Os problemas que esperam por Temer, por André Singer

Jornal GGN – André Singer, professor da USP e ex-porta-voz da Presidência da República, analisa os problemas que serão enfrentados pelo vice-presidente Michel Temer, caso assume o lugar de Dilma Rousseff. Para Singer, nada indica a existência de um plano que evite que o novo ajuste fiscal piore a recessão econômica, assim como não há garantias de que a Lava Jato não atinga o interino na Presidência, além da proximidade com Eduardo Cunha, que macula “ainda mais a imagem do homem que traiu Dilma”.

Singer prevê que a escolha de Henrique Meirelles significará “cortes estruturais que irão deprimir mais a atividade econômica”, que devem incidir diretamente no bolso e no direito dos trabalhadores. Por último, afirma: “A quem achou que o domingo 17 representava o fim da crise, recomenda-se reforçar o estoque de Rivotril.” Leia a coluna abaixo:

Da Folha

Prazo de validade
 
André Singer

Em cerca de duas semanas o Brasil terá novo governo, pois o Senado deve aprovar o afastamento de Dilma Rousseff. O vice, no entanto, assume em condições inéditas, pois o julgamento da atual presidente, em até 180 dias, acabará por ser, também, um veredito sobre a própria interinidade de Michel Temer.

A sorte pode resolver os complicados problemas postos para o líder do PMDB, mas trata-se de verdadeira, passe o trocadilho, temeridade contar com ela. E até aqui, nada indica a existência de plano razoável para evitar que novo ajuste fiscal aprofunde a recessão; que a Operação Lava Jato atinja o interino na Presidência; que a proximidade com Eduardo Cunha macule ainda mais a imagem do homem que traiu Dilma.

O senador José Serra (PSDB-SP), óbvio candidato à Presidência, apresentou-se para realizar a difícil missão de produzir rápida retomada do crescimento sem perder o apoio do “mercado”. Se desse certo, Temer teria carimbado o passaporte para ficar até 2018 e o ex-governador paulista, por sua vez, repetiria a trajetória de Fernando Henrique Cardoso com o real. Ambos ganhariam.

O voo do tucano, contudo, foi abatido pelo veto do seu colega de partido,Geraldo Alckmin, e pelo medo do próprio Temer de desagradar as finanças. Ao escolher Henrique Meirelles, vinculado aos bancos, opta pela proposta de fazer cortes estruturais que irão deprimir mais a atividade econômica, em busca das chamadas “condições fiscais sustentáveis”.

A guerra de classes promete esquentar, pois as tesouradas incidirão diretamente sobre o bolso e os direitos dos trabalhadores. Além disso, livre do fardo de ter que defender uma política indefensável, o PT trará o discurso classista à tona, voltando a ter o que dizer na disputa pelas prefeituras. Como ficará o ânimo popular, quando perceber que os empregos continuam a sumir?

Enquanto isso, acusações como a de que a campanha do presidente interino recebeu propina de R$ 1 milhão em 2014, segundo afirmou um dos donos da Engevix; ou de que o peemedebista indicou diretor corrupto da Petrobras; ou de que foi beneficiário de pagamento de R$ 5 milhões, conforme disse um dos sócios da OAS, continuarão no noticiário. Qualquer iniciativa de aplacar a sanha da República de Curitiba, como foi o virtual convite a um dos advogados de acusados para ocupar a pasta da Justiça, pode ter resultado bumerangue. As revelações voltarão mais fortes.

Para completar, existe a sombra do aliado Eduardo Cunha. Trata-se do clássico caso em que o executor do trabalho sujo precisa ser eliminado, pois ameaça conspurcar a reputação do mandante. A quem achou que o domingo 17 representava o fim da crise, recomenda-se reforçar o estoque de Rivotril.

 

Redação

11 Comentários

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  1. Egano

    Não haverá nenhum noticia contraria a Temer ou Cunha durante o governo Cunha. A Lava Jato só continuará se continuar com a missão de acabar com o Lula. Caso contrário o ritmo da justiça será a da morosidade caracteristica de quando julga os membros da Casa Grande.

    1. Também acho!

      A análise do Singer seria pertinente em momentos normais, num país normal, não no Brasil da Glogo, das outras máfias midiáticas sonegadoras, do ministério público e do judiciário que temos.

  2. Sempre tenho dito: o lado de

    Sempre tenho dito: o lado de lá tá aloprado. Cunha-Temer durarão quanto tempo? Renan idem. Não seria surpresa o Brasil ser comandado por uma junta de ministros do STF.

  3.  Os verdadeiros problemas com

     Os verdadeiros problemas com os quais se defrontará o Temer virão da luta da sociedade brasileira contra o estado de exceção que se avizinha. E há muito a fazer. Espero que a resistência já esteja sendo preparada pelo MST, pelo MTST, pela CUT, pelos partidos que serão oposição, etc.

    Mas é preciso reconhecer que falta mobilização e, principalmente, organização e clareza (espero estar enganado) sobre o tipo de repressão com a qual nos defrontaremos. Ela não virá dos quartéis, como nos antigos golpes. Vivemos novos tempos. Virá das PMs, isto é, das milícias estaduais controladas por governadores fascistas, virá dos jagunços da FIESP, virá do poder judiciário, do ministério público, do STF, da grande mídia, etc.

    Eles tentarão de todas as formas criminalizar e ocultar do noticiário qualquer resistência. Os sinais são claros, a meu ver. Proibição de reuniões estudantis, intervenção da PM em aulas públicas contra o golpe, perseguição dos políticos pelo MP, medidas para inviabilizar legalmente candidaturas, leis para controlar as mídias sociais, etc. O golpe é brutal nos seus meios e propósitos. A reação deve ser à altura. Quando o movimento estudantil recriou a UNE e foi às ruas em 1977, tudo o que os estudantes fizeram era considerado ilegal e reprimido com violência. Contra um estado de exceção é preciso não reconhecer como legítima a própria repressão. Começando por não reconhecer a legitimidade do governo golpista, como já fez o presidente da CUT.

    Um ponto que me chamou a atenção é como perdemos a capacidade de organizar de forma eficaz atos públicos. Na campanha das diretas éramos muito profissionais. Tínhamos até o Osmar Santos como “locutor”. Hoje, mal conseguimos ter um sistema de som que funcione a contento, e os lugares e horários escolhidos parecem-me inadequados. Os nossos oradores não sabem falar em público: gritam nos microfones e ninguém consegue entender o que falam. As músicas escolhidas parecem não motivar ninguém. Posso estar enganado. Reconheço que vivemos novos tempos e talvez os meus parâmetros sejam simplesmente anacrônicos. Mas acho que podemos e devemos fazer melhor. Precisamos abrir espaço para os jovens, que sabem melhor do que nós, velhos, o que devem ser as novas formas de organização e comunicação.

  4. “O impeachment não será o fim

    “O impeachment não será o fim da crise. Será o começo”

    Albert Fishlow (citado pelo Janio de Freitas).

  5. Caro Nassif
    Todas as obras

    Caro Nassif

    Todas as obras tocadas pelo PT, até então invisiveis, irão aparecer e com Temer e o governo golpista, como mestre.

    Um novo Brasil, um Brasil canteiro irá aparecer do nada.

    Saudações

     

     

  6. O demônio se pintou de vermelho

    A presidente será afastada, sim, porque o jogo é de cartas marcadas. E de forma definitiva. A persistir a tendência atual, salvo ocorra algo de muito inusitado, a tendência é pela condenação. Para completar, Temer, enfrentará, sim, alguns problemas, mas sobreviverá até 2018 como Presidente da República. Razões:

     Aspectos favoráveis: 

    1) Economia: alguns indicadores favoráveis, a começar pelo declínio da inflação, contas externas, sistema financeiro inabalável na sua solidez, taxa de juros com viés de baixa. Problemas agudos na área fiscal e desemprego. Mas ambos com tendência a arrefecerem no segundo semestre.

    Um Congresso responsável direto pelo golpe não faltará ao empossado. A começar pelo retorno da CPMF.

    2) A Lava a Jato arrefecerá seus ímpetos persecutórios dado que os alvos continuarão a ser os mesmos: petistas. Para tirarem a suja talvez saia uma coisinha aqui outra ali só para enganar os bestas. Duvido até que Cunha, enfim, seja enquadrado. Temer, nem perigo.Lula com certeza será processado a fim de impedir sua candidatuta em 2018.

    3) Mídia em peso apoiará o governo usurpador. Mesmo porque terá sido partícipe do processo. Alguns analistas políticos e econômicos da mesma já não pintam a conjuntura como o fim do mundo exatamente já se preparando para a conivência e apoio a Temer. O que vier de bom será da lavra deste e os problemas serão jogados nas costas da ex-governante.

    4) As medidas restritivas na área social terão, sim, impacto no relacionamento com os ditos movimentos sociais. Entretanto, dado estes já serem inimigos políticos do grupo, a estratégia será a de sempre: alegar que as medidas são duras, mas necessárias e transitórias e que após a recuperação dos desastres petistas, as coisas melhorarão. Criminalizarão, como sempre, os movimentos sociais: aparelham o Estado nos governos do PT, são baderneiros etc etc, Tudo devidamente ecoado e coonestado pela imprensa parceira.  

    Infelizmente, sou pessismista. Melhor isso do que se decepcionar. 

  7. Não………………………..

    Me recuso terminantimente a aceitar as ilações pessimistas de André e alguns comentáristas.

    Mesmo porque, hoje temos a internet a contrapor as notícias maniopuldoras da mídia, e como diz o ditado:

    “Voc~e pode enganar alguns durante algum tempo; voce pode enganar muitos durante muito tempo, mas não pode enganar todos durante todo o tempo”

    E caso sejam vencedores neste golpe com a ajuda da midia golpista apoiada pelos quinta-olunas e o império, seremos soldados voluntários a lutar contra este golpe.

    E não tenham dúvidas, seremos milhões !!!!!!!!!!!!!!

  8. o temer terá problemas com a

    o temer terá problemas com a classe trabalhadora, claro,

    mas o golpe continuará sendo dado, agora de forma reversa…

    em favor de temer e dos golpistas…

    tudo que de bom o governo popular fez, os golpistas dirão que foi iniciado

    por eles, e a grande mídia golpista apoiará esse venenoso e

    conspurcantejogo da mentira e da manipulação descarada…….

    a saída popular é desmascarar essa linguagem venenosa e cosmética,

    a que maquia verdades, a que mascara golpes, inventa ilusões, propagandeia falácias…

    é hora do uso da palava como solução, como remédio e não como veneno ou cosmético…

    a palavra para habitar fundo o coração  do pensamento,

    palavra boa, como disse chico buarque…

     

  9. O QUE EU MAIS QUERO VER…

    É quando essas corjas sairem para falar com o povão Temer, Aécio, Mendonça, Caiado, Serra e outros canalhas, quero ver muito tomate podre encima deles, provavelmente isso não aconteça porque todos eles não passa de uns cagões.

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