O Leopardo de Odebrecht, por Sergio Saraiva

Quem espera que as delações da Odebrecht provoquem uma transformação do modelo político nacional deveria ouvir o que tem a dizer o autor italiano Tomasi de Lampedusa em seu clássico – O leopardo: “é necessário mudar, para que tudo fique na mesma”

gattopardo

A implosão do sistema partidário brasileiro através das delações da Odebrecht à Lava Jato atende a dois objetivos: Lula preso e as reformas neoliberais aprovadas.

Tudo na mesma I – Lula preso

Caso Lula seja preso, haverá uma comoção social no país. Bem, a comoção já foi providenciada, agora só falta Lula ser preso.

Não há autoridade moral na Lava-Jato para prender Lula enquanto políticos tucanos sequer são investigados. Bem, não sobrou um tucano para contar a história, agora só falta prender o Lula.

Desde 2005 – lá se vai mais de uma década – acostumamo-nos a ver ações do Judiciário sincronizadas com o tempo político-partidário. Pensei nisso quando da espetaculosa divulgação da mais nova lista de políticos delatados na Lava Jato. A Lista de Janot II.

Agora estamos às vésperas do depoimento de Lula ao juiz Moro – faltam pouco mais de 15 dias. Dá-se, há tempos, como favas contadas, a sua condenação.

O clima para tanto está criado. Quanto ao preço pago por isso, a implosão do sistema político brasileiro, recomento o grande texto do colega Jeferson Miola

Para o PSDB, o preço será módico. Pagará o preço “José Mayer”: algum tempo na geladeira até que esqueçam do pecado e a volta no papel de um padre preocupado com questões sociais. Silêncio na mídia, longos processos no STF para os que têm foro privilegiado e para os que não o têm também – veja-se o desfecho do caso Marka-FonteCidam – até a prescrição. Para FHC, nem isso, basta a justiça paulista não aceitar o processo; o ex-presidente tem mais de 80 anos e os acontecimentos são do final da década de 1990.

Tudo na mesma II – Temer solto e reformas neoliberais garantidas

Gostaria, no entanto, de tratar do segundo objetivo.

O segundo é aprovar as reformas. Deram um golpe para isso.

Porém, para tanto, é preciso manter, apesar de tudo, o governo Temer. Não é à toa que Janot descartou de princípio qualquer investigação em relação a ele. Mas também a mídia.

E, em relação à mídia, busquei comparação ente os casos atuais dos ministros de Temer e do próprio presidente com um caso de 2010 – O caso Erenice Guera.

Erenice Guerra era a secretária-executiva de Dilma na Casa Civil e foi sua sucessora quando Dilma se candidatou a primeira vez para a presidente. Foi fulminada em uma campanha sórdida que a acusou de vender facilidades para financiamentos no BNDES.

Acompanhar tal caso e compará-lo com o do ministério Temer é didático para perceber o quanto tem de “Leopardo” o momento atual.

erenice

Erenice acusada por manchetes em primeira página da Folha de São Paulo com denúncias de alguém condenado por receptação de cargas roubadas e dinheiro falsificado: “Fiquei horrorizado de ter de pagar”.

Dois anos depois, em 2012, Erenice foi absolvida por faltas de provas. A Folha noticiou de forma inusitada – fazendo-lhe novas acusações para dizer que nada havia contra ela.

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Mas, e agora com o governo Temer?

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Caberia à mídia encabeçar uma campanha por uma reforma ministerial, nem que fosse para pedir do “ministério ético” que cobrou de Collor – se não a própria renúncia de Temer.

Mas o mais fraco dos presidentes pós-redemocratização canta de galo.

E por quê? Porque é fiador das reformas neoliberais.

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E é aqui as delações da Odebrecht podem ser de uma utilidade imprescindível.

O Senado mostrava-se recalcitrante em relação a elas, mas, com 24 senadores e 39 deputados no partido da Lava Jato, Janot tornou-se líder de uma das bancadas mais poderosas do Congresso.

Seria interessante saber sua opinião sobre as reformas trabalhista e da previdência.

janot

PS1: quem não se interessa por literatura poderia valer-se da história, analisar o que era a Itália antes da Operação Mãos Limpas e o que se tornou após ela. Antes, era a Máfia, depois, Berlusconi transformou a Itália em um país que se rivaliza com a Alemanha na economia está à frente da Suécia em direitos sociais.

PS2: Oficina de Concertos Gerais e Poesia – bunga bunga per tutti e buona Pasqua.

Redação

17 Comentários

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  1. “Antes, era a Máfia, depois,

    “Antes, era a Máfia, depois, Berlusconi transformou a Itália em um país que se rivaliza com a Alemanha na economia está à frente da Suécia em direitos sociais.”

    É isso mesmo ou não entendi a ironia?

    1. Das facas, amantes e ironias

      Ah, as facas e a ironia!

      Musas traiçoeiras,

      há que tratá-las com o cuidado

      com que trataríamos a uma amante. 

      Outra das musas intrigantes. 

      1. Aspas servem para as ironias escritas

        Já que as demais expressões não podem ser passadas por escrito.

        …economia “melhor” que a da Alemanha e índices sociais “melhores” que os da Suécia

        Nem todos conhecem o perfil de todos aqui. Como eu conheço o do comentarista, me é evidente que é ironia.

  2. EXTRA EXTRA
    Paulo Henrique

    EXTRA EXTRA

    Paulo Henrique Amorim diz que Lula não merece ser presidente da república e que as suas relações com a Oderbrecht é imoral, e que acredita em tudo o que foi delatado por eles.

     

  3. Enquanto isso os

    Enquanto isso os verdadeiramente corruptos estão por ai desfrutando em condominios fechados com praias particulares a doce vida ao lado de belas mulheres, graças as nossas Instituições que mais se parecem a organizações criminosas associadas a Globo, tudo isso é muito revoltante.  A conferir:

    Delatores cumprem prisão domiciliar em mansões e coberturas

    Pessoas que tiveram participação chave em desvio de recursos públicos da Petrobras estão reclusas em mansões e coberturas. Saiba quais são as falhas no processo de colaboração e veja a entrevista concedida ao Diario por Walter Bittar, autor do livro Delação Premiada

    http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/politica/2016/07/10/interna_politica,654284/delatores-cumprem-prisao-domiciliar-em-mansoes-e-coberturas.shtml

    1. enquanto…..

      Liberdade já para Marcelo Odebrecht e diretores das empresas brasileiras. Ficou escrachado que nosso Poder Público e Político é baseado na extorsão da sociedade. Nosso anticapitalismo tupiniquim destruindo o país a cada 30 anos e retornando como se noiva era fosse. É a distorção absurda dos fatos. Os cúmplices levando a responsabilidade dos mandantes. 

  4. Retalhos

    “Em um dos trechos do depoimento, Emílio relata um diálogo que mantivera com o general Golbery do Couto e Silva, nome forte da ditadura no Brasil, em que o militar teria descrito Lula da seguinte forma: “Emílio, o Lula não tem nada de esquerda. Ele é um bon vivant”. 

    “Ao cobrar uma posição do petista a respeito de uma possível estatização da Petrobras, teria ouvido de Lula: “você me conhece, não sou de estatizar””

    https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/04/15/emilio-odebrecht-cita-definicao-de-lula-dada-por-golbery-um-bom-vivant.htm

  5. Sincronicidade

    Duas citações pelas redes sociais e agora Sérgio Saraiva citando Tommasi di Lampedusa.

    Depois de um feriado inteiro de catarse estimulada pela mídia, parece ser um sinal interessante.

  6. Ficções e fantasias

    Bom Sergio Saraiva:

    Percebe-se que vc não morou na Italia. Essa sua estapafúrdia menção de rivalidade entre Italia e Alemanha e contra-ponto entre beneficios de italianos versus suecos está mais para uma tentativa de romance de ficção chinfrim do que a realidade de lá.

    Aliás é disso que se trata seu pobre artigo, com referências literárias parciais e de meio tom. Aliás um tom “marrom” já surrado e desgastado.

    BNDES vc tb não conhece e nem sabe os mecanismos que por lá estiveram em tempos de Lula e Dilma. A Erenice não se safou, daqui a pouco volta à pauta quando “escarafunchar” melhor. Pode apostar!

  7. Ficções e fantasias

    Bom Sergio Saraiva:

    Percebe-se que vc não morou na Italia. Essa sua estapafúrdia menção de rivalidade entre Italia e Alemanha e contra-ponto entre beneficios de italianos versus suecos está mais para uma tentativa de romance de ficção chinfrim do que a realidade de lá.

    Aliás é disso que se trata seu pobre artigo, com referências literárias parciais e de meio tom. Aliás um tom “marrom” já surrado e desgastado.

    BNDES vc tb não conhece e nem sabe os mecanismos que por lá estiveram em tempos de Lula e Dilma. A Erenice não se safou, daqui a pouco volta à pauta quando “escarafunchar” melhor. Pode apostar!

  8. Sobre os golpistas:

    Aconteceu com eles o que diz o provérbio: «O cão volta ao seu próprio vômito »; e ainda: «A porca lavada torna a revolver-se na lama

    Essas pessoas são como fontes sem água e nuvens arrastadas por vento tempestuoso; para eles está reservada a desonra e desforra do povo. Com seus discursos pomposos e vazios, excitam as paixões e desejos corruptos de seus ouvintes e conseguem seduzir aqueles que tinham acabado de se afastar dos que vivem no erro.  Prometem a esses liberdademas eles próprios são escravos da

    corrupçãopois cada um é escravo daquele que o vence.  De fatodepois de o povo vencer a ditadura, escapar às canalhices da mesma mediante a promulgação da Constituição, que até Liberdade de consciência e de crença a todos garante,  eles de novo são seduzidos e se deixam vencer por instintos autoritário e corruptos. seu último estado se torna pior do que o primeiro.  Assimmelhor seria que não tivessem conhecido 

    caminho da justiça do quedepois de -lo conhecidodesviarem-se daquilo que lhes foi confiado, para o bem de todos, construir. 

     

  9. realidade

    tudo isso sim, prisão de lula, inelibilidade de Dilma, criminalização dos movimentos sociais, aceleração das reformas contra os trabalhadores, manutenção das regalias e altos ganhos dos politicos e do judiciário, apenas geladeira para os tucanos, acorbetação de temer e seus ministros,midia dando cobertura , tudo isso porque?

    simples como tomar doce de criança: vivemos um golpe de estado; cabe ao povo saber se quer continuar na manipulação antipetista da midia ou abrir os olhos para a realidade.

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