O provável fim das forças tarefas do MPF, por Luis Nassif

Decidiam, por conta própria, com quem compartilhar seus dados. Compartilharam com o DHS e o FBI, ligados ao Departamento de Estado dos Estados Unidos, e se recusaram a compartilhar com a Procuradoria Geral da República.

Os últimos movimentos mostram que as chamadas forças tarefas do Ministério Público Federal estão com os dias contados. Trata-se de uma excrescência, que ganhou corpo apenas devido ao impacto político da Lava Jato – que se tornou instrumento de desestabilização política. Fizeram o trabalho sujo. Agora, deixam de frequentar a sala de visitas do sistema.

Um mês atrás, atendendo a solicitações de Procuradores Regionais de outros estados, a Procuradoria Geral da República incumbiu o subprocurador Humberto Jacques de Medeiros, de estudar uma nova organização para as investigações criminais. O estudo se referia especificamente a uma demanda do Procurador Regional da República no Distrito Federal, sobre uma pendência da Operação Greenfield.

Ontem o parecer foi vazado para a mídia, para passar a ideia de ação coordenada contra a Lava Jato.

A atuação normal do MPF – em casos criminais – consistia em um procurador titular da operação, escolhido por sorteio, podendo requisitar ajuda de outros procuradores, do estado ou de outros estados, contando com a estrutura do MPF.

Com o modelo das forças tarefas criaram-se quistos por todo o país. Montava-se uma Força Tarefa, com um grupo de procuradores trabalhando nelas com exclusividade. Elas eram dotadas de autonomia financeira – administrando os recursos remetidos pelo MPF.

Não havia lógica. O conceito da força tarefa é quando se reunem investigadores de vários organismos públicos, MPF, Polícia Federal, COAF, Receita.

As distorções eram nítidas.

Primeira, desfalcavam as regionais do trabalho do dia a dia. Depois, tornavam-se donos absolutos do caso tratado, criando bancos de dados próprios, tomando decisões sobre delações, redução de pena, sem nenhuma supervisão. E, se tivessem a cumplicidade do juiz titular, qualquer fato novo seria colocado sob seu guarda-chuva.

Uma organização nacional, como o MPF, tem dois desafios: dar autonomia ao procurador na ponta; mas uniformizar o entendimento sobre a lei e os procedimentos. Caso contrário, se criaria um pequeno ditador em cada operação.

Por outro lado, como cada força tarefa só conta com seus recursos, esgotados, não tinham como recorrer ao órgão maior. Além disso, a força é composta por procuradores em caráter precário, emprestados de outros estados, mas sem as atribuições do procurador natural do caso.

A Lava Jato atropelou todos os procedimentos. Passou a se comportar como um poder autônomo. Aproveitou a fase de bonança, adquiriu equipamentos de escuta, montou um enorme banco de dados, abriu centenas de procedimentos e sentou em cima. Eles decidem, sem nenhuma supervisão, quais procedimentos se transformarão em inquérito, quais ficarão nas gavetas.

Decidem, por conta própria, com quem compartilhar seus dados. Compartilharam com o DHS e o FBI, ligados ao Departamento de Estado dos Estados Unidos, e se recusam a compartilhar com a Procuradoria Geral da República.

Graças ao compartilhamento de seu banco de dados, o Departamento de Justiça entrou com uma mega ação contra a Petrobras e assinou um acordo com a Lava Jato Paraná, mediante o qual transferiu para ela R$ 2,5 bilhões – dos quais R$ 1,25 bilhão para ressarcir acionistas brasileiros, sendo que o principal advogado dos acionistas era, também, aliado da Lava Jato em manobras políticas contra Ministros do Supremo.

Todo o pandemônio da Lava Jato, acusando a PGR de interferência indevida, no fundo, esconde seu maior temor. A abertura da caixa preta da Lava Jato poderá trazer muita coisa à tona. Por exemplo, a razão de suspeitos terem sido preservados; as irregularidades nos grampos de escritórios de advocacia; os acordos com advogados em torno do milionário mercado de delações premiadas; a manipulação de provas.

Principalmente, poderá jogar luz sobre o ponto mais misterioso de suas investigações: as relações com o doleiro Dario Messer, considerado o doleiro dos doleiros, e preservado na Operação Banestado e na Lava Jato. É esse o temor.

Luis Nassif

11 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Esquece o Messer, Nassif. Um grupo vai pegar os podres do outro e todos ficarão ficarão quietos. Cite um núcleo de poder brasileiro que não esta pobre. Esperança no STF? De forma alguma. Todos os ministros trabalham para a plutocracia. Gilmar e Mello defendendo valores constitucionais e democráticos? Não, contendo danos maiores para manter Bolsonaro no poder. Só aceito estar errada se Celso de Mello julgar suspeição de Moro no caso Lula.

  2. Não sei se essa gente tem algum temor. Como colocado no post,essa gente dominava todas as instâncias burocráticas do seu rito processual desde sua abertura. Assim,não deve ter sido difícil para eles esconder ou mesmo eliminar tudo que considerem nocivo aos seus interesses.
    Quanto ao compartilhamento de dados existe um equívoco: Em momento algum essa gente recusou-se a compartilhar os dados com seus superiores só que,assim como o sujeito que ocupa a presidência da república,eles batem continência para outra bandeira e não a nossa.

  3. Parabéns pela cobertura, Nassif! desde sempre ( Lado B…) a melhor análise da Lava-Jato. Espero apenas que quem tem o poder de PUNIR os procuradores e o ” Russo” Moro, estejam a ler seus comentários e assistir seus vídeos.
    Um abraço de Portugal!

  4. Os caras são vendilhoes e assassinos de reputações. Súditos rasteiros, agindo conforme mandam seus patrões (eua principalmente) na certeza de impunidade dão respostas infantis ou toscas à questões fundamentais que comprovam suas ações subrepticias.
    Há pouco, por exemplo, uma “reportagem” da rede golpe atribuia a erro do peão que a digitou e tb ao tamanho da coluna transcrita (que, rs, cortava alguns nomes), a camuflagem na planilha de alguns nomes investigados como maia e alcolumbre, mas colocava outros por extenso, como Dilma e Jandira (inclusive indicando partido).
    Canalha como sempre, a globo nao levantou questão sobre a “seletividade” na abreviatura dos nomes, simplesmente repetiu as cínicas explicações da turma de curitiba.
    Concordo com a maioria das percepções dos leitores em seus comentários que nao vai dar em merda nenhuma. Trata-se apenas de um jogo de espelhos e sombras com casa um protegendo seu amigo investigado.
    Ou seja, deixe meu parça de fora que eu deixo o seu em paz.

  5. Contradições internas do sistema de poder. A turma de Curitiba mirava no PT, e para isso precisava abater muitos alvos à direita e dentro do empresariado. Seus mentores estrangeiros miravam em algo maior, a derrocada do Brasil que ensaiava levantar do berço esplendido e, quiçá, a médio prazo, sua fragmentação territorial (como o Kissinger tinha aconselhado décadas antes fazer com a URSS), criando Estados fracos e dependentes deles, ou mesmo criando uma nova Líbia, onde quem tem mais bala leva os lucros. Os do sistema financeiro adoravam a idéia de acabar com o Brasil que nascia, porque a longo prazo isso ia acabar batendo na porta deles e a farra do rentismo às custas do Orçamento Público poderia acabar. A economia real também gostava do projeto anti-PT, porque pagar mais salários, concorrer, ter gestão, nada disso interessa aos nossos barões industriais. Querem é uma mega margem de lucro, que encobre suas múltiplas incompetências empresariais, e viam o PT como um enorme risco para isso.
    Mas a turba de Curitiba foi um pouco longe demais, e quis ela mesma ser um quarto poder (marionetes de quem já ocupava esse posto desde 1965, não é, Globo?). E isso gerou conflitos com os outros condôminos do Poder no Brasil.
    E como sempre, quem é poderoso-raiz vai aos poucos se livrar dessa turba, conciliar as contradições, inclusive com os EUA, e resolver tudo mansamente. Os procuradores vão aos poucos voltar cada um para o seu quadrado, rabo entre as pernas, talvez com alguma punição exemplar a ser minorada anos depois, para o Deltan, cabeça da hidra, por exemplo, para que todos os outros servidores públicos que ousarem pensar que são alguma coisa mais do que capatazes e capitães-do-mato de quem de fato manda se ponham nos seus devidos lugares.
    Em resumo, não vai dar em nada, ao menos para o bem do país e de seu povo…

  6. Brasis
    No Brasil, na proclamação da República em 1889, criou-se dois Brasis.
    Um civil e outro militar – ensino, saúde, previdência, habitação, justiça. Tudo isso é duplo no Brasil, um é civil e outro militar.
    Em 64 o Brasil Militar criou um terceiro Brasil, o Brasil Global.
    Esse Brasil Global, diz para os outros dois, o que aconteceu e o que não aconteceu. Quem é culpado e quem é inocente. Quem é bom e quem é mau. E quando o Brasil Global erra (Mossak Fonseca, FIFA/CBF, CARF, etc.), ele pede desculpa e fica tudo bem, não precisa de justiça para julgá-lo, pois ele é um Brasil autônomo – capaz de se autoavaliar.
    Por fim, em 2014 o Brasil Global, criou um quarto país: o Brasil Lava Jato.
    Esse quarto país, faz suas leis, empossa seus juízes, procuradores e policiais, investiga e julga, tudo por conta própria.
    Enfim, a dobradinha de países Globo – Militares de 64, virou em 2014 a dobradinha de países: Globo – Lava Jato. E tudo virou como dantes no quartel de Abrantes.
    Como diria o professor: Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo.

  7. Nassif: já te falei que Tatu não sobe em árvore. Sem “baionetas” a dar cobertura as safadezas dos GogoboysCuritibanos estes “avivados” não teriam sido ousados como tal. Daqui a pouco pinta um “salve” do alto das Agulhas e todos ficam pianinho. Portanto, a descoberta das maracutaias não impressiona mais ninguém. É fato notório. O KhmerVerde à serviço da AguiaDoNorte ninguém segura…

  8. Só o fato de terem descartado tudo da época do FHC justifica o desmantelamento total dessa força tarefa…
    de repente foi criada só pra isso mesmo, proteger tucanos e jogar toda culpa no Lula

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador