É possível que a Lava Jato no Rio repita, em 2018, a escalada curitibana de 2014?

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – A deflagração da Operação “Câmbio, Desligo” levanta dúvidas sobre as intenções da Lava Jato no Rio de Janeiro. 
 
Em 2014, ano eleitoral, o Brasil assistiu ao vazamento seletivo da delação de Alberto Youssef – conhecido de Sergio Moro desde o Banestado – numa tentativa desesperada de impedir a reeleição de Dilma Rousseff.
 
Youssef lavou dinheiro para agentes políticos envolvidos no esquema da Petrobras, fez um acordo com os procuradores (que incluia vantagens financeiras), implicou políticos que tinha de implicar e abandonou a temporada no cárcere para cumprir prisão domiciliar.
 
Nesta sexta-feira (4), depois de passar exatamente 1 ano e dois meses presa no Rio, a dupla Vinicius Claret (Juca Bala) e Cláudio Barbosa (Tony), os “doleiros dos doleiros”, passaram a desfrutar do acordo de cooperação que fecharam com a Lava Jato fluminense.
 
A delação não foi divulgada na íntegra, mas garantiu aos doleiros o direito de cumprir apenas mais 1 ano em prisão domiliciar (sendo 6 meses em regime fechado e mais 6 meses em semi-aberto) e, depois disso, eles estão livres e podem retornar ao Uruguai, de onde comandavam operações remotamente desde 2003.
 
Os benefícios contrastam com a informação de que os doleiros foram condenados a 18 anos de prisão, mais pagamento de multa de R$ 4 milhões, e acusados por outros delatores de terem movimentado 85 milhões de dólares apenas para o grupo de Cabral.
 
Como é de praxe na Lava Jato, um veículo da grande mídia (no caso, O Globo), teve acesso e divulgou um pequeno trecho do acordo de delação, que revela apenas que a Procuradoria condicionou o acordo de cooperação ao compartilhamento de táticas de lavagem de dinheiro. Na prática, o MPF exigiu 6 anos de cursos e estudos sobre o tema junto aos doleiros.
 
 
 
Em dezembro de 2017, no meio da negociação com os procuradores pelo acordo de delação, os dois doleiros desistiram de lutar contra o processo de extradição.
 
O advogado de Claret deixou transparecer, em entrevista ao jornal O Globo, que os doleiros estavam confortáveis em relação à Lava Jato, pois teriam entendido “qual o verdadeiro papel” deles “nessa história” toda.
 
Na mesma matéria, O Globo publicou que a expectativa era de que a dupla apresentasse uma “lista de clientes que drenaram, nos últimos anos, dinheiro de origem suspeita do Brasil para os paraísos fiscais.”
 
Agora, com a operação “Câmbio, Desligo”, sabe-se que a delação de Claret e Barbosa levou a Lava Jato a prender mais quatro dezenas de doleiros e operadores financeiros dos esquemas de lavagem. A rede teria movimentado mais de 3 bilhões de dólares.
 
No pedido de prisão feito ao juiz Marcelo Bretas, o MPF escreveu que “a colaboração premiada de CLAUDIO BARBOZA e VINICIUS CLARET descreveu, em detalhes, tais operações e o seu estágio atual de evolução no Brasil, onde uma sofisticada rede de doleiros, sediados em diversos Estados da Federação se compensam para viabilizar as transferências de recursos, seja no Brasil ou no exterior.”
 
O documento, que tem mais de 400 páginas, também diz que, dentro do esquema de lavagem, “empresas que necessitam de reais em espécie no Brasil para corromper agentes públicos são grandes vendedoras de dólares”, mas apenas a Odebrecht é citada como “exemplo”.
 
Na versão curitibana da Lava Jato, a prisão de doleiros e operadores financeiros do esquema na Petrobras foi usada de escada para se chegar a empresários. Com empresários, arrastaram agentes políticos. A enxurrada de acusações dos “colaboradores” derrubou Dilma do poder. Os mesmos delatores foram usados para levar Lula ao cárcere no caso triplex. 
 
Resta saber quem serão os alvos finais do braço no Rio.
 
Certo é que, com dezenas de doleiros presos, a lista de “clientes” (de empresários a políticos) que usaram a rede de lavagem deverá ser extensa e pode começar a vazar a qualquer minuto.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. Curitiba eh so Santa Rossa da

    Curitiba eh so Santa Rossa da Serra.  Rio de Janeiro eh vitrine espetacular do Brasil ao mundo.

    Vai ser um vexame MUNDIAL, nao de Santa Rossa.

    Eh, gente…  Vai em frente…

  2. O alto comando dessa ORCRIM e do golpe fica nos EEUU

    Fico surpreso com a ingenuidade e republicanismo suicida não só do PT, mas da esquerda brasileira (tanto a organizada e viável político-eleitoralmente como a a ‘festiva’, aquela que faz o jogo da direita olgárquica, golpista, plutocrata, cleptocrta, privatista e entreguista) em não ter percebido que os Judas, liderados por José Eduardo Cardozo, juntamente com o sistema judiciário e FFAA (cooptados, comprados pelos EUA) estavam chocando os ovos da serpente, há mais de uma década. Márcio Thomas Bastos, JEC, a tal ENCCLA, os acordos assimétricos de cooperação judicial com os EUA, a proposiçaõ e aprovação de leis que criminalizam os movimentos sociais, como a da delaçã opremiada e anti-terrorismo… Enfim: a falta de estratégia e inteligência política do Presidente Lula e da Presidenta Dilma em perceber as ações de traição daqueles que eram homens de confiança deles (dentre os quais destaco Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo) se mostra incompatível com a de um líder sindical que já possuía experiência em disputas políticas e já havia sofrido golpes e maquinções para impedi-lo de chegar à Presidência da República, como em 1989.

    A ala traíra do PT e da Esquerda que mandelizar Lula e usar o espólio do Ex-Presidente Operário para conseguir mandatos parlamentares. Essa ala fez e faz corpo mole; ela nã teve e nã tem coragem de denunciar os crimnosos das ORCRIMs midiáticas e judiciárias. Quando fazem, é apenas jogo de cena, para aparecer nas telas e lives das redes sociais digitais.

    Como já mostrei várias vezes, os operadores brasleiros do golep NADA tem de sutil ou sofisticado. Se há inteligência, sutileza e sofisticação, ela está nos que conduzem a guerra híbrida a partir de países capitalistas centrais, liderados pelos EUA. As quadrilhas de golpistas em Pindoramam (sejam elas das oligarquias políticas, financeiraas, latifundiárias ou empresariais, das ORCRIMs midiáticas e judicárias, assim como das alas golpistas e entreguistas das FFAA) não têm sofisticação ou sutileza alguma; os golpistas tupiniquins são broncos, desqualificados. Nem de fascistas podem ser chamados, pois esses eram nacionalistas.

     

  3. “Resta saber quem serão os

    “Resta saber quem serão os alvos finais do braço no Rio.”

    Não tenho d´vidas, os alvos são Lula e o PT.

    Talvez prendam todos os doleiros do Brasil para ver se tem algum que possa dennciar o Lla e o PT.

    O que os doleiros negociaram com o MPF para se sentir “confortáveis” a ponto de abrir mão da luta contra a deportação?

  4. Será um aviso?

    Qualquer um que nos últimos, sei lá, 30 anos, tenha mandado ilegalmente dinheiro ao exterior (ou trazido de lá) deve estar “piscando” agora. Seguramente isso deve abranger poderosos (ou nem tanto) de todos os níveis e cores, públicos e privados. Basta forçar uma delaçãozinha e … “buuum”. Será uma aviso, para que ninguém se atreva a contrariar a lava-jato e seus trevosos associados? 

  5. Depende

    Se houver na lista de usuários de doleiro algum Juiz, por exemplo o ex-ministro Barbosa, que fez uma compra fuleira de AP em Miami, ou de Barroso, que usou offshore da sua esposa, ou até mesmo da rede Globo, aí acaba toda a investigação.

    Por exemplo, o assunto da empresa panamenha (algo com “Fonseca”) parou quando pegaram o AP da rede Globo em Paraty dentro da lista. A lista de Furnas continua oculta, de onde falou-se que estava o nome do Gilmar Mendes.

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