PSD deve fazer parte da base aliada em 2014

Do Brasil Econômico

Kassab: “Maioria do PSD vai apoiar a reeleição de Dilma”

Em entrevista exclusiva ao Brasil Econômico, o ex-prefeito de São Paulo garante que seu partido deve engrossar a base aliada e confirma que está decidindo se concorrerá ao governo do estado em 2014.

Desde que deixou o comando da prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab tem dedicado seu tempo quase que exclusivamente ao PSD. Além de contar com a quarta maior bancada da Câmara dos Deputados, o partido criado por ele passou com louvor no teste das urnas no passado.

Elegeu 497 prefeitos, 4.600 vereadores e firmou-se como protagonista do tabuleiro político que começa a se formar para as eleições do ano que vem.

Como presidente nacional do PSD, o ex-prefeito está negociando sem pressa os termos do desembarque da legenda na base governista e no projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff.

Quando levado ao tema, Kassab escolhe cuidadosamente as palavras e faz questão de deixar no ar uma interrogação.”Me parece que a grande maioria (do partido) vai querer apoiar a reeleição da presidente Dilma. Mas vamos ver se essse sentimento será confirmado”.

O mesmo cuidado ele mantem quando questionado sobre a complexa negociação sobre o espaço que o PSD no governo.

Apesar de defender ardorosamente a criação do Ministério da Micro e Pequena Empresa, o ex-prefeito não reclama publicamente a pasta para seu partido.

“Não é esse ou aquele ebetual convite que vai validar nossa decisão para 2014. A relação com o governo é de independência”.

Dividido entre Brasília e São Paulo, Gilberto Kassab também está preparando o terreno para se viabilizar politicamente como candidato em 2014.

O primeiro e mais provável cenário é que ele dispute o Palácio dos Bandeirantes e tente quebrar a polarização histórica entre PSDB e PT no estado. Outras possibilidades, porém, não estão descartadas.

O fato é que em 2014 pela primeira vez o ex-prefeito estará 100% livre para desenhar seu próprio destino sem antes consultar o homem que lhe colocou em primeiro plano da política: José Serra.

Desde que assumiu a vice-prefeitura de São Paulo na gestão do tucano, Kassab sempre se manteve leal e honrou a confiança recebida pelo ex-governador e ex-presidenciável.

“Continuo admirando o Serra como pessoa, gestor, político e amigo, mas como presidente nacional de um partido a minha decisão (de apoiá-lo em uma eventual candidatura) será a do coletivo”.

Apontam dois rumos para o PSD na reforma ministerial, a Secretaria de Pequenas e Micro Empresas e a Aviação Civil. O que existe de verdade?

A relação com o governo é de independência. Todos sabem que somos um partido novo, temos diversos quadros de diversas frentes. O que vai prevalecer para nós consolidarmos nossa posição em 2014 é a consulta junto aos diretórios estaduais, que envolvem os deputados federais, estaduais, prefeitos, vereadores e militantes. Nós iniciamos esta consulta em três estados, vamos dar sequência e a corrente majoritária vai ser aquela que o partido vai seguir.

Já existem correntes divergentes dentro do PSD?

Em qualquer partido você tem o direito da manifestação. Quando você tem uma decisão, você vai ter aqueles que acham que o caminho é para um lado, outros acham que é para o outro, mas a corrente majoritária que prevalece. Como em qualquer partido. Não existe pensamento único em nenhum partido.

Mas não existem tendências como dentro do PT, PSDB…
Me parece que a grande maioria vai querer o apoio a reeleição da presidente Dilma, vamos aguardar para ver se este sentimento vai ser confirmado.

Existiu alguma consulta do governo sobre você ocupar um ministério ou nunca existiu?

A relação com a presidente Dilma é a melhor possível, ela sabe que qualquer convite que seja feito a alguém do partido é honroso. Mas não é este convite ou a eventual ocupação do cargo que vai validar nossa decisão para 2014. Eu quero estar habilitado para disputar a eleição de 2014. Para isso, eu não poderia aceitar, se for convidado, porque eu estaria inabilitado. Não tem lógica eu assumir um cargo e dez meses depois deixá-lo.

Então pretende disputar o governo de São Paulo?

Eu disse que quero estar habilitado. A recomendação para todos os estados é que se faça um esforço muito grande para ter uma candidatura para governador, isso é importante para consolidar o partido. A recomendação se estende a São Paulo.

Mas o senhor ainda não tem claro se vai ser o candidato?

A tendência é ter o candidato a governador. Tendo a candidatura, existe um movimento. Tenho sido procurado por lideranças do partido para que a gente possa apresentar nosso nome na convenção. Eu, se esta for a vontade do partido, não tenho porque recusar essa missão. Seria muito honroso ser candidato e mais ainda ser governador.

O senhor acredita que esta eleição para governador vai ser com muitos candidatos ou mais polarizada entre PT e PSDB?

Toda eleição é difícil em São Paulo. Nos últimos anos essa polarização tem acontecido menos. Na última eleição de prefeito faltando duas semanas tinham quatro candidatos com 15%. Eu acho que, em relação à candidatura para o governo, vamos ter um quadro semelhante, independente dos candidatos.

Caso seja contemplado com o ministério, o senhor acredita que o Guilherme Afif possa ocupar os dois cargos, como vice-governador e ministro?

Uma manifestação agora seria inadequada. Primeiro porque não existe convite. O que posso dizer é que compreendo que qualquer governante, que conheça o Afif, queira tê-lo pela sua seriedade e experiência de gestor. Vamos aguardar.

Qual sua opinião sobre a criação do Ministério?

Eu defendo a criação, é corretíssima. É uma aspiração muito antiga daqueles que acreditam que a economia brasileira pode ter um salto muito grande no seu crescimento se o governo criar melhores condições para o micro e pequeno empreendedor. E nada mais adequado que uma estrutura vinculada a esta ação como esta secretaria.

O que pode ser feito para os micros e pequenos empresários crescerem?

Políticas públicas de incentivo. No campo territorial para ter um espaço especial para o micro trabalhar seu crescimento. Um incentivo no campo financeiro, com créditos à disposição. Medidas de desburocratização e que possam coibir aqueles que trabalham com carga roubada e pirata, que mata o empreendedor. Existe uma série.

O senhor sempre foi leal ao José Serra. Se ele decidir ser candidato pelo PSDB ou por outro partido, vai apoiá-lo ou não tem mais compromisso?

Não é questão de compromisso. Continuo admirando o Serra, como pessoa, como gestor, como político, como amigo. Mas na qualidade de presidente nacional de um partido, a minha decisão será a decisão do partido.

Ainda existe espaço para o Serra em eleição majoritária?

Espaço significa espaço partidário. Pelo que percebo o PSDB está caminhando para outra candidatura, que é o Aécio Neves.

O senhor acredita que a disputa presidencial desde já é prejudicial ou faz parte?

É natural em qualquer democracia. O Haddad acabou de se eleger prefeito e todos sabem que o PT está trabalhando sua reeleição. É um candidato natural. Até porque, se ele não for candidato à reeleição, é porque ele próprio ou o seu partido vai entender que ele não está indo bem. A Dilma quando se elegeu, é evidente que ela e o PT, já trabalhavam sua reeleição. O partido político sempre pensa eleitoralmente, a gestão não.

Como avalia a relação com o Fernando Haddad. É uma relação de tapas e beijos?

Em uma eleição, o governo atual mostra o que fez e os adversários mostram o que não foi feito. Uma cidade como São Paulo, é uma cidade que ainda não está pronta. É uma tarefa para muitos e muitos anos, para muitos e muitos prefeitos. No final da gestão do Haddad ele vai mostrar o que fez e os adversários vão mostrar o que não fez. As críticas nunca são pessoais. Estou vendo o governo Haddad falar das 79 obras dos pontos de alagamento. Quem fez este projeto foi a minha gestão.

Mas ele reconhece isso?

Não é questão de reconhecimento, é um fato. Foi feito, não precisa de reconhecimento. Eles poderiam dar ou não sequência aos projetos. E pelo visto vão dar. Se não tivéssemos feito os projetos, eles iam demorar quatro anos para fazer o projeto. 

Seu partido é novo e temos agora a Marina Silva criando mais um partido. Tem espaço?

Enquanto for criado eu acho que tem. Caberá a sociedade se manifestar nas urnas. Lá saberemos se existe identidade ou não. O PSD passou na prova das urnas. Agora a Marina está criando o partido dela. Eu assinei a ficha de apoio, pois qualquer cidadão pode assinar. O que precisa é tomar cuidado para que não exista por parte de grupos estruturados vinculados a qualquer instituição uma possibilidade de criar partidos com outros objetivos que não sejam ajudar o país.

O que é um grupo deste ou um partido de verdade?
O PSD é um partido de verdade.

Mas, por exemplo, temos o PEN, que é novo e nebuloso…

Qual o desempenho na eleição?

Nenhum. Mas eles estão aí, com tempo de televisão…

Eu acho que isso precisa ser repensado, mas é papel do Congresso Nacional discutir.

Qual a sua opinião?

Não tem sentido, qualquer que sejam o número de segundos. Não tem cabimento para um partido destes, a justiça eleitoral disponibilizar um tempo.

O senhor defende então uma reforma política? E que tipo?

Eu defendo o voto distrital, o fim da coligação nas proporcionais, para que a gente possa ter cada vez mais partidos voltando suas intenções para dentro e não para fora.

Acredita que sairá do papel?

Enquanto não tivermos a questão discutida, vai ser muito difícil ter consolidar os partidos.

O PSD fez parte do governo Alckmin, mas hoje tem só o vice-governador. Está independente?

Não é independente, nós apoiamos o governo, queremos que ele se saia bem, que faça uma boa gestão, foi nosso candidato. Participar ou não do governo não significa não apoiar.

Como o senhor avalia o governo atual do Alckmin?

O estado de São Paulo tem muitos desafios, parte deles estão sendo superados e parte deles ainda não. Vamos aguardar o encerramento do governo para fazer uma avaliação profunda.

Por ser do PT, o Haddad terá mais facilidade para negociar a dívida do município?

A questão já vinha sendo discutida por nós com o governo federal, que leva muito a sério. Agora ele vai dar continuidade, é um problema muito importante para São Paulo. Não diria nem para gestão do Haddad, mas para a cidade. Se o governo federal recebe com uma mão, dá com a outra, senão quebra São Paulo. Daqui alguns anos a dívida vai ser impagável.

O Haddad relaxou o projeto cidade limpa?

O prefeito Haddad durante sua campanha garantiu que manteria o projeto da cidade limpa. É uma responsabilidade muito grande. Se ele não mantiver ao final da gestão será cobrado.

E a inspeção veicular?

É uma questão resolvida. Ele defende a inspeção, mas acha que os recursos têm que vir do Tesouro. Eu acho diferente, mas é uma decisão política. O importante é que ele defenda a inspeção veicular, e mais, defende sua ampliação para todo o estado, o que é correto. 

Quanto é o impacto para o Tesouro?

Em linhas gerais na ordem de R$ 150 milhões por ano.

Compromete a conta pública?

Não é que compromete, acho justo que proprietários de carros paguem. Você tem carro?

Não!

Então, você vai pagar pela inspeção veicular no modelo do Haddad. Eu não acho justo.

E a questão do aumento da passagem de ônibus. São Paulo adiou a pedido da União. A prefeitura vai ter prejuízo?

Todos querem o melhor para o Brasil e a questão da inflação é muito séria. Ela custou muito para o desenvolvimento do Brasil, e felizmente, nós conseguimos debelar a inflação. Então eu acho correta essa solidariedade. Tudo que a prefeitura puder fazer para colaborar é importante que faça, vai haver o reconhecimento federal no futuro.

No início do ano tivemos chuvas e vários alagamentos. Fotos mostram que é um cenário que se repete…

Não repete. Eu discordo. É importante que cada governo faça sua parte. O Haddad não vai conseguir resolver o problema de alagamento e enchentes. O importante é fazer a sua parte.

É um trabalho de décadas?

Depende do volume de recursos. É uma questão de engenharia, você não pode colocar todos os recursos nas enchentes. E a saúde? E a educação? Precisa usar o máximo dos recursos e com eficiência.

Em oito anos na Prefeitura não dava para ter avançado mais no Plano Diretor?

Avançamos bastante. Avançar bastante significa também no campo social. Na humanidade não tivemos tantas mudanças na área da saúde como na nossa gestão. Milhares de leitos, centenas de equipamentos e dezenas de programas. Melhoras na educação. Isso é plano diretor, é planejamento. Pudemos avançar bastante e é um orgulho.

Como o senhor e o Serra encontraram o caixa da prefeitura e como deixou?

Não quero polemizar, mas é uma diferença gritante. A situação financeira é pública. Não é porque tinha o caixa para os projetos pré-definidos que a situação não é preocupante.

São Paulo não tem recursos para investimentos, o custeio da cidade é muito caro. Os recursos para dívida estão se consumindo. Temos que rediscutir isso. A cidade de São Paulo vive uma situação financeira crítica.

O senhor deu uma declaração, que foi muito criticada, de que o PSD não seria um partido nem de direita, esquerda ou centro. Depois a Marina Silva…

A minha frase foi um pouco diferente da frase da Marina e desta. O que eu disse, nos primeiros dias do partido, que naquele momento eu não poderia dizer se seria de direita, centro ou esquerda, porque o partido estava nascendo. Passados alguns meses, o partido começou a se posicionar e somos um partido de centro. Cada um sabe o que quer, e nós somos centro porque queremos ser centro. 

O que é ser partido de centro?

É um partido que está ligado a conceitos importantes do liberalismo, que procura fortalecer a economia de mercado, liberdades individuais e a defesa intransigente dos direitos da imprensa, mas que também procura direcionar condições para que o estado atue com bastante força e investimentos na saúde, educação, segurança e justiça.

Por que ceder um terreno da prefeitura ao Instituto Lula?

Existem centenas de convênios da Prefeitura com instituições. Menosprezar o instituto, que tem a frente uma pessoa que foi presidente do país por oito anos e que tem sua história ligada a São Paulo, é você não saber entender a história do Brasil.

E o Instituto Fernando Henrique, não usa?

Não, mas ele utiliza a verba da Lei Rouanet. É justo, o Fernando Henrique tem sua participação na história do Brasil, como o Lula. São coisas que precisam ser colocadas com clareza, não tenho problema nenhum em aplaudir coisas corretas independente de questão partidária.

Quem deixou um legado maior, Lula ou Fernando Henrique?

Cada um deixou o seu. O Fernando Henrique no campo econômico e o Lula no social. E a presidente Dilma tem trabalhado muito para preservar estas duas conquistas.

Luis Nassif

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