De O Povo
O sotaque mineiro do PT
Ex-ministro, político influente em Minas Gerais, aponta a área social como grande trunfo do PT para disputa de 2014. Ele critica duramente o senador tucano Aécio Neves, provável candidato da oposição à presidência
O petista considera que os dez anos do seu partido no poder mudaram o Brasil e acredita que a política social das gestões Dilma e Lula é o grande trunfo a ser utilizado na campanha de 2014 para garantir mais quatro anos no Palácio do Planalto. O POVO conversou com Patrus Ananias durante passagem dele por Fortaleza, no último dia 6. A seguir, os trechos principais da entrevista.
OPOVO – Na avaliação do senhor, qual o grande erro e o grande acerto do PT após dez anos de poder no País?
OP – Tradicionalmente o Governo Federal se mantém distante do debate sobre a violência, não é?
Patrus – É, tem que ser uma ação de todos. Não é para ir atrás de culpados, parecendo necessário confrontar a violência em três níveis. O primeiro deles diz respeito à violência social, muito presente no Brasil, com muita força, através da miséria e da fome. Esta sim, no País, tem sido restringida, felizmente. Porém, temos ainda a história dramática do trânsito, as mortes nas ruas das cidades, especialmente das grandes cidades, e das estradas. Dados de 2010 mostram que mais de 40 mil pessoas morreram em acidentes no Brasil.
OP – Números de guerra.
OP – O senhor considera injusta a crítica, comumente feita, de que o grande problema das políticas sociais brasileiras é a falta de uma porta de saída?
Patrus – A questão é saber o que se quer com as políticas sociais. Como primeiro aspecto, constata-se que os resultados são muito positivos, o Brasil mudou.
OP – Não está faltando um foco mais claro nas pessoas que saem, ou podem sair, dos programas sociais?
OP – O PT em dez anos de poder, não fez menos no que devia, ou podia, no campo das reformas políticas?
Patrus – É um processo, sabe, e considero que o PT deu uma contribuição extraordinária ao processo político brasileiro quando implantou, especialmente nos âmbitos municipais, a ideia do Orçamento Participativo. Quando falo em reforma política, o fundamental, para mim, é ampliar os espaços de participação das pessoas, para que elas possam exercer seus direitos e deveres de cidadania. É uma forma de combater a burocracia, de combater a corrupção, o desperdício de dinheiro público e de elevar o nível de consciência das pessoas. O Estado moderno, segundo penso, além de fazer para as pessoas, implementar políticas públicas sociais, melhorar a vida em geral, tem também o dever democrático de elevar o nível de consciência das pessoas, de alargar a visão, o olhar, de todos em relação ao compromisso com o bem comum, recuperar a dimensão comunitária da vida. Nós somos seres interdependentes uns dos outros, vivemos em sociedade, não estamos sozinhos.
OP – O PT, na avaliação do senhor, fez o que estava ao seu alcance no aspecto do combate à corrupção?
OP – Foi suficiente?
Patrus – A história vai julgar. Vejo de maneira muito positiva os avanços que tivemos no governo do presidente Lula e que a presidenta Dilma Rousseff tem mantido. Agora, a questão do combate à corrupção, que penso como grande desafio que temos efetivamente no Brasil, não é algo a se pensar apenas no plano do Governo Federal. Há ainda os Ministérios Públicos estaduais, as Justiças estaduais, as polícias estaduais, além da responsabilidade, claro, dos governos municipais, e, insisto, a necessidade de abrir espaço para participação da sociedade como outra forma de combater vigorosamente a corrupção.
Patrus – Tudo aquilo que é criado pelo ser humano, consequentemente os partidos políticos, as instituições, os movimentos sociais, expressam essa nossa condição humana. Nada é inteiramente pronto, acabado, estamos sempre vivendo um processo. Penso que esse caso do mensalão vai ser julgado pela história. Sou advogado, professor de Direito, mas nunca estudei mais a fundo a questão, razão pela qual prefiro não falar sobre o processo, em si. No entanto, leio muitas pessoas, jornalistas, juristas, gente que não é do PT, alguns até já foram críticos do partido em outros momentos, que têm feito críticas duríssimas ao julgamento. Primeiro em relação à sua dimensão teatral, quando sabemos que o Judiciário deve sempre agir de maneira mais serena, sensata, mais discreta. O objetivo de buscar a justiça nem sempre se articula bem com esses espetáculos teatrais, com o ritmo dos meios de comunicação. O segundo aspecto é que o julgamento foi muito apropriado pela imprensa, por veículos de comunicação, e alguns, inclusive, dizem que já houve um pré-julgamento. Ou seja, que a imprensa julgou antes, constrangendo, até, o próprio Supremo Tribunal Federal. Há de se ressaltar, ainda, o momento que se escolheu para o julgamento. Tinha que julgar o mensalão exatamente no período eleitoral? Não estaria embutido nisso um desejo de derrotar o Partido dos Trabalhadores e as forças coligadas conosco? Falo isso porque senti na pele…
OP – O senhor, que foi candidato à prefeitura de Belo Horizonte em 2012, se considera vítima desse processo?
Patrus – Claro, mas é bem verdade que não conseguiram. Com toda essa ação forte da imprensa, com o julgamento acontecendo em pleno processo eleitoral, o PT foi o mais votado no plano nacional e em Minas Gerais, meu estado. Penso que tudo isso, a questão do uso da teoria do domínio do fato, está sendo muito discutido entre notáveis criminalistas, quer dizer, a história ainda vai julgar o julgamento do mensalão. Tudo indica que houve uma prática do PT que nós precisamos superar, realmente, mas é uma prática impregnada na política nacional, do tal do caixa dois.
OP – O que o partido fez para cortar na própria carne diante da situação é suficiente?
Patrus – Acho que estamos vivendo um processo. Não há como descontextualizar o PT da ação dos nossos adversários, da ação do próprio Supremo Tribunal Federal. O que estou convencido é de que precisamos mudar algumas regras políticas, começando pelo processo eleitoral. Antes de uma reforma política, precisamos com urgência no Brasil de uma legislação eleitoral mais estável, duradoura, democrática..
OP – A verdade, porém, é que o episódio do mensalão termina sendo utilizado, por muitos, como o grande símbolo dos 10 anos de poder do PT.
Patrus – Pelos nossos adversários. Nós sabemos que a maior oposição que temos hoje está em setores poderosos da grande imprensa brasileira, dos meios de comunicação. Veja o próprio caso do julgamento do mensalão. É próprio da ação do poder Judiciário que seja uma coisa mais serena, não é fechada, inacessível, mas que seja algo sereno. No entanto, aquilo lá se transformou em um julgamento orquestrado.
OP– Em Belo Horizonte, assim como aqui em Fortaleza, deu-se o rompimento da aliança entre PT e PSB. Fala-se muito, agora, que o PSB tende a partir para um projeto próprio nas eleições nacionais de 2014 com a possível candidatura de Eduardo Campos à presidência da República. Como o senhor vê a perspectiva?
Patrus – O PSB é um aliado histórico nosso. Lembro, por exemplo, que quando fui candidato à prefeitura de Belo Horizonte pela primeira vez em 1992, meu vice Célio de Castro, uma pessoa extraordinária, pertencia ao partido na época. Lá no caso de Minas, vale ressaltar, o PSB histórico, aquele pessoal ligado ao Célio de Castro, me apoiou (na candidatura à prefeitura). Lá existe um caráter mais complicado, que é a aliança com o PSDB. Aqui tenho ótimos amigos no PSB, o próprio governador Cid (Gomes), o Ciro Gomes foi meu colega no ministério do presidente Lula e tenho ótima relação com ele, o governador Eduardo Campos mesmo, trata-se de um partido do qual somos aliados históricos e nos interessa, do ponto de vista do projeto nacional, de desenvolvimento do Brasil, social, econômico, político, ambiental, (manter) essa aliança. Mas acho que deve ser uma aliança programática, de conteúdo e o que precisa ficar claro é que nossa linha divisória é com o PSDB. Tenho amigos também dentro do PSDB, quem me conhece sabe que não sou um político sectário. Sou um político de diálogo, mas fiel aos meus valores e princípios. PT e PSDB lideram dois projetos distintos no Brasil, pelo menos desde 1994, quando Fernando Henrique se elegeu presidente pela primeira vez. O PSDB com um projeto mais privatizante, de menor sensibilidade para as políticas públicas sociais, para as questões dos pobres, dos trabalhadores de baixa renda, de uma política externa menos independente e submetida aos interesses dos Estados Unidos. Nós, por outro lado, com uma política externa independente, afirmativa, com vigorosas políticas públicas de inclusão social, atenção especial para os mais pobres, queremos um Estado democraticamente forte para controlar o mercado, corrigir distorções e injustiças históricas, então, estabelecida a linha divisória, o PSB terá que fazer a sua escolha. Queremos o PSB ao nosso lado, mas não o PSDB.
OP – O nome que se trabalha dentro do PSDB para disputar a presidência é o do senador Aécio Neves, de Minas Gerais, que o senhor conhece bem…
Patrus – Gostaria de ver mesmo o senador Aécio disputando para saber o que ele vai dizer para o Brasil. O que ele pensa do nosso País, quais as suas propostas, porque em Minas, até hoje, ele vive de um esquema de dominação que montou. Ele não tem nenhuma realização em Minas, nenhuma.
OP – O que ele fez em Minas, então, não credencia sua candidatura?
Patrus – Não. A única coisa que ele fez em Minas foi o Centro Administrativo, uma obra faraônica, desnecessária, embora bonita, desenhada pelo gênio do Oscar Niemeyer. Fora isso, nenhuma política social, porque tudo que há em Minas no campo da política social foi investimento do Governo Federal. Quando sai do Ministério estávamos investindo em Minas cerca de R$ 4 bilhões por ano, com aporte mínimo, participação mínima, do governo estadual. O que o senador Aécio Neves tem é o controle forte do Estado, um vigoroso apoio dos meios de comunicação, ele faz um esforço permanente para controlar o poder Judiciário, o Tribunal de Justiça, o TRE, o próprio Ministério Público, Tribunal de Contas, Assembleia.
OP – Seria o candidato ideal para o PT, portanto.
Patrus – Não sei se o adversário ideal, mas, com certeza, é o adversário que melhor traduz o ideário do PSDB. Só defende medidas privatizantes, não tem nenhum projeto estratégico de políticas públicas para um Estado democraticamente forte. Então seria uma disputa interessante (contra Dilma Rousseff, do PT) porque as posições, as diferenças entre eles, ficariam bem claras.
>> Confira aqui a entrevista na íntegra.
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PT 10 anos
até parece. poupem esse discurso. 10 anos péssimos, o pobre não saiu da miséria, a miséria só foi mascarada por programas sociais. Fala sério, tampar o sol com a peneira não resolve. Tem de incentivar é Bolsa Emprego. Bolsa Emprego seria um incentivo a quem desse emprego a quem precisa, assim se sai da pobreza de verdade. Aprendam, o pobre precisa de emprego, senão a Bolsa fica parecendo puramente eleitoreira. Bolsa Emprego é melhor que Bolsa que faça o cidadão depender do Governo. E que política social do PT é essa de pagar tantos juros da Dívida Pública. O Lula não era contra isso? Então por que continuam pagando mais de R$ 100 Bilhões todos os anos para isso? Esse valor daria para o Governo Federal investir onde interessa, onde falta recursos. Política Social é não pagar juros de dívida pública para sobrar mais para investir no povo brasileiro. Isso o PT fez em 10 anos? Duvido. E nesses 2 últimos anos de Dilma, melhorou a dívida ou continua só aumentando? Acho que não.