Romney pode repetir derrota de Al Gore nas eleições de 2000

Do O Globo

Romney pode ganhar nas urnas e perder no Colégio Eleitoral

Pesadelo do candidato republicano é repetir derrota de Al Gore, em 2000, para Bush

Fernando Godoy

NOVA YORK – Há um possível resultado da eleição presidencial americana, amanhã, que tira o sono dos assessores das duas campanhas e já provoca até o retorno da síndrome do estresse pós-traumático dos democratas que viveram a derrota de Al Gore para George W. Bush em 2000. Um resultado raro, mas que alguns especialistas veem como possível este ano: a divisão da vitória, com um candidato ganhando no voto popular e o outro se elegendo presidente com os votos do Colégio Eleitoral. Nos EUA, o que vale é conseguir ao menos 270 dos 538 votos do Colégio Eleitoral, alocados em bloco — o vencedor na Califórnia, por exemplo, leva todos os 55 votos do maior estado americano.

— Sempre achei que a melhor chance de eliminar o Colégio Eleitoral viria no caso de um candidato republicano ganhar no voto popular, mas perder no Colégio Eleitoral. E esta certamente é uma possibilidade hoje — disse Robert Shapiro, especialista em opinião pública da Universidade de Columbia, em Nova York.

Oito estados já aprovaram mudar o sistema

Michael Feldman, um dos assessores de Al Gore que o convenceram a pedir na Justiça a recontagem dos votos na Flórida em 2000, diz que volta a ter pesadelos e a reviver o trauma. As duas campanhas mobilizam exércitos de advogados nos estados onde a disputa está mais apertada, preparando-se para eventuais recontagens de voto e contestações. Há ainda a possibilidade, estatisticamente a mais remota, de que os dois candidatos empatem em 269 votos, o que levaria a eleição para o Congresso. Mas, mesmo que não haja uma guerra legal, o retorno da batalha política pelo fim do Colégio Eleitoral é provável.

— Acho não só possível, mas bastante provável que Romney vença no voto popular, puxado pela enorme vantagem que terá nos estados do Sul, e Obama ganhe no Colégio Eleitoral. Se isso ocorrer, haverá controvérsia e propostas de mudança, mas será difícil mudar — diz o diretor do Instituto de Pesquisas sobre Serviço Público e Políticas da Universidade da Carolina do Sul, Robert Oldendick.

O Colégio Eleitoral é uma instituição inscrita na Constituição pelos fundadores dos EUA. A divisão entre voto popular e vitória no Colégio Eleitoral ocorreu três vezes, a mais polêmica delas com George W. Bush, devido às acusações de fraude na Flórida, o estado que acabou decidindo a eleição em favor dos republicanos, então governado por Jeb Bush, irmão do presidente eleito.

Outro caminho, considerado mais viável, para o esvaziamento do Colégio Eleitoral é a iniciativa popular Popular Vote Plan. Ela propõe que os estados que controlam a maioria dos votos aprovem leis comprometendo-se a destinar seus delegados ao candidato que vencer o voto popular no âmbito nacional. Se isso ocorrer, o Colégio Eleitoral cai por terra sem necessidade de uma maioria de dois terços dos votos no Congresso para uma emenda constitucional. O líder dessa iniciativa é John R. Koza, um cientista da computação que se dedica à causa do voto popular desde 2006. Até abril deste ano, oito estados e o Distrito de Colúmbia, representando 132 votos no Colégio Eleitoral, já aderiram à proposta, aprovando mudanças na legislação estadual. As novas leis, no entanto, só entrarão em vigor quando for atingido o mínimo de 270 votos, a maioria absoluta.

Os estados que aderiram, pequenos e grandes, foram igualmente ignorados pelos candidatos nesta campanha: Califórnia, Illinois, Massachusetts, Vermont, Maryland, Nova Jersey, Washington e Havaí. Eleitores dos estados que não são considerados em disputa, por já terem uma inclinação muito sólida por republicanos ou democratas, se ressentem da ausência de atenção dos candidatos. Do outro lado da balança, estados-pêndulo, como Pensilvânia, não querem abrir mão do poder de barganha que essa condição lhes dá na hora de negociar verbas com o governo.

Nos anos 1960, os candidatos faziam campanha em todo o país. Em 1976, quando Jimmy Carter foi eleito, 30 estados estiveram no roteiro dos candidatos. Este ano, o mapa encolheu para nove battleground states. Três deles (Flórida, Ohio e Virgínia) concentraram 2/3 das aparições públicas dos candidatos a presidente e a vice. Passadas as eleições, é provável que mais estados queiram voltar ao mapa.

Luis Nassif

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