O jogo, por Gustavo A. Medeiros

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Gustavo A. Medeiros

PARTE 1: JOGO DO PSDB E SEUS ALIADOS

Está parecendo que uma parte do PSDB se deu conta que o Impeachment da Dilma abre espaço para uma futura disputa com o PMDB. Alvaro Dias já pede para ser investigada as pedaladas fiscais de Temer. Parte do PSDB conta com o TSE para anular a chapa da Dilma, contando com pelo menos 3 desafetos do STF no TSE contra o governo Dilma: Fux, Gilmar Mendes e surpreendentemente Toffoli. Mas existe uma vantagem do governo, tudo isto provavelmente será re-examinado no STF.

PARTE 2: O JOGO DO PMDB

O PMDB virou um campo de guerra. Renan Calheiros e Michel Temer estão se “mordendo”. Parece que a disputa entre os dois é antiga, foi agravada com a retirada de Picianni como líder do PMDB. O PT e Calheiros se movimentaram para reconduzir Picciani. O que complica são as operações da PF contra Renan. Mas, em princípio, Dilma e Temer cada um tem um “homem mau” para chamar de seu. Renan aliado da Dilma e Temer aliado de Eduardo Cunha.

As descobertas das pedaladas de Temer pode enfraquecer fortemente a tese de impeachment, pois se vingar a tese, o próximo poderia ser Temer ou se vingar e Temer ficar pode configurar um golpe branco contra o PT. Se Michel Temer falhar em conseguir ser presidente vai ficar com o maior mico da história política, porque além de não conseguir ser presidente, ele poderá ficar para a história como um golpista fracassado.

Cunha, a oposição e Temer vão agir para conseguir o maior número possível de deputados para a comissão do Impeachment. O governo agirá de modo contrário. Picciani e outros líderes pró-Dilma terão que agir com muito cuidado para não provocar rebelião em suas bancadas.

PARTE 3: O JOGO DO GOVERNO

Em dois dias, o governo teve vitórias inesperadas e expressivas: 1 – O STF aprovou o voto aberto para a comissão, explicitando os aliados traidores; 2 – O STF também aprovou o fim da chapa avulsa dificultando as divisões dos partidos provocadas pela oposição; 3 – e permitiu a aceitação de maioria simples do Senado para o pedido de impeachment. Sendo que o governo hoje tem mais de um terço ao seu favor na câmara e tem uma melhor acolhida no senado; 4 – A disputa entre Renan e Temer; 5 – O pedido de afastamento de Cunha (pode ser bom ou ruim para o governo) por Janot; 6 – O fracasso da manifestação manifestação de rua dos que querem impeachment. 7 – O sucesso das manifestações pró-Dilma com uma popularidade tão baixa.

Deu certo a tática do governo ao associar o impeachment ao golpe. Isto está ficando cada vez mais claro na cabeça das pessoas. Também deu certo a polorização do governo com Cunha, desnundando a chantagem. Talvez contribuiu para o fracasso da manifestação contra a Dilma o fato de ser no dia do AI-5, nem todo mundo é necessariamente a favor de ditaduras. Também a própria adesão de políticos da oposição, nem todos os antipetistas se identificam com os políticos de direita que estão aí. Além disso, está ficando claro na cabeça das pessoas que quem entraria no lugar dela seria Michel Temer, que não entusiasma ninguém, ainda mais sabendo de suas tendências fisiológicas.

A articulação política da Dilma é feita por Jacques Wagner, carioca, mas com ginga de quem foi governador da Bahia, sem falar de sua origem judaica (culturamente judeus são ótimos de negociação) e sindical , mostrando na origem um grandes qualidades de negociador e jogo de cintura. Ricardo Berzoini outro grande negociador também ex-sindicalista e ex-ministro do trabalho, ambos indicados por Lula, o negociador dos negociadores.

A saída de Joaquim Levy, talvez, tenha vindo a calhar. A esquerda não gosta de ouvir falar em ajustes fiscais e políticas consideradas para muitos como neoliberais. Nelson Barbosa tem um perfil de esquerda e reforça os laços com a esquerda que antes ficava tímida no apoio devido a existência de alguém da Escola de Chicago (o caso de Levy). Em relação a direita, não faz muita diferença já que a direita odeia o governo Dilma. Então politicamente a Dilma ganha. A sinalização de que a Dilma não vai fazer cortes no bolsa família para fazer superávit foi uma medida corajosa, digna de uma mulher que enfrentou torturadores no passado.

Para o longo prazo, a Dilma fez agora algo que deveria ter feito antes ao aprovar a lei do acordo de leniência, isto pode impedir a falência de empresas envolvidas na operação Lava-Jato e até fazer com que algumas destas empresas recuperem crédito no mercado. Outra coisa que também pode ser positivo é preocupação de Nelson Barbosa pela criação de empregos.

Surpreendentemente, o dólar alto pode favorecer nossas exportações. Se o dólar permanecer alto, o Brasil consegue vender até gelo para o Polo Norte. Eu se fosse a Dilma pensaria seriamente em pagar as obras do PAC com nossas reservas internacionais. Hoje o Brasil tem mais de 300 bilhões? Por que não usar uns US$ 50 bilhões e pagar as obras do PAC em dólar? Até porque manter uma reserva monetária tão grande é muito custosa para o país.  

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. Oxalá Dilma e seus comandados

    Oxalá Dilma e seus comandados tivessem coragem política para usar 50 bilhões de dólares das reservas num grande plano de infraestrutura – o País sairia da recessão em menos de um ano. Em contrapartida, pela “heresia”, teriam que enfrentar a maior barragem de artilharia midiática nacional e internacional (Wall Street Journal, Financial Times, The Economist etc), além da chantagem dos “mercados” e suas agências de classificação de risco – malta que somente enxerga o serviço da dívida pública como prioridade absoluta da política econômica. Como esses “formadores de opinião” pesam muito mais que os interesses da esmagadora maioria dos brasileiros, tal proposta não passa de “wishful thinking”.

  2. Pressão inflacionária? Gastar dentro do que arrecada? Para quê?

    Ainda bem que não temos qq pressão inflácionária, podemos deixar o dólar disparar mesmo — e até usar essa brilhante ideia de jogar mais 50 MMUSD no mercado interno. Ajuste fiscal é coisa da direita. A esquerda gosta mesmo é de viver no cheque especial, é isso?

     

  3. Soluçao mais simples

    Remunerar o compulsorio pela poupança ao invés de pela SELIC. Ou nao remunerar de forma alguma o compulsorio!

    So isso daria todo o superhavit que qualquer governo precisa.

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