Os 50 anos do golpe de 64 e a falta de memória

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Da Folha

Desmemórias

Por Janio de Freitas

Os 50 anos do golpe de 64 solicitam de suas restantes testemunhas o que, pelo já visto, parecem não dispor

Minha geração e suas vizinhas, de baixo e de cima, têm dado provas agudas de falta de memória histórica. Os 50 anos do golpe de 64 solicitam de suas restantes testemunhas o que, pelo já visto a outros propósitos, tais gerações parecem não dispor no volume e na qualidade devidos, senão obrigatórios.

Mas, com pesar pela má palavra, a efeméride provoca um agravamento que assombra: às torções de memória, em uns, junta-se o não sei o quê de inúmeros historiadores, cientistas políticos, antropólogos e outros. O resultado, pelo que li e ouvi em parte de mesas redondas, é uma ininteligível balbúrdia de ficção, imprecisões e, se há acadêmicos, presunção.

Vivi e convivi intensamente aqueles anos, talvez moço demais para viver por dentro muitas das situações extraordinárias, até por dirigir um jornal da importância incomparável do “Correio da Manhã” então. Quando do golpe, estava montando, já bem adiantado, um novo e inovador jornal, cujo acionista majoritário era Mario Wallace Simonsen, dono da TV Excelsior que revirou a TV no Brasil e coproprietário da grande Panair, usurpada por uma transa de militares e golpistas civis, e dividida entre a Varig e a própria FAB. Contra muitas opiniões, inclusive a de Simonsen, sustei de imediato a montagem do jornal, convencido de que os militares, daquela vez, vinham para dominar por bastante tempo e a qualquer custo. Muitas de nossas vidas se puseram de cabeça para baixo.

Agora, nos 50 anos, preferi a posição de leitor/ouvinte. As montagens picotadas do que se diz, entremeadas das falas de outros, predominam aqui com uma ligeireza que embaralha o relato factual ou impede a exposição de uma linha de pensamento. Escrever neste espaço (há também um livrinho em estado fetal) seria lógico, não fora o fato de que a ocasião estimula uma profusão de articulistas e a discussão agressiva, em vez do debate, vem a ser inevitável. Estou sem oxigênio para esse clima.

Pode ser difícil esperar que a onda passe para tentar uma contribuição contra o mais impróprio. Já nestes dias, uma tal “guinada de Jango com o comício do dia 13”, em texto baseado no trabalho de um professor/historiador, deforma os fatos históricos. O comício foi um ato a mais no processo que se desenvolveu sem guinada alguma de Jango e de suas forças sindicais e partidárias. Se não se entender os processos retilíneos e paralelos, nada se entenderá da formação e da execução do golpe. E da sua instituição como poder.

O DERROTADO

Dilma Rousseff jamais desejaria uma comissão da Câmara para investigar a Petrobras, nem a convocação de ministros para depor aos deputados. Mas derrota, mesmo, quem sofreu com essas decisões propostas e efetivadas pelo PMDB foi o vice-presidente Michel Temer.

Ele era o PMDB no segundo cargo da hierarquia governamental. Tomaram-lhe o controle da bancada na Câmara e lhe impuseram duas medidas a que se opôs, com o que seria sua autoridade partidária, mais do que Dilma Rousseff. Se a atitude da bancada prosperasse, até mesmo a presença de Michel Temer na chapa de reeleição presidencial perderia razão de ser.

EM FALTA

O ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, em entrevista à coluna Mônica Bergamo, disse sobre José Dirceu: “Este roubou mesmo”. Plínio tem belo passado parlamentar e toda uma história de seriedade. Nunca se soube, porém, que José Dirceu, mesmo sendo o alvo predileto que é, pudesse ser acusado de roubo. No STF, que Plínio depois invocou, foi acusado de corrupção ativa, sendo-lhe atribuída a política de aquisição de apoios parlamentares. Não peculato, nem lavagem de dinheiro ou qualquer apropriação.

Plínio Sampaio recomenda ao candidato do seu PSOL à Presidência que seja moralmente agressivo. À orientação polêmica, falta acrescentar o exemplo de quem fundamenta ou explica a acusação feita, o que é dívida também com todos que o têm respeitado.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Eu li esse artigo de

    Eu li esse artigo de madrugada.Nem quis comentar porque se tratava de Janio.E por aqui ele é lenda.

     Como uma pessoa está vendendo vários imóveis, se quando entrou no governo Lula seu único patrimônio era ”idealista”?

            Ele enriqueceu com salário de ministro?

              Lembram desta pra revista Piaui quando era ”consultor”?

                ”Meu telefonema pro Lula não é um telefonema qualquer,sou atendido de imediato”.(quando Lula era presidente)

                   Ah,então tá.

  2. Memórias de 1964

    Nassif,

    Como já foi comentado aqui no blog, fica difícil ter memória sobre o que aconteceu há 50 anos se o assunto sempre foi proibido para todas salas de aula.Pegando um gancho do artigo, quantos sabem a história da Panair, aliás, quantos sabem o que era Panair? Outro dia fui falar no João Saldanha e ninguém sabia quem tinha sido, poucos abaixo dos 30 o conhecem porque não existe memória prá nada.   

    Outro fator a atrapalhar as memórias foram os meios de comunicação que não eram acessíveis à maioria, e quando vieram a ser a tal maioria ficou de quatro para a massificação produzida pelo JN, e de quatro a maioria está até hoje, pois o JN ainda mexe com corações e mentes de milhões de brazucas.

    Tenho certeza que, daqui a trinta anos, quase ninguém acreditará que existiu um período de ditadura no país, e se alguém puxar este assunto será visto como um ET.

    .

     

  3. Chega do PMDB

    Papelão de Plinio de Arruda Sampaio. Não é so o Lobão que é um frustrado-recalcado. O Mundo esta cheio. O blog também tem o seu. 

    Quanto ao vice, vamos mudar, PT ? Que tal um nome de peso, de fibra, de coragem ?

  4. Quem deu a luz deve lembrar

    Quando nasce uma criança é a mãe que lembra melhor da data e do fato, ainda mais com 50 anos. A criança nasceu em Washington (EUA) e talvez seja por isso que aqui ninguém lembra ou se faz de bobo.

  5. Oi, Alfredo, tudo

    Oi, Alfredo, tudo bem?

    Independentemente de você estar correto no que  falou, as pessoas as quais o Janio se refere têm memória seletiva ou , como o Villa, Manolli et caterva, estão fazendo “revisão histórica”, provavelmente sob soldo. Essas aí sabem perfeitamente o que foi a ditadura, quem a financiava e quais eram os interesses escusos por trás.

    Abração.

    Nilva

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador