Onde está a direita no Brasil?, por Fernando Filgueiras

Sugerido por Pedro Penido dos Anjos

Do Valor

Onde está a direita no Brasil?
 
Por Fernando Filgueiras

Ao longo dos anos 1990, a ideia de que as ideologias políticas de direita e de esquerda estariam em crise foi motivo de um forte consenso e o caminho traçado pela globalização seria o de uma terceira via. Àquela altura, soava como esquizofrenia ou anacronismo defender qualquer posição ideológica no plano político. A globalização, então, aplainou o conflito ideológico entre direita e esquerda, atribuindo à terceira via a solução para os problemas sociais e econômicos dos países desenvolvidos e em desenvolvimento.

No caso do Brasil, especificamente, a sensação que a geração formada nos anos 1990 carrega nos ombros é a de que as ideologias não fazem muito sentido, porque direita e esquerda dissolveram-se em um discurso político cantado em uníssono. De fato, promover enquadramentos ideológicos é uma das tarefas mais difíceis da análise política. A chance de erro em função das idiossincrasias do analista é gigantesca. Porém, ela faz sentido se concebida não como um juízo estético, mas como um juízo de valor. O que a confrontação entre direita e esquerda revela é uma diferença de valores fundamentais, os quais organizam a forma como indivíduos ou grupos políticos interpretam e constroem a realidade. Os juízos de valor importam porque eles permitem formatar de maneiras diversas problemas políticos e soluções. E estes juízos são constituídos publicamente, tendo em vista os instrumentos de comunicação social.

Entretanto, o que a diferença entre os discursos de direita e de esquerda tem revelado é uma disputa sincera por juízos estéticos na política. Vamos desde a direita no armário à esquerda caviar. Expressões estas que são difundidas nas redes sociais e que tomo emprestado de analistas políticos da mídia para tratar de uma pobreza recente do debate político. Os juízos estéticos na política fazem com que tanto a esquerda como a direita fiquem submersas num campo em que a avaliação movida pelo que é belo ou feio conta mais do que a avaliação movida pelos valores. Curiosamente, a comunicação pública tem contribuído pouco para entender a importância das ideologias políticas. Mas, no plano da sociedade, as diferenças ideológicas têm ganhado novos contornos e categorias.

Protestos reabriram disputa ideológica por dividendos eleitorais

A movimentação no plano da sociedade tem feito frutificar um novo debate político movido por ideologias, que tem pegado políticos profissionais e burocratas de calças curtas. O ponto de mudança foi as manifestações de junho e julho passados. As manifestações abriram o conflito ideológico, tendo em vista a disputa, ainda em curso, pelos significados dos atos políticos daquele momento. A crítica à ação dos governos por meio da deficiência de suas políticas públicas e a denúncia de um quadro de injustiças sociais colocaram em xeque os políticos profissionais e acionaram os enquadramentos ideológicos. Comum a esses enquadramentos é a denúncia da corrupção crescente. À esquerda, a denúncia do fascismo praticado pelo Estado e seus agentes contra as massas de oprimidos, mantendo o status quo das desigualdades. À direita, a denúncia do vandalismo contra o patrimônio e o perigo da ação das massas, que corrompem a ordem e os bons costumes. Ambas as posições querendo vencer a disputa pelos significados das manifestações, que podem render ótimos dividendos de poder e dividendos eleitorais.

Mas onde está a direita no Brasil? Ela não está em articulistas de mídia, que reforçam um debate estético e estéril sobre a política. Ela está envolvida em uma profunda capilaridade social, estando presente no plano da sociedade brasileira. Em estudo coordenado pelo professor Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná, demonstra-se que a direita no Brasil não é a figura do coronel caricato, conservador do sistema escravocrata e senhor de tudo no plano local. A direita brasileira tem sido recrutada majoritariamente entre empresários, no espaço urbano, tendo em vista uma ação modernizadora. A agenda de direita movida pela crítica à interferência do Estado na economia, na irracionalidade do gasto público, na exasperação dos impostos, na ineficiência da assistência social e na irracionalidade das massas na democracia está presente mais no plano social do que propriamente institucional. E tem ganhado tons de forte conservadorismo. Por esta razão há um sentimento de incompatibilidade entre uma sociedade conservadora, por um lado, com um sistema político democrático e mais inclusivo, por outro lado.

A ressonância recente de um pensamento de direita no Brasil chama a atenção porque desde a redemocratização não havia quem se identificasse com tal ideologia. Sobretudo pela questão estética de pertencimento ao regime autoritário inaugurado em 1964. Do ponto de vista político, não há problema nenhum com as ideologias de direita, mesmo que junto venham carregadas do tom de conservadorismo que isso implica. Na democracia, o pluralismo é fundamental. Só será um problema se com essa nova direita vier um antigo tom antissistema, que denuncia a política como inerentemente corrompida, as massas como ignaras e que coloque a democracia em risco. No caso do Brasil, só é possível ser conservador se for para conservar a enorme iniquidade social que reina nessas terras desde Tomé de Souza. Aí reside o problema e o fulcro das contradições dos valores políticos.

E-mail: [email protected]m

Fernando Filgueiras é professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Coordenador e pesquisador do Centro de Referência do Interesse Público (Crip), na mesma Universidade. Possui vários artigos publicados em periódicos científicos nacionais e internacionais. É autor de “Corrupção, democracia e legitimidade” (Editora UFMG) e organizou, junto com Leonardo Avritzer, “Corrupção e sistema político no Brasil” (Editora Civilização Brasileira). 

 

Redação

11 Comentários

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  1. Até que não foi uma analise

    Até que não foi uma analise ruim. O “pobrema” é querer parecer “isento”, e se encher de dedos ao dizer que a direita brasileira é organicamente golpista e escravagista.

    Um pouco da estratégia da direita, com um pouco da visão da esquerda. Mas tem coisa muito pior por aí no “mercado”.

    1. “O “pobrema” é querer parecer

      “O “pobrema” é querer parecer “isento”, e se encher de dedos ao dizer que a direita brasileira é organicamente golpista e escravagista”:

      Ta errado sim:  nao eh caracterista da direita brasileira. A direita mundial eh essa fabrica de favelas mesmo.

      1. O problema é mais uma vez não saber o que é direita

        Direita vem dos tempos da revolução francesa. Os que ficaram a direita era a favor da conservação das instituições.

        Hoje, a direita no Brasil, quer conservar as instituições. Quais são as instituições que temos? A democracia, o estado de direito, a constituição, a liberdade econômica, a moral, a ética, a família e a religião. Coisa que os esquerdistas não querem conservar e é fato observável que eles atentam todo dia contra estas instituições.

        Mais um artigo de um esquerdista querendo desqualificar o que é a direita verdadeira.

        A associação de direita feita a ditaduras é incorreta. 

        Vamos olhar para países mais a direita, são os mais ricos do mundo. Liberdade econômica não é sinônimo de escravidão. Todos enriquecem juntos, uns mais, outros menos. Já nos países onde se tem menos liberalismo todos empobrecem juntos.

  2. Direita, esquerda, volver,

    Direita, esquerda, volver, minueto de doidivanas aquartelados

    Com o devido respeito inerente à disputa de idéias, com vistas a crítica de mentalidade, cumpre considerar que focar intensões soa rebuscar recônditos da alma, todavia, inexpressivos, senão, em solilóquios psicanalíticos, no curso de feedback de nossos próprios processos, em culto fabulístico.

     Na dimensão social da existência, ninguém as nota, não no poderiam, pois intensões pertencem ao além da dimensão que as separa do gesto.

     Focar intensões é alimentar o idiótico, do grego, privado, particular, específico, tão irrelevante que a suposta “inocência” dos que as têm boas, não os livra de lotar o inferno, como diz a sabedoria popular.

     Intensões são boas para lápides. Para a vida-viva, socialmente, portanto, politicamente, interessa a atitude e sua eficiência, o resto é blá-blá-blá ou elucubração de obsessivos estrategistas, inda que de si mesmos.

     Abstraindo o anacronismo de falar-se em direita e esquerda, este binômio serve a orientação maniqueísta, importando, sim e tão-só, a realização, cuja riqueza potencial é multifacetada, este esteio do pluralismo que tanto enche as tônicas de verniz democrático.

     O mundo, entretanto, não é cor-de-rosa. Coalham reducionismos dessas ordens polarizantes e, tenha-se em mente, no mínimo próto-fascistas, pela apropriação dos corações e das mentes, depois, dos corpos, à sua arregimentação, miserabilizando a grandeza da vida numa máquina militarizada, lembrando que, em toda guerra, lá pelas tantas, os motivos (intenções) que a deflagraram são engolfados pelo irresistível curso dos embates regidos por rasgada erística, isto é, vencer a qualquer custo, desenhando-se insensatez, em vivas cores.

     Fato é que, trabalhando com a metáfora bipolar, tanto uns, como outros, instalados no poder, alimentam a desmedida criminosa da incontinência das pulsões por posses e por dominação, causas do Estado policial e arrecadador do suor feito de sangue, a alimentar a minoria minoritária mínima, em ritmo de concentração hiperlativa de sua riqueza, principal causa das mazelas contemporâneas.

     Esta estrutura perversa é intocada por quem quer que chegue ao poder, no Brasil e no mundo em geral, nos últimos, “grosso modo”, 30 anos, tempo de debacle das esperanças social-democráticas, pela hegemonia neoliberal, e pela ditadura financista, disseminada em alta velocidade pela globalização de tempo real, com informatização acabrestadora.

     Seu horizonte leva a crer tratar-se da natureza das coisas mesmas, enfim, desvelada, chegando a dar por finda a história, e transformando os dogmas neoliberais em preceitos divinos, fundando verdadeira teocracia despótica, hipertrofia hipostasiada de um capitalismo como religião, cuja deidade segunda é a razão instrumental desse fascismo dissimulado.

    Neste sentido da divinização do financismo, vale conferir as reflexões apresentadas em “Benjamin e o Capitalismo”, de Agamben, na Tribuna da Imprensa Online, e em “Resenha de ‘O capitalismo como religião’, de Walter Benjamin”, por Márcio Seligmann-Silva, na Tribuna da Internet.

    Como o último que achou nunca mais foi encontrado, reservo-me a consagrar a busca, a dúvida, a criatividade de reinventar o momento preservando-lhe a evanescência, e, com isso, as rotas de fuga às estocadas fascistas ocultas em qualquer ladeamento, qualquer fragmentação da vida, que bem servem a alimentar o “bellum ominium ontra omnes”, guerra de todos contra todos, “mutatis mutandis”, de alguns contra outros, em torno do mesmo, direita, esquerda, volver, minueto de doidivanas aquartelados.

    Saudações libertárias.

    1. Saudações libertárias!

      Agora, sim! Pude compreender o texto. Obrigado pela ajuda. 

      Afinal onde está a direita no Brasil?

      Desculpem a sinceridade, mas eu não consegui entender o que o Acadêmico quis dizer. Talvez, eu não tenha capacidade para tanto. 

      É um tanto circular o texto publicado no valor que a gente parece estar lendo alguma bula de remédio ou um manual de programação de informática avançado. 

      Infelizmente, o vocabulário não ajudou a compreender o texto do valor: 

      aplainou, anacronismo, uníssono, idiossincrasias, debate estético e estéril, profunda capilaridade,  inerentemente corrompida, as massas como ignaras, a enorme iniquidade social, etc.

      E no texto como um todo fiquei confuso. Senti que as ideias não se encaixam. A escolha do vocabulário pareceu-me mais importante que o conteúdo. 

      Não seria a hora de repensar esse “desligamento” da realidade? Essa linguagem que fica toda chique mas não comunica? 

      Afinal a Universidade produz conteúdo para ela mesma? Ou deve ser uma porta de entendimento das coisas do cotidiano do mundo para quem da sociedade se interessar por uma Tese, um estudo acadêmico, uma palestra, um seminário? 

      Afinal escrevo para mim, para meus amigos acadêmicos ou para a sociedade?

      É claro que há temáticas que são bem restritas e acabam precisando de conhecimento prévio para mínimo entendimento. Porém, um texto publicado em Jornal sobre Política deve ser colocada a questão da comunicação escritor/leitor, certo? 

  3. Com o avanço da democracia e

    Com o avanço da democracia e das tecnologias de acesso à informação tornou-se impossível a direta defender os seus pontos de vistas que são invariavelmente excludentes e elitistas.

    O caminho da “terceira via” foi mais uma das tentativas que não colou de se enganar a população. Daí o ressurgimento do discurso, incensado cotidianamente na grande mídia, de que “a política como inerentemente corrompida, as massas como ignaras e que coloque a democracia em risco”, como delineia o autor.

    A ideia é tentar implantar nas consciências que é tudo do mesmo, que não há diferenças, que a população não sabe escolher quando elege políticos de esquerda, e que essa forma ignara da população coloca em risco a democracia.

    Chegou – se ao ponto de se cunhar a expressão “fim da história”  para tentar fazer crer que não havia alternativas para o que o mainstream ditava como forma única e acabada, formando assim uma sociedade hegemônica, de pensamento único

    A direita e seus porta-vozes, nas figuras dos jornalistas e comentaristas de cadeira cativa, procuram e conseguem camuflar noções ideológicas diversas como, por exemplo, o seu mote “crescimento” com o mote de esquerda “desenvolvimento”. Chegam, inclusive, a afirmar que não existe mais diferença entre esquerda e direita.

    É de extrema importância sabermos diferenciar crescimento econômico de desenvolvimento econômico, pois é possível uma cidade, região ou país, crescer sem alcançar um estágio satisfatório de desenvolvimento. Em síntese, crescimento e desenvolvimento econômico são duas coisas ou situações distintas.O crescimento neoliberal aprofunda desigualdades e dificuldades no acesso à educação, saúde, ou seja, criam precárias condições de vida para a maioria da população. Pelo neoliberalismo crescimento se refere exclusivamente ao aumento do PIB, que mede a quantidade de riquezas produzidas pelo país e não a qualidade de vida da população.

    Espanta o grau de mistificação usado pelos formuladores mainstream da política econômica ao induzir a população a acreditar na solução de seus problemas a partir de um indicador estatístico. A doutrina convencional afirma que o crescimento da taxa do PIB (Produto Interno Bruto) seria o único caminho para o progresso e o bem estar. A realidade contradiz este discurso otimista dos empresários, do governo e da academia. Essa avaliação pelo PIB oculta as condições de vida da sua população.

    O desenvolvimento que a esquerda prega é um poliedro do qual o crescimento da economia é apenas uma das suas múltiplas faces. Um país é dito desenvolvido quando ele apresenta um bom IDH (índice de desenvolvimento humano), ou seja, boas condições de saúde, educação, distribuição de renda, etc.Um país pode ter um grande crescimento, sem que melhore substancialmente o IDH. 
    A calamitosa situação econômica e social que caracteriza os pobres dos países chamados emergentes ou “em desenvolvimento” prova que o crescimento por si só não melhora a vida da sua população.

    Outro paradoxo decorrente da falsa noção de crescimento é que, antes, os ganhos das corporações transnacionais eram contabilizados pelo país-sede da empresa, para onde os lucros foram remetidos. 

    Na contabilidade atual, os lucros são atribuídos ao país da localização das fabricas, embora não permaneçam lá. Oculta se, assim, um fato básico: as empresas dos países ricos exploram e expatriam os recursos dos chamados emergentes.

    Essa falsa noção de crescimento como condição de desenvolvimento é alimentada pela linguagem, conceitos e eufemismos utilizados como armas pela direita para proteger “os de cima” e são concebidos por jornalistas e economistas mainstream para maximizar a eficiência do neoliberalismo em suas políticas brutais em linguagem suave, evasiva e enganosa a fim de neutralizar a oposição popular; alguns exemplos em uma releitura de um artigo de James Petras :

    1) O neoliberalismo apropria-se de conceitos e termos, os quais a esquerda originalmente utilizou para o avanço de melhorias em padrões de vida, e os utiliza contra a própria esquerda. Dois destes eufemismos, tomados da esquerda, são “reforma” e “ajustamento estrutural”. “Reforma” referia-se a mudanças que diminuíam desigualdades e aumentavam a representação popular, promoviam o bem-estar público e a restrição do abuso de poder por regimes oligárquicos ou plutocráticos. Ao longo das últimas quatro décadas, contudo, importantes acadêmicos, economistas, jornalistas e responsáveis da banca internacional subverteram o significado de “reforma” transformando-o no seu oposto: agora se refere à eliminação de direitos do trabalho, ao fim da regulamentação pública do capital e à redução de subsídios públicos que tornavam a vida do pobre mais acessível. No vocabulário neoliberal “reforma” significa reverter mudanças progressistas e restaurar os privilégios de monopólios privados. Portanto “reforma” agora significa restaurar privilégios, poder e lucro para os ricos.

    2) Por outro lado, escritores, jornalistas e acadêmicos de esquerda utilizam conceitos e linguagem da direita, e o eufemismo mais comum é a palavra “mercado”, a qual é dotada de características e poderes humanos. A realidade do “mercado” de hoje é definida por corporações e bancos multinacionais gigantescos.

     Outro eufemismo é “austeridade”, utilizado para encobrir os cortes em salários, pensões e bem-estar público. Medidas de “austeridade” significam políticas para proteger e mesmo aumentar subsídios do Estado a negócios e negociatas, criar lucros mais altos para o capital e maiores desigualdades entre os 10% da “casa grande” e os 90% da “senzala”. “Austeridade” implica autodisciplina, simplicidade, parcimônia, poupança, responsabilidade, limites em luxos e gastos supérfluos, no entanto, na prática “austeridade” descreve políticas que são concebidas pela elite financeira para implementar reduções no padrão de vida de uma classe específica e em serviços essenciais (tais como saúde e educação). Significa que fundos públicos podem ser desviados numa extensão ainda maior para pagar altos juros aos possuidores de títulos ricos enquanto sujeitam a política pública aos ditames dos senhores do capital financeiro.

     De um modo semelhante, os cortesãos linguísticos da profissão econômica puseram o termo “estrutural”, como em “ajustamento estrutural”, ao serviço do poder desenfreado do capital. Mudança “estrutural” referia-se à redistribuição da terra dos grandes latifundiários para os destituídos de terra; uma mudança de poder dos plutocratas para as classes populares. Hoje, contudo, “estrutural” refere-se às instituições e políticas públicas, as quais tiveram origem nas lutas do trabalho e da cidadania para proporcionar segurança social, para proteger o bem-estar, saúde e aposentadoria de trabalhadores. “Mudanças estruturais” são agora o eufemismo para esmagar as instituições públicas.

     Outras expressões:

     “Disciplina de mercado” – Este eufemismo visa, sobretudo, à condição de despedirem trabalhadores e intimidar os empregados remanescentes para maior exploração e excesso de trabalho, produzindo, portanto, mais lucro por menos pagamento. Ela também cobre a possibilidade dos neoliberais de elevarem seus lucros cortando os custos sociais, tais como proteção ambiental e do trabalhador, cobertura de saúde e pensões.

      “Mercado livre” – Um eufemismo que implica “competição livre, justa e igual em mercados não regulados” encobrindo a realidade da dominação do mercado por monopólios e oligopólios dependentes de maciços salvamentos do Estado em tempos de crise. “Livre” refere-se especificamente à ausência de regulamentações públicas e intervenção do Estado para defender a segurança dos trabalhadores bem como a do consumidor e a proteção ambiental. Por outras palavras, “liberdade” mascara a destruição desumana da ordem através do exercício desenfreado do poder econômico. “Mercado livre” é o eufemismo para o domínio absoluto de neoliberais sobre os direitos e meios de vida de milhões de cidadãos, na essência uma verdadeira negação da liberdade.

    “Recuperação econômica” – Esta frase significa a recuperação de lucros pelas grandes corporações. Ela disfarça a ausência total de recuperação de padrões de vida para as classes trabalhadora e média, a reversão de benefícios sociais e as perdas econômicas de detentores de hipotecas, devedores, os desempregados e proprietários de pequenos negócios em bancarrota. O que é encoberto na expressão “recuperação econômica” é a pauperização em massa que se torna uma condição chave para a recuperação de lucros corporativos. 

     “Privatização” – O termo descreve a transferência de empresas públicas, habitualmente aquelas lucrativas, para o setor privado a preços bem abaixo do seu valor real, levando à perda de serviços públicos, emprego público estável e custos mais elevados para os consumidores pois os novos proprietários privados elevam preços e despedem trabalhadores – tudo em nome de outro eufemismo: “eficiência”.

     “Eficiência” – Este termo é usado para maquiar as privatizações. Frequentemente, responsáveis públicos, que estão alinhados com neoliberais, diminuem os investimentos deliberadamente em empresas públicas e nomeiam compadres políticos incompetentes como parte da política clientelista, a fim de degradar serviços e fomentar o descontentamento público. Isto cria uma opinião pública favorável a “privatização” da empresa. Por outras palavras, a “privatização” não é um resultado das ineficiências inerentes das empresas públicas, como os neoliberais gostam de argumentar, mas um ato político deliberado destinado ao ganho do capital privado à custa do bem-estar público.

    Há enormes diferenças entre esquerda e direita, com o diz Emir Sader:

    Diante de alguns argumentos que ainda subsistem sobre o suposto fim da divisão entre direita e esquerda, aqui vão algumas diferenças. Acrescentem outras, se acharem que a diferença ainda faz sentido.

    Direita: A desigualdade sempre existiu e sempre existirá. Ela é produto da maior capacidade e disposição de uns e da menor capacidade e menor disposição de outros. Como se diz nos EUA, não há pobres, há fracassados.

    Esquerda: A desigualdade é um produto social de economias  como a de mercado  em que as condições de competição são absolutamente desiguais.

    Direita: É preferível a injustiça, do que a desordem.

    Esquerda: A luta contra as injustiças é a luta mais importante, nem que sejas preciso construir uma ordem diferente da atual.

    Direita: É melhor ser aliado secundário dos ricos do mundo, do que ser aliado dos pobres.
    Esquerda: Temos um destino comum com os países do Sul do mundo, vitimas do colonialismo e do imperialismo, temos que lutar com eles por uma ordem mundial distinta.

    Direita: O Brasil não deve ser mais do que sempre foi.

    Esquerda: O Brasil pode ser um país com presença no Sul do mundo e um agente de paz em conflitos mundiais em outras regiões do mundo.

    Direita. O Estado deve ser mínimo. Os bancos públicos devem ser privatizados, assim como as outras empresas estatais.

    Esquerda: O Estado tem responsabilidades essenciais, na indução do crescimento econômico, nas políticas de direitos sociais, em investimentos estratégicos como infra-estrutura, estradas, habitação, saneamento básico, entre outros. Os bancos públicos têm um papel essencial nesses projetos.

    Direita: O crescimento econômico é incompatível com controle da inflação. A economia não pode crescer mais do que 3% a ano, para não se correr o risco de inflação.

    Direita: Os gastos com pobres não têm retorno, são inúteis socialmente, ineficientes economicamente.
    Esquerda: Os gastos com políticos sociais dirigidas aos mais pobres afirmam direitos essenciais de cidadania para todos.

    Direita: O Bolsa Família e outras políticas desse tipo são assistencialismo, que acostumam as pessoas a depender do Estado, a não ser auto suficientes.

    Esquerda: O Bolsa Família e outras políticas desse tipo são essenciais, para construir uma sociedade de integração de todos aos direitos essenciais.

    Direita: A reforma tributária deve ser feita para desonerar aos setores empresariais e facilitar a produção e a exportação.

    Esquerda: A reforma tributária deve obedecer o principio segundo o qual quem tem mais, paga mais, para redistribuir renda, com o Estado atuando mediante políticas sociais para diminuir as desigualdades produzidas pelo mercado.

    Direita: Quanto menos impostos as pessoas pagarem, melhor. O Estado expropria recursos dos indivíduos e das empresas, que estariam melhor nas mãos destes. O Estado sustenta a burocratas ineficientes com esses recursos.

    Esquerda: A tributação serva para afirmar direitos fundamentais das pessoas ¿ como educação e saúde publica, habitação popular, saneamento básico, infra-estrutura, direitos culturais, transporte publico, estradas, etc. A grande maioria dos servidores públicos são professores, pessoal médico e outros, que atendem diretamente às pessoas que necessitam dos serviços públicos.

    Direita: A liberdade de imprensa é essencial, ela consiste no direito dos órgãos de imprensa de publicar informações e opiniões, conforme seu livre arbítrio. Qualquer controle viola uma liberdade essencial da democracia.

    Esquerda: A imprensa deve servir para formar democraticamente a opinão pública, em que todos tenham direitos iguais de expressar seus pontos de vista. Uma imprensa fundada em empresas privadas, financiadas pela publicidade das grandes empresas privadas, atende aos interesses delas, ainda mais se são empresas baseadas na propriedade de algumas famílias.

    Direita: A Lei Pelé trouxe profissionalismo ao futebol e libertou os jogadores do poder dos clubes.

    Esquerda: A Lei Pelé mercantilizou definitivamente o futebol, que agora está nas mãos dos grandes empresários privados, enquanto os clubes, que podem formar jogadores, que tem suas diretorias eleitas pelos sócios, estão quebrados financeiramente. A Lei Pelé representa o neoliberalismo no esporte.

    Direita: O capitalismo é o sistema mais avançado que a humanidade construiu, todos os outros são retrocessos, estamos destinados a viver no capitalismo.

    Esquerda: O capitalismo, como todo tipo de sociedade, é um sistema histórico, que teve começo e pode ter fim, como todos os outros. Está baseado na apropriação do trabalho alheio, promove o enriquecimento de uns às custas dos outros, tende à concentração de riqueza por um lado, à exclusão social por outro, e deve ser substituído por um tipo de sociedade que atenda às necessidades de todos.

    Direita: Os blogs são irresponsáveis, a internet deve ser controlada, para garantir o monopólio da empresas de mídia já existentes. As chamadas rádios comunitárias são rádios piratas, que ferem as leis vigentes.

    Esquerda: A democracia requer que se incentivo aos mais diferentes tipos de espaço de expressão da diversidade cultural e de opinião de todos, rompendo com os monopólios privados, que impedem a democratização da sociedade.

    Conclusão

    Linguagem, conceitos e eufemismos são armas importantes usadas pela direita, concebidos por jornalistas e economistas capitalistas para maximizar a riqueza e a eficiência do modelo.

    Há diferenças marcantes entre o que propõe a esquerda e a direita, e a “terceira via” não passa de uma tentativa da direita de camuflar e ludibriar os eleitores.

    Na medida em que críticos progressistas e de esquerda adotam estes eufemismos e seu quadro de referência, as críticas e alternativas que propõem ficam limitadas pela retórica do sistema.

  4. enquanto isso, dois marcianos lá em marte…

    _ Você não acha que esses terráquios deveriam ser menos demagogos e mais pragmáticos?!

    _ Eu acho, mas o mestre deles é o Nicoló di Bernardo dei Machiavelli.

     

     

  5. Não importa o papel da

    Não importa o papel da esquerda ou da direita nesse atual panorama político nacional… O que importa é que Bradesco e Caixa continuem patrocinando desinformação vermelha.

  6. Coluna tendenciosa!!!!

    Coluna tendenciosa… não existe simplesmente um partido de direita conservador. 

    O pilar básico de qualquer partido de direita básico é: estado mínimo, redução de impostos, respeito total a liberdade de expressão individual e não-interferencia nas atividades individuais… associado ao modelo conversador, está o debate ideológico em questões como é formada uma familia, contra as drogas, os abortos, etc.

    Tais pilares não existem no Brasil. O Brasil simplesmente sumiu com a discussão ideológica. 

    1. Graças a Deus, hoje em dia

      Graças a Deus, hoje em dia existe o partido novo, com toda a certeza será a representação da direita no governo. Mas enquanto nossos pilares forem baseados na esquerda o Brasil não vai para frente.

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