O cenário político paranaense

Do Valor

Casal de ministros renova a política no PR

Emerson Urizzi Cervi
04/08/2011 

Desde o mais recente processo de redemocratização, a política paranaense tem-se dividido em apenas dois grupos no que diz respeito à viabilidade eleitoral. No período posterior ao regime militar, de 1986 até 2010, foram sete eleições para governador. Em todas elas os dois candidatos mais votados, juntos, ficaram acima de 57% dos votos válidos. Apenas em 2002 o percentual somado de votos válidos foi de 57,57%. Nas demais, ficou acima de 70%. As maiores concentrações de votos foram em 1998, quando Jaime Lerner (PFL) e Roberto Requião (PMDB) fizeram 98,12% dos votos válidos no primeiro turno. Em segundo lugar em termos de concentração de votos no período está a disputa de 2010, quando Beto Richa (PSDB) e Osmar Dias (PDT) somaram 94,11% de votos válidos no primeiro turno. Ou seja, a tendência de polarização eleitoral tem aumentado nos últimos anos.

Os números apontam para uma concentração de poder político regional em dois grupos ou – não raras vezes – em duas lideranças. Dado esse fato, uma questão chama a atenção: diz respeito à renovação das lideranças em cada grupo. Normalmente, ela é gradual e com apelo regional, ou seja, a partir de linhas de sucessão partidária local, com tendência ao predomínio de lideranças de centristas. No entanto, a força política obtida pelo PT do Paraná no governo Dilma Rousseff, principalmente representada pelo casal de ministros, Gleisi Hoffmann na Casa Civil e Paulo Bernardo nas Comunicações, pode fazer com que o Estado experimente nos próximos anos um processo distinto de renovação política, aquela que é influenciada pela esfera federal. 

UmadUma das linhas sucessórias de lideranças políticas no Estado – a que está mais próxima dos partidos de centro-direita – concluiu o processo de renovação em 2010, com a eleição do governador Beto Richa (PSDB). Ele tinha sido prefeito de Curitiba sucedendo prefeitos ligados ao ex-prefeito e ex-governador, Jaime Lerner. Na linha dos partidos de centro-esquerda, Roberto Requião, eleito governador por três mandatos, é a figura principal atualmente. Então, podemos dividir os dois grupos com densidade eleitoral no Paraná pós-ditadura militar representados originalmente pela liderança de Jaime Lerner (prefeito de Curitiba por três vezes e governador do Paraná por duas vezes) e, no outro, Roberto Requião, que também fora prefeito de Curitiba.

Por conta da saída de Lerner das disputas eleitorais em 2002, a renovação no grupo de centro-direita foi antecipada e hoje tem como principal liderança o governador Beto Richa. Em 1997 quando o então governador Lerner tentou trocar o PDT pelo PSDB para concorrer à reeleição apoiando FHC, a dupla Richa (o pai, José, e o filho, Beto) foram os principais defensores da idéia no partido. Lerner não entrou no ninho tucano porque o senador Álvaro Dias, presidente do diretório regional à época, impediu. Isso fez com que o ex-governador José Richa, um dos fundadores do PSDB nacional, anunciasse sua saída da política e que seu filho Beto Richa, então deputado estadual, trocasse o PSDB pelo PTB por um período curto. Já na eleição seguinte, Beto Richa voltou ao ninho tucano. Portanto, a questão sucessória do grupo de centro-direita no Paraná resolveu-se em 2010.

No lado oposto, a forte presença do ex-governador e senador Roberto Requião no cenário político local evitou que a renovação acontecesse na mesma velocidade. Some-se a isso o fato de o senador não ter entre suas qualidades a de fortalecer novas lideranças políticas próximo a si. Com isso, abre-se espaço para a renovação “por fora” do grupo de centro-esquerda no Estado. É justamente nesse momento que cresce a força da corrente majoritária do PT no Paraná, formada por lideranças que participaram do governo Lula e que agora fazem parte da administração Dilma. Dentre elas, se destaca Gleisi Hoffmann e seu marido, também ministro Paulo Bernardo. O curioso é que eles entraram na política por caminhos distintos. Hoffmann ocupou inicialmente cargos administrativos, tendo sido assessora parlamentar, secretária estadual do governo de Mato Grosso do Sul e diretora da Itaipu Binacional. Só depois começou a concorrer a cargos eletivos. Candidatou-se ao Senado em 2006 e à prefeitura de Curitiba em 2008, tendo ficado em segundo lugar nas duas oportunidades. Em 2010 foi eleita a senadora mais votada do Paraná. Já Paulo Bernardo é oriundo do movimento sindical, foi eleito deputado federal pelo PT, ocupou cargos de secretário do Mato Grosso do Sul e de Ministro dos governos Lula e Dilma. Ele se especializou nas negociações partidárias. Ela, por outro lado, tem conseguido aumentar o seu capital eleitoral. Com o perdão da redundância, é quase um casamento quase perfeito.

Em resumo, a conjuntura regional favorável à renovação no grupo de centro-esquerda do Paraná somada ao fortalecimento político dos atuais líderes do PT no Estado permite-nos dizer que o casal-ministro tem grandes chances de encabeçar um dos grupos com densidade eleitoral no Paraná em 2014 – quando Dilma Rousseff precisará de palanques fortes nos Estados, caso tente a reeleição. Porém, precisarão passar, antes, pela prova das eleições municipais, e, de preferência, elegendo o prefeito de Curitiba em 2012, que concentra um quarto dos votos do Paraná. Esse é o desafio que se coloca a quem pretende ganhar espaço político para ter viabilidade eleitoral em 2014.

Emerson Urizzi Cervi é cientista político e professor do mestrado em ciência política da Universidade Federal do Paraná. Raquel Ulhôa volta a escrever em setembro. 

Luis Nassif

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