Sobre a teoria da preparação de um golpe de esquerda em 64

Por autonômo

Comentário ao post “O caos político que precedeu o golpe de 64

Com todo o respeito ao Wanderley dos Santos, tenho que discordar:
 
1.”Em comum a constatação de que havia um receio concreto, de lado a lado, da iminência de um golpe.”
 
Ficou sempre claro que a direita não aceitava e preparava o golpe, desde o primeiro dia do governo de Jango.
 
Aliás a sua própria posse apenas ocorreu devido a “radicalização” de Brizola, na época, governador do RS.
 
Ao mesmo tempo trata-se de um enorme engano ou, em alguns casos, engodo, essa teoria de que havia a preparação de um golpe de esquerda.
 
João Goulart era o típico político conciliador, rico fazendeiro, casado com uma das mulheres mais elegantes da sociedade.
 
Nenhuma semelhança tinha com um Fidel ou um Guevara.
 
Pretendia apenas realizar as reformas necessárias para destravar o país.
 
Algumas até realizadas depois, pelos próprios militares no poder.

 
Além disso, que golpe Jango poderia dar, com todos os veículos de informação contra ele, a exceção de Última Hora,  sem apoio de nenhum setor das Forças Armadas, com uma conspiração arquitetada e gerenciada pelos americanos, com a esquerda dividida?
 
2.”A retórica radical de Leonel Brizola ajudou a levantar fantasmas por todos os poros.”
 
Exatamente como a direita, com suas armas de controle da informação, pinta, hoje, o Dirceu como um perigoso “radical”, o demônio da época era o Brizola. A demonização começou a ocorrer antes dos fatos aqui discutidos, mas quando, como governador gaucho, encampou a companhia americana de telefonia.
 
Brizola “radicalizou o discurso” apenas quando era visível que não havia possibilidade de nenhum diálogo político, pois a conspiração de direita já não acontecia mais as escuras.
 
3.”Um outro ponto complexo era a completa fragmentação política. De um lado, a esquerda dividida em vários grupos antigos, novos – a nova esquerda católica e os dissidentes do PC -; de outro, a direita e os militares também pulverizados em vários grupos”.
 
Quanto a essa afirmação tenho que, infelizmente, em parte concordar, quando diz que “a esquerda estava dividida”.
 
Já nos tempos de Cabral os dominadores entendiam que era necessário dividir para avançar. Colocaram os índios do norte em guerra contra os do sul.
 
Mas não estou de acordo que “a direita estava dividida”.
 
Infelizmente não.
 
Existiam, mesmo entre os militares, vários grupos.
 
É verdade.
 
Em razão disso tivemos essa estranha ditadura com vários ditadores.
 
Eles, diferentemente da esquerda, se acertaram e se alternaram no poder.
 
4″ Ulisses Guimarães engrossou a Marcha da Família; dom Paulo Evaristo Arns e dom Hélder Câmara, entre outros, saudaram a deposição de Jango. Jornalistas liberais apoiaram o golpe.”
 
Ulisses Guimarães era uma espécie de Gilberto Gil da época. Tocava em todas as bandas. Estava na passeata de cá, depois na de lá. Com o endurecimento da ditadura foi modificando o discurso.
 
Dom Hélder nunca negou que foi inclusive fascista. Depois se regenerou e fez tudo o que fez.
 
Quanto aos “jornalistas” gostaria de saber do Nassif quais apoiaram o golpe?
 
Talvez o Flavio Cavalcante?
 
Ou o Amaral Neto?
Redação

3 Comentários

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  1. Trofeu Judas

    O Trofeu Judas, edição única, vai para o grande e inominável Lacerdão, ansioso por um golpe de estado contra aqueles cubanos rio-grandenses (sic).

    Lacerdão queria ser presidente da República a qualquer custo. Com o regime militar, Lacerdão acreditou naquela ideia de eleições para 1966. Esposa traída pelos generais, tenta imitar o Vanzolini, mas não escreve “Ronda”, mas sim, uma “Frente Ampla”. Mas o que deu na primeira edição foram a Portaria do jurista Gaminha, ex-Reitor da USP, o AI-5 e a morte do Lacerdão.

    Antigo comuna, declarou que o comunismo criaria um regime político mais difícil de derrubar. Infelizmente, não há nenhuma linha que advogue uma relação entre Lacerdão, Olavão e Lobão. Ou mesmo Ferreira Gullar. A não ser pelo conservadorismo e anticomunismo (ou antipetismo?).

    Mas houve o golpe dentro do golpe. Castello Branco seria um violinista, por exemplo, perto do Médici.

    Daí por diante, até as paredes da Tutóia têm histórias para contar.

    Quando do momento do golpe, apesar da crise econômica, ao menos não havia um apoio massivo a uma ditadura. 

    Isso é o que dá ser um tipo apenas “do contra”, pois esse aí pode vir a aceitar qualquer situação que tire do caminho aquilo que não se aceita ou não se quer. Mas tal situação pode não ser melhor.

  2. Havia um claro medo

    A questão não é se havia condição de fazer uma revolução de esquerda, mas sim um tremendo medo, que de fato existia entre muita gente, de que havia a possibilidade disso ocorrer. Mais importante que o dado concreto, é as condições subjetivas.

    Eu mesmo vi sinais extremamente perigosos, ainda que nunca estive a favor do golpe. Lembro-me que na gestão de um ministro da educação, que se não me engano se chamava Paulo de Tarso. Tinha amigo meu, estudante como eu, que era secretario do Ministério, e a principal figura do movimento estudantil do PC tinha muito poder. E isso presenciei no prédio do Ministério. Achei aquilo muito, digamos, estranho.

    Participei do comício da Central, e estive na passeata desde a Av. Rio Branco. Na Presidente Vargas, a certa altura muita gente, creio, que a maioria de estudantes, erguia o braço, como se estivesse empunhando um rifle, ou algo do tipo, e gritavam: Revolução, Revolução. E isso se deu durante um bom tempo. Ali senti que estava próximo o fim do regime e pensei comigo: fudeu! E o movimento dos marinheiros foi uma cacetada nos militares. O que eles mais prezam, a hierarquia, estava sendo virada de cabeça para baixo.

    É verdade que tudo o que relatei se deu pouco antes do golpe, quando este já vinha sendo preparado há muito tempo. Mas deu combustível para a facilidade com o que o golpe foi vitorioso.

    1. Assim como a midia cria,

      Assim como a midia cria, hoje, atraves de uma campanha orquestrada, a impressão de que o pais, apesar do pleno emprego, esta a beira da falencia economica, a epoca, fomentava a ideia de que os comunistas estavam chegando para comer as criancinhas, estuprar as mulheres e ocupar as casas.

      Voce viu “estudantes com os braços erguidos, como se estivessem empunhando rifles”.

      Mas os que, realmente, promoviam passeadas, empunhando metralhadoras de verdade, eram grupos de jovens de direita, liderados por Sergio Lacerda, filho do “corvo”, ou melhor, do governador Carlos Lacerda.

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