Gilberto Maringoni
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
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Pontos pouco claros no ataque imperial, por Gilberto Maringoni

O ataque foi personalizado na cúpula do poder iraniano, em terras iraquianas (parece haver um sentido duplo aqui).

Foto AFP

Pontos pouco claros no ataque imperial

por Gilberto Maringoni

Há vários tópicos ainda obscuros no bombardeio e assassinato do general Soleimani por parte dos EUA, nesta madrugada. Aqui vão alguns deles:

1. POR QUE DONALD TRUMP – que faz um governo muito menos agressivo militarmente que o de Obama – decidiu esse ataque? Lembremos as agressões armadas dos três últimos mandatários do Império: Clinton (Balcãs, Iraque, Afeganistão e Sudão), W. Bush (Afeganistão e Iraque) e Obama (Iraque, Líbia e Síria).

2. O ATUAL PRESIDENTE DOS EUA não realizou até agora nenhuma ação militar de monta. Ao contrário: foi o primeiro presidente dos EUA a abrir negociações diretas com a Coreia do Norte e começou uma retirada de tropas do Oriente Médio. O que ele fez de agressivo se deu no jogo pesado da diplomacia: ampliação do cerco econômico a Cuba, Venezuela e Irã, aumento das pressões contra a China e ataques e boicotes a organismos da ONU.

3. A CAMPANHA ELEITORAL explica tudo? Numa ação desse tipo é preciso ver o recado que o agressor quer transmitir à região atingida e ao mundo. Possivelmente é o de que não há como se esconder dos ataques cirúrgicos dos EUA. Com base nas primeiras informações de ontem, pensei que o aeroporto de Bagdá fora destruído. Olhando as fotos, vi que não se trata disso. O drone alvejou os carros com seis ou sete mísseis certeiros e só. Ou seja, mira-se um alvo com precisão milimétrica e este é eliminado. Pergunta adicional: de onde decolou o artefato?

4. AS PROCLAMAS ALTISSONANTES das autoridades iranianas me parecem mais jogo de cena. Qual a real possibilidade de haver uma retaliação diante de um poder bélico desproporcionalmente maior? Fecharão o estreito de Ormuz? Tecnicamente, não é complicado bloquear uma distância de 54 km. Politicamente é. Contarão com apoio regional?

5. PARA ALÉM DAS NOTAS DE SOLIDARIEDADE, Rússia e China tomarão alguma atitude? Aqui não há risco iminente à segurança energética chinesa, semelhante à que haveria diante de uma hipotética queda de Nicolás Maduro. Os interesses sino-russos são de natureza geopolítica, mas não têm a mesma base de interesses que tais países têm na Venezuela. Ali, parte da PDVSA e das reservas do óleo no subsolo são chinesas e a Rússia tem seu principal show room da indústria bélica no Ocidente.

6. SE ESTIVÉSSEMOS DIANTE DE PURA VINGANÇA à morte dos 26 americanos há alguns dias, a retaliação – ou aviso – poderia ser realizado numa ação contra uma base militar ou a um poço de petróleo. Não. O ataque foi personalizado na cúpula do poder iraniano, em terras iraquianas (parece haver um sentido duplo aqui). Aqui valeu a máxima maquiavélica: fazer o mal de uma só vez. E fazer um mal de dimensões gigantescas.

7. NANCY PELOSI – a presidenta democrata da Câmara – condenou o ataque. É algo digno de nota. Mesmo sabendo de quem se trata, não parece estar havendo uma união nacional contra o inimigo externo nos EUA. Este tem sido o maior objetivo interno das intervenções estadunidenses pelo mundo no último século. Como fica a opinião pública? E na comunidade internacional? Como ficam os aliados da OTAN?

Talvez saibamos grande parte das respostas nas próximas horas..

Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

1 Comentário

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  1. Não seria uma provocação extrema para obrigar o Irã a tomar alguma medida retaliatória e fazer com que os EUA e Israel ataquem o país e as instalações nucleares? Se ainda não o fizeram é porque sabem que tal ataque transformaria as economias cambaleantes do mundo inteiro em estado caótico e teria a reprovação de todos os países, inclusive aliados. Mas se for justificada como alto defesa teria argumentos suficientes para a ação. Mas de qualquer maneira com argumentos ou sem argumentos, qualquer ataque ao país persa resultaria em caos mundial.

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