Comentário ao post “Xadrez da delação do fim do mundo em uma 4a feira cinza“
Concordo integralmente com a tese do colega Marco Antônio para explicar o quadro político atual. Gostaria apenas de fazer uma pequena sugestão de complementação da narrativa por ele desenhada.
Sem dúvida, também considero que o ensaio da AP470 despertou dois movimentos subterrâneos de desestabilização do governo Dilma, e que o segundo movimento (montar uma superbancada na Câmara, centrada em Eduardo Cunha e com fóco especial sobre a Petrobrás) foi o que preponderou. Mas acho que alguns outros fatos contribuíram também para o golpe, e que esses outros fatos garantem protagonismo também para o primeiro grupo (PSDB + Lava Jato + Judiciário + Mídia).
Refiro-me à conjunção entre a crise econômica (com a influência também de imortantes fatores externos – queda dos preços internacionais das principais commodities) e as primeiras grandes manifestações de desagrado com a crise econômica, as famosas Jornadas de Junho de 2013.
A sequência da narrativa que acho mais possível, tomando emprestada a tese do Marco Antônio, é a seguinte:
1. AP470 – ensaio de golpe. Lula se recupera, termina o governo muito bem avaliado e faz sua sucessora, Dilma
2. Desde o final de 2011, os preços internacionais das principais commodities começaram a cair, especialmente petróleo e minério de ferro. O Brasil é um país onde a venda das commodities tem importância fundamental nas exportações. Num primeiro momento essa queda não foi abrupta, mas começou a produzir dificuldades econômicas concretas e significativas na economia a partir da segunda metade de 2012.
3. Em paralelo, Dilma promove grande queda da taxa de juros SELIC, o que tem o mesmo efeito que chamar a plutocracia (e a mídia que vocaliza seus interesses) para a briga. Começava a se criar um clima hostil contra ela.
4. As dificuldades econômicas que começavam se se fazer presentes se constituíram num pano de fundo importante para a extensão e a profundidade dos protestos de 2013, as famosas Jornadas de 2013. Claro que as forças políticas de oposição ao governo Dilma e a articulação da mídia oligopolista foram fundamentais para mudar o fóco dos protestos iniciais, para aumentar sua articulação e para tocar fogo no país. Mas as dificuldades econômicas estavam bem presentes, e a mídia oligopolista ocultou, principalmente nas mídias impressa e televisiva, a existência de fatores externos na crise econômica que se instalava. Toda a responsabilidade pelas dificuldades econômicas estava sendo debitada a Dilma e seu governo.
5. A extensão e profundidade das Jornadas de Junho 2013 mostraram que era possível sim mobilizar muita gente contra o governo Dilma. Acho que o PSDB e os grupos golpistas do PMDB que se aproximaram dos tucanos na eleição achavam que Aécio seria eleito.
6. Em 2014, ano eleitoral, a queda das principais commodities adquire ritmo exponencial exatamente em outubro/2014, entre o primeiro e o segundo turnos.
7. No entanto, além de Eduardo Cunha conseguir eleger uma bancada de aproximadamente 140 deputados federais no baixo clero, que seriam fiéis a ele na votação para Presidente da Casa, e de o Legislativo ter alterado seu perfil para o mais conservador das últimas duas décadas, também Dilma vence a eleição e se reelege para um segundo mandato. Nesse momento, a drástica mudança no cenário macro-econômico faz Dilma mudar sua estratégia para a economia. A oposição e a mídia exploraram muito bem essa mudança (“estelionato eleitoral”), e Dilma errou na escolha do novo Ministro da Economia, o que fragilizou ainda mais sua posição.
8. A derrota “inesperada” de Aécio, no entender desses grupos golpistas, sinalizou que não havia mais como esperar, e que o golpe deveria ser desferido a partir do dia seguinte ao da eleição. A partir daí, foi o que acompanhamos, com os “debates” e as votações deprimentes que se realizaram na Câmara e no Senado.
Na minha opinião, essa foi a sequência do golpe de 2016.
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Queda da SELIC
Se Dilmar tivesse mantido a trajetoria de queda da SELIC e não recuado, teria sobrado caixa para enfrentar qualquer crise, da mesma forma que Lula enfrentou a de 2008.
Outro fator que o comentarista podia incluir é que houve apoio externo as manifestações, da mesma forma que as “primaveras” dos diversos países árabes (Egito, Libia etc)
De toda forma, é bastante coerente essa cronologia. Parabéns pelo post!
Queda da Selic II
Perfeito texto, perfeita cronologia.
Penso que esta cronologia
Penso que esta cronologia está quase correta, só ficou faltando indicar duas coisas:
1) Quem comprou o STF?
2) além de Moro quem mais atua a favor dos EUA?
Embora a Petrobrás seja o alvo principal dado o pré-sal, entendo que a destruição do país também faz parte. Deixar o Brasil de joelhos para voltar a ser uma republiqueta insignificante no cenário internacional pode ser interessante para quem?