O caos político que precedeu o golpe de 64

Wanderley Guilherme dos Santos e Daniel Aarão dos Reis acompanharam de perto os movimentos pré e pós 64. Ambos dissidentes do Partido Comunista e com atuação relevante no movimento estudantil da época.

Hoje em dia, Wanderley é um dos mais proeminentes cientistas políticos brasileiros; Daniel, um dos mais fecundos historiadores.
Ontem conversei uma hora com cada um, sobre a agitação que precedeu o golpe de 64.

***

Em comum a constatação de que havia um receio concreto, de lado a lado, da iminência de um golpe. O país experimentara uma enorme evolução nos anos 50, com o governo JK promovendo um surto de desenvolvimento que completou o ciclo. Pela primeira vez as massas conquistavam protagonismo político, em movimento similar (mas muito mais profundo) do que acontece hoje em dia.

***

Um conjunto de fatores alimentou o fantasma do golpe. As reformas propostas por Jango eram modernizantes, de aprofundamento da democracia. Mas colocavam em xeque alguns dos pilares do modelo até então existente.

Uma delas era a reforma política, propondo o voto para analfabetos – que representavam metade da população brasileira adulta. Aprovada, mataria definitivamente as chances da oposição.

Outra era a reforma agrária, colocando em xeque o latifúndio, cuja bancada era das mais influentes. Nos meses anteriores ganhara corpo no Congresso uma reforma agrária mais ampla, a ser paga com títulos da dívida pública.

***

Além das reformas, a retórica radical de Leonel Brizola ajudou a levantar fantasmas por todos os poros.

Na época, havia fantasias em relação à revolução cubana. Muitos intelectuais a comparavam a óleo sobre uma superfície, ou ao barril de pólvora: multidões insatisfeitas com sua situação aguardando a primeira fagulha para explodir.

A própria evolução da revolução cubana ajudava a alimentar temores. Começou com propostas reformistas. Quando se acentuou a guerra fria, acabou tornando-se comunista.

***

Essa fantasia era brandida pelo que Wanderley denomina de os “otimistas”, como Brizola e Darcy Ribeiro. Encantava a esquerda e assustava o restante. A radicalização obrigou o próprio Partido Comunista – cauteloso desde o desastre de 1935 – a radicalizar a retórica. E Jango a dar passos ousados, para não perder o controle da sua base.

***

Um outro ponto complexo era a completa fragmentação política. De um lado, a esquerda dividida em vários grupos antigos, novos – a nova esquerda católica e os dissidentes do PC -; de outro, a direita e os militares também pulverizados em vários grupos.

Daniel refuta a ideia de uma esquerda desorganizada e uma direita organizada. Os dois lados não tinham nenhuma forma de organização centralizada. Wanderley reforça a ideia de que houve uma pulverização tão grande de grupos de atuação, que não havia formas de coordenação. Os dois lados atuavam julgando estar defendo a democracia contra o outro lado.

***

É por isso que Aarão defende que não foi apenas um golpe militar. Ulisses Guimarães engrossou a Marcha da Família; dom Paulo Evaristo Arns e dom Hélder Câmara, entre outros, saudaram a deposição de Jango. Jornalistas liberais apoiaram o golpe.

A desilusão começou uns dois meses depois, quando perceberam que os militares não iriam abandonar o poder.

Luis Nassif

52 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. 1964.

    Espero que o Brasil tenha aprendido com 64. Não da para apoiar um golpe esperando o menos mal. Está provado que golpe não presta. A democracia é o melhor pro Brasil, ela deve ser defendida acima de tudo.

      1. Democracia

        Pelo menos quem deu o golpe foi a direita.

         

        Pior seria para o povo em gral, e a história confirma, se a esquerda tivesse ganhado.

         

        É só ver o que aconteceu na URSS de Stalin, na Cuba de Fidel, no Camboja do Kmer Vermelho, na Coreia do Norte do Kim Il-Sung e sua descendência – Kim Jong-Il e Kim Jong-un, e o genocida mor de seu próprio povo, Mao Tsé-tung da China.

         

        O medo que se tinha não era etéreo, era real.

         

        À época não se tinham as informações que temos hoje, mas os informes eram aterradores.

        1. Tô contigo!

          Tô contigo, Gerardo.

          Os regimes “revolucionários” não ficam a dever em nada a qualquer outro em termos de violência. Pelo contrário! Conforme já disse em debates pessoais sobre o assunto, nossos militares foram verdadeiras “donzelas”, se comparados aos “mestres” que você citou!

          Não estou defendendo o que ocorreu em nosso passado nem desejo um regime militar de volta ao poder.
          Mas a constante que vejo  na crescente insatisfação popular é que a democracia tal e qual estamos vivendo está decepcionando muita gente. Aí, bate aquele “saudosismo” em quem se sente impotente e sem perspectivas melhores de futuro.

          De fato, não parece que vivemos numa democracia real. Usando como figura a realidade do povo carioca, parece que vivemos em uma “comunidade” (eufemismo para favela) onde facções rivais brigam ferozmente entre si com armas pesadas para ver quem é que toma o controle do território. Não importa qual “quadrilha” vai ganhar. Os moradores nunca terão liberdade de ir e vir. Nunca terão opinião. Manda quem tem o poder.

          Essa é a real imagem que boa parte (diria a maioria) da população tem dos partidos políticos e seus representantes hoje. 

          Falando especificamente, o governo do PT conseguiu promover o maior choque de realidade “nunca visto antes na história desse país.” As pessoas viam o Lula (e sua trupe) como o salvador da pátria, a esperança dos trabalhadores… o paizão do Brasil… Agora, depois de sucessivos escândalos de corrupção e incompetência, depois de tantas alianças políticas “improváveis”, pelo histórico do partido entre outros, o que mais tenho visto são ex-PTistas.

          A reforma política que tanto se espera parece que nunca sairá do papel. A reforma eleitoral tão necessária parece que nunca sairá do papel. A reforma tributária tão defendida (antes de assumir o poder) se converteu numa cobrança de tributos cada vez maior.

          E a esperança fica aonde? Provavelmente se mudar a gangue, o cenário permanecerá o mesmo!

          Só resta a saudade de quem acha que já foi melhor.

  2. Chegou a hora de apertar o passo?

    Hoje, a esquerda brasileira aprendeu. Aprendeu até pra demais da conta.

    Na época de Jango, a esquerda quis dar passos de 2 metros. Talvez, se planejasse passos miúdos de 50cm seria mais inteligente. Ao tentar passos tão largos em plena guerra fria, acabamos retrocedendo quilômetros para trás.

    Ficou o trauma. Hoje a esquerda ensaia e executa seus passos firmes de 50cm. Mas creio que já é chegada a hora de alargar um pouco mais. Talvez não aqueles passos sonhados 50 anos atrás de 2 metros. Mas a população já está preparada para fazer uma caminhada mais aeróbica. Passos de 1 metro. Constantes, firmes e resolutos. Idênticos aos de 50cm no conteúdo.

    Uma vitória no primeiro turno é o anúncio desta nova caminhada.

    A ver.

    1. Inteligência

      Seu comentário é curto, preciso e e inteligente. Nada de radicalismos nem de esquerda nem de direita, a moderação leva a governabilidade e o país vai crescendo e ganhando maturidade. A vitória no primeiro turno é realmente a marca de estamos na direção certa.

    2. A eleição se polarizar vai ter um turno só

      Efeito São Vicente, onde só dois candidatos disputaram o pleito com chances, o melhor levou.

  3. Havia uma articulação da direita

    Eu creio que havia uma organização da direita, via os institutos IPES e IBAD, que inclusive recebiam financiamento norte-americano para as suas ações. A Marcha foi a demonstração de que a direita se articulou muito bem, além dos citados, devemos lembrar que o Governo do estado de S.Paulo participou ativamente, a primeira dama estadual na época, Leonor Mendes de Barros, esposa de Adhemar foi uma das principais lideranças das senhoras católicas para a marcha.

     

  4. “Daniel refuta a ideia de uma

    “Daniel refuta a ideia de uma esquerda desorganizada e uma direita organizada. Os dois lados não tinham nenhuma forma de organização centralizada. Wanderley reforça a ideia de que houve uma pulverização tão grande de grupos de atuação, que não havia formas de coordenação. Os dois lados atuavam julgando estar defendo a democracia contra o outro lado.”  Estas são conclusões transmitidas em uma hora de conversa. Fica em nós, leitores,  um desejo de ter mais informações sobre fatos históricos relevantes que possam sustentar estas conclusões. Todo e qualquer raciocínico é um articulação produzida ao longo de muitos anos de participação, análises e estudos através da adoção de modelos de pensamento e métodos de trabalho. Como sugestão proponho que tanto Daniel como Wanderley possam discorrer sobre suas trajetórias tanto no campo da praxis política quanto no campo de escolhas de modelos e métodos de articulação teórica. 

     

  5. E foi o erro dos militares

    Excelente texto, parabéns!

    Sou militar da ativa já com mais de 20 anos de Força. Sempre tive interesse nesta passagem da história brasileira. 

    A minha conlcusão é que o erro dos militares da época foi justamente o de não querer abandonar o poder, desilidudindo, como disse. Não vou entrar no mérito dos procedimentos adotados e dos proquês de não entregar o poder novamente aos civis, pois o contexto era caótico a nível mundial inclusive. Os militares usaram as ferramentas que sabiam, que estavam nos manuais, no que foram treinados exaustivamente e com a lembrança recente de uma guerra. E quem vai a uma guerra não volta são e salvo. Se voltar, será salvo apenas.

    Recentemente se tem visto e ouvido um desejo de intervenção das FFAA no atual governo, causada pela insatisfação com as inversões de prioridades econômicas, sobretudo, e com os casos de corrupção que sabemos estarem sendo abrandados ou acobertados pelo mesmo governo. Há também a crescente falta de segurança, a escalada da violência e da posição do Governo em defesa dos fora-da-lei. 

    A ideia não é má e acredito que não seria nos moldes de 64 e sabem por quê? Porque os manuais mudaram, a legislação interna das FFAA mudaram, as gerações mudaram. Mudaram tanto que eu ariscaria a dizer que talvez nem tivessem a coragem de intervir até mesmo se a pior das situações ocorresse, o que seria muito pior para todos. Acredito que, se houver uma intervenção militar hoje, ela daria o poder novamente aos civis em pouco tempo. Não antes de se fazer uma limpeza. Quanto tempo vai durar a limpeza sempre irá depender do tamanho da sujeira e da eficiência de quem limpa…

    1. que limpeza?

      Limpeza se faz com democracia, voto. Intervenções militares, civis ou estrangeiras são manobras de interesses sempre obscuros. A democracia é a disputa destes interesses na conquista de adesão ao seu programa. É decisão soberana da maioria. Quem não conquistou esta maioria que se prepare melhor para a próxima vez, ou vai ficar de fora até apresentar algo que faça sentido e conquiste esta maioria.

    2. que limpeza?

      Limpeza se faz com democracia, voto. Intervenções militares, civis ou estrangeiras são manobras de interesses sempre obscuros. A democracia é a disputa destes interesses na conquista de adesão ao seu programa. É decisão soberana da maioria. Quem não conquistou esta maioria que se prepare melhor para a próxima vez, ou vai ficar de fora até apresentar algo que faça sentido e conquiste esta maioria.

    3. Faça uma exegese e se

      Faça uma exegese e se pergunte em que período ACM, Sarney, Collor, Maluf entre outros, adquiriram enorme poder e….

      Que limpeza, hein!

       

    4. Golpista fardado

      Se o Brasil fosse um país sério tu ia para a cadeia por fazer apologia ao golpe. Tu não passa de um golpista lacaio de interesses escusos. Viva a democracia e a soberania popular! Cadeia para golpistas!

    5. Vou partir do pressuposto que

      Vou partir do pressuposto que o sr. não é um troll. Se é mesmo um militar da ativa, está cometendo ato de insubordinação contra a presidente da república que é a chefe supremo das Forças Armadas. Cabe punição.

      Pode tirar o cavalinho da chuva, coronel. Voces não vão intervir porcaria nenhuma. Nem que seja para entregar o poder para civis, que eu seu sei quais são, em apenas uma semana. Dessa vez haveria resistência, naquela época, foi correto não haver.

      Mas nem deveria estar falando isso, o sr, provavelmente é apenas um boquirroto. 

    6. Esta na hora de rever seus

      Esta na hora de rever seus pressupostos. O Sr. parte do princípio que os militares estão fora da sociedade e tem melhores propostas. Qualquer grupo ou indivíduo se acha conhecedor dos problemas e soluções. No Brasil todos se acham em melhores condições de escalar a seleção. Em política é pior. Todos acreditam ter a melhor solução. 

      A última ditadura demonstrou que se trata de uma falácia. Os militares são tão competentes/incompetentes quanto qualquer outro grupo da sociedade. Mesmo no que se refere a corrupção, foi durante aquele período que floresceram os maiores corruptos que o Brasil conheceu. Portanto, se querem colaborar, apresentem propostas, defende-as publicamente e submeta-as à vontade popular. Não há outra saída.

    7. Ditadura Nunca Mais

      Essa marcha da família veio mostrar que esse sonho de intervenção ainda está na cabeça de algumas pessoas. Uma coisa é certa, golpe é golpe. O que se viu no último sábado mostrou o que esses fascistas disfarçados são capazes para voltar ao poder. Do outro lado os ativistas radicais de esquerda que também apoiam o golpe. Nem farda e nem foice martelo, queremos continuar errando dentro do regime democrático. Ditadura Nunca Mais !!!

  6. Educação

    O que me preocupa é ver que a nossa educação tem sido falha em não promover a orientação dos jovens quanto a importância de valores como a tolerância política e o respeito as instituições, haja vista o número de jovens que conheci que são adeptos de autoritarismos e que acham que política é perda de tempo, é só corrupção. Daí se vê o porquê de tanta besteira dita, tipo os militares eram honestos e competentes. Mentira dita mil vezes vira crença popular.

  7. O que acho interessante é

    O que acho interessante é como o PT surgiu um pouco alheio a tudo isso que aconteceu nos anos 60. Talvez isso explique o ódio que os ex-partidão sentem (e sempre sentiram) pelo PT. Alguns militantes do partidão migraram para o PT na primeira metade da década de 90. Em geral, o pessoal que era considerado “esquerdista”. Na minha opinião, o pessoal que não migrou e que sempre nutriu esse ódio extremado pelo PT continuou assim, odiando o PT, principalmente quando o “partidão” acabou e/ou mudou de nome. PT surge nos anos 80 com outra cabeça, com outros propósitos. Não se tratava mais de fazer a chamada “revolução burguesa” ou maoísta, ou qualquer coisa que o valha. Começou no chão de fábrica, com essa preocupação. Um típico e moderno partido social democrata. Pagou – e ainda paga – um preço elevado por seu democratismo: tudo que era grupelho, inclusive os mais exóticos, entraram, viveram e, de certa forma, bagunçaram o PT. Vejam os esquerdismo algo inconseqüente do final dos anos 80. O PT triunfou onde nenhum partido de esquerda tradicional jamais sonhou em fazê-lo. Como aquele pessoal barbudo que não ligava para Lênin e não tinha lido Kautsky, para não falar em Poulantzas ou mesmo Lukács pôde chegar de maneira tão acachapante ao poder? Como um bando de sindicalistas deu um nó no poder organizado e oligárquico deste país? De que adiantou a defesa do moderado, do conchavo, do gradual? De que adiantou se aliar aos algozes da democracia? Nada. Daí o ódio. Quanto ao PT, o partido e só ele deve ser responsabilizado pelos desvios de conduta apresentados. Não foi culpa dos grupelhos. Não foi culpa dos militares golpistas. O que ocorreu foi culpa única e exclusiva dos militantes que chegaram ao poder. E, na minha opinião, se quer ter história própria, está mais do que na hora de se desvencilhar de sua figura máxima. Esse deve se aposentar. Curtir os louros das glórias alcançadas. Figura emérita e tudo mais. Mas deixar a prática política para os atuais idealistas (se eles existem…) do partido. Afinal, não há nada mais louvável que um ideal animando um partido. Ruim é um partido sem ideal.

  8. É fato, Jango havia tratado

    É fato, Jango havia tratado muito mal alguns militares antes do golpe de estado. Alguns deles, preteridos em listas de promoção, tinham jurado se vingar do presidente. O sucateamento das Forças Armadas na época e a impossibilidade econômica do governo Jango de modernizá-las também devem ter pesado na balança dentro da caserna. Talvez alguns generais militares tenham ficado com medo das “reformas de base”  produzirem uma redução ainda maior nas despesas na esfera militar, que é onde os oficiais graduados sempre colheram suas costumeiras propinas nacionalistas. 

    O medo do comunismo foi um fator menos importante, penso. Os militares brasileiros sabiam muito bem que o PCB não teria condições de resistir militarmente às Forças Armadas. Por mais que estas não fossem grande coisa em face das Forças Armadas dos EUA ou da URSS, ela derrotaria facilmente qualquer reação popular (como de fato derrotou). 

    Meu pai era comunista, servidor público, participava ativamente da política paulistana e se considerava bem informado. Ficou sabendo do golpe pela televisão. Segundo minha mãe ele ficou tão furioso que jogou o prato com comida e talheres na tela do aparelho. A reação dele demonstra como ele foi surpreendido por um golpe que considerava inesperado. Talvez meu velho acreditasse no infalível dispositivo militar de Jango, aquele que falhou por causa das malas de dinheiro entregue ao general Kruel. 

  9. Essa hist´roia de desilusão

    Essa hist´roia de desilusão quando perceberam que o golpe ia descambar para um regime autoritário é como a desilusão ao descobrir que Demóstenes não era o mosqueteiro da ética. Tudo desculpinha esfarrapada, defendem golpe e depois se assustam com o autoritarismo?

     

  10. Qualquer um seria derrubado

    Jango foi derrubado porque venceria as eleições e implantaria reformas estruturantes, algumas delas aproveitadas pela ditadura e outras que estão sendo realizadas nos governos pós ditadura.

    Foi derrubado porque prometeu realizar a democracia no sentido de criar uma independência maior em relação aos EUA (motivo ainda nos dias atuais de grande disputas) e criar oportunidades acessíveis para toda a coletividade e não apenas para um grupo restrito, essas condições assustavam a classe média que temia perder o seu status quo.

    A questão não era exatamente Jango, e sim a força da população da base não só no Brasil como em todo o continente (tanto que os golpes ocorreram em quase todos os países) que exigia mudanças para que a democracia avançasse e houvesse a inclusão da população carente.

    Os golpes militares no continente foram vitoriosos pois no seu longo período conseguiram implementar uma lavagem cerebral nas suas populações, o que é observado até os dias atuais com as dificuldades de se eleger um parlamento progressista e avançar em reformas estruturantes.

    Assim, os meios de informação do continente ainda se referem às pessoas que resistiram ao golpe como subversivos, terroristas, agitadores da ordem, quando o “conhecimento” mundial democrático afirma  como um direito toda rebelião contra ditaduras e tiranias, considerando as ações contrárias como legítimas e como um dever do cidadão.

    Ainda, só recentemente é que a nossa grande imprensa deixou de nominar aquele período nefasto como “revolução” e não como o que deveria ser classificado em qualquer estudo, análise e concepção do que ocorreu; golpe militar.

    A vitória do golpe militar se deu porque solidificou o conservadorismo, a falta de pensamento reflexivo e a alta concentração de poder na área econômica, na área política, e nos meios de comunicação,  tamanha a força que a eles foram  concedidas.

    A lavagem cerebral que antecedeu o golpe foi tão grande que muitos que a apoiaram se arrependeram logo em seu início.

    Os problemas de governança também foram observadas em todo o período de ditadura com várias divisões internas até mesmo entre os militares de alta patente.

    Foi um golpe americano que insuflou a sociedade civil de classe média com o bombardeio massivo de que o que se apresentava de novo em todo o continente sul – americano  era nocivo, era comunista. Jango e os outros presidentes depostos nunca foram comunistas, queriam apenas a independência dos seus povos e a inclusão dos desfavorecidos. Queriam o progresso, e isso era mexer com a riqueza, como há muito dizia Pedro Calmon – História Social do Brasil, t.3, 1939, 

    “A riqueza (do Brasil) é tão abundante que a própria agiotagem internacional, endividando o pais, não lhe embaraça o progresso: compromete-o mas o fertiliza.”

    O que os governos depostos queriam era trazer a soberania para o continente, após séculos de dependência externa e extravio da nossa riquezas, tão  bem estuda por Eduardo Galeano que descreveu o histórico processo de subalternização da classe dominante latino-americana:

    “Para os que concebem a História como uma disputa, o atraso e a miséria da América Latina são o resultado de seu fracasso. Perdemos, outros ganharam. Mas acontece que aqueles que ganharam, ganharam graças ao que nós perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já se disse, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial. Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória alheia, nossa riqueza gerou sempre a nossa pobreza para alimentar a prosperidade dos outros: os impérios e seus agentes nativos. Na alquimia colonial e neo-colonial, o ouro se transformou em sucata e os alimentos se convertem em veneno. (…)A chuva que irriga os centros do poder imperialista afoga os vastos subúrbios do sistema. Do mesmo modo, e simetricamente, o bem-estar de nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominados para fora – é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga”.

    Décadas depois o “comunistas” foram substituídos pelos “terroristas” para submeter ou conter povos e nações. Leis duras estão sendo criadas pelo mundo no afã de conter o “terrorismo”, quando na realidade estão sendo formuladas para reprimir qualquer tentativa das populações de pleitearem avanços na democracia e mudanças de status quo.

     

    1. Nem Jango e nem Brizola

      Nem Jango e nem Brizola poderiam legalmente se candidatar a Presidente em 1965 e não se discutia essa hipotese em relação a Jango e sim para Brizola. As forças da coligação PSD-PTB estavam fechadas em 1965 para a candidatura JK

      e não havia base partidaria para Jango se candidatar sem o PSD, tampouco Jango e seu grupo tinham o controle do PTB nacional, eles tinham o PTB do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, não controlavam São Paulo, que era de um grupo inimigo. A situação economica péssima do governo Jango em março de 1964 impedia qualquer ideia de reeleição, a opção Brizola se baseava em um caminho de rompimento do arcabouço legal e ele nunca escondeu isso.

      1. O PTB era inexistente em São

        O PTB era inexistente em São Paulo, não haveria chapa PTB-PSD em 65, concordo que Jango não era favorito. Apesar de bem avaliado e as reformas de base serem uma mudança essencial para o país, a inflação até então recorde era um problema para Jango (causada por Juscelino, mas que Jango não conseguiu estabilizar).

        Juscelino levava ligeira vantagem sobre Jango (Assis Ribeiro tem razão, ele poderia concorrer), o plano de governo do Juscelino priozava a Agricultura (o sucesso industrial de seu 1º mandato motivava o eleitor a eleger-lo), havia até um plano de reforma agrária (secreto) inspirado na experiência bem sucedida na área do governador de Goiás Mauro Borges e seu pai Pedro Ludovico (ambos do partido de Juscelino, PSD).

        Já 1970 era a vez de Brizola, de 75 em diante Lacerda ou Arraes.

    2. Muito bom, Assis. Esse golpe

      Muito bom, Assis. Esse golpe so foi possivel pelos militares porque tiveram amplo apoio de empresarios, jornalistas, industriais, enfim, do baronato que ainda dava suas ordens no Brasil da época ( e de hoje!).  Com o medo da Eleição de João goulart em 65, quando ai, sim, Jango teria toda o apoio necessario para começar suas reformas. E com Darcy, Niemeyer, Brizola e toda a intelectualidade de esquerda da época ao lado dele, teria sido uma revolução em tanta no Brasil. Perdemos 40 anos de atraso e nossas veias ainda estão abertas. Os americanos nunca “abandonaram” a AL à sua propria soberania.  

  11. Militar no poder.

    Ora o poder é uma prerrogativa da maioria de uma sociedade, e só pode ser exercido pelo ungido por ela e o caminho para isso é o voto direto da maioria de seus membros no escolhido. Militar é servidor público pago pela sociedade e todo o seu aparato de trabalho também foi pago pela sociedade, portanto foi criado por ela para defendê-la de atos hostis externos e não para ser utilizado contra seus compatriotas que lhe deram a oportunidade de exercer sua profissão. Essa historia de militar no poder é puro golpe, é querer transformar aqueles que lhe deram emprego em seus laranjas. O povo contribuinte de qualquer nação não pode aceitar ser feito de refém desta forma. Se querem governar primeiro devem abdicar de seu status de servidor público militar e se candidatar ao sufrágio universal, apresentando suas propostas de govêrno como qualquer outro que deseje exercer cargo de mando por via eleitoral. Qualquer governo que não tenha o aval da maioria do povo de sua sociedade via voto não tem legitimidade e deve ser rechaçado.

  12. Maré e Alemão

    O Nassif escreveu: “…multidões insatisfeitas com sua situação aguardando a primeira fagulha para explodir.”

    O Exército ocupando a Maré e o Alemão no Rio não seria para conter multidões insatisfeitas que queimam ônibus (simbolo próximo da exploração do Capital em conluio com o poder) e já mostraram sua cara anônima em junho de 2013?

    Mentes curiosas querem saber?

    1. Não seriam não, caro

      Não seriam não, caro Alexandre “mente curisoa” Weber. É para reprimir os traficantes que estão se infiltrando nas manifestações para recuperar terreno perdido.

      Quem é aqui do Rio, sabe que toda espécie de bandidos se infiltraram nos black blocs. Desde os simples saqueadores, até os ligados às facções e aos milicianos. Dizem que esses ultimos sob o patrocínio do Garotinho. 

  13. Comemoração dos 50 anos

    Próximo Sarau: comemoração dos 50 anos( ou 500, se preferirem):  Tema: A madrugada do poder uno, de poucos, é claro.

    Sugestão de Set list:

    1)Esse é um país que vai pra frente… ou ou ou ou ou ♩♫♭♪♯♬♮♫♯…

    2)Vamos construir juntos, com o trabalho ( sem propriedade, sem lenço, sem terra e sem documento) construir juntos …♩♫♭♪♯♬♮♫♯

    3) Aguardando sugestão.

     

     

    E agora refletindo um pouco mais sobre  a nudez do  Big Brother – sam –  acredito que , no fundo, no fundo, talvez no profundo, o  Celso foi Furtado pelo Roberto “Grandes  Campos”.

  14. apoio ao golpe

    Nassif, 

     

    o fato de gente boa ter apoiado a deposição do Jango não torna este fato mais respeitável, mas sim constitui uma mancha na história (excelente, na média) desse pessoal.

    Democracia tem alguns dogmas, e o respeito ao voto popular é talvez o principal. Em nenhuma circunstância um golpe é aceitável e quem apoiou, errou e feio. Não se aceita, em hipótese alguma, a deposição ilegal de um governante eleito nas urnas. 

    Aceitar isso é ser democrata condicional, e a democracia é sempre plena, absoluta.

    Por outro lado, no imaginário popular poderia até haver a possibilidade de um golpe de esquerda (há gente que pensa isso hoje, com medo do governo centrista da Dilma), mas a história demonstra que somente a direita tinha os meios e os motivos e se preparou intensivamente para isso.

    Não havia chance de golpe de esquerda; havia somente medo disso. Havia, sim, a preparação minuciosa de um golpe de direita que, uma vez concretizado, diminui a imagem daqueles que o apoiaram, por mais que viessem a se opor logo em seguida. 

  15. Complementando

    Desculpem-me pelo esquecimento.

    A comissão de organização deste evento( sarau de comemoração) informa que terá bolo ( ou torta) de comemoração. Todavia,  as fatias serão distribuídas somente aos  donos do bolo.

    Furtadamente,

    Roberto Grandes campos

  16. Naquele período momento de

    Naquele período momento de loucuras foram poucos os que agiram com lucidez e em defesa da democracia, da legalidade.

    Cabe destacar Tancredo Neves, que lutou até o final na defesa de Jango, do governo e da legalidade e ao mesmo tempoalertou contra os graves equívocos de Jango, como o de conciliar com a quebra da hierarquia militar, o que jogou a maioria dos oficiais legalistas e independentes para o lado dos golpistas.

    Outro grande brasileiro que não se dobrou ao canto de sereia dos golpistas foi Santiago Dantas e que tentou evitar o pior que sabia poderia ocorrer, procurando recompor a aliança PTB/PSD, cujo rompimento com a passagem da maioria do PSD para o campo golpista foi decisiva.

    Tancredo, Santiago devem ser lembrados por não transigirem com os golpistas de 1964 (JK e Ulysses transigiram no início) e ao mesmo tempo por terem alertado à esquerda que a radicalização não serviria aos interesses do povo brasileiro.

    Tancredo e Santiago souberam avaliar adequadamente a correlação de forças, ao contrário de Jango, Brizola, Darcy e tantos outros.

    Declaração de Tancredo de abril de 1964, no Congresso Nacional, dizendo porque se absteve na eleição de Castello Branco, que teve o voto de Juscelino, Ulysses e tantos outros depois oposicionistas (está no livro Perfis Parlamentares, editado pela Câmara dos Deputados):

    “Abstivemo-nos de contribuir com o nosso voto para eleição de Presidente e Vice-Presidente da República.

    Nossa posição de líder da Maioria da Câmara dos Deputados no governo deposto impede-nos moralmente de atrelarmo-nos ao carro dos vencedores. É inegável, além do mais, que nesta hora falta ao Congresso, mutilado na sua integridade e ameaçado na sua soberania, a indispensável independência para cumprir o seu dever constitucional.

    Não vai, porém, na nossa atitude, qualquer restrição de ordem pessoal ao eminente general Humberto Castelo Branco, a quem, de muito tempo, admiramos nas suas preclaras virtudes de militar e cidadão, que o credencia a exercer a Suprema Magistratura do Brasil com clarividência, energia, probidade e justiça, atributos marcantes de sua nobre personalidade.

    Pelas mesmas razões deixamos de sufragar o nome do ilustre Deputado José Maria Alkmim para Vice-Presidente da República.”

     

     

    1. “Naquele período […] foram

      “Naquele período […] foram poucos os que agiram […] em defesa da democracia…”

      Disse tudo. Ou seria o que foi, uma ditadura desenvolvimentista, ou seria o que a esquerda queria, uma ditadura maoísta.

      1. golpistas fascistas

        A ditadura desenvolvimentista se desenvolveu tanto que

         “jogavam os mortos em rios, em sacos impermeáveis e com pedras de peso calculado. Isso impedia que afundassem ou flutuassem.

        Em casos de morte recente, o ventre da vítima também era cortado, evitando assim que inchasse e voltasse à superfície. O objetivo era criar condições para que o corpo fosse arrastado pelo rio.

        Em alguns casos, segundo o relato do militar, também eram arrancadas as arcadas dentárias e cortadas as pontas dos dedos das mãos, para evitar a identificação.” (http://migre.me/iuXjx)

        1. Hitler matou 6 milhões de

          Hitler matou 6 milhões de judeus mas desenvolveu muito a indústria automobilística, bélica e biomédica da Alemanha. Uma coisa não exclui a outra.

          A ditadura brasileira que criou a Embraer, Itaipu, Nuclebrás, Embrapa, não deixou de ser ditadura, matou e torturou, poucos é verdade, em comparação com Argentina e Chile, o que não diminui o seu horror. Ah, e seu velho programa é o mesmo dos esquerdistas de hoje, os militares não eram liberais.

    2. E 50 anos depois…

      O ex-Presidente Tancredo Neves(mesmo anti-democraticamente eleito) deve ter se retorcido no túmulo, ao ver o seu neto e sonhado sucessor político, senão apoiar a tentativa de desestabilização, calar-se e ficar na espreita, nesta frustrada marcha, e nem ao menos, levantar a vóz, como certamente faria seu avô, contra esta traição aos seus princípios.

  17. Ulisses, dom Evaristo Arns, dom Hélder Câmara contra o povo?????

    A primeira vez que ouvi falar nas pesquisas do Ibope sobre o governo Jango foi em um congresso da Wapor (a associação latino-americana de pesquisas de opinião) em Belo Horizonte. Participei de um debate sobre o novo papel dos blogs junto à opinião pública. Um dos papers apresentados mencionava dados gerais da pesquisa, localizada nos arquivos que o Ibope doou à Unicamp.

    Nesta semana, na Carta Capital, há uma entrevista de Rodrigo Martins com o historiador Luiz Antônio Dias sobre as pesquisas. Os números são impressionantes:

    · Em junho de 1963, Jango era aprovado por 66% da população de São Paulo, desempenho superior ao do governador Adhemar de Barros (59%) e do prefeito Prestes Maia (38%).

    · Pesquisa de março de 1964 revela que, caso fosse candidato no ano seguinte, Goulart teria mais da metade das intenções de voto na maioria das capitais pesquisadas. Apenas em Fortaleza e Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek tinha percentuais maiores

    · Havia amplo apoio à reforma agrária, com um índice superior a 70% em algumas capitais.

    · Pesquisa na semana anterior ao golpe, realizada em São Paulo a pedido da Fecomercio, apontava que 72% da população aprovava o governo Jango.

    ·  Entre os mais pobres a popularidade alcançava 86%.

    · 55% dos paulistanos consideravam as medidas anunciadas por Goulart no Comício da Central do Brasil, em 13 de março, como de real interesse para o povo.

    · Entre as classes A e B, a rejeição a Goulart era um pouco maior em 1964. Ao menos 27% avaliavam o governo como ruim ou péssimo na capital paulista.

    ***

    É o mais contundente documento até agora divulgado sobre o desproporcional poder político dos grupos de mídia na democracia brasileira e latino-americana no século 20.

    Quase todas as ditaduras latino-americanas foram implementadas por meio de golpes de Estado legitimados por um suposto apoio da opinião pública. E esse apoio era medido exclusivamente pelo volume de notícias veiculados nos grupos de mídia, e pela mobilização que conseguiam em algumas classes sociais. Um enorme espectro da opinião pública passava ao largo desse jogo restrito.

    ***

    Depois da redemocratização, houve vários golpes de Estado institucionalizados no continente, não apenas contra governos ditos de esquerda – como o fracassado golpe contra o venezuelano Hugo Chávez – como contra governos tidos como de direita – Fernando Collor, no Brasil, Carlos Andrés Perez, na Venezuela.

    Em todos os episódios, juntavam-se interesses contrariados de grupos políticos e de grupos de mídia. Levantavam-se denúncias sólidas ou meros factoides, criava-se a atoarda, passando a sensação de que a maioria da opinião pública desejava a queda do governante.

    ***

    O ponto mais relevante das pesquisas do Ibope é mostrar que a chamada opinião pública midiática sempre foi um segmento minoritário indo a reboque de uma aliança que incluíam os grupos, alguns partidos conservadores e alguns interesses do grande capital.

    Esse modelo, que domina o debate econômico e político em todo século 20, chega ao fim com o advento das redes sociais.

    https://jornalggn.com.br/noticia/segundo-o-ibope-jango-teria-sido-reeleito-em-65

  18. Sentimentalismos e Drones

    Temos cerca de 50 por cento da riqueza do mundo, mas apenas 6,3 por cento de sua população. Nesta situação, não podemos deixar de ser objeto de inveja e ressentimento. A nossa verdadeira tarefa no próximo período é conceber um padrão de relacionamentos, que nos permitirá manter esta posição de disparidade sem prejuízos para a nossa segurança nacional. Para isso temos que dispensar todo sentimentalismo e devaneios. A nossa atenção terá de ser concentrada em todos os lugares em nossos objetivos nacionais imediatos. Precisamos de não enganar a nós mesmos que podemos pagar hoje o luxo do altruísmo e os benefícios do mundo. Devemos deixar de falar sobre objetivos vagos e irreais, como os direitos humanos, a elevação dos padrões de vida e de democratização. Não está longe o dia, quando vamos ter que lidar sobre conceitos de poder predefinidos, a menos que sejamos prejudicados por slogans idealistas.

    George Kennan, decisor político central do Departamento de Estado durante a Guerra Fria, 1948

     

    Todos nós consideramos que é importante ter uma base de influência em todos os países que pudermos e se um pouco de equipamentos, alguns aviões e alguns convites para frequentar as nossas escolas de serviços preparem o terreno para que isso seja possível, que objeção pode haver?

    General W. B. Palmer, 1962

     

    Provavelmente, o maior retorno sobre nosso investimento em assistência militar vem da formação dos agentes selecionados e especialistas em nossas escolas militares e centros de formação nos Estados Unidos e no exterior. Esses alunos são escolhidos a dedo por seus países para se tornarem instrutores quando retornam para casa. Eles estão serão líderes, os homens que têm o know-how para ser transmitido para as suas forças. Preciso me debruçar sobre o valor de ter em posições de liderança homens que tenham conhecimento, em primeira mão, de como os americanos fazem as coisas e como elas pensam. É (o benefício) além do preço para nos tornar amigos de tais homens.

    Robert McNamara, falando na Comitê de Apropriações da Câmara dos Deputados,em 1963

     

    execução … implantar rápido grupo tarefa transportador na área de oceano nas imediações de Santos, Brasil

    Documento secreto da CIA na fase de articulação do golpe de 1964

     

    We know that as Brazil goes, so will go the rest to Latin America continent

    Em 1971, Nixon declarou que o resto da América Latina iria aonde fosse o Brasil

     

    A escola é uma maneira pela qual podemos avançar nossos valores naquela região e como nos relacionamos com a liderança militar desses países. Ao nos envolvermos com eles, esperamos incutir novos valores e novo respeito pelas coisas fundamentais como Direitos Humanos Internacionais e outros tipos de valores que, no passado, forma anulados.

    Mike McCurry porta-voz da Casa Branca, 1996

     

    Acontece que eu sou realmente bom em matar pessoas.

    Obama teria dito a seus assessores sobre as operações letais de aeronaves não tripuladas.

  19. Com todo o respeito ao

    Com todo o respeito ao Wanderley dos Santos, tenho que discordar:

    1.”Em comum a constatação de que havia um receio concreto, de lado a lado, da iminência de um golpe.”

    Ficou sempre claro que a direita não aceitava e preparava o golpe, desde o primeiro dia do governo de Jango.

    Alias a sua propria posse apenas ocorreu devido a “radicalização” de Brizola, na epoca, governado do RGS.

    Ao mesmo tempo trata-se de um enorme engano ou, em alguns casos, engodo, essa teoria de que havia a preparação de um golpe de esquerda.

    João Goulart era o tipico politico conciliador, rico fazendeiro, casado com uma das mulheres mais elegantes da sociedade.

    Nenhuma semelhança tinha com um Fidel ou um Guevara.

    Pretendia apenas realizar as reformas necessarias para destravar o pais.

    Algumas ate realizadas depois, pelos proprios militares no poder.

    Alem disso que golpe Jango poderia dar, com todos os veiculos de informação contra ele, a exceção de Ultima Hora,  sem apoio de nenhum setor das Forças Armadas, com uma conspiração arquitetada e gerenciada pelos americanos, com a esquerda dividida?

     

    2.”A retórica radical de Leonel Brizola ajudou a levantar fantasmas por todos os poros.”

    Exatamente como a direita, com suas armas de controle da informação, pinta, hoje, o Dirceu como um perigoso “radical”, o demonio da epoca era o Brizola. A demonização começou a ocorrer antes dos fatos aqui discutidos, mas quando, como governador gaucho, encampou a companhia americana de telefonia.

    Brizola “radicalizou o discurso” apenas quando era visivel que não havia possibilidade de nenhum dialogo politico, pois a conspiração de direita ja não acontecia mais as escuras.

     

    3.”Um outro ponto complexo era a completa fragmentação política. De um lado, a esquerda dividida em vários grupos antigos, novos – a nova esquerda católica e os dissidentes do PC -; de outro, a direita e os militares também pulverizados em vários grupos”.

    Quanto a ess afirmação tenho que, infelizmente, em parte concordar, quando diz que “a esquerda estava dividida”.

    Ja nos tempos de Cabral os dominadores entendiam que era necessario dividir para avançar. Colocaram os indios do norte em guerra contra os do sul

    Mas não estou de acordo que “a direita estava dividida”.

    Infelizmente não.

    Existiam, mesmo entre os militares,varios grupos.

    É verdade.

    Em razão disso tivemos essa estranha ditadura com varios ditadores.

    Eles, diferentemente da esquerda, se acertaram e se alternaram no poder.

     

    4″ Ulisses Guimarães engrossou a Marcha da Família; dom Paulo Evaristo Arns e dom Hélder Câmara, entre outros, saudaram a deposição de Jango. Jornalistas liberais apoiaram o golpe.”

    Ulisses Guimarães era uma especie de Gilberto Gil da epoca. Tocava em todas as bandas. Estava na passeata de ca, depois na de la. Com o endurecimento da ditadura foi modificando o discurso.

    Dom Helder nunca negou que foi inclusive fascista. Depois se regenerou e fez tudo o que fez.

    Quanto aos “jornalistas” gostaria de saber do Nassif quais apoiaram o golpe?

    Talvez o Flavio Cavalcante?

    Ou o Amaral Neto?

     

    1. Posso ajudar,autônomo ?

      O primeiro ponto da “pérola” do Prof. Wanderley, soa falsa, como uma nota de 3 Reais. Não havia nenhuma movimentação da esquerda, para nenhum golpe, ou coisa parecida;

      Segundo ponto: Jamais Brizola, radicalizou. Ele apenas sentiu que alguem teria que fazer algo, e ele era Governador de um Estado importante da federação, e seria afetado, como na prática foi, só que em sentido contrário;

      Terceiro ponto: Fragmentação política ? Como ? Não havia esquerdas, o que havia era pequenos e desorganizados grupos estudantís e de intelectuais, sedentos de novidades e uma direita conservadora, que obrigava a igreja a seguir suas instruções, e uma elite temerosa de novos ares;

      Quarto e último ponto: Os atores políticos e as autoridades religiosas citadas, não imaginavam que a coisa chegasse aonde chegou, tanto que a maioria deles, em seguida, passou a defender uma abertura e a proteger os perseguidos, chegando ao ponto de serem igualados aos guerrilheiros que combatiam nas sombras, enquanto eles combatiam nas tribunas dos parlamentos e nos púlpitos das igrejas.

      Quanto ao nome dos jornalistas, que o prezado comentarista pede os nomes ao Nassif, certa vez, eu  fiz uma pergunta semelhante ao dono do blog, e ele respondeu-me que estas coisas(submissão) ocorrem na categoria, para manter-se os parcos empregos, numa categoria que não tem emprego na imprensa independente.

      1. autonomo e Raí

        Muito bons os dois comentários que trazem os fatos que faltaram na análise dos professores Daniel e Wanderley. São respeitados em seu campo de conhecimento: um bom historiador e um bom cientista político com uma trajetória reconhecidamente de esquerda. Muitas vezes a academia causa vícios conceituais ao se dedicar a um método de leitura da realidade: há quem vá ao “osso” , há quem mantenha a vivacidade da argumentação e a abertura a um questionamento permanente. 

  20. Pela criminalização da apologia à ditadura militar

    Reproduzo abaixo um post do Eduardo Guimarães, do seu Blog da Cidadania.

    Uma proposta mais do que oportuna.

     

    Pela criminalização da apologia à ditadura militar

     

    Muitos levaram na brincadeira um dos fatos mais estarrecedores e tristes da história recente deste país: no último sábado (22/3/14), pessoas saíram pelas ruas das maiores cidades brasileiras para fazer apologia a dois crimes, sendo um deles um crime de lesa-humanidade. Aquelas pessoas não só defenderam a ditadura militar instaurada em 1964, mas, também, que seja dado um golpe de Estado no Brasil.

    Apesar do que pareceu apenas ridículo a tantos – e que, entre outras coisas, realmente foi ridículo –, não se pode mais aceitar que, após todos os horrores praticados pelo regime criminoso instaurado em 1964, pessoas irresponsáveis ou desinformadas ou mal-intencionadas – ou tudo isso junto – não apenas defendam as atrocidades do passado, mas cheguem ao cúmulo de pregar que se repitam.

    Com efeito, o que aconteceu no último sábado em algumas cidades brasileiras – pouco importa se com maior ou menor intensidade – não pode ser levado na brincadeira. E não pode se repetir.

    Em 18 de novembro de 2011, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei 12.528, que criou a Comissão Nacional da Verdade no âmbito da Casa Civil da Presidência da República com a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período de 1946 até a promulgação da Constituição de 1988. A conclusão dos trabalhos dessa Comissão, pois, precisa coincidir com uma providência drástica que impeça que a nação brasileira continue sendo afrontada e ameaçada como foi em 22 de março último.

    Em 24 de dezembro de 2013, a presidente da República sancionou a medida provisória 632, que, em seu artigo 25, prorrogou o mandato da Comissão Nacional da Verdade até 16 de dezembro de 2014, quando deverá apresentar relatório circunstanciado contendo as atividades realizadas, os fatos examinados, as conclusões e recomendações.

    Entre essas recomendações do relatório final da CNV, é imperativo que conste equiparação da apologia à ditadura militar à apologia ao nazismo.

    No Brasil, fazer apologia ao nazismo e ao racismo é crime sem direito a fiança. Este enquadramento é dado pelo artigo 20, parágrafos 1 e 2, da lei 7716 de 5 de janeiro de 1989, atualizada pela lei 9459 de 15 de maio de 1997.

    A divulgação do que a Comissão Nacional e as Comissões Estaduais terão apurado entre 18 de novembro de 2011 e 16 de dezembro de 2014 justificará plenamente que, no relatório final que emergirá dos trabalhos dessas comissões, nas recomendações que serão feitas, insira a proposta de criminalizar a apologia à ditadura e a pregação de novas rupturas institucionais.

    O relatório final da Comissão Nacional da Verdade apresentará ao Brasil uma história de horror e morte, de roubalheira desbragada de um regime de caráter basicamente nazista, no qual até crianças foram seviciadas, no qual mulheres foram estupradas, no qual assassinatos foram cometidos, tudo sob a desculpa de obtenção de “informações” das vítimas, muitas das quais não tinham o que revelar.

    Se o que o regime de 1964 praticou não for comparável ao nazismo, cuja apologia é proibida em incontáveis países – entre os quais na própria Alemanha, onde aquele regime hediondo nasceu –, regime criminoso nenhum jamais será.

    Ironicamente, uma lei nascida daquela ditadura sangrenta – uma lei que vige até hoje – já até poderia ser usada para punir os bandidos que saíram às ruas de grandes cidades brasileiras no último sábado para exaltar os crimes daquele período infame de nossa história e para pregar que se repitam.

    Em 1983, foi promulgada pela ditadura, já em seus estertores, a lei 7170, a famigerada Lei de Segurança Nacional, que, em seus artigos 16 e 17, pune pregação ou tentativa de derrubar o regime vigente com penas que vão de 1 a 15 anos.

    O artigo 16 da lei 7170/83 reza que “Integrar ou manter associação, partido, comitê, entidade de classe ou grupamento que tenha por objetivo a mudança do regime vigente ou do Estado de Direito, por meios violentos ou com o emprego de grave ameaça”, é punível com pena de reclusão de 1 a 5 anos.

    O artigo 17 da lei 7170/83 reza que “Tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito” é punível com pena de reclusão de 3 a 15 anos.

    Para sorte dos fascistas que saíram às ruas das grandes cidades brasileiras no último sábado, porém, nenhum democrata recorrerá àquele instrumento infame legado pela ditadura que exaltam, mas que poderia ser usado para enquadrá-los.

    Contudo, isso não significa permitir que continuem fazendo apologia a crimes pretéritos enquanto pregam crimes futuros. Nos Estados Unidos, que tanto agradam a essa gente, quem for à rua pregar derrubada do governo pela força será sumariamente preso e trancafiado por muito tempo. Crime dessa natureza é punido em qualquer outra grande democracia. Por que não deveria ser punido no Brasil?

     

    Fonte: http://www.blogdacidadania.com.br/2014/03/pela-criminalizacao-da-apologia-a-ditadura-militar/

     

  21. Como lhe faltasse coragem
    Como lhe faltasse coragem para a defesa aberta, a tese do aparato conservador para a quartelada de 64 é que se tratou de uma medida preventiva.

    Como os ataques do Bush no Iraque e em outros quintais.

    Prima-irmã da ditabranda, a patranha é conhecida e serve para justificar qualquer fato histórico.
     
    A realidade é diferente.
     
    O que se viu foi um presidente constitucional – popular segundo enquetes de opinião da época – deposto sem esboçar reação e um regime de força de direita que durou 21 anos e aprofundou as desigualdades.
     
    O bolo cresceu e só uns poucos, os de sempre, se refestelaram.

    Me pergunto por que os nazistas não apostaram nessa linha como estratégia de defesa nos tribunais?

    E o Eichmann em Jerusalém:

    “Sabe, Excelência, nós despachávamos os judeus para os campos de concentração e depois para os fornos porque do contrário o sionismo internacional aliado aos comunas faria isso com a gente.”

    Básicos esses nazistas, não ouviram os nossos historiadores.

  22. Democracia
    Tô contigo, Gerardo. Os regimes “revolucionários” não ficam a dever em nada a qualquer outro em termos de violência. Pelo contrário! Conforme já disse em debates pessoais sobre o assunto, nossos militares foram verdadeiras “donzelas”, se comparados aos “mestres” que você citou! Não estou defendendo o que ocorreu em nosso passado nem desejo um regime militar de volta ao poder. Mas a constante que vejo  na crescente insatisfação popular é que a democracia tal e qual estamos vivendo está decepcionando muita gente. Aí, bate aquele “saudosismo” em quem se sente impotente e sem perspectivas melhores de futuro. De fato, não parece que vivemos numa democracia real. Usando como figura a realidade do povo carioca, parece que vivemos em uma “comunidade” (eufemismo para favela) onde facções rivais brigam ferozmente entre si com armas pesadas para ver quem é que toma o controle do território. Não importa qual “quadrilha” vai ganhar. Os moradores nunca terão liberdade de ir e vir. Nunca terão opinião. Manda quem tem o poder. Essa é a real imagem que boa parte (diria a maioria) da população tem dos partidos políticos e seus representantes hoje.  Falando especificamente, o governo do PT conseguiu promover o maior choque de realidade “nunca visto antes na história desse país.” As pessoas viam o Lula (e sua trupe) como o salvador da pátria, a esperança dos trabalhadores… o paizão do Brasil… Agora, depois de sucessivos escândalos de corrupção e incompetência, depois de tantas alianças políticas improváveis (pelo histórico do partido), entre outros, o que mais tenho visto são ex-PTistas. A reforma política que tanto se espera parece que nunca sairá do papel. A reforma eleitoral tão necessária parece que nunca sairá do papel. A reforma tributária tão defendida (antes de assumir o poder) se converteu numa cobrança de tributos cada vez maior. Os escândalos não dão pinta de que irão parar. Criminosos condenandos recebem atos de desagravo… E a esperança fica aonde? Provavelmente se mudar a gangue, o cenário permanecerá o mesmo!Só resta a saudade de quem acha que já foi melhor. 

  23. Protagonismo político x Participação no processo.

    As grandes e ao meu ver, as diferenças entre o que houve nos anos pré-revolução e o que está ocorrendo agora, no Brasil, são estas duas determinantes, o protagonismo político, ou seja a participação popular na política, com sua representação sendo sentida, e a consequente utopia de que esta chegada a este ponto, teria que ser sicedida, por mais direitos sociais, e o que há agora, quando a sociedade civil, “sonha” menos em participar, porem exige que as instituições básicas e que afetam o seu dia-a-dia, funcionem, e efetivamente, elas estas estão funcionando a todo o vapor, últimamente e avançando a cada passo dado pelas instituições, com raras excessões.

    Entre a saída de Getúlio e o ano de 1964, depois de um falso “milagre” economico, que feito à base de “canetadas” do Poder Executivo, especialmente no governo JK, a então conservadora sociedade civil, temia um retrocesso, com a iminencia de darmos uma guinada para um regime que já era simpático ao comunismo, meio que aceito pelo então Presidente João Goulart, que assustava a uma direita e às igrejas medrosas de renovação, pois conforme os mais conservadores, os comunistas “comiam crianças” entre outras coisas.

    Mesmo com uma população de mais de 70% pobre e/ou miserável, foi fácil para as elites convenceram os menos informados politicamente, de que sem uma revolução em prol da família e da propriedade, iríamos ser esmagados pelos comunistas, e assim os militares, por assim dizer, “ganharam” o Poder de graça, e o resto, que conhecer minimamente a história, conhece.

    Hoje, com uma população que saiu daquele estágio e avançou economicamente 100 anos em 12, qualquer tentativa de retrocesso, é inaceitável, e não conta com o apôio da maioria, como acabou de ser provado, com esta infrutífera tentativa de “acender” uma fogueira de terror, ocorrida no último dia 22, que foi veementemente pelos brasileiros de bem.

  24. A Escola de Assassinos

    A School of the Americas – SOA foi estabelecida no Panamá, em 1946 para, ironicamente, promover a estabilidade na região e, como resultado das atividades de seus alunos, adquiriu o cabuloso apelido de ‘Escuela de Golpes’.

    Em 1984 a School of the Americas foi expulsa do Panamá sob os termos do Tratado do Canal do Panamá e, hoje, no paradisíaco local encontra-se em atividade um majestoso hotel.

    Desde de 2001 a ‘escola de assassinos’ está localizada em Fort Benning, Georgia, e o seu programa de treinamento oferece mais de 2.000 cursos em mais de 150 escolas e instalações militares, de acordo com um porta-voz do Comando Sul dos EUA .

    Os alunos do WHINSEC são selecionados pelo país de origem e os candidatos são avaliados pela Embaixada dos EUA naquele país antes de conceder os vistos.

    A maioria dos alunos vem da Colômbia, seguida pelo Chile, Honduras, El Salvador, República Dominicana, Bolívia, Peru e Panamá e o número anual de diplomados oscila entre 700 e 1.000.

    Outros países elegíveis para participar do WHINSEC incluem Barbados, Bolívia, Brasil, Costa Rica, Equador, México, Paraguai, Peru, São Vicente, Trinidad e Tobago e Uruguai.

    Muitos oficiais superiores norte-americanos, bem como agentes para a área externa e membros das Forças Especiais, também frequentam os cursos de língua espanhola.

    O presidente panamenho Jorge Illueca definiu a escola como “a maior base de desestabilização na América Latina” e um grande jornal a apelidou de “Escola de Assassinos”.

    O orwelliano Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança – WHINSEC.

    A manifestação e a vigília anual do grupo chamado School of the Watch Americas contra escola do Fort Benning visa, em última análise, fechar o WHINSEC, que até 2001 era conhecida como a Escola das Américas .

    Os manifestantes reclamam que muitos dos membros militares estrangeiros treinados na escola voltam para casa como instrumentos de governos corruptos para oprimir a população.

    Milhares de manifestantes foram presos por desobediência civil desde o começo das manifestações em 1990 pela alegação que a escola ensina táticas de tortura e gera ditadores.

    O protestos, realizados no portão da frente do Fort Benning, atraiam cerca de 20.000 pessoas, mas, após muitos governos na América Latina terem mudado o perfil militar para civil, registrou, nos últimos anos, a redução do tom agressivo dos seus manifestantes.

    Thousands of people gather outside the gates of Fort Benning in 2005 during the annual protest against the Western Hemisphere Institute for Security Cooperation, formerly known as the Army's School of the Americas, which is housed on the base.

    O protesto anual contra o WHINSEC em 2005 (Mike Haskey / The Columbus Ledger- Enquirer via AP)

    Os manifestantes escolheram o dia 16 de novembro para esta vigília, pois nessa data, em 1989, funcionários do governo em San Salvador, El Salvador assassinaram padres jesuítas que estavam trabalhando pela paz e a democracia na América Latina.

    Desde 1946, a SOA treinou mais de 65 mil soldados latino-americanos em técnicas de contrainsurgência, treinamento para atiradores, comando e guerra psicológica, inteligência militar e táticas de interrogatório e os seus graduados têm consistentemente usado as suas habilidades adquiridas para travar guerras contras as populações dos seus países de origem. 

    Estão entre os seus alvos os educadores, sindicalistas, religiosos, líderes estudantis e outros ativistas que trabalham pelos direitos dos menos favorecidos. 

    Centenas de milhares de latino-americanos foram torturados, violados, assassinados, massacrados, “desapareceram” ou foram forçados a passar para a condição de refugiados por aqueles treinados na sinistra instalação americana. 

    Sob jurisdição do Departamento de Defesa, esta escola é financiada pelo dinheiro dos contribuintes dos EUA e todo o treinamento é realizado na língua espanhola, por instrutores, na sua maioria, oriundos da América Latina. 

    Segundo a própria SOA, mais de 65.000 membros de diferentes grupos militares latino-americanos participaram dos seus cursos desde a sua criação em 1946.

    O Pentágono admitiu que manuais de treinamento da SOA continham instruções sobre tortura, a extorsão e outras violações dos direitos humanos.

    Whinsec Hemisphere Institute for Security Cooperation - Fort Benning, Georgia

    Whinsec Hemisphere Institute for Security Cooperation – Ft. Benning, Georgia

    Alguns dos piores e mais notórios violadores dos direitos humanos na história da América Latina estão incluidos entre os graduados SOA / WHINSEC. 

    Não importa qual nome é referenciado, SOA ou WHINSEC, a escola é sinônimo de tortura e impunidade e os seus alunos  produziram golpes militares e são responsáveis ​​por massacres de centenas de milhares de pessoas. 

    Alguns dos graduados mais notórios deste centro de treinamento são os ditadores Manuel Noriega e Omar Torrijos do Panamá, Leopoldo Galtieri e Roberto Viola da Argentina, Juan Velasco Alvarado do Peru, Guillermo Rodriguez, do Equador e Hugo Suarez Banzar da Bolívia. 

    Os graduados SOA foram responsáveis ​​pelo massacre de Uraba na Colômbia; o massacre de 900 civis em de El Mozote, em El Salvador; o assassinato do arcebispo Oscar Romero e o massacre de seis padres jesuítas em El Salvador junto com a governanta Celina Ramos e a sua filha Elba Ramos, de 14 anos de idade, além de centenas de outros abusos dos direitos humanos e são, também, suspeitos do assassinato de Dom Gerardi na Cidade da Guatemala, em 1998.

    O manual secreto do Exército dos EUA, usados ​​para treinar militares latino-americanos entre 1982 a1991, defendim as execuções, torturas, chantagens e outras formas de coerção contra os insurgentes, de acordo com os documentos recentes revelados pelo Pentágono. 

    O manual ensina recrutar informantes e controlar os agentes de contrainteligência usando “o medo, o pagamento de prêmios por inimigo morto, espancamentos, cárcere privado, execuções e o uso de soro da verdade”, de acordo com um resumo do documento secreto do Departamento de Defesa sobre os manuais compilados durante uma investigação realizada em 1992 e também lançados recentemente.

    Conteudo e imagens da Internet

  25. O Cenário Econômico Pré-golpe

    “A verdadeira ameaça – para os empresários, o exército e os investidores estrangeiros – foi a probabilidade de, sob Goulart, trabalhadores organizados se transformassem na força política dominante no Brasil”

    O regime de Goulart (1961-1964) representou a “contradição fundamental entre a responsabilidade do governo perante os cidadãos que o elegeu e a obediência às exigências dos credores estrangeiros expressas no programa de estabilização do FMI”. Um governo que se recusa a fazer qualquer gesto em direção a satisfazer as condições impostas pelo FMI, frequentemente encontra o seu crédito internacional para as importações cortados e, por sua vez, aumenta a probabilidade de um golpe direitista induzido pela CIA.

    O país imerso no meio de uma crise do balanço de pagamentos é geralmente incapaz de obter crédito necessário a menos que “mudanças políticas significativas sejam feitas”. Por exemplo, os novos empréstimos só podem ser obtidos através de uma mudança de políticas econômicas nacionalistas em direção a medidas que favoreçam o investimento estrangeiro. Como está sendo cada vez mais suportado por outros países do Terceiro Mundo, o sistema democrático no Brasil, no início da década de 1960, provou ser socialmente desigual pelo difícil desafio colocado pela restrição de divisas. Desde que Goulart foi eleito por uma coalizão “populista” dos eleitores que abrangiam diferenciadas linhas de classe, o próprio sistema partidário foi desestimulado por estratégias que poderiam colocar qualquer grupo significativo em desvantagem. Neste ambiente, o golpe de ’64 tornou-se uma condição sine qua non para receber a aprovação dos EUA.

    Anteriormente, em 1958, o presidente Juscelino Kubitschek tinha sido forçado a chegar a um acordo com o Fundo Monetário Internacional sobre certas medidas de estabilização, a fim de garantir um empréstimo de US $ 300 milhões. Seu antecessor, Getúlio Vargas, havia cometido suicídio em 1954 e deixou um documento no qual culpava as forças externas por ajudar a criar as circunstâncias que o levaram a tirar a própria vida: “As empresas estrangeiras obtiveram lucros de até quinhentos por cento. Eles comprovadamente privaram  o Estado de mais de cem milhões de dólares através de falsas avaliações de produtos de importação”. O presidente do Banco do Brasil recusou-se a implementar a proposta de aperto de crédito do governo, que teria causado uma grande depressão no setor privado. Em 1958, Kubitschek rompeu as negociações inaceitáveis com o FMI com a esperança de pagar o empréstimo americano. Em curto prazo ele conseguiu obter o crédito externo necessário por meio de empréstimos de alto custo a partir de fontes privadas no exterior. Mas o seu sucessor, Jânio Quadros, herdou uma crise de amortização da dívida em grande escala que não podia mais ser adiada.

    Quadros imediatamente chegou a um acordo com o FMI e os credores estrangeiros. Ele aboliu os “leilões de troca” – leilão de reservas cambiais pelo maior lance – que o governo brasileiro, tinha anteriormente utilizado como fonte de receita e foram estabelecidos certos controles cambiais (subsídios) para as importações “necessárias”, efetuando uma desvalorização do cruzeiro brasileiro em cinquenta por cento. No entanto, o FMI ainda não estava satisfeito e, em julho de 1961, conseguiu forçar Quadros a abolir todos os controles de câmbio e atrelar todas as operações de câmbio, à taxa do mercado mundial – free. 

    Ao atender as exigências do FMI, Jânio foi capaz de negociar novos créditos e reprogramar os pagamentos devidos com seus credores norte-americanos e europeus. A inflação cresceu e quando Quadros contingenciou o crédito – como Kubitschek fez antes dele – sofreu fortes pressões políticas. Na esperança de ganhar o apoio popular e um novo mandato para liderar o país, Jânio Quadros renunciou após apenas oito meses no cargo.

    Embora algumas fontes tenham interpretado a sua renúncia como sendo imposta pela CIA, Quadros foi, de fato, a última esperança do governo dos EUA de impor a sua marca de estabilidade no país, dentro de um quadro democrático. No New York Times de 26 de agosto de 1961, a análise da situação, foi descrita pelo Departamento de Estado como “um medo de que a partida do Presidente Jânio da cena política do Brasil, se não fosse revertida, mergulharia o país em graves dificuldades políticas, ameaçadoras à sua estabilidade, que iriam interferir no programa de estabilização econômica e financeira”.

    O sucessor de Jânio Quadros, João Goulart, cuja força política repousava sobre os seus estreitos laços com os sindicatos, enquanto Ministro do Trabalho sob Vargas, foi à esquerda do espectro político brasileiro. A verdadeira ameaça – para os industriais, o exército e os investidores estrangeiros – foi a probabilidade de que, sob Goulart, os trabalhadores organizados se transformariam na força política dominante no Brasil. Se Quadros não foi capaz de realizar o seu programa de estabilização, parecia ainda menos possível ter esperança a esse respeito, de Goulart.

    Durante a presidência de Goulart, as contradições inerentes ao desenvolvimento do pós-guerra atingiu o ponto de ruptura no Brasil. Goulart tinha herdado os problemas acumulados em quinze anos de inflação e endividamento externo, que nenhum dos seus antecessores havia enfrentado com sucesso. O último esforço do Brasil na estabilização econômica, em um quadro democrático, foi feito em 1963. O Plano Trienal, elaborado pelo ministro das Finanças, Santiago Dantas e o ministro de Planejamento Econômico, Celso Furtado, foi feito com um olho no eleitorado brasileiro e outro no FMI.

    Por um lado, este plano prometeu realizar as reformas tributária e agrária e retomar uma alta taxa de crescimento.  Simultaneamente, no entanto, o plano procurou conter a inflação; uma condição prévia para receber novos créditos e / ou adiar os pagamentos devidos. Em 1963, este esmagamento da carga de amortização da dívida ameaçou engolir até 45 por cento das receitas de exportação do Brasil. Quando o plano foi apresentado ao FMI, este último exigiu condições mais rigorosas: desvalorização do cruzeiro; reforma cambial – que significou a abolição de subsídios sobre a importação de trigo e petróleo – e restrições sobre o déficit do orçamento – que foi traduzida em uma redução nos serviços do governo – e contenção de aumentos salariais. Estas restrições foram projetadas para contrair a oferta de moeda e deprimir os custos de bens e de trabalho. Produtos mais baratos e mão de obra – à custa dos trabalhadores – tornariam as exportações brasileiras mais competitivas no mercado mundia. Mas os elementos contraditórios do Plano Trienal logo explodiram.

    O Brasil foi capaz de afastar o desastre iminente quando a Agência para o Desenvolvimento Internacional – AID concordou em liberar 400 milhões dólares americanos com a condição de que o governo manteria o seu programa de austeridade. Por causa de uma proposta de 70 por cento de aumento salarial para os funcionários públicos – os militares entre eles – cujo apoio era necessário se Goulart fosse permanecer no poder, o programa do governo estava condenado ao fracasso. Preso entre o precipício e a rocha, Goulart deu o aumento salarial não previsto no plano de estabilização proposto e os EUA suspenderam imediatamente a ajuda financeira.

    Goulart exacerbou ainda mais a hostilidade americana em direção a ele, quando assinou a Lei de Remessa de Lucros. Essa lei enfureceu os investidores estrangeiros por determinar que as remessas seriam calculadas apenas sobre o montante do capital originalmente trazido para o país e não sobre os lucros muito maiores que eram remetidos para fora ou reinvestidos no Brasil. O desgosto dos EUA para Goulart foi expresso no corte-off de apoio ao seu governo e na  assistência a governadores conservadores como Carlos Lacerda, na Guanabara, e Adhemar de Barros, em São Paulo, com quem o país pensava que poderia negociar de acordo com os seus interesses.

    O ato final da tentativa fútil de Goulart para aplacar os interesses estrangeiros e nacionais foi exposto no primeiro trimestre de 1964. No início do ano, Goulart realizou discussões sobre mais uma reforma cambial e o reescalonamento da dívida externa do Brasil através da formação de uma equipe integrada por três inspetores do FMI. Mas esta tentativa de chegar a um acordo com os seus credores naufragou completamente quando, em uma guinada para a esquerda, ele anunciou a expropriação e a redistribuição de terras de propriedade privada e a nacionalização de refinarias de petróleo. Infelizmente, estes movimentos contribuíram mais para mobilizar a direita do que ganhar o precioso apoio da esquerda. Em 1º de abril de 1964, os militares rapidamente depuseram Goulart e instalaram o seu próprio governo interino.

    Os 15 anos seguintes demonstraram que, com a derrubada de João Goulart, a democracia no Brasil chegou a um ponto insuportável. Os direitos políticos básicos foram abandonados durante os claudicantes anos vividos sob a dituadura militar. As disposições do primeiro Ato Institucional, elaborado após o golpe, criaram a cassação ou a morte política por dez anos. Estes poderes de emergência logo deram lugar a um segundo Ato Institucional. O Quinto Ato Institucional – AI5 fechou o Congresso, suspendeu o habeas corpus para a atividade política, deu poder autocrático completo para o presidente e rescindiram as leis trabalhistas, promulgadas após o golpe e, praticamente, todos os direitos relacionados ao trabalho, como o direito à greve, a negociação direta com os empregadores em vez do Estado e estabelecer a representação sindical dentro das fábricas. A destruição da democracia no Brasil era uma evidência da impossibilidade de servir a dois senhores: Goulart nunca foi capaz de conciliar as exigências legítimas dos grupos domésticos de pressão com as restrições econômicas externas impostas pelos credores do Brasil. Como uma ironia final, a recusa de Goulart em sucumbir a pressões estrangeiras só serviu para irritar as forças não democráticas dentro do Brasil até o ponto onde eles viram convergir o interesse de se livrar da democracia e do presidente João Goulart em uma só penada.

    Extraido de ‘O Brasil e a Cia’ de Peter Gribbin

  26. Os Traidores da Pátria

    Os Inimigos do Brasil e Aliados Internos do Imperialismo

    No outono de 1961, quando Goulart estava assumindo a presidência, os Estados Unidos começaram a fazer contato com a oposição de direita. Ao mesmo tempo, a CIA começou a penetração multifacetada da sociedade brasileira concebida para influenciar a política interna do país. Lincoln Gordon, embaixador dos EUA no Brasil, foi nomeado no mesmo dia em que o antecessor de Goulart, Jânio Quadros renunciou. Logo após a sua chegada, em outubro, Gordon encontrou-se com o almirante de direita chamado Silvio Heck. Heck forneceu  informações a Gordon sobre uma pesquisa das forças armadas que revelou que mais de dois terços dos homens alistados eram de oposição a Goulart. Heck também esperava que, quando chegasse a hora de derrubar Goulart, “os EUA iriam ter uma visão segura.” Embora Gordon posteriormente tenha concluído que as análise de Heck foram exageradas, ele nunca advertiu Goulart ou seus conselheiros sobre a conspiração nos quartéis.

    A CIA, por sua vez, foi muito além do interesse passivo no sentido de ajudar as forças militares de direita chegarem ao poder no Brasil. A derrubada de Goulart e a destruição da democracia no Brasil foi instrumentalizada através da manipulação de diversos grupos sociais. A polícia, os militares, partidos políticos, sindicatos, federações e associações de estudantes  e donas de casa foram todos explorados no interesse de agitar a oposição a Goulart. No entanto, enquanto a intenção original de Washington pode ter sido substituir Goulart pelo homem forte general Castello Branco, a garantia de sucesso do golpe a longo prazo, exigiu um aumento no engajamento dos EUA e o treinamento das forças de segurança brasileiras que continua até hoje.

    O golpe militar teve como seu primeiro presidente Humberto Castello Branco, um homem que sempre teve uma longa e estreita relação com o exército dos Estados Unidos. Durante a invasão aliada da Itália, em 1945, uma série de importantes oficiais brasileiros, que participaram da campanha, foram expostos à filosofia e táticas militares americanas. O companheiro de quarto de Castello Branco na Itália foi um engenheiro CIA envolvido no golpe no Brasil, o então tenente-coronel Vernon ‘Dick’ Walters . Em 1964, Walters foi adido militar da embaixada dos EUA e o homem mais intimamente ligado com a liderança militar no Brasil.

    Desde o fim da II Guerra Mundial, Washington tinha usado o seu papel como policial do chamado mundo livre para justificar a expansão da sua influência nas forças brasileiras. O planejamento militar entre os dois países foi coordenado por uma Joint Brazil United States Military Commission  – JBUSMC. Em 1949, o Pentágono ajudou o Brasil a configurar a Escola Superior de Guerra (Advanced War College), uma cópia carbono do U.S. National War College. 20

    A Escola Superior de Guerra – a responsável pelos estudos avançados de segurança nacional, desenvolvimento de estrategia militar e ideais sobre a construção da nação – foi a última a ser capitaneada a partir do Pentágono e da experiência do Exército dos EUA na reconstrução do pós-guerra Japão. A ESG já formou mais de três mil civis e gestores militares doutrinados na ideologia militar de direita e na crença de que apenas as forças armadas podem levar o Brasil a seu destino apropriado como a grande potência da América Latina. 

    Outro general do exército brasileiro, fundamental para o golpe, foi Golbery do Couto e Silva. Como Castello Branco, Couto e Silva foi um membro da elite militar do Brasil, que se apaixonou pelo pensamento militar dos EUA, enquanto servia na Força Expedicionária junto dos Aliados na Itália em 1945. Couto e Silva, “a eminência parda intelectual do Exército Brasileiro”, foi particularmente influente na formação da Escola Superior de Guerra, popularmente conhecida como “Sorbonne Brasileira”. Couto e Silva, ex-chefe da seção brasileira da Dow Chemical,  tornou-se chefe do primeiro Serviço Nacional de Inteligência do Brasil, o SNI, após o golpe de Estado em 1964.

    No início dos anos 60, o agora aposentado general Couto e Silva tornou-se o chefe de gabinete do Instituto de Estudos de Pesquisa Social – IPES. A inspiração principal do IPES foi de Glycon de Paiva, um engenheiro de minas do estado de Minas Gerais. Para evitar a detecção, o IPES posou como uma organização educacional que doava dinheiro para reduzir o analfabetismo entre as crianças pobres. O real de trabalho IPES, no entanto, era organizar a oposição a Goulart e manter dossiês sobre qualquer um que Paiva considerava inimigo.

    Glycon de Paiva, traduzindo o seu ódio visceral ao comunismo e atendendo aos seus interesses, apelou aos principais empresários do Brasil através de uma mensagem simples para que pudessem compreender : “Goulart quer tirar de você o que é seu”. Desta forma, Paiva foi capaz de angariar cerca de US $ 20.000 por mês em doações.

    Um dos alvos imediatos da campanha anti-Goulart promovida pelo IPES eram donas de casa, a quem de Paiva reconhecia como sendo receptivas às advertências sobre a ameaça que o comunismo representava para a família brasileira e aos valores da sociedade em geral. Ele montou sociedades femininas em todas as grandes cidades. No Rio de Janeiro era chamado de Campanha da Mulher pela Democracia – CAMDE. Durante a semana do golpe de Estado em março de 1964, o IPES organizou uma grande marcha contra Goulart. Em São Paulo, 10 mil pessoas se uniram à Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Mulheres de São Paulo apresentaram um manifesto em nome da democracia cristã e, ao mesmo tempo, o Arcebispo de São Paulo proibiu os seus bispos de participarem da marcha, por acreditar que ela tinha sido financiada pela agência de publicidade dos EUA, McCann Erickson.

    A maior preocupação de Paiva, no entanto, foi a ameaça representada pela abertura de Goulart para a esquerda. Neste sentido, o papel de Couto e Silva em manter os arquivos no IPES era duplo. Por um lado, ele colocou agentes pagos no exército brasileiro para se certificar de que os homens-chave mantinham-se féis à ‘nação brasileira e não a Goulart. Ao mesmo tempo, o IPES colocou informantes pagos em fábricas, escolas e escritórios do governo para informar sobre a ação de apoiadores de Goulart. A Petrobras recebeu atenção especial porque Paiva estava convencido de que Goulart tinha muitos adeptos lá. Antes de terminar o governo Couto e Silva, o IPES tinha arquivos de 400 mil “inimigos do Brasil”.

    Outra parte do esforço da CIA para criar o sentimento anti-Goulart no Brasil foi promover o aparelhamento das eleições. Trabalhando através de um grupo de frente chamado de Instituto Brasileiro de Ação Democrática – IBAD, a CIA canalizou dinheiro para campanhas políticas locais. O IBAD, por sua vez, repassou o dinheiro através de seus dois ramos, a Ação Democrática Parlamentar – ADEP e a ‘Empresa Incrementadora de Vendas Promotion Ltda’. Nas eleições de 1962, O IBAD não só financiou mais de mil candidatos, mas recrutou-os para que a sua lealdade seria, primeiramente, com IBAD e a CIA. Em todos os níveis, desde deputados estaduais até governadores, a CIA empilhou votos a favor de seus candidatos.

    Em fevereiro de 1964, a CIA estava quase “queimada” por uma investigação parlamentar sobre a sua violação das leis eleitorais em 1962. A agência de espionagem tinha gasto cerca de US $ 20 milhões, mas o escândalo foi evitado por três fatores: cinco dos nove membros do comitê de investigação tinham recebido fundos da CIA, três dos bancos envolvidos – First National City Bank, o Bank of Chicago, e do Royal Bank of Canada – recusaram-se a revelar as fontes estrangeiras do dinheiro depositado no IBAD e em contas ADEP e, finalmente, Goulart, ainda na esperança de apaziguar Washington, fez com que o relatório final fosse “lavado”.

    A CIA também manipulou alguns membros do movimento estudantil. Os benefícios de ter agentes ativos nas universidades, no entanto, não foram satisfatórios até a derrubada de Goulart. Embora, em grande parte, ineficazes antes do golpe, o Grupo de Ação Patriótica – GAP, foi posteriormente usado para espionar os integrantes da União Nacional dos Estudantes – UNE. O GAP foi fundado por Aristóteles Luis Drummond cujo herói era o Almirante de direita Silvio Heck. Durante um programa de rádio, no Rio de Janeiro, Drummond expôs sobre a determinação do GAP na defesa da liberdade e da propriedade, alegando que apenas os militares poderiam salvaguardá-las. Não surpreendentemente, a entrevista foi retransmitida pela rádio Voz da América. Mais tarde, Drummond recebeu da CIA 50 mil livros e folhetos sobre a Guerra Fria alertando sobre a ameaça comunista e, especificamente, produzindo diatribes contra a UNE. Ainda assim, a ação do GAP era pequena e sempre que Drummond colocava cartazes dizendo “GAP com Heck,” foi, com certeza, na calada da noite.

    Nos quatro anos seguintes ao golpe, no entanto, Drummond e GAP passaram a desempenhar um papel chave para a nova junta militar. Por exemplo, durante uma manifestação estudantil em maio de 68, protestando contra o custo de discriminação da educação, um jipe militar foi derrubado e incendiado. Na manhã seguinte, Drummond foi convidado para falar sobre o incidente com o presidente Costa e Silva. Ele embarcou em um avião militar e foi levado para Brasília, onde passou cerca de uma hora com o presidente identificando os líderes da manifestação e assegurando a Costa e Silva que eram comunistas e não representavam a maioria dos estudantes.

    Extraido de ‘O Brasil e a Cia’ de Peter Gribbin

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador