O impeachment como chantagem, por Sergio Saraiva

Até quando o Brasil aceitará impassível ser vítima de uma chantagem pública: a ameaça do impeachment da presidente Dilma? Talvez por mais pouco tempo.

De há muito se sabe que, com base nas alegações apresentadas até este momento, um impeachment da presidente Dilma não seria mais que um golpe de Estado. Um golpe que deveria contar com o apoio de dois terços do Congresso Nacional – Senado e Câmara dos Deputados – e com, pelo menos, o de meia dúzia de Ministros do STF – Supremo Tribunal Federal.

Agosto representou um ponto de viragem na política brasileira atual. O poder econômico se posicionou pela continuidade da normalidade democrática. E a normalidade democrática pressupõe a continuidade do governo Dilma.

O assunto deveria, então, simplesmente tornar-se um não assunto. No entanto, pelo menos, uma vez por semana ele frequenta as manchetes dos jornais. Sempre como iminente. Depois some por uns dias, depois retorna à pauta e some de novo.

A última aparição é o pedido de Hélio Bicudo e a irreversibilidade de sua apresentação na Câmara, seguida da sua devolução ao proponente e de sua nova e incerta, porém, “inevitável”, entrada em pauta.

O impeachment tornou-se uma ferramenta de chantagem. E como toda chantagem, a ameaça é seu único valor.

E assim, vamos assistindo o assunto ser mantido em fogo brando pela nossa imprensa. E, de repente, somos surpreendidos por um ultimato usando o apoio a um impeachment como ponta de lança. O assunto morre na semana seguinte.

Então, o presidente da Câmara passa a jogar com a oposição em um roteiro de golpe parlamentar usando impeachment como meio. Tudo previamente anunciado nos jornais. Nada é escondido, de há muito. Nem as aparências necessitam mais ser mantidas. O Brasil tornou-se uma casa de corno manso.

O impeachment não pode ser levado à decisão, pois a chantagem deixaria de existir. O impeachment não pode sair de pauta, pois que a chantagem é útil para obter-se dos favores do governo ao apoio da oposição.

E assim vão levando o governo sempre acuado e o país em suspenso. 

Pois bem, talvez estejamos próximos de um evento limite. E não se trata da reprovação por parte do TCU das contas do governo de 2014. Essa já vem sendo adiada e dada como certa desde junho. Trata-se do veto ao financiamento privado de campanha. Esse é um dos três assuntos de interesse com pauta fechada no Congresso. Os outros são a terceirização das atividades fins e a privatização do pré-sal. Todos os demais são “negociáveis”.

Está nas mãos da Presidente Dilma vetar o financiamento privado.

Veremos, então, a quanto vai a chantagem do impeachment.

PS1: sobre o risco de instituirmos o impeachment como prática da luta política:  O golpe e o estado de golpe.

PS2: há dias, o professor Paulo Henrique Fernandes Silveira definiu primorosamente as razões do FEBEAPÁ que tem Fábio Jr. como seu mais novo integrante:

Em meados do século 19, o filósofo Soren Kierkegaard criticava o cinismo de uma burguesia mesquinha e corrupta que se julgava virtuosa indo uma vez por semana à missa. Nestes tempos de crise política e econômica, qualquer um pode se purificar criticando Dilma, Lula e o PT”.

Minha reverência ao mestre.

Redação

3 Comentários

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  1. Perfeito.

    Perfeito!

    Quem vive da vida do outro é o que mesmo?  Pusilânimes, melífluos (não, nada de mel aqui; o são na conotação mais rasteira da palavra) e de uma baixeza sem fim.

    E desculpe, não é uma vez por semana. Talvez nos jornais, como você mencionou. Mas a mensagem subliminar é diuturna, vergonhosamente encampada e disseminada por todos os interessados em grandes – ou mesquinhas – resultantes deste quadro dantesco.  Mídias variadas, agentes, atores, coadjuvantes.  Todos tirando suas casquinhas.

    Excelente post Sergio.  Uma pena ter que concordar com sua análise e com a definição primorosa do Paulo Henrique.

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