O relatório da CPI sobre a participação de Policarpo

Não adianta ficar catando pelo em ovo. A leitura das 90 páginas do relatório da CPI referentes à participação de Policarpo Jr. (para quem ainda não leu, há um pdf dessa parte aqui) não contém uma indicação clara de nenhum tipo de associação do jornalista com o bicheiro que tivesse como razão de ser o benefício deste último. Policarpo agia movido por uma lógica própria – conseguir a qualquer custo reunir elementos para incriminar o PT e seus principais dirigentes. Foi aí que ele se perdeu. Descambou para o vale-tudo. Associou-se ao bicheiro, deixando-se usar por ele, em troca dos grampos ilegais, vídeos secretos e informações de coxia que este lhe forneceu durante pelo menos seis anos. Ao mesmo tempo, em notábilíssima coincidência, a revista Veja aproximava-se de algumas eminências do Planalto Central, como Demóstenes Torres, José Roberto Arruda, Marconi Perillo e Gilmar Mendes. É aí, nessa coincidência, nessa associação duradoura, que se deve procurar o fio da meada, e não em algum suposto episódio diretamente incriminador, em que o bicheiro “pagava” pelos serviços da revista, ou coisa assim. Esse episódio não existe porque a natureza da relação era outra. Cachoeira usou a revista Veja, e a revista usou o bicheiro. Nessa relação promíscua, o jornalismo foi para o espaço.

Se quiserem ter uma idéia clara daquilo que aconteceu, comparem o que diz o principal blogueiro da revistaem 04/06/2011 com esta conversa travada, no mesmo dia, entre Carlinhos Cachoeira e Cláudio Abreu, da Delta:

CLÁUDIO ABREU – [lendo] “O combativo parlamentar diz que o Congresso age bovinamente, o TCU está sobre fogos [sic], os promotores cansados, situação que põe em risco o estado de direito no Brasil.” É mole, cara???

CARLINHOS CACHOEIRA – É foda, mesmo. Fala bem aí?

CLÁUDIO ABREU – E muito bem, Carlinhos. E o amigo, lá? O inspetor da Receita, hein? Me ligando, me parabenizando, me agradecendo e me convidando. E o pessoal do cerimonial me ligando para me colocar lá no estande das autoridades na destruição dos produtos piratas.

CARLINHOS CACHOEIRA – Você que mais traz, né, cara?  Conversas como esta se deram num contexto em que Policarpo Jr., da revista Veja, vinha tendo encontros praticamente diários com Cachoeira e membros de sua quadrilha. Não se trata de um homem que Policarpo acabou de conhecer, mas de um informante com o qual ele trabalhava há SEIS ANOS.   A pergunta que temos que fazer é muito simples. Em tempos de “domínio funcional dos fatos” e de “não poderia não saber”, temos o DIREITO de acreditar que a cúpula da revista Veja não SOUBESSE quem era o senador que ela estava cacifando para disputar a presidência da República? Nada está oculto nas entrelinhas. Está tudo bem aí, diante de nós.

Luis Nassif

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