: as camadas dirigentes tendem a desenvolver interesses próprios, diferenciados daqueles da massa de militantes, e a eficiência organizativa trabalha contra a democracia. De fato, é fácil “discutir com as bases” quando se é um ator político pouco relevante. Depois, fica cada vez mais claro que o timing da negociação política prevê a concentração das decisões nas mãos dos líderes.

Como costuma ocorrer em organizações políticas inovadoras, o crescimento levou a tensões crescentes entre percepções mais “realistas”, que julgavam necessário um esforço de adaptação ao mundo da política tal como ele é, e outras mais principistas. A conquista das primeiras prefeituras municipais foi, em muitos casos, dramática. Mas até então o partido lutava para não renunciar à possibilidade do exercício localizado do poder político sem abrir mão dos princípios gerais que orientavam sua organização.

É possível datar com precisão o momento em que o PT iniciou sua caminhada para se transformar naquilo que é hoje: o anúncio do resultado do primeiro turno das eleições de 1989. Quando Lula passa à etapa final da disputa, ao lado de Fernando Collor, parecia se tornar claro que um bom aproveitamento do clima político, aliado a um marketing eleitoral competente, proporcionaria um acesso mais rápido ao poder do que o trabalho de mobilização no qual o partido apostava desde sua fundação. O fato de que o partido hesitou em aceitar, no segundo turno, o apoio de políticos conservadores, mas democratas, é em geral apontado como uma demonstração de seu caráter naïf e de seu despreparo para a política real. É provável. Mas não dá para não respeitar tal purismo, sobretudo à luz do PT posterior, para o qual ninguém, de Maluf a Collor, de Sarney a Jader Barbalho, de Kátia Abreu a Michel Temer, está fora do alcance de uma possível aliança.

Entre a hesitação inicial de 1989 e a política de alianças indiscriminada adotada a partir de 2002 houve uma evolução paulatina, eleição após eleição. Evolução também no discurso, no programa político, na forma de fazer campanha. É razoável dizer que o PT abandonou a ideia de que a campanha eleitoral era um momento de educação política. Quando Duda Mendonça assume, na quarta candidatura presidencial de Lula, já está claro que não se deve mais disputar a agenda, nem os enquadramentos ou valores dominantes. Para ganhar a eleição, é mais fácil mudar o candidato para se encaixar nas expectativas vigentes. Estava surgindo o Lulinha paz e amor, que não é só uma persona do marketing eleitoral, mas a indicação da visão de que seria possível fazer política transcendendo os conflitos.

Só que os conflitos não são transcendidos, são escamoteados. E quando são escamoteados, isso sempre trabalha em favor daqueles que já estão em posição privilegiada. O governo Lula vendeu ao capital sua capacidade de apaziguar os movimentos sociais. Com a elite política, prosseguiu no toma-lá-dá-cá típico brasileiro, agravado pelo fato de que, dada a desconfiança que o PT precisava enfrentar, os termos da troca eram piores. Graças a isso, ganhou a possibilidade de levar a cabo uma política de combate à miséria. Sem negar sua importância, o fato é que foram 12 anos em que o avanço social se mediu exclusivamente pelo acesso ao consumo. A fragilidade de uma política que não enfrentou nenhuma questão estrutural nem desafiou privilégios fica patente pela facilidade com que os supostos avanços da era petista vão sendo desmontados. Voltamos ao momento do desemprego, da redução do poder de compra dos salários, do desinvestimento nos serviços públicos. E, como o ambiente parece propício, de roldão são acrescentados retrocessos ainda maiores: precarização das relações de trabalho, criminalização da juventude, legislação retrógrada no campo da família e da sexualidade.

O momento, em suma, é o da maior derrota das forças progressistas no Brasil após o golpe de 1964. E uma parcela considerável da responsabilidade recai sobre um partido que não soube ou não quis aproveitar as oportunidades de que dispôs para consolidar algum tipo de avanço político e social.

Ao fim do processo, a esquerda brasileira parece órfã. Nos últimos 30 anos, o PT ocupou uma posição de absoluta centralidade neste campo, seja sob a chave da utopia, seja sob a chave do possível. Mesmo os críticos, mesmo os não petistas, encaravam o partido com um pilar incontornável da esquerda. Hoje, é cada vez mais evidente que a única maneira de ler o PT é como um experimento fracassado. Torna-se necessário pensar novas formas de organização e ação, novos instrumentos para fazer política, superando o saldo de desencanto e de desesperança que o final melancólico dos governos petistas deixa.

***

Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, onde edita a Revista Brasileira de Ciência Política e coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades – Demodê, que mantém o Blog do Demodê, onde escreve regularmente. Autor, entre outros, de Democracia e representação: territórias em disputa (Editora Unesp, 2014), e, junto com Flávia Biroli, de Feminismo e política: uma introdução (Boitempo, 2014). Ambos colaboram com o Blog da Boitempo mensalmente às sextas.

 

Redação

21 Comentários

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    1. Não é duro, é real

      Ainda querem negar a realidade, não aceitam que estamos em crise, que as coisas pioraram muito e que vão piorar mais ainda.

      Governo não comanda nada, não sabe fazer articulação, não tem trato com o povo, está cada dia mais sozinho(a).

      Colocou o lobo para tomar conta do galinheiro e agora está assustado com a reviravolta do Temer….tá certo

       

      1. Ridículo o autor da matéria e do Godplayer
        É ridícula a opinião do autor e do seu concordante. Colocam o PT como autor de todas as mazelas impostas ao Brasil pelas oligarquias, maçons, grupos poderosos internacionais que criaram essa Vaza à Jato para destruir os governos petistas e o Brasil. O PT não acabou não. Não concordo com essa desonesta falácia. O que está faltando é coragem para mudar os rumos da economia e atacar os inimigos tucanos com suas próprias armas. Tenho certeza que ao final seremos vitoriosos!

        1. Nem o autor muito menos seu

          Nem o autor muito menos seu concordante afirmaram ser o PT o responsável por todas as mazelas. Volte ao texto, leia-o denovo. A sua torcida não deveria comprometer sua interpretação. 

  1. Sou Petista

    Ainda temos muita munição, mas nem precisa muita pois a “oposição” é uma bosta. Só perde a próxima eleição se não concorrer.

  2. Não há wsquerda pós PT. Sãi

    Não há wsquerda pós PT. Sãi todos uns oportunistas que debandaram para a direita. O´único partido que representou a esquerda nesse país, foi o PT. Não há esquerda nesse país pós PT. Os partidinhos de aluguel, a “nova” esquerda, são só isso, partidinhos e eu jamais votaria nesse joça de “nova ” esquerda..

  3. Diagnóstico arrogante de um

    Diagnóstico arrogante de um comentarista de movimentos e lutas, não faz nada concreto, só dá opinião e edita revistas que ninguém conhece. Não tem peso e nem faz qq diferença. mas faz parte daquele coro de pseudo intelectuais coxinhas que de uns tempos para cá anunciam a cada semana que o PT acabou. 

  4. O processo de desgaste que o PT tem sofrido é algo que também…

    O processo de desgaste que o PT tem sofrido é algo que também tem ocorrido com outros partidos semelhantes na Europa. O caso espanhol é emblemático. A degradação generalizada dos partidos políticos tradicionais, tanto da direita quanto da esquerda, abriu espaço para a ascensão do novo partido Podemos.

    Hoje a nova agremiação espanhola, com apenas um ano de existência, representa a principal força política do país. Inclusive superando os tradicionais PSOE e o PP (Podemos 27,7%;  PSOE 26,2 % e PP 20,7 %).

    A demanda atual é de uma radicalização da democracia. Todos os partidos de esquerda deverão se adequar a essa nova realidade que está surgindo, inclusive o PT. É algo estrutural.

  5. que saco essas repetições sem um André Singer ou Márcio Porchman

    que saco essas repetições sem um André Singer ou Márcio Porchman,

    que já foram mais que suficientes,

    e deveriam encerrar posts-títulos de encher linguiça típicas da imprensa grande ou alternativa.

  6. MTST e cia.

    O desgaste da esquerda tradicional é planetário. 

    Isso não quer dizer que quem experimentou avanços sociais e melhorou, bem ou mal a vida, irá ficar parado enquanto tentam lhes tirar as migalhas adquiridas nos últimos anos.

    Que venham os Boulos e Stédiles da vida com a periferia à tira-colo para chacoalhar novamente o Status Quo. 

    1. O debate está na clivagem

      Aí é que está, Gerson.

      Não se trata simplesmente adicionar o adjetivo “tradicional” na “esquerda” para “resolver” a charada, mas sim de refazer os mapas do sentido político.

      A prostituição ideológica por que passaram PT, PSOE, PS francês, PASOK etc etc etc é exatamente o que os tirou da esquerda.

      É essa “esquerda” meramente retórica e prostituída que está em crise. E ela está em crise exatamente por não ser mais esquerda. Ou seja, seu processo de prostituição, esse sim, é que foi um sucesso.

      Quem acredita em alguma “esquerda” por meio de rótulos só acredita em grife, mas não em sentido político.

      1. Não culpe o PT pelo fato de o partido não representar você

         

        Antero (terça-feira, 29/09/2015 às 13:59),

        Surpreendi-me ao constatar que você e o Ricardo Cavalcanti-Schiel e o autor do texto, Luis Felipe Miguel, estão praticamente sozinhos neste post “O caminho da esquerda pós-PT” de terça, 29/09/2015 às 11:38, aqui no blog de Luis Nassif, com a reprodução do artigo “A esquerda depois do PT”. Surpreendeu-me porque acreditava que havia mais pessoas avaliando de modo semelhante à avaliação que vocês fazem do PT no artigo e nos seus comentários.

        Agora o discurso de vocês é muito parecido e é um discurso que leva a inação ou então a não aceitação da participação na democracia representativa. Ou então a opção deixada por Gerson CT, qual seja, “Que venham os Boulos e Stédiles da vida com a periferia à tira-colo para chacoalhar novamente o Status Quo”.

        A opção deixada Gerson CT é importante na medida que é ela que dá vida a democracia. Agora ela precisa ser compreendida como uma opção de resultados limitados. Isto é, o país não via mudar com os Boulos e os Stédiles. Vai ficar acordado.

        O único problema vão ser os textos escritos na academia e referendados por pessoas com essa postura de não se dispor a aceitar o funcionamento da democracia em um mundo capitalista, pois os Boulos e os Stédiles serão também acusados de se terem prostituídos, de escamotear os conflitos e de serem uma farsa.

        Considero que vocês precisam ser mais objetivos nas suas críticas ao PT. A crítica que deve ser feita é de o PT como partido da esquerda não conseguir representar pessoas que pensam como vocês.

        Clever Mendes de Oliveira

        BH, 29/09/2015

  7. Balanço preciso

    “A fragilidade de uma política que não enfrentou nenhuma questão estrutural nem desafiou privilégios fica patente pela facilidade com que os supostos avanços da era petista vão sendo desmontados. Voltamos ao momento do desemprego, da redução do poder de compra dos salários, do desinvestimento nos serviços públicos. E, como o ambiente parece propício, de roldão são acrescentados retrocessos ainda maiores”

    Balanço absolutamente preciso da farsa na qual o lulopetismo por fim se consagrou.

    Só faltou mencionar uma coisa: o mais tenebroso fanatismo obscurantista que o acriticismo governista deu origem.

    Hoje em dia é mais difícil conversar sobre progressismo com um petista que conversar sobre tolerância com um evangélico pentecostal.

  8. Parece que este pessoal quer fazer lavagem cerebral

    E dizer que tudo que o PT fez nestes 13 anos no poder foi uma miragem. Nada se fez neste país. Nada se melhorou. Apenas o PT se tornou mais um partido corrupto como os outros. O emprego, a educação, os investimentos e os programas sociais que levaram o Brasil a ser comentado no primeiro mundo. Isto não vem ao caso? Queria ver se em 2018 o PT levar novamente se esta tchurma lavaria a boca com criolona.

    1. Concordo Ulisses!
      Imagine se na época em que Lula foi eleito no seu lugar estivesse o Serra. Ainda existiria o Brasil? Seríamos um México com certeza! Os governos petistas fizeram muito bem ao Brasil. O tralha do desonesto Aécio ainda se acha no direito de falar sobre a redução dos programas sociais do governo, qdo ele e o ninho dos tucanos só sabem destruir tudo que tocam. No momento de crise mundial entreguistas estão fazendo lavagem cerebral com mentiras e mais mentiras. Quem viveu à época de FHC como eu e tantos outros, os salários para os felizardos que se encontrassem empregados eram aviltantes. Já esse professor tem a cara de pau de escrever tantas mentiras?!

  9. Teoria da inação: por que a esquerda não deve chegar ao poder

     

    Luis Felipe Miguel,

    Gosto mais dos textos que são apresentados por um comentarista do blog do que textos assim em que ninguém se responsabiliza por ele. Quando ocorre de aparecer um texto assim, às vezes não leio, mas se leio e comento acabo enviando meu comentário para o próprio autor do texto.

    Você fez um bom apanhado histórico do Partido dos Trabalhadores. E então chega no ponto de ruptura do partido. Você diz o seguinte sobre o ponto de ruptura:

    “Quando Lula passa à etapa final da disputa, ao lado de Fernando Collor, parecia se tornar claro que um bom aproveitamento do clima político, aliado a um marketing eleitoral competente, proporcionaria um acesso mais rápido ao poder do que o trabalho de mobilização no qual o partido apostava desde sua fundação”.

    E qual foi a decisão do PT no ponto de ruptura? Sobre isso você diz o seguinte:

    “É razoável dizer que o PT abandonou a ideia de que a campanha eleitoral era um momento de educação política”.

    E você acrescenta:

    “Estava surgindo o Lulinha paz e amor, que não é só uma persona do marketing eleitoral, mas a indicação da visão de que seria possível fazer política transcendendo os conflitos”.

    E ainda deixa claro que “os conflitos não são transcendidos, são escamoteados”.

    Estou transcrevendo partes do seu texto com as quais eu concordo. E há ainda este trecho do seu texto com o qual eu também concordo:

    “O momento, em suma, é o da maior derrota das forças progressistas no Brasil após o golpe de 1964. E uma parcela considerável da responsabilidade recai sobre um partido que não soube ou não quis aproveitar as oportunidades de que dispôs para consolidar algum tipo de avanço político e social”.

    E então você conclui:

    “Hoje, é cada vez mais evidente que a única maneira de ler o PT é como um experimento fracassado. Torna-se necessário pensar novas formas de organização e ação, novos instrumentos para fazer política, superando o saldo de desencanto e de desesperança que o final melancólico dos governos petistas deixa”.

    Bom, eu não considero o país de hoje igual ao país de quando o PT estava fora do Poder. O principal em um partido de esquerda é melhorar a igualdade e aumentar o grau de conhecimento da população. Penso que houve melhora na igualdade, mas como partido de esquerda o PT deixou a desejar a respeito de aumentar o conhecimento da população. Tenho mencionado com frequência a necessidade de a esquerda tomar à frente da empreitada de ajudar no repasse do conhecimento. Informar as pessoas o que é o capitalismo como ele funciona, o que é o Estado e para quem ele funciona no sistema capitalista, o que é o orçamento e como ele é elaborado e executado, o que é a democracia representativa e como ela funciona.

    Ainda hoje há na academia aqueles de esquerda que consideram a democracia direta superior à democracia representativa e que reclamam do fisiologismo (Legal) que ocorreria na democracia representativa esquecendo que sem o fisiologismo a democracia é uma oligarquia de uma elite que se auto intitula democrática impondo a sua vontade sobre todas as minorias.

    Agora a sua proposta é que o PT se afaste do poder e que a esquerda busque novas formas de luta e se porventura ela se aproximar de ganhar a presidência da República a esquerda tenha o bom senso de renunciar a alcançar o poder. Eu espero que o PT não se afaste do poder e nem gostaria de ver a esquerda ser representada por uma ideologia como a que você professa, pelo menos em um mundo real de sistema capitalista e de democracia representativa.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 29/09/2015

    1. Além do final há outros trechos que desabonam o texto

       

      Luis Felipe Miguel,

      Eu separei trechos do seu artigo dizendo que eu concordava com tudo que você dizia principalmente até o ponto em que você diz que houve a ruptura do ideário de fundação do PT e com a prática política do partido, mas esqueci de dá destaque a seguinte frase sua:

      “quem quer defender um governo cujo único programa é o aumento do desemprego e a redução do investimento social”

      Que uma criança dissesse isso não teria muita importância, mas um professor universitário dizer que aumento de desemprego e a redução do investimento social seria o único programa do governo do PT compromete o nosso ensino universitário. Dá para criticar o PT sem parecer infantil.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 29/09/2015

  10. Mais um pra falar dos “erros”

    Mais um pra falar dos “erros” do PT e do governo. Desse modo acho até que a direita pode descansar e ir á praia… Combatida ela não vai ser mesmo, afinal a “esquerda” está muito ocupada fazendo “autocritica” em público…

    O governo FHC, o mais nocivo da história, fez o que fez porque não tinha um dia sequer que não atacasse o PT e o Lula na oposição. Ora eram os “fracassomaníacos”, ora eram os “estatolatras”, os “estalinistas”, os “neobobos”….

    … Enquanto isso os “cavalheiros” ficam com esses academicismos, saudosos dos bons tempos que não voltam mais, quando tinham até uma parte da imprensa condescendente com eles… “O espírito do Sion”… Ah, era bom, era, quando eram tratados como uns irresponsáveis inofensivos? Era mellhor do que ser tratado como uma Geni ou um bode expiatório, né?

    … E ainda por cima há uma tremenda “viragem” na argumentação.

    “Para ganhar a eleição, é mais fácil mudar o candidato para se encaixar nas expectativas vigentes. Estava surgindo o Lulinha paz e amor, que não é só uma persona do marketing eleitoral, mas a indicação da visão de que seria possível fazer política transcendendo os conflitos.”

    A frase do Lula foi pronunciada em um debate ou entrevista e somente depois foi aproveitada pelo Duda Mendonça. Ou seja, o espírito negociador do Lula sempre esteve ali, não obstante o PT ser tratado – como o é até hoje pelos setores mais boçais da direita – como um partido revolucionário, bolchevique, “comedor de criancinhas”.

    Pelo visto, tanto setores da direita quanto da esquerda atacam essa mesma suposta “perda do potencial revolucionário” do Lula e do PT. Por isso as críticas são tão homogêneas. Por isso igualmente olvidam a magnitude das transformações que ocorreram e o tamanho da resistência que ainda mantém em pé programas sociais, valorização do salário mínimo, patrimônio e conteúdo nacional.

    Outro adendo. Como assim não houve nenhuma mudança estrutural? Desde Marx se sabe que a estrutura das sociedades capitalistas está na troca de equivalentes trabalho “livre”-salário. A política de valorização do salário mínimo não é uma vitória estrutural, não (aguarde a reação no próximo 1º de maio)? O aumento nos “salários indiretos” via orçamentos dos serviços e programas sociais também não?

  11. A esquerda que odeia o PT

    É impressionante como  certa esquerda sabota tudo que venha da esquerda que faz e que fez, que põe a mão na massa, que vive no mundo concreto e entrega. Parece ferir profundamente suas sucetibilidades. Querem sempre uma eterna recriação da esquerda, um eterno reinicio religiosamente purificador. O Partido dos Trabalhadores, para desgraça destes, nasceu para durar longo tempo. Estas profundas feridas deste momento definidor, serão cicatrizadas, neste momento de reação furiosa dos conservadores, como sofreram os EUA com a Ku Klux klan, com o senador Joseph McCarthy, a reação aos direitos civis dos negros de Martin Luther King Jr.; o PT é o amadurecimento das demandas por Justiça Social. Não se muda uma situação como a do Brasil em dois ou três governos.  Dizer isso é ser ingênuo, ou desonesto intelectualmente. Não há água para o vinho em um lance de vontade. E sim, para cada metro que os reacionários forem empurrados, eles empurrarão de volta uns tantos centímetros. Como em qualquer época, como em qualquer lugar. O Partido que nasceu para representar concretamente, e não em masturbações sociológicas, os Trabalhadores, vencerá, perderá eleições, mas prevalecerá na história. A mudança é uma estratégia, não uma tática. Para felicidade de muitos, e ranger de dentes de uns tantos.

  12. Não dá, não há porque

    Não dá, não há porque confundir esquerda e PT.

    O PT nunca foi esquerda. O PT é um partido que defende princípios capitalistas e prega que a “base” participe da distribuição de parte da renda acumulada pelo capital, umas migalhas, um favor. É um capitalismo visto sob outro ângulo. Só isso.

    ATENÇÃO: o PT, Lula e seus “cumpanheiros” nunca, nunca mesmo,, foram de esquerda

  13. primeiro parágrafo

    Concordo com a maioria do texto, mas não com o primeiro parágrafo. Parece Ctrl C Ctrl V de vários outros “sites progressistas”. Defendi em 2006 as ideias expostas neste parágrafo. Já foram válidas, mas atualmente estão obsoletas. O primeiro caminho da esquerda pós-PT deveria ser rever as ideias expostas no primeiro parágrafo deste texto.

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