Redes sociais criam ‘bolhas políticas’ e incrementam polarização

 
Jornal GGN – Através de algoritmos, as redes sociais, como o Facebook, selecionam os conteúdos exibidos para o usuário, eventualmente limitando o debate e criando ‘bolhas políticas’. Baseados em inteligência artificial, os algoritmos ‘aprendem’ sobre o comportamento dos usuários, mostrando postagens, vídeos e fotos que o usuário tende a gostar.
 
De acordo com especialistas, essa tecnologia acaba criando ‘bolhas, já que o usuário, que tem contato somente com aqueles que concordam com sua visão, acaba ficando com a impressão de que sempre está certo. Leia mais abaixo:
 
Do Estadão
 
Redes sociais formam ‘bolhas políticas’
 
Desconhecidos do público, algoritmos selecionam conteúdos conforme a atividade dos usuários e podem limitar debate de ideias na internet
 
por Matheus Mans e Bruno Capelas
 
Antes de os brasileiros a favor e contra a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil invadirem as ruas nas últimas semanas, grande parte deles manifestou seus pontos de vista nas redes sociais. Em seus perfis, compartilharam suas opiniões políticas, convocaram amigos para manifestações, travaram discussões e recorreram a medidas extremas, como deixar de seguir amigos de longa data.
 
O que a maior parte dos usuários não sabe é que toda essa atividade é um “prato cheio” para os algoritmos, uma série de códigos baseados em inteligência artificial que estão entranhados no Facebook e em outros sites. Com base no que “aprende” sobre cada usuário, ele mostra mais conteúdos que “acha” que o usuário vai gostar.

 
Segundo especialistas consultados pelo Estado, a tecnologia que ajuda o usuário a encontrar mais conteúdo relevante na internet está criando uma “bolha” em torno das pessoas. No caso das disputas políticas, o efeito é claro: o usuário sempre tem a impressão de que está certo, já que só tem contato com aqueles que compartilham de sua visão.
 
Usar algoritmos em sites não é uma novidade. Eles ganharam fama em 1996, quando Sergey Brin e Larry Page, cofundadores do Google, escreveram um código para exibir primeiro as páginas da internet mais relevantes para uma determinada pesquisa. Sites com menor importância e menos links ficavam no fim da lista. A tecnologia – que atualmente leva em conta dezenas de outros fatores – deu origem ao maior buscador de sites da internet.
 
Com o sucesso do Google, outras companhias da internet criaram algoritmos. No caso das redes sociais, o Facebook passou a exibir postagens dos usuários mediante sua relevância a partir do fim dos anos 2000. A tecnologia foi um dos fatores determinantes para seu sucesso.
 
Caixa-preta. Assim como outras empresas, o Facebook nunca revelou em detalhes como seu algoritmo funciona. Pelo que se sabe, ele considera ações dentro do site: ao curtir, compartilhar, comentar ou bloquear conteúdos, o algoritmo “aprende” e passa a exibir apenas o que considera relevante para aquela pessoa. O restante fica no final do feed de notícias – ou, simplesmente, é ignorado.
 
“O algoritmo e o usuário coproduzem o feed”, explica o professor de ciência da informação da Universidade de Michigan, Christian Sandvig. “O computador te observa e aprende com o que você clica. Ao mesmo tempo, você decide como responder ao que ele mostra a você.”
 
Segundo o Facebook, o algoritmo ajuda o usuário a aproveitar melhor o conteúdo publicado na rede. “O volume de conteúdo criado e compartilhado é proporcional ao número de usuários. Assim, o algoritmo é uma forma de permitir que cada pessoa tenha acesso ao que julga mais importante”, disse a empresa, em nota. Atualmente, o Facebook é a rede social mais popular do mundo, com 1,59 bilhão de pessoas conectadas.
 
Na prática, se uma pessoa gosta mais de culinária do que esportes, ela interage de maneira positiva com postagens sobre o assunto. Ao compreender esta preferência, o algoritmo exibirá para este usuário as publicações relacionadas em primeiro lugar. Conteúdos sobre esportes ficarão, automaticamente, em segundo plano.
 
“O Facebook tende a filtrar aquilo que é socialmente relevante para um grupo. Isso dá a sensação de que toda a rede social concorda com você”, comenta a professora e pesquisadora de mídias sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Raquel Recuero.
 
Além da maçã. Enquanto o algoritmo se restringe aos gostos pessoais, os efeitos não são nocivos. As coisas mudam de forma, entretanto, quando o conjunto de códigos começa a influenciar na visão política das pessoas. A “bolha política” já foi comprovada por diversos estudos. Um deles – realizado em novembro de 2010 pela Universidade da Califórnia, com aval do Facebook – simulou as eleições presidenciais americanas e concluiu que cerca de 340 mil pessoas mudaram de voto após verem uma postagem positiva sobre um candidatos no topo do feed de notícias. “Seria bastante simples para uma rede social como o Facebook manipular uma eleição”, diz Sandvig.
 
No Brasil, nenhum estudo foi realizado para entender a influência do Facebook na política. Porém, usuários da rede social já sentiram na pele os efeitos da “bolha” ao longo das últimas semanas.
O administrador de empresas Radyr Papini, 37 anos, é a favor do impeachment da presidente Dilma e compartilha uma média de cinco posts contra o governo por dia. Ele afirma que, em seu feed de notícias, “95% das postagens são contra a presidente”.
 
Limitação. Esta sensação de que todos compartilham da mesma opinião causa problemas. A ausência de debate é um deles. “A experiência, sobretudo no Facebook, não permite que todo usuário seja escutado”, afirma Fábio Malini, coordenador do laboratório de estudos sobre internet e cultura da Universidade Federal do Espírito Santo. Outro fator é o “efeito manada”, que tem consequências nos mundos virtual e real: ao ver posições parecidas com a sua, as pessoas reforçam suas opiniões e se sentem mais estimuladas a protestar.
 
A solução para essa “bolha” ainda não está clara e a tarefa deve ficar mais difícil no futuro, à medida que outros sites adotam algoritmos. Nas últimas semanas, Twitter e Instagram anunciaram que vão abandonar a cronologia das publicações em favor desses códigos.
 
“É importante que as pessoas estejam conscientes desse processo algorítmico de seleção”, alerta Pedro Domingos, autor do livro The Master Algorithm e professor de ciências da computação da Universidade de Washington. “No futuro, ele será usado por outros serviços, que ainda nem imaginamos.”
Redação

13 Comentários

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  1. Discordo, mais uma jogada da

    Discordo, mais uma jogada da midia tradicional  que utiliza o “janoismo” (dissimulação com finalidade de dar o troco la na frente). Para mim é apresentado sempre uma enxurrada de lixo como Veja e cia. Isto é proposital e tem a ver com os grandes grupos que divulgam o que querem… 

  2. Vamos combinar?

    Sugestão para quem acha que o estado de direito, ou seja, que a constituição seja respeitada. Ir na manifestação dia 31 com ao menos uma peça de roupa branca. Se o que estão violentando é o direito a legalidade, não se está mais só defendendo um partido ou governo, mas todo o sistema. Assim, parar com “petralhas” ou “cochinhas” que isso é coisa de futobol. Se o objetivo é esclarecer, só com paciência e não batendo na cabeça do sujeito para ver se ele “me entende”. Manifestação pró democracia e que as regras sejam respeitadas e não estupradas por quem está querendo uma trincheira pra burlar a lei como são uma boa dos parlamentares com questões com a justiça.

  3. Michel Temer

    Se o Sr. Michel Temer, convidado que foi para participar como colaborador da chapa vencedora das últimas eleições presidenciais, não quiser mais ajudar a presidenta a governar o país, papel constitucional dele, não seria o caso de se pedir sua renúncia? Não estaria ele prevaricando?  Ou então estamos diante de um golpe do vice-presidente que vai publicamente minando a base política do governo com a finalidade dele próprio ocupar o cargo, tramando o impeachment e já projetando um ministério. É preciso criar um fato político-midiático novo: renúncia ou quem sabe impeachment do Temer!

  4. Aquilo que queremos vs aquilo que precisamos

    No mundo dos homens-ilha não há comunicação entre diferentes

     

    “Não é apenas o Google ou o Facebook. É algo que está varrendo a internet. Há uma série de empresas que estão fazendo esse tipo de personalização […] E isto nos leva muito rapidamente para um mundo no qual a internet nos mostra aquilo que ela pensa que queremos ver, mas não necessariamente o que precisamos ver”

    http://www.administradores.com.br/artigos/economia-e-financas/a-internet-e-os-filtros-bolha-nao-somos-tao-livres-assim/63661/

  5. E os algoritmos da grande imprensa

    A matéria abordada é uma temática importante, mas é necessário irmos além. Não são somente as redes sociais e sites/portais tem seus algoritmos, a grande mídia também os tem. Quando nos temos a concentração da mídia em poucas famílias no Brasil, o algoritmo dessas, nada maís é que a sua vontade, projetos e vinculações políticas que possuem ou sustentam. 

    Uma coisa são os algoritmos que conduzem a conteúdos X, Y ou Z, outra é a manipulação na produção de conteúdos, que serão depois apropriados por estes algoritmos.

    Eu não tenho muitos problemas com esses mecanismos das redes sociais e sites. Não me prendo aos direcionadores dos mesmos nas redes, sites e blogs, nos quais me alimento de conteúdo, procuro sempre fazer uma avaliação crítica do conteúdo que acesso.  

    Infelizmente a ditadura da grande mídia com seus algoritmos de manipulaçao da verdade estão levando à sociedade a uma cisão da sociedade cujo pior pode acontecer a qualquer momento

  6. Manter-se informado pela internet não é algo tão simples quanto

    Manter-se informado pela internet não é algo tão simples quanto parece. Muitas pessoas ao invés de se informar, apenas cultivam seu ódio e rancor e utilizam a internet para canalizar todas as misérias humanas que habitam dentro de si.

  7. a famigerada ilhja de edição

    a famigerada ilhja de edição da tevê criou um sucedaneo

    ultra-manipoulador na internet, com o facebbook e o google….

    isso é evidente….

    e comprova os resultados perigosos paa a soceidde brasileira comessa crise política…

    além da manipulação da grande mídia golpísta, é evidente essa influencia

    das redes sociais e da internet para fazer a cabeça de muita

    gente dessa turma ue as pessoas chamam de coxinhas….

    a quesrtão é saber que tipo de sociedade temos e queremos para o país…

    e que defesa poderemos dispor pra evitar essa manipulação desbragada…

  8. Tenho a impressão de que o

    Tenho a impressão de que o Youtube é manipulado. Assista-se a um vídeo, por exemplo, de Jandira Feghali denunciando o golpe e os vídeos sugeridos a seguir serão de Aécio Neves da Cunha, negando o golpe. Mas assista-se ao do playboy das Alterosas e os sugeridos serão de, sei lá… FHC.

    Será? A se testar…

  9. O problema não é o uso humano comum, mas os robôs

    O problema das redes sociais não é tanto o perfil das pessoas em “só procurarem o que querem”, mas o uso desenfreado de robôs no Facebook, Twitter e Youtube.  

    80% dos perfis em grupos políticos no Facebook são robôs. Em eventos de manifestações de rua, mais robôs. É robô para todos os lados. Inclusive existem “robôs petistas”.

    Os robôs criam a bolha, entupindo as conexões estratégicas da rede com o que querem, muitas vezes conseguem adicionar pessoas reais e se passarem por ativistas políticos comuns. Não é tão fácil identificar os robôs. 

    Logo a desinformação proveniente dos robôs, controlados por uma pequena centena de hackers pagos por grandes fundações e partidos, contamina o mundo real. E as pessoas saem as ruas nos horários marcados para serem massa de manobra! Entretanto apenas 2% das pessoas nos eventos virtuais saem as ruas. Não é apenas o “comodismo”, é também por os eventos terem uma massacrante participação de robôs. 

    Um evento de 300 mil perfis, com 220 mil robôs é uma vitória.
    Das 80 mil pessoas, vão 10 mil as ruas, mas os organizadores, a mídia se também tiver interesse, aumentam o número para 60 mil.

    Em um perfil meu, tinha curtido milhares de páginas de todo o mundo e de várias línguas. Muitas das páginas de agências internacionais com notícias a cada 2 minutos e com dezenas de milhões de curtidas…

    Mas a timeline só tinha mensagens da página “Avança Maçons BR” e outras páginas golpistas de desinformação. 

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