Sem política não existe economia, diz Lula em entrevista exclusiva ao GGN

E, por fim, Lula solta aos entrevistadores que é necessário conhecer o Brasil, pois ‘o Brasil e seu povo é muito melhor do que essa gente que governa’!

Foto Ricardo Stuckert

Jornal GGN – Antes de entrar propriamente na entrevista ao Jornal GGN, ali representado por Luiz Gonzaga Belluzzo e Eduardo Moreira, Lula falou sobre dois temas distintos. Um deles foi a solidariedade prestada à família de Ágatha, assassinada no Rio de Janeiro. O outro ponto levantado foi a questão da progressão da pena. Lula disse ter conversado com seus advogados e definido que não quer progressão, pois pede progressão quem é culpado e está condenado, e como não é culpado o que quer é sua inocência. “E se alguém tem que pedir perdão é o tal do Moro e o tal do Dallagnol”, diz ele. Afirma estar tranquilo ali e muito ciente da canalhice que fizeram com ele e, se provarem qualquer ilícito que tenha porventura cometido, aí sim se cala. “Eu quero sair daqui inocente, cem por cento como eu entrei”, conclui.

“Desigualdade não é vista no governo como uma questão política, uma questão prioritária”, inicia Lula. “O pobre é um número estatístico que você utiliza de vez em quando”, diz ele.  Lula conta que, ao ser eleito, levou os ministros para conhecer o Brasil real, aquele para o qual tinham sido eleitos, e não Brasília. Ele considera que o esquecimento dos pobres faz parte da cultura brasileira.

Representação popular em seu governo sempre foi uma tônica, lembra Lula. Ao longo de seu governo fez 74 conferências nacionais, em que os diversos atores, e todos cidadãos brasileiros, sentiam que estavam influindo nas políticas públicas.

O ex-presidente diz uma frase fundamental: “Eu fui eleito para governar para todos!”. Esta frase sintetiza a máxima de que, mesmo vindo de onde veio, sabia que sua função não era um ou outro, eram todos. E, da mesma forma com que olhou e proporcionou políticas de proteção para os menos favorecidos, deitou olhos no empresariado, que nunca foi tão respeitado quanto em seu governo. E foi em seu governo que, pela primeira vez, os 20% mais pobres tiveram aumento maior que os 20% mais ricos. Isso foi governar para todos, cuidando daqueles que precisavam mais.

É preciso olhar ainda que, mesmo com o país crescendo de 1950 a 1980, na ordem de 7% ao ano, não houve distribuição de renda. A economia crescia, e ele cita 1973 quando era trabalhador da Villares, e não se sentia esse crescimento. “Sentia que tinha mais empregos, mas o salário não crescia”, explica.

Sua experiência com orçamento vem da juventude. Ali, os salários eram juntados, dos oito irmãos, e a mãe ia pegando os montantes que deveriam ser usados para o pagamento de contas. No orçamento da União a coisa se repetia. O orçamento já vinha fatiado entre os diversos setores, mas ali não estavam incluídos os mais pobres, que não estavam organizados e nem tinham voz. E ele via a necessidade desta inclusão, senão os mais pobres estariam lascados.

No quesito educação, Lula já avisou sua equipe: “Quando falar em educação não existe gasto, é investimento”. Da mesma forma saúde e os mais pobres. Lembra ele que um trabalhador com saúde produz muito mais, assim como com educação.

Lula fala da Previdência, que era superavitária por ter um número muito maior de contribuintes, que arcavam com a sua parte do sistema. Isso foi possível graças à criação de tantos postos de trabalho, de incentivo à pequena e média indústria, pequeno e médio comércio. Com dos dados de hoje a Previdência só pode ser deficitária. “Não se fala em Reforma da Previdência em tempos de crise”, alerta Lula, já que ela é para resolver o problema das pessoas que estão desassistidas. E relata as reformas feitas em seu governo na Previdência.

E Reforma Tributária, que é tudo que pode ser feito de melhor em distribuição de renda, não é vista assim, diz ele. Relata a reforma que fez em seu governo, entregue em abril de 2007, que contou com a aprovação de governadores de Estado, das centrais sindicais, de todas as federações industriais lideradas pela CNI, além de aprovação de todas as lideranças no Congresso Nacional. Quando chegou ao Congresso o que aconteceu? Não andou.

A mentalidade do brasileiro, de querer pagar menos imposto, não deixa uma reforma dessas andar. O país precisa constituir uma mentalidade política, é preciso trabalhar a politização da sociedade para encarar os desafios do país. O cidadão precisa entender que não adianta votar num galo de briga para a Presidência e num monte de raposa para o Congresso. “As raposas vão comer o galo de briga”, diz.

É preciso rever o discurso para que as pessoas entendam que é preciso votar de acordo com aquilo que eles querem para si e para o país. Foi isso que o moveu a criar um partido, juntando o desejo com a forma de lutar.

Retoma a importância do programa de cisternas e o Luz para Todos, que incluiu com direitos e movimentou a economia, tanto local quanto nacional. É preciso aprender além dos livros, com a vida. Bom lembrar que, com a Lava Jato criminalizando as empresas, milhares de trabalhadores perderam seus empregos e empresas quebraram, e a CNI e Fiesp não levantaram um dedo para defender pessoas jurídicas, que não cometem crimes, que são cometidos por pessoas físicas.

Fala da Petrobras que, por seu turno, não era empresa de petróleo, e sim a maior fomentadora de desenvolvimento deste país. E o desserviço que a Lava Jato fez ao país, vendendo a Petrobras como coisa podre. A lógica da política e economia atual é da destruição.

Lula relata que seus advogados estão entrando com ação nos Estados Unidos contra o DoJ para provar que os únicos que estão ganhando com esta safadeza que acontece no Brasil são eles. A economia brasileira perdeu mais de US$ 142 bilhões, o que devolveram não é nada, não representa nada.

A briga é de todos, e nunca tivemos tantos motivos para brigar. O cara fala ‘tem que ir pra rua’, mas não vai. Todos precisam ir. Existem muitas lideranças para isso, e até cita Ciro Gomes. Política é química entre pessoas, é como casamento, diz Lula, você faz concessão, sua parceira faz concessão, os filhos fazem concessões, e todos têm também suas vitórias. É o maior exemplo de democracia do mundo.

Cita ainda o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, um grupo heterogêneo onde todo mundo fazia política para todo mundo, entrosados.

Orçamento é questão de querer. Coloca na roda a Política do Puxadinho, o incentivo via Caixa para que o pobre pudesse aumentar sua casa. Isso movimentou a indústria de cimento no país, movimento outros setores, fez com que o desejo do pobre se tornasse motor de economia.

A questão da importância dos bancos públicos também é debatida, pela importância do crédito no desenvolvimento, em condições diferenciadas para que o tomador possa dar o próximo passo. O investimento público induz o investimento privado. E discorre sobre a indústria nacional.

Lula vai finalizando. Diz que só pode falar sobre o que foi feito, e repetiria muitas coisas e mudaria outras tantas. E não privatizaria jamais. Cita a Petrobras, que deveria ser o motor de desenvolvimento deste país e, com os 75% dos lucros do pré-sal, recuperaria a dívida secular que o país tem com educação.

O ex-presidente conta que, em 2014, não conversou a ex-presidente Dilma, para ser o candidato, por respeito a ela. Ela tinha o direito de ser a candidata. E depois as coisas desandaram um pouco. Dilma saiu da eleição muito magoada. Lula diz que dava muito menos palpite para a Dilma do que as pessoas imaginam. Por respeito. Critica, no entanto, a política de desoneração praticada, que no lugar de ser um desafogo se tornou uma política perene. O que é um erro.

Fala das alianças necessárias. É preciso que se tenha claro o que se quer e como se quer, senão não resolve e vai criar vítimas no caminho.

E, por fim, Lula solta aos entrevistadores que é necessário conhecer o Brasil, pois ‘o Brasil e seu povo é muito melhor do que essa gente que governa’!

Redação

11 Comentários

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  1. Sugestão: Se for obrigado a sair com tornozeleira, ir ate o acampamento Lula livre e tomando uma cachaça com seus amigos la, cortar a tornozeleira e esquecer prisão domiciliar, já no dia seguinte aparecer no instituto Lula.

  2. Muito boa entrevista. Alguns se queixam da grande mídia não entrevistá-lo. Que diferença faria? Que profundidade teria? Estas pelo youtube tem tempo longo e geram também muitos vídeos curtos de trechos e ao ver as somatórias de visualizações, já se aproximam das 10 milhões. Além do mais ficam disponíveis para que quiser ao longo do tempo, sem contar que podem ser traduzidas.

  3. O Brasil perdeu a oportunidade de ser grande.
    E desperdiçou as únicas coisas boas que faziam dele um bom país pequeno.
    O Estado moderno foi construído pelo Direito.
    Os fundamentos do Direito foram destruídos por essa tal de Lava Jato.
    O que restou: a imbecilidade do clã Bolsonaro, a rapinagem dos juízes, o terrorismo dos membros do MPF, o ódio jornalístico ao PT, a indiferença das Forças Armadas, o desemprego, a fome e o desespero do povo.
    O que male-male levou 514 anos para ser construído foi destruído em 5 anos por um juiz filho-da-puta e um punhado de procuradores deslumbrados.

    1. Precisamos de Lula 100% livre, até mesmo porque não cometeu crime que justifique sua prisão, estando na Guatánamo curitibana por ter sido julgado em processo fraudulento

    2. Calma xará.
      Uma figura expressiva como Lula, preso sem provas e nas garras de infames como estes indivíduos só se torna maior e, a cada dia, mais relevante para que o mundo comprove que aqui, neste país emporcalhado por fascistas imbecis, atropelaram a Constituição e o verdadeiro Direito, aproveitando-se para, sob esta zona, entregar nossos mais preciosos ativos enquanto, criminosamente, retiram toda esperança de um futuro promissor para os mais desafortunados.
      Lula deve sair livre e apto para um mandato presidencial redentor para o Brasil a ser comemorado pelo povo brasileiro de forma VERDADEIRAMENTE patriótica, numa mesa forrada com a bandeira do brasil, degustando um torresminho regado a verdadeira bebida nacional, a CACHAÇA.
      Isso é ser brasileiro, o resto é conversa fiada de falsos moralistas e pseudo patriotas que prestam ridicula continência à bandeiras de outros paises.

  4. Lula não tem o curso superior formal, mas tem universidade e pós doutorado como auto didata. Como grande estrategista é um dos maiores visionários à frente de seu tempo…
    Um fenômeno de inteligência que surge a cada século, e que, a elite brasileira e também setores da classe média, dormente, sofrem nos porões da inveja ao sentirem-se abaixo, ao invés de se elevar com o exemplo. Principalmente o preconceito sobre as raízes humildes que o fez renascer, como homem do povo, forjado numa história de lutas e desafios de toda ordem; renunciando assédios pouco éticos em sua longa jornada já no caminho da sua projeção internacional reconhecida. Aqui dentro, uma mentalidade de uma elite empresarial econômica, política e de burocratas, capilarizada no poder do mundo jurídico e militar; distante de uma visão humanista e carregada de intelectualismos simbólicos, apesar de detentora, em muitos casos, de carreiras meramente fisiológicas e, sem a diplomacia necessária e sensível, não soube reconhecer o Lula como prata da casa. Optaram por demonizá-lo e jogá-lo numa cela como criminoso.
    É desalentador assistir esses setores nus, diante dos fatos que se sucedem, onde máscaras caem ante a hipocrisia, porque o ciclo de uma dinâmica social que se entrelaça no cotidiano, revela-se incapaz de esconder as fortuítas manobras, permitindo o emergir da realidade cada vez mais acentuada e escorchante, pra nossa surpresa…

  5. Essa é uma entrevista que deveria ser divulgada para o grande publico. O nosso trabalho é fazer com que o maior numero de pessoas possiveis vejam e ouçam o Lula. Em grande forma!

  6. O Lula é um autêntico animal politico e espalha empatia em sua fala. Intelectuais e o povo se sentem representados. Mas acho que o tópico que gerou o título do artigo é uma tautologia. Gostaria de ver Lula falando sobre os erros de seu governo, pois dos acertos, bem maiores que os erros, temos conhecimento. Gostaria que ele falasse, por exemplo, da governabilidade, de como alocou velhas conhecidas raposas para cuidar de nossos galinheiros estatais, e, principalmente, o que ele aprendeu com esta experiência.

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