Piñera não fala em Constituinte, mas cede em Estado de Exceção e mudança ministerial

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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O presidente do Chile manteve a chamada "Agenda Social" criada pelo seu governo, determinou o fim do toque de recolher e a intenção de retirar o Estado de Exceção a partir deste domingo

Fotos: Agência UNO/PiensaPrensa

De Santiago, Chile

Jornal GGN – A maior manifestação da história do Chile, que levou entre 1 e 2 milhões de chilenos nas ruas de Santiago e de outras regiões do país, fez o presidente do país, Sebastián Piñera, conceder novo discurso em rede nacional neste sábado (26). Sem ceder ao pedido da população de uma Constituinte, manteve a chamada “Agenda Social” criada pelo seu governo, mas determinou o fim do toque de recolher e a intenção de retirar o Estado de Exceção a partir deste domingo. Anunciou, também, uma mudança de gabinete ministerial.

Piñera introduziu sua declaração elogiando as manifestações que ocorreram na noite desta sexta-feira (25), que, segundo ele, tiveram conduta “exemplar”. As forças de segurança interferiram pouco no ato de ontem, diante da multidão de, pelo menos, 1,2 milhão de chilenos nas ruas centrais da capital, atuando de maneira focalizada e com bombas de gás lacrimogêneo, sem capacidade de enfrentamento público.

Mas como vem adotando em suas declarações nos últimos dias, o presidente tratou de associar os baixos incidentes com a postura dos manifestantes, responsabilizando as violências de atos anteriores aos próprios chilenos. “A marcha de ontem foi exemplar”, afirmou, assumindo um tom de empatia às reivindicações: “Foi uma forte mensagem, mensagem de uma imensa maioria de chilenos que pede um Chile mais justo, mais solidário. Todos escutamos esta mensagem. Todos mudamos e estamos com uma nova atitude”, apresentou-se.

Em seguida, como resposta à essa “escuta”, Piñera insistiu na Agenda Social, um pacote de medidas anunciado por ele na segunda-feira (21), que inclui subsídios e aportes estatais à seguros de saúde, farmácias, à aposentadoria capitalizada e ao salário mínimo, entre outros pontos [leia mais aqui], e que foi recebido com repúdio pela população pela inexistência de mudanças estruturais nas propostas. Cobrou do Congresso Nacional a aprovação dos pontos, ainda que rejeitados pelos cidadãos, sem qualquer garantia de que se tornará vigente.

O presidente não mencionou a possibilidade de se realizar uma Assembleia Constituinte, tampouco pretende renunciar do posto da Presidência, que foram as duas principais demandas dos manifestantes nos grandes atos desta sexta (25), mas, por outro lado, anunciou que pretende fazer uma mudança de gabinete, e pediu aos seus ministros que renunciem.

“Pedi a todos os ministros que coloquem seus cargos à disposição para poder estruturar um novo gabinete, a fim de enfrentar estas novas demandas e darmos conta dos novos tempos”, disse, na que foi a principal mudança anunciada até hoje, desde o início dos protestos há 8 dias.

Outros dois pontos de duras críticas e resistência da população – o toque de recolher e o Estado de Exceção, que permite a centralização de todo o aparato militar e forças de Segurança sob o comando de um chefe de Defesa subordinado à Piñera, foram também cedidos pelo mandatário.

Em seu anúncio, afirmou que pretende, “caso haja condições”, retirar o Estado de Emergência a partir de amanhã (27). “Quero anunciar a todos os meus compatriotas que, se as circunstâncias permitirem, é minha intenção retirar todos os Estados de Emergência a partir das 24h do próximo domingo”, declarou, juntamente com a retirada do toque de recolher a partir de hoje.

 

 

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

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  1. Piñera cortou os dedos acreditando que poderá conservar as bolas. Coitado… Nem mesmo o vagabundo Jair Bolsonaro conseguirá impedir o povo chileno de castrar aquele tirano.

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