Os números da PM no protesto de 13 de junho

Da Carta Capital
 
PM utilizou 938 bombas e 506 balas de borracha em dia de maior repressão
 
Polícia Militar de São Paulo não divulgou detalhes do uso do armamento e números de detidos em outros dias dos protestos contra o aumento da passagem de trem e metrô
 
por Piero Locatelli

A Polícia Militar de São Paulo utilizou 506 balas de borracha e 938 “unidades de munição química” durante o protesto do dia 13 de junho contra o aumento da passagem de trem e metrô na cidade. A polícia informou que naquele dia, o de maior repressão durante as manifestações, “cerca de 200 pessoas” foram detidas e levadas ao 78º DP, nos Jardins, e outras 34 ao 1º DP, no centro da cidade. Segundo a polícia “cerca de” 900 oficiais participaram da operação no protesto organizado pelo Movimento Passe Livre.

“Foram apreendidas máscaras contra gases, coquetéis ‘molotov’, rojões, litros de álcool, cachimbos de crack, balaclavas, facas, latas de spray, machadinha, martelos e canivetes”, diz a PM na resposta, que contém diversos trechos escritos apenas em letras maiúsculas, uma aparente tentativa de enfatizar a mensagem. Os boletins de ocorrência do dia mostram que também foram apreendidos potes de vinagre e até uma bandeira de partido político carregada por uma manifestante.

As informações foram divulgadas pela PM em resposta ao requerimento de acesso à informação feito por Pablo Ortellado, professor de política públicas da USP. A Polícia Militar não respondeu todos os questionamentos do sociólogo (leia a íntegra do pedido e da resposta).

Polícia omite uso de bombas em outros dias

Em sua resposta, a Polícia Militar omitiu o uso de bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral em outros dias. No dia 7 de junho, a PM desocupou uma pista da marginal Pinheiros utilizando bombas. Ao sair da via, manifestantes encontraram a tropa de choque, que disparou bombas do lado oposto (leia reportagem sobre este protesto). Na resposta, a polícia nega que isso tenha acontecido. “Segundo o sr CMT do policiamento de choque não foi necessário sua tropa utilizar munição química [no dia 7 de junho]”.

A PM também não admite o uso de bombas no dia 17 de junho. Naquela segunda-feira, policiais dispararam para dispersar manifestantes que abriram o portão do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado. “No dia 17 de junho, ocorreu mais uma manifestação, sendo empregado pelo policiamento de choque 383 profissionais de segurança pública, 41 viaturas, não sendo empregadas munições químicas nem elastômero, nem maiores consequências”, diz a resposta da Polícia Militar.

Maioria das perguntas seguem sem respostas

A polícia não revelou o número de policiais e manifestantes feridos, pedidos por Ortellado. A resposta da instituição também ignora o uso de spray de pimenta. A tipificação dos crimes é feita de forma genérica (“danos”, “depredações”) e somente em três dos seis dias. (Veja tabela, elaborada por Ortellado, mostrando o que não foi respondido). Dos seis dias de protestos, a polícia estimou o número de manifestantes somente em três deles. Para a PM, os manifestantes chegaram, no máximo, a cinco mil pessoas. Estimativas da imprensa ultrapassaram os cem mil manifestantes.

Inicialmente, a PM não havia cumprido o prazo determinado pela lei de acesso à informação. Posteriormente, não cumpriu o prazo estabelecido pela Corregedoria Geral da Administração. No pedido, respondido em primeira pessoa mas não assinado, o policial justifica a demora para a resposta, alegando a troca do comandante do Sistema de Informações ao Cidadão da PM, e também uma doença que ele teria enfrentado. “Somou-se a tal circunstância enfermidade da qual fui acometido, gerando involuntário prejuízo na transmissão da resposta, até então.”

No pedido, a polícia diz que buscava garantir aos cidadãos “o direito de manifestação pacífica e protegê-los da ação violenta e criminosa de vândalos infiltrados”. A resposta ao pedido termina com um “FORTE ABRAÇO”.

 

Redação

3 Comentários

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  1. esse Pablo Ortellado é mesmo

    esse Pablo Ortellado é mesmo um coxinha, fica questionando a defesa da ordem. Porque é que ele não pediu os dados da repressão durante os mandatos do Serra e do Kassab, será que ele não vai perguntar nada sobre o trensalão? Aposto que ele é a favor da prisão do Genoíno! O petismo está sendo atacado por todos os lados!!!

  2. Questões profundas

    LN, 

     

    Fui testemunha dos protestos do dia 14 de junho de 2013, data que jamais me esquecerei. Trabalhava na rua Itacolomi, uma rua paralela a duas quadras da rua da Consolação. 

     

    Eram 18:30h quando decidi suspender minhas atividades e ir ao encontro da multidão. Não tinha ideia de onde estavam os manifestantes. Ouvia as explosões de longe. Guiei-me pelo som dos helicópteros. Eram vários sobrevoando o centro de SP, entre os da imprensa e os da polícia. 

     

    Nunca será desnecessário repetir que o ambiente era tranquilo até a intervenção da PM. É preciso lembrar deste fato: a PM iniciou a confusão que se veria depois. 

     

    Eu já estava em frente a Praça Roosevelt quando vi cenas inusitdas. Gente ordeira, com gritos de ordem. Muitas referências à Turquia, que naqueles dias também vivia disturbios nas ruas. Vi dezenas de manifestações contra a imprensa. De tudo o que testemunhei, afirmo que isso foi o mais relevante: os protestos contra a velha mídia, que até aquele 14 de junho de 2013 não apenas endossava as versões oficiais da repressão da PM como incitava. É bom lembrar também que o Estadão, em editorial, clamou por ação “enérgica” às vésperas do 14 de junho. 

     

    O que se viu depoi, por volta das 19:30h já foi mais do que noticiado. Os manifestantes queriam seguir para a Paulista, pela rua da Consolação. Pouco acima da rua Maria Antónia – provocação histórica?- iniciaram-se os confrontos entre a PM e os manifestantes. 

     

    Naquele momento vi um grupo de uns 30 soldados da PM subindo a consolação, de forma determinada. Não tinha escudos, e usavam um jaleco de cor forte, para serem vistos de longe. Minutos depois começaram as exlosões e a correria. Experiente de outros eventos do passado, já tinha me colocado numa rota de fuga, para onde corri em meio a uma multidaão desesperada. Subi a rua Doutor Vila Nova, a do Sesc e vi mais de uma dezena de viaturas  da PM subindo esta rua. Eles fecharam a Maria Antónia e vi a PM por trás, jogando as bombas contra as pessoas na rua da Consolação. 

     

    Corri em sentido oposto ao da Consolação. Um grupo desesperado de pessoas tentavam entrar no Mackenzie, para se abrigar. Um grupo de seguranças não menos desesperados do Mackenzie tentava evitar a entrada daquelas pessoas. Corri o quanto pude em direção à avneida Higienópolis. A explosões ficaram mais distantes. A c erca de 3 quadras da rua da Consolação os ruídos eram baixos e vi uma família tranquila passeando com um carrinho de bebê. 

     

    Naquele dia a PM fez história. Fechou a avenida Paulista para que os manifestantes não o fizessem. A pergunta é simples: quem deu esta ordem genial? O secretário de justiça e o governador sabiam disso ou foram surpreendidos pela PM que parecem não comandar?

     

    Uma repórter da Folha de São Paulo foi alvejada com uma bala de borracha por um policial, fora do contexto das manifestações e de modo tão deliberado quanto maldoso. A pergunta é simples: o que aconteceu com aquele policial? Foi punido? Ele não agiu sozinho. Aitrou de dentro de uma viatura. Seus comparsas, cúmplices ou colegas foram punidos? O que fazem hoje?

     

    As redes sociais repassaram por muito tempo a cena do PM que quebrou o vidro de uma viatura para incriminar os manifestantes. O que aconteceu com aquele policial?

     

    Essas perguntas se acrescentam a milhares de outras que legitimamente devem ser feitas. 

     

    A verdade é que a velha mídia incitou a PM e o governo Alckimin a agirem daqueles maus modos.

     

    Quando a coisa desandou, a velha mídia mudou de lado e quis enquadrar a PM e o governo que instigaram.

     

    É muito difícil acreditar que o comportamento da velha mídia não tenha dado alguma sensação de legitimidade para que oficiais e soldados abusassem do poder como fizeram.

     

    Questionar a PM e o Ministério Público não será digno que não questionarmos também os veículos de imprensa que incitaram aquela conduta e que depois, hipocritamente, cobraram explicações. 

     

    São algumas das perguntas que tenho. 

     

    Outra a história responderá: foi mesmo um divisor de águaas aquele dia 14 de junho de 2013? 

     

    Acredito que sim. Mas apenas o tempo poderá me dar ou retirar a razão. 

     

    abs

  3. O que parece é que alguns

    O que parece é que alguns policiais agiram no sentido de provocar mais e maiores manifestações ou seja, estavam ali para fazer isso mesmo. E no resto das manifestações era sempre mais do mesmo… tudo o que dava início a violência era atribuído a policiais ” inflitrados”. Quem esteve na primeira manifestação grande, aqui no RJ, viu homens enormes atacando quem tivesse de vermelho… mulher, criança, velho… qq coisa vestida de vermelho… Não custa lembrar que no mesmo junho, junto com as manifestações, BB´s e Anonymous chegava ao Brasil Liliana Ayalde… Não acredito em coincidências…

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