Pezão dá uma nova cara ao PMDB do Rio de Janeiro

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Sugestão de Alfeu

da Rede Brasil Atual

Equipe de governo de Pezão reflete novo momento do PMDB no Rio

Por Maurício Thuswoh, Rede Brasil Atual

Aliança entre Pezão e Cabral segue firme, mas o grupo ligado ao prefeito do Rio, Eduardo Paes, e prefeitos do interior mais próximos ao atual governador ganharam espaço no primeiro escalão do governo estadual

Rio de Janeiro – Foram sete anos e três meses como vice de Sérgio Cabral. Em seguida, nove meses de um mandato tampão durante o qual preferiu não promover grandes mudanças políticas no primeiro escalão e dedicou boa parte do tempo à campanha pela reeleição. Desde o primeiro dia de 2015, no entanto, Luiz Fernando Pezão passou a governar o Rio de Janeiro à frente de uma equipe de políticos e colaboradores próximos por ele escolhidos, e a formação de seu secretariado já começa a traçar um novo desenho para a divisão de forças no PMDB e no campo dos aliados do governo.

A aliança entre Pezão e Cabral segue firme, mas o grupo ligado ao prefeito do Rio, Eduardo Paes, e prefeitos do interior mais próximos ao atual governador ganharam espaço no primeiro escalão do governo estadual, em detrimento do grupo liderado pelo presidente regional do PMDB, o deputado estadual Jorge Picciani, que gozava de maior espaço com Cabral. Nas últimas eleições, Picciani, que em fevereiro provavelmente voltará à presidência da Assembleia Legislativa (Alerj), foi o principal articulador da dissidência peemedebista que apoiou o tucano Aécio Neves para a Presidência da República no Rio. Já Pezão e Paes apoiaram a reeleição da presidenta Dilma Rousseff.

A aproximação entre o governador reeleito e o prefeito se materializou na confirmação do deputado estadual Carlos Osório (PMDB) como novo secretário estadual de Transportes, uma das cadeiras mais importantes no governo do Rio. Homem de confiança de Paes, tendo ocupado as secretarias municipais de Transportes e, mais tarde, Conservação e Serviços Públicos, Osório foi um dos responsáveis pela organização da Rio+20 em 2012 e é secretário-geral do Comitê Organizador das Olimpíadas de 2016. Sua principal missão, segundo Pezão, será integrar a malha de transportes da região metropolitana e auxiliar a prefeitura da capital nas intervenções previstas no projeto de mobilidade para os jogos.

Outros dois nomes de peso do PMDB fluminense darão sustentação política ao secretariado de Pezão. No cargo há oito anos, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, segue à frente do carro-chefe da gestão peemedebista: a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em favelas cariocas antes controladas pelo tráfico de drogas. Muito criticado ao longo de 2014 devido ao aumento dos casos de violência nas comunidades ocupadas, o projeto será reformulado este ano, sob a benção de Pezão e o comando de Beltrame.

Já o deputado estadual Paulo Melo é o novo chefe da Secretaria de Governo, posto no qual atuará como ponte entre o governador e os parlamentares. Derrotado por Picciani nas articulações para a disputa pela presidência da Alerj, lugar que ocupou nos últimos quatro anos, Melo atuará também como contraponto à influência do presidente regional do PMDB junto aos deputados. Contrariado pelo derrota política na Alerj, no entanto, Melo pleiteia vaga a ser aberta em março deste ano no Tribunal de Contas do Estado (TCE), mas o partido ainda não confirmou sua indicação: “O Executivo precisa caminhar integrado com o Legislativo”, disse Pezão, ao justificar a escolha de seu secretário de Governo.

Na cota de Cabral estão ainda seu filho Marco Antônio, de apenas 23 anos, eleito deputado federal pela primeira vez em outubro e agora nomeado por Pezão para a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude; e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços, Júlio Bueno, que, assim como Beltrame, comanda sua pasta há oito anos. Completam os nomes do PMDB no secretariado os deputados Bernardo Rossi (Habitação) e Gustavo Tutuca (Ciência e Tecnologia), além de secretários “técnicos” ligados ao partido, como Sérgio Ruy (Fazenda), Cláudia Uchôa (Planejamento), Leonardo Espíndola (Casa Civil), Antônio Neto (Educação), Eva Doris Rosental (Cultura) e Nilo Sérgio (Turismo).

Homens de confiança

Além das peças fundamentais para manter a aliança com Cabral e Paes, Pezão posicionou seus próprios homens de confiança no novo secretariado. O principal deles é Hudson Braga, que foi secretário de Obras durante os nove meses do primeiro governo Pezão e coordenador de sua campanha à reeleição. Confirmado como novo coordenador de Infraestrutura e Integração Governamental, Hudson será o principal responsável pela interface com o governo federal no que diz respeito às obras do PAC e outros projetos de infraestrutura, função exercida por Pezão durante o governo Cabral. Também será o responsável pela conclusão das obras do Arco Metropolitano, um dos projetos de maior visibilidade da gestão do PMDB no estado: “O Hudson será também responsável pela integração de todas as secretarias”, diz Pezão.

Outro nome peemedebista que estará muito próximo a Pezão, embora sem cargo no secretariado, é Vicente Guedes, ex-prefeito de Rio das Flores e de Valença, municípios do Sul Fluminense. Sua experiência de anos como presidente da Associação Estadual de Municípios do Rio de Janeiro (Aemerj), instituição que também já foi presidida por Pezão, o credencia como principal interlocutor com os prefeitos do interior, frente política prioritária para o governador. Assim como Paulo Melo em relação aos deputados, Guedes também deverá disputar com Picciani o controle político sobre os prefeitos.

Já Vicente Loureiro, arquiteto e urbanista que trabalhou com Pezão e outros prefeitos do PMDB na Baixada Fluminense e na Região Serrana, comandará a Câmara Metropolitana de Integração Governamental, local de negociação política com importantes prefeituras fluminenses em áreas sensíveis como saúde e transportes.

Partidos

Em relação aos partidos que compõem sua base de apoio, a principal mudança do atual governo em relação à gestão de Sérgio Cabral é a saída do PT e o fortalecimento de PP, PDT e PSD como aliados prioritários. Além de emplacar o ex-senador Francisco Dornelles como vice de Pezão, o PP ficou também com a Secretaria de Desenvolvimento Regional, Abastecimento e Pesca, que será comandada pelo ex-prefeito de Barra do Piraí José Luiz Anchite.

Já o PDT emplacou o ex-deputado Felipe Peixoto na cobiçada Secretaria de Saúde e a radialista e deputada estadual Cidinha Campos na Secretaria do Consumidor. Antes do acordo que trouxe Dornelles para a chapa de Pezão, Peixoto era o favorito para ser vice do peemedebista. Preterido, continuou a apoiar Pezão, ajudou a neutralizar a candidatura do petista Lindberg Farias na região de Niterói e agora é recompensado com o comando da pasta que tem um dos maiores orçamentos do governo.

O PSD é o partido que teve o crescimento mais notável entre os aliados de Pezão. O experiente deputado Christino Áureo ocupará pela quinta vez a importante Secretaria de Agricultura e Pecuária, pasta que comandou nos governos de Anthony Garotinho e Sérgio Cabral. Outra figura tradicional da política fluminense, o pastor e deputado federal Arolde de Oliveira, comandará a Secretaria de Trabalho e Renda. A maior vitória do PSD, entretanto, foi voltar ao comando da Secretaria do Ambiente com o deputado André Corrêa, que ocupou o posto durante o governo Garotinho.

A confirmação de Corrêa pôs fim a uma articulação que tinha como pano de fundo a volta do PT ao governo estadual, já que a secretaria havia sido comandada com sucesso pelo ex-ministro Carlos Minc durante sete anos e meio. Embora setores no PT e no PMDB desejassem reatar a relação política, acabaram prevalecendo os acordos feitos durante a campanha eleitoral: “O PT não está no secretariado porque apoiou outro candidato e eu tenho que compor prioritariamente com as forças que me apoiaram”, resumiu Pezão. Em todo caso, em uma votação apertada (32 a 28) realizada em dezembro, a direção regional petista já havia decidido não ocupar cargos no governo Pezão.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. Esperteza

    Já que os temas hoje trazem a figura de possíveis personagens subestimados, o Pezão, no meu entendimento foi um deles.Político interiorano, “vaselina”, como dizem os cariocas sobre seu estilo, especialmente no embate com os adversários políticos. Não sei se vai muito além, mas chegar a governador já foi mais que eu pensava, soube usar a máquina do Estado, espertamente, e se posicionou , pode ser que de forma fingida ou não, com uma certa distância e independência do Cabral, que saiu chamuscado. É um político do corte antigo e provinciano (no sentido da esperteza e do estilo, nenhum sentido arrogante aqui), não esperemos milagres, vai ser a bagaça  mais para menos que para mais.

    1. Pois é

      E já vai um mea culpa por aqui, acabei subestimando também, mas é o que eu vejo para o Estado do RJ onde vivo. Infelizmente há questões sérias , os royalties do petróleo e o gás, a indústria de construção naval, a necessidade de ressuscitar a agricultura que já foi muito mais produtiva , especialmente em cítricos, hortaliças, cana, a infra-estrutura caída, enchentes contumazes, urbanização destrambelhada, etc. Tenho dúvidas sobre a coordenação de uma agenda gigante como esta. Daí meu pessimismo em relação aos resultados das urnas.

  2. Tudo muito bom, tudo muito

    Tudo muito bom, tudo muito bem, mas nenhuma palavra, no blog, sobre o oficial fascista da PM que sugeriu matar manifestantes quando no Comando do BPChoque durante as manifestações de 2013?

    Sugiro a leitura da matéria. É de doer a vista.

    Confesso que me impressionou o sujeito falar de “padrão Alemanha 1930”.

    Entendo que isso NÃO é culpa do PT, da Dilma ou mesmo do Pezão, diretamente. Entendo que é culpa do oficial – um sádico – e do perfil da PM do Rio.

    Mas o blog não vai repercutir essa matéria?

    http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/estupidez-pelo-whatsapp

    Trechos das conversas dos oficiais pelo Whatsapp:

    O grupo do coronel Fábio, afastado do comando do Batalhão de Choque, fala sobre a caçada que vai promover aos inimigos quando voltar ao poder. Classificam-se como ‘raça pura e sem defeitos’. Um capitão define que a vontade do Fuhrer será feita, numa alusão aposto com que Adolf Hitler no período da Alemanha nazista:

    Capitão Sanches A favor da inquisição, vamos caçar bruxas e fantasmas. . Viva o Choque. Pela raça pura e sem defeitos
    Não identificado Então, que seja feita a vontade da maioria.
    Capitão Gilberto Não é a vontade da maioria. É o certo. É a vontade do Fuhrer
    Não identificado Choque. Gtar + GTM + UCM = Choque Forte, vamos expulsar todos os que só contribuem para a imagem da rataria do BPM. Viva a raça sem defeitos. Depuração total.
    Keller Sangue e vitória! Choqueeeee!

     

    O Coronel Fábio Almeida de Souza afirma, em janeiro de 2014, que em 2015 seu grupo voltaria a comandar a PM do Rio de Janeiro – como de fato ocorreu. E promete massacrar os inimigos, a que chama de ‘peito de ladrilho’, ou seja, policiais sem os cursos especiais, dizendo que sua vingança será dura, ‘Padrão Alemanha de 1930’:

    Coronel Fábio Em abril de 2015 assumirei o controle da PMERJ. Está nas escrituras. Serão quatro anos de inverno nuclear para os peitos de ladrilho. Só cursado terá vez. Choque, Caveira, Cachorreiro ou piloto. O resto será escorraçado
    Nascimento Velho, tenho fé que estamos passando por uma aceitação doutrinária, junto com uma construção de mística que o Bope, por exemplo, já passou. Nós temos que pagar esse preço pra que no futuro não questionem quase nada relacionado às técnicas (…)Como diz o coronel Fábio, somos os problemáticos, xiitas, talibãs etc. Rs
    Coronel Fábio Aí vocês verão o que é revanchismo combinado com vingança.
    Major Adriano Banco de instrutores estão sendo criados em 2014. O golpe está sendo preparado para 2015. E o Obtuso (tenente-coronel Márcio Rocha) nem percebeu isso
    Coronel Fábio Padrão Alemanha de 1930
    Coronel Fábio Vai ter virada e vingança. 2014, a virada. 2015 a caça aos infiéis insurgentes ladrilhos malditos indignos

     

    Nenhuma palavra sobre estes absurdos?

     

     

  3. Triste fim o de Cidinha

    Triste fim o de Cidinha Campos. Era uma brizolista ferrenha e foi terminar no governo do PMDB. No Rj tem que apelar para o PSOl para ter alguma oposição ao governo.

  4. e continua o aparelhamento do estado

    e a farra das empreiteiras e amigos do governador. como carioca sinto me péssimo. o pior governo de todos os tempos no RJ e sem dúvida um dos mais corruptos. infelizmente  o uso da maquina do estado no RJ fez eleger esse safado.

  5. O Pezão é um cara descente,

    O Pezão é um cara descente, ele não faz tipo, dá pra perceber isso. Ele se comprometeu a melhorar o Rio, a cortar os supérfluos e os orçamentos milionários. Gostei do pronunciamento dele.

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