O país não suporta Temer mais nem um dia, por Roberto Amaral

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Roberto Amaral
 
 
Às ruas
 
É certo que a avidez pecuniária de Temer e Aécio ajudou no processo, mas o fundamental é que o presidente ilegítimo já de há muito se tornara descartável. 
 
Temer está sendo defenestrado pelas mesmas forças que haviam assegurado a deposição de Dilma Rousseff.
 
Incompetente e corrupto, ademais de rejeitado pela consciência nacional, Michel Temer, ainda presidente enquanto escrevo estas linhas, está sendo defenestrado pelas mesmas forças que haviam assegurado a deposição de Dilma Rousseff e a tomada do poder do Estado pela súciacomandada pelo seu PMDB, em associação com o tucanato golpista, cuja grande liderança é Aécio Neves, coletor de propinas.
 
É certo que a avidez pecuniária de Temer e Aécio (e a mediocridade de ambos) ajudou no processo, mas o fundamental é que o presidente ilegítimo – fracassando no projeto imposto pelas forças do golpe – já de há muito se tornara descartável e, por isso mesmo, está sendo jogado ao mar, destino de carga imprestável.
 
Assim, as forças econômicas e políticas que, sob a liderança do Sistema Globo (um partido de direita que opera o monopólio da informação no Brasil), prepararam o golpe contra Dilma  e os interesses populares, são as mesmas que, hoje, comandam esse golpe dentro do golpe em processo, e seu objetivo é, preservando o mando (e os lucros dele derivados), impedir a retomada da  direção política pelas forças democráticas.
 
Na arquitetura do golpe, o presidente é sempre um interino se equilibrando na corda bamba presa nas pontas pelos interesses do grande capital. Se Manuel torna-se inconveniente, troque-se Manuel por Joaquim, para que tudo continue como dantes no Castelo de Abrantes. Temer, nessa história, foi sempre uma contingência, deplorável, mas, nas circunstâncias do golpe, inevitável, embora que prescindível, como os fatos recentes demonstram.
 
Não será facilmente que a direita abrirá mão do comando das forças do Estado, mediante o qual, com apoio em um Congresso hegemonizado por fugitivos da polícia, está revogando os direitos sociais e destruindo a nação.
 
A segunda fase desse golpe dentro do golpe é a preservação dos interesses reacionários, mediante a eleição de um preposto qualquer pela via indireta do Congresso Nacional. Joga-se Temer ao mar, mas preserva-se  o mando, pois  trata-se de simples troca de nome, sem alterar a substância. Qual a diferença entre Temer, Rodrigo ou Eunício?
 
Nas circunstâncias troca-se seis  por meia dúzia, porque, quem quer que seja o substituto do títere, terá de ser, sempre, um representante do _statu quo_. Ou seja, trata-se de mudar para que nada mude, como sentenciava Tomasi de Lampedusa pela voz de d. Tancredi em seu magnífico _O Leopardo_.
 
A direita, que, pela voz da Rede Globo, proclama a mudança, está tranquila, pois a mudança continuísta será operada, eis sua posta, por um  Congresso ilegítimo, sem representatividade, rejeitado pela população, comandado por uma cúpula repulsiva, e, portanto, ‘sob controle’.
 
Ou seja, sai Temer e entra um qualquer, por que, qualquer que seja o escolhido, será sempre um representante do bloco ainda hegemônico.
 
É esse o projeto de continuidade da classe dominante, preparada para, longe dos interesses do povo e das vozes das ruas, manobrar a crise segundo seus interesses, que jamais se confundem com os interesses da nação.
 
A raiz da crise – política mais do que econômica – é a decomposição dos poderes da República, carentes de legitimidade e representação, uma contrafação nos termos da democracia representativa, construindo, de mãos dadas, o Estado de exceção jurídica, assim autoritário e classista.
 
Nada mais claramente denunciador da crise do que a degenerescência do Poder Legislativo, a ilegitimidade do atual Poder Executivo e a politização-partidarização de um Poder Judiciário que afronta a ordem constitucional.
 
Desde que a permanência do presidente ilegítimo está fora de cogitações – grita a nação –, trata-se de discutir a forma de sua defenestração, rápida, para que o resto do organismo republicano não se contamine com sua ilegitimidade.
 
Até o ‘mercado’, que amparou sua ascensão, clama agora por sua rápida partida.
 
A solução mais simples, e aquela que mais tende à urgência da crise, aquela que menos prejuízos imporia à nação, cansada, seria a renúncia do presidente, mas essa saída já foi recusada pelo mandatário rejeitado, carente de grandeza.
 
Sobram, ao país, outras saídas e a primeira delas é a condenação do presidente que, em face da delação de seus sócios da JBS, já responde a inquérito aberto pelo STF.
 
A delação de Joesley Batista, massiçamente exposta por jornais e pela televisão, mostra Michel Temer, no Palácio do Jaburu, sendo conivente com o empresário corrupto, na compra do silêncio de Eduardo Cunha, que muito teria a revelar das tramas e tramoias levadas a cabo com o presidente.
 
Mas não é só. No diálogo deprimente, o empresário revela suas traficâncias, informa a ‘compra’ de um procurador da República tornado informante, relata as tentativas de corrupção de outras autoridades e as demais manobras suas visando a obstruir a apuração judicial. A tudo Temer ouve silente (sinal de assentamento), quando sua obrigação era dar voz de prisão ao meliante.
 
Caso falhe a ação do STF, a alternativa ditada pela Constituição  é o impeachment, já requerido, mas dependente de despacho do presidente da Câmara dos Deputados, um colega de grei. Contra esse caminho, todavia, fala a inconveniência do tempo exigido para sua tramitação nas duas Casas.
 
Em seu lugar, os observadores lembram a velha solução do julgamento do pedido de cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, julgamento que se espera para a primeira quinzena de julho. Para os práticos, trata-se, apenas, de um bom  entendimento com o ministro Gilmar Mendes, ministro do STF e voluntarioso presidente do TSE. Como ele negociou a exclusão, do processo, de seu constituinte, ser-lhe-á igualmente fácil articular agora sua condenação, sem dores de consciência,  pois estará sempre servindo  ao poder, o ofício de sua alma.
 
Mas o país não suporta mais nem um dia a permanência de Temer no Planalto.
 
Nosso Congresso, sem caráter, maleável aos humores  do poder do momento, pode inspirar-se na solução que os militares legalistas impuseram no contra golpe de 11 de novembro de 1955, comandado pelo ministro general Lott.
 
Naquela data o Congresso, em uma só sessão, simplesmente declarou o presidente em exercício, deputado Carlos Luz, sem condições de exercer a Presidência da República (ele estava enredado em uma conspiração que visava a impedir a posse de Juscelino Kubitscheck). A mesma resolução seria adotada dias adiante (28 de novembro), quando o presidente titular, Café Filho, afastado por alegados motivos de saúde, tentou reassumir a Presidência da República, já ali exercida pelo presidente do Senado, Nereu Ramos.
 
Se o senhor Michel Temer não tem condições de permanecer na presidência por mais um dia – a nação já o regurgita – é igualmente inaceitável que a alternativa para o vácuo do poder seja a eleição de um interino por esse Congresso, carente de quaisquer condições, sejam éticas, sejam morais. Enfim, um Congresso, nunca será abusivo repeti-lo, sem legitimidade.
 
A saída é a convocação de eleições diretas, já neste ano, para o que será necessária a aprovação de Emenda Constitucional, que o Congresso sabe muito bem operar em horas, quando quer, já vimos. E há sempre constitucionalistas orgânicos à disposição para formular soluções.
 
Em 1955 o espírito democrático-pragmático foi acionado pelos tanques do general Lott; o patriotismo de hoje deverá ser provocado pela força popular. Quero dizer que a alternativa democrática depende de as forças populares ocuparem as ruas – fábricas, escolas, campos etc. – tornando permanente a grande mobilização proporcionada pela greve geral de 28 de março.
 
Só com o povo nas ruas exercendo seu protagonismo é que poderemos conquistar as Diretas Já, que devem ser vistas como passo essencial de uma grande luta que visa à retomada da emergência das massas e da legitimidade democrática.
 
No curto prazo, o projeto das Diretas Já – que nos retirará do impasse político – está, porém, a depender de imediata e prévia reforma do processo eleitoral – pela qual devemos lutar com afinco -, assecuratória  da democratização das eleições, e nesse sentido são condicionantes mínimas o financiamento público das campanhas, ademais de seu radical barateamento, e a votação em listas fechadas, nos termos das discussões e projetos liderados pela CNBB e pela OAB.
 
Ao lado da reforma política, é imprescindível a imediata paralisação da reforma da previdência e da reforma trabalhista, a revogação dos atos lesivos ao patrimônio nacional, como sejam o desmonte do BNDES e da Petrobras e a entrega do pré-sal a empresas estrangeiras.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

22 Comentários

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  1. lista fechada? fala serio
    Mais simples: acabar com coligações e proibir que um politico exerça mais de uma vez o mesmo cargo. Sem tempo de TV pra negociar, de 30 partidos restariam 3 ou 4, que é o que o presidencialismo de coalizão comporta.

    Se forem mecher na Cf para novas eleições, aproveita e coloca uma clausula permitindo o presidente dissolver o congresso e solicitar eleições gerais, e outra que em caso de impedimento do presidente haja novas eleições também para o parlamento. Assim ambos os lados pensam duas vezes antes de fazer o que cunha vez com Dilma

  2. Ratos acuados são ratos ousados

    O estado brasileiros, sabemos, está aparelhado por uma das maiores quadrilhas da nossa História, nos 3 poderes, MPF, policia, ministérios, instituições empresariais, mídia, etc.

    Assim como no descarado golpe, ousarão qualquer coisa, pois a questão não é política, mas criminal. Eles sabem que a melhor chance de não serem todos presos é tentar manter o controle estando no governo.

    Esta delação apenas comprova que a tal Lava-jato (a de Curitiba do Moro) não moraliza o país, pois os caras continuam roubando e fazendo acordos, inclusive passando leis e PECs por dinheiro e ao arrepio do interesse público nacional.

    NÂO TÊM NADA A PERDER, portanto não terão limites para tentarem se salvar.

  3. Aécio e Temer foram atropelados pela $cania da JB$

    O Lula e a Dilma também foram atropelados, mas não pela $cania da JB$, mas pela bicicleta da JBS.

  4. O andor é de barro…

    Se o temer cair amanhã, domingo – até quarta-feira eles colocam o Meireles no lugar, ai o Meireles se reúne com os parlamentares, oferece segurança e na segunda-feira seguinte vota-se a reforma da previdência e na outra semana a trabalhista!

    Enterra-se a lava-jato e focam no Temer, na Dilma e no LULA!

    Antes que o Temer caia, tem que haver uma organização entre aqueles que desejam as Diretas já!

    Tem que ter planos de ação, esboço – tem que ter organização e sensibilizar a população!

    Esse troço de rapidez, sem preparação adequada só vai favorecer o golpe dentro do golpe…

    Alinhar discursos é para ontem!

    Se começar a focar nos detalhes, vai causar muita discussão e gastar muito tempo!

    O foco são as diretas!

     

    1. Estão todos comendo pela mão da Rede Globo, ela que …..

      Estão todos comendo pela mão da Rede Globo, ela que está dando as cartas, ou seja, se derruba Temer rapidinho, desmobiliza-se a população que grita Fora Temer e eles elegem alguém de forma indireta, com a capacidade votar as reformas, e ficamos todos com cara de bunda.

  5. Só vou respeitar o sucessor do Temer se ele for eleito pelo povo

    Eu só vou respeitar o sucessor do Temer se ele for eleito diretamente pelo povo. E lanço um apelo para que todas as pessoas façam o mesmo.

    Quanto ao próximo Presidente, ele não precisa comprar parlamentares pára aprovar leis e projetos de interesse social e nacional, basta o Presidente conclamar a população às ruas que o Congresso amarela. O povo na rua torna o mandato vinculado.

  6. Só vou respeitar o sucessor de Temer se ele for eleito pelo povo

    Eu sou vou respeitar o sucessor do Temer se ele for eleito diretamente pelo povo.

    Quanto ao próximo Presidente, ele não precisa pagar mensalão aos parlamentares a fim de que leis e projetos de interesse social e nacional sejam aprovados. É só convocar a população para as ruas que os Parlamentares amarelam. O povo nas ruas vincula o mandato.

    1. Amarelam? Ahahah! Eles desprezam o povo nas ruas ou nas favelas

      Diretas levariam 6 ou mais meses no mínimo para preparar, inclusive as candidaturas e só teria eficácia se viesse com a reposição deste congresso temebroso, além de ser um mandato tampão que começaria já com o início das campanhas de 2018..

      Teoricamente serei sempre favorável à diretas  mas se há uma coisa que a direita sabe fazer e a esquerda sabe sonhar é o planejamento das ações.

      Até porque eles têm o poder ($$$ e aparelhamento) e a força (mídia e armas), independentemente de terem a autoridade formal, como tinha a RE-eleita (o povo esquece desse “detalhe”) Dilma.

      PARECE que o negócio é aproveitar o caos deles para eles mesmos se auto-destruirem.

      O mais valioso de tudo isso é a conscientização gradual da sociedade.

      Já está em 45% (e subindo)´da sociedade que sabe quem é o melhor dos candidatos disponíveis…

       

  7. E se as acusações contra Lula e Dilma tivessem sido provadas?

    Se as acusações contra o Lula e a Dilma tivessem sido provadas, como como restaram irrefutavelmente provadas as acusações contra o Aécio Neves e o Michel Temer, o Lula e a Dilma estariam não apenas presos, mas no corredor da morte.

  8. Você já pensou na hipótese do áudio ter sido editado?

    Se eles chegarem à conclusão de que au áudio foi editado e, com base nisso, tornarem as provas sem efeito?

    Aí o Temer continua na Presidência, de cabeça erguida, como se ninguém soubesse o que ele é: um criminoso.

    1. Prova muito mais contundente q gravação são as malas de $$$

      A discussão sobre a gravação (que mesmo editada é também elucidadora) é mera distração da mídia pró-Temer.

      Uma aposentadoria de até 1 milhão por SEMANA em até 20 a 30 anos não é coisa para um obscuro deputado, sabido e recomendado assessor de confiança de Temer conseguir, pois ele jamais valeria quase meio bilhão, né?

      Não entremos nessa.

    1. Dia do Vaya con Dió$

      “Se é para o mal de todos e infelicidade geral dos Trabalhadores e Aposentados, estou pronto! Digam ao povo que fico”.

  9. Nas ruas: ” Fora rede esgoto ”

    FORA REDE ESGOTO.

    Porque “Fora Temer” é, agora, o grito da famiglia, ela tomou para si.

    Cada grito de Fora Temer será ressoado no Fantástico, e a rede esgoto dirá que está junto com o povo brasileiro, ouvindo a voz, o clamor das ruas.

  10. Agora

    Estiu saindo com a minha mulher, agora, para a Praça da Liberdade em Belo Horizonte a gritar um Fora Temer!

    Convido aos colegas de BH 

      1. Não havia nenhum

        Oi Rui

        Soube lá que coxinhas tinham marcado ás 10 horas, mas não apareceu nenhum.

        Apenas nós. Nós, na rua, é que vamos virar o jogo.

        Abração

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