O lulismo em Werneck Vianna e André Singer

Werneck Vianna pega carona no que o André Singer vem produzindo nos últimos tempos para mostrar qual é sua perpectiva – e o faz com muito menos competência do que o ilustre ex-Porta Voz da Presidência. Singer, por ora, acertou bastante, embora eu discorde de alguns pontos-chave do que ele propõe: Em um primeiro lugar – e sobretudo -, por identificar “esquerda” como um certo modelo europeu ocidental e não buscar entender o que é ser de esquerda no contexto brasileiro atual – e nesse sentido, não vejo oposição entre o que é o Governo Lula e aquilo que, no nosso contexto, é estar, pelo menos, à esquerda do centro; em um segundo momento, eu tomaria mais cuidado nessa divisão entre “lulismo” e “petismo” – Singer é mais cuidadoso, Werneck foi mais imprudente nisso -, afinal de contas, o primeiro sempre foi o plano B do segundo – o ponto é que é preciso ter em mente a diferença da relação Vargas-Trabalhismo com a Lula-Petismo, quando na primeira, o trabalhismo é criação varguista, no caso Lula-Petismo, não podemos perder de vista que o primeiro é produto do segundo, e o mesmo se pode dizer do “lulismo”. Não há, sob aspecto algum, como descolar “lulismo” de “petismo” – ou dizer que agora existe lulismo e depois não haverá mais; o que é uma tática retórica manjada e cômoda de desviar-se da popularíssima figura pessoal de Lula para bater no próprio projeto que o criou e que ele executa.

OPTdO PT do qual Lula faz parte – e é seu principal ideólogo – aprendeu, às turras, como usar de forma eficiente a figura do Lula-político – e quando o fez, soube, habilmente, usa-lo quando do Governo. O Lula-político, que encabeçaria esse suposto “lulismo” sempre foi uma marionete necessária operada pelo PT, inclusive, e principalmente, pelo próprio Lula-ideólogo. O “Lula”, isto é, o Lula-político, é uma criação que também é do Lula-ideólogo, mas não apenas. Nesse sentido, a escolha de Dilma como candidata à Presidência é ambivalente; se por um lado, ela foi escolhida ao melhor estilo “dedazo” – escolha direta do Presidente em exercício como no México do PRI -, por outro lado, ela representa uma afirmação de como o PT pretende, agora, operar o seu projeto de uma maneira mais impessoal – tirando a figura do Lula-político-líder-carismático de cena – e institucional, o que é uma forma de governança melhor do que aquilo que temos hoje – além de muito diferente do funcionamento geral do PRI no México, inclusive por detalhes como sua penetração na sociedade e interação junto aos movimentos sociais. Ademais, a escolha de uma mulher foi um tiro certeiro, posto que o simbolismo produz sim poderosos efeitos. 

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador