Sobre as denúncias de Venícia Fonseca contra a Petrobras e sua atual diretoria

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Sugerido por Webster Franklins

A incrível fábrica de pecadores convertidos na Petrobras

Do Tijolaço

Ontem, ia escrever sobre o suposto aviso de uma gerente  – Venícia Fonseca – de que havia gastos irregulares na área de comunicação da Diretoria de Abastecimento e, depois, na Refinaria Abreu e Lima.

Desisti porque a resposta da Petrobras havia sido pífia, tratando os fatos com uma contenção inadmissível a quem está sendo atacado com acusações desta natureza.

Como a empresa, depois, deu maiores informações e, agora, já é possível tratar do episódio, com fatos e lógica, sem cometer leviandades (adoto o termo de Aécio, para que não restem dúvidas).

Aos fatos e às versões, para que os leitores julguem.

A Folha descreve assim o primeiro caso denunciado pela funcionária:

As primeiras denúncias de Venina Fonseca referiam-se a pagamentos de R$ 58 milhões por serviços que não foram realizados na área de comunicação, em 2008. Segundo a gerente, ela procurou Costa para reclamar dos contratos. Este teria apontado uma foto do presidente Lula e questionado Venina se ela queria “derrubar todo mundo”, relata a reportagem.

O leitor do jornal, portanto, fica supondo que manteve-se a irregularidade.

O que só se reforça, ao final da matéria, quando a Folha vai ouvir “o outro lado” e limita-se a registrar que a empresa “diz ter instaurado comissões internas em 2008 e 2009 para averiguar os indícios de irregularidades em contratos e pagamentos da gerência de Comunicação da diretoria de Abastecimento e que o resultado das análises foi “encaminhado às autoridades competentes”.

Sem que isso implique qualquer desconsideração pelo que teria dito a ex-gerente, era dever da Folha ter registrado que a Petrobras, mesmo numa resposta pífia, que o “ex-gerente da área” (assim, sem o nome, que é Geovane de Moraes) teria sido demitido em abril de 2009, embora tenha conseguido adiar o afastamento com sucessivas licenças médicas. Como, aliás, faz hoje.

E porque não o fez de imediato, quando já sabia que o caso não fora “deixado para lá”, mas tornou-se objeto de apuração na empresa – ao contrário do que diz Venina – e da decisão de demitir o responsável pela “área de comunicação”? Tanto que a própria Folha o publicou em 22 de junho de 2009, inclusive com insinuações nada suaves de que o gerente Geovane de Moraes teria beneficiado interesses petistas.

Repito, não uso de acusações ou defesas levianas, mas de fatos publicados.

E, aliás, recentemente republicados, pela Época, em setembro, onde se fica sabendo que o cidadão é filiado ao PMDB, não ao PT, foi objeto de investigação por ordem da Presidência da Petrobras e que o assunto foi mandado, como deveria ser, à Polícia, mais especificamente à 10a. Delegacia Policial, onde consta do Procedimento 005.07275 do mesmo ano de 2009.

Se o caso era para “derrubar todo mundo”, inclusive o Presidente Lula – cujo retrato, diz Venícia, Paulo Roberto Costa apontou – parece que não se teve medo de apurar, não é?

Se a demissão de Geovane levou tanto tempo para se consumar, por força de licença psiquiátrica, é o caso de saber-se se havia acordo coletivo impedindo demissões durante licença – sei que há garantindo complementação do INSS até por quatro anos, justo o prazo em que ele voltou e foi mandado embora – ou se seu chefe, Paulo Roberto Costa, passou-lhe a mão na cabeça até sua própria demissão, em 2012.

Esclarecido o caso inicial, que é objetivo, passemos ao perfil da denunciante.

Foi, durante muitos anos, pessoa de confiança de Paulo Roberto Costa, muito antes do governo Lula. Trabalhou com ele, no período FHC e foi ele quem a levou, como pessoa de estrita confiança, para a Diretoria de Abastecimento. Coisa que ela própria descreve, no e-mail mostrado ontem no Jornal Nacional:

“Diz que desde 1999, quando conheceu o então diretor, teve muitas oportunidades de crescimento. Destaca que “tendo a sorte de trabalhar com ele, saí de uma situação de extrema pobreza e dificuldade na infância para o cargo de gerente executiva da Petrobras, atuando na diretoria de abastecimento”.

Lá, dirigiu licitações, foi do conselho da refinaria Abreu e Lima e tudo o que se podia esperar de proximidade com alguém que a tirou ” de uma situação de extrema pobreza e dificuldade na infância”.

Durante dez anos, portanto, Venina foi unha e carne com Costa e aceitou suas falcatruas, como parece ter ocorrido ?

E agora, quando a Comissão Interna da Petrobras lhe aponta responsabilidades nos casos que podem, em tese, levar à sua demissão ou arrolamento em processos criminais (além daqueles que responde no TCU), é acometida de uma crise de honestidade e começa a usar um suposto e-mail dirigido a Graça Foster como álibi?

Porque o e-mail divulgado no JN mostra, sem nenhuma dúvida, que Venina foi cúmplice de Costa: “me deparei com a possibilidade de ter de fazer coisas que supostamente iriam contra as normas e procedimentos da empresa, contra o Código de Ética e contra o modelo de gestão que implantamos não consegui criatividade para isso. Foi a primeira vez que não consegui ser convencida a fazer. Não consegui aceitar a forma. No meio do diálogo caloroso e tenso ouvi palavras como ‘covarde’, ‘pular fora do barco’ e ‘querer me pressionar’. Confesso que eu esperava mais apoio e um pouco mais de diálogo”.

Como assim “diálogo”?

– Ah, querida, é só mais uma roubadinha, vai… Eu sei que você é honesta, que aceita eu roubar só por gratidão, e sabe que eu roubo só porque preciso, porque eu estou enojado, já te contei…

Ainda bem que a imprensa brasileira não é levada a sério. Porque, senão, íamos ter uma inflação de santos, tanta gente safada que se “converte” à moralidade quando sabe que, por razões políticas, vai ganhar perdão por suas “delações premiadas”.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

11 Comentários

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  1. Ela me lembra a Lina Vieira, aquela tucana q dirigia a Receita

    Confirmado: Marido de Lina Vieira foi Ministro de FHC

     Alexandre Firmino, acompanhou Lina Vieira no depoimento ao Senado

    O maridão de Lina Vieira (ex-secretaria da Receita Federal), aquela que inventou uma reunião, sem data, nem hora, com a Ministra Dilma Rousseff, chama-se Alexandre Firmino de Melo Filho.

    Foi Ministro da Integração Nacional do governo FHC, interino por quase um ano, no período de 20.08.1999 a 17.07.2000.


    Antes de assumir como ministro, foi secretário executivo do ministério.

    Alexandre Firmino é publicitário e economista. Sua agência “Dois A Publicidade” já atendeu o governo do Rio Grande do Norte (governo do PSB da base governista) e a Prefeitura de Natal (governo demo-tucano do PV, apoiado por Agripino). Também é sócio em gráfica.

    Falta confirmação se trabalhou em campanhas políticas. Há boatos de que já trabalhou na campanha de um famoso senador do DEMos do Rio Grande do Norte. A confirmar.

    Bons policiais sabem que para desvendar um crime que parece inexplicável, uma boa pista é a motivação.

    Pois apareceu a clara motivação política para toda essa encenação.

    Tudo indica que a bancada de senadores demo-tucanos conspiraram de novo, com a mãozinha de FHC e Serra por trás desse teatro todo.

    Ahhhh … Você viu essa informação biográfica do marido de Lina em algum jornal ou blog do PIG (imprensa corporativa)? Viu no Jornal Nacional ou em outro canal da TV? Não leu, nem viu.

    A mídia sabia e sonegou essa informação do distinto público, participando da encenação.

    E qualquer jornalista mais experiente em Brasília sabia disso. Noblat, para dar apenas um exemplo, já trabalhou como marqueteiro na campanha de José Agripino Maia, para governador do Rio Grande do Norte, nas eleições de 1990, e conhece bem os bastidores do poder no Rio Grande do Norte. 

     

  2. Comentei em outro artigo e republico aqui
    Não estranho… O sr. Paulo13/12/2014 – 17:34Não estranho… O sr. Paulo está enojado desde 2009. Porque sra. Venina teria dificuldades em conviver desde 2008 com esta situação? Simples. Foi conveniente; como agora é conveniente “apontar” o outro para que seus dedos sejam salvos. Há inverdades no relato da Sra. e da FSP e impropriedades também. Quem está enojada sou eu. E ainda evocam governança transparente como motivação para este show de horrores. Resultado potencializado por esta nefasta delação premiada – respaldo para os Salieri e alcaguetes de plantão.

    Asqueroso…13/12/2014 – 11:25Me parece que esta Sra. está em busca de ganhos materiais e imateriais. Há muito neste cenário que ainda não está esclarecido. Considerando quem está investigando e porque tenho dúvidas se realmente teremos os esclarecimentos necessários inclusive sobre o contexto e correlação de forças por ocasião das três demissões. Imaginei num primeiro momento que poderia ser vendetta, mas um sr. muito sábio me disse: nada disso, é uma transação comercial.

    Me parece que o relato traz13/12/2014 – 12:04Me parece que o relato traz inversão nos sinais – quem denunciou, quem pleiteou a permanência do Sr. Giovanni, etc… Muito a esclarecer, mas o objetivo não é este. O objetivo é o de, no momento em que a empresa coloca os pontos nos is em um assunto, surgir alguém para dar mais uma estocada – vocês já viram como o touro é fustigado numa tourada ? – e sangrar mais um pouquinho. Há grupos ávidos pelo enfraquecimento da empresa e por seu desmembramento e dissolução. Só quem não acompanha a história para achar que estão todos em busca de governança transparente e combate à corrupção. E claro há os que neste contexto estão enchendo as burras de $$$$ às custas do desgaste.

    Comentei em outro artigo sobre a Petrobras: crise de consciência? Não; conveniência.

  3. Aonde vai parar tudo isso? Eu

    Aonde vai parar tudo isso? Eu é que estou enojado com tanta porcaria. 

    Como se pode chegar a bom termo no que se refere à correta apuração dos fatos e a eventual condenação de culpados se o aparato policial-judicial se imbricou com a politicalha barata, oportunista e anti-Brasil?

    A quem nós, cidadãos, vamos confiar? Em tese teríamos uma “mediadora”, mas esta é a mais suja nesse jogo. Em lugar de nos informar e nutrir com a verdade, nada mais que a verdade, faz exatamente o contrário. 

    Verdade para a mídia é o que vai ao encontro dos seus interesses escusos; impublicáveis. 

    Resta-nos o quê mesmo? Nem rezar, no meu caso, porque sou um agnóstico assumido. 

    1. Asssim o PIG vai causar uns trilhões de reais de prejuizos

      Asssim o PIG vai causar uns trilhões de reais de prejuizos aos brasileiros, só nessa semana a Petrobrás perdeu mais de 100 bilhões de reais. Estão felizes os inimgos do Brasil. Tudo bem que essa investigação tinha que ser feita, o governo quis, o COAF comunicou a irregularidade a PF. Mas esse estardalhaço na midia tem esse propósito de causar prejuizo ao nosso pais. O povo brasileiro tem que se mobilizar contra esse conluio midiático-penal tucano. Que os responsáveis sejam punidos e que o povo seja poupado dos danos que esses abutres querem nos causar por questões que dizem respeito a interesses próprios incofessáveis.

  4. análise madura do brito.
    isso

    análise madura do brito.

    isso é jornalismo.

    coloca os fato. o lietor julga.

    a petrobtás jádeixou claro que a moça éwchantagista.

    agora nesse e-mail ela assume que agiu junto com costa.

  5. Abaixo, posto um documentário

    Abaixo, posto um documentário sobre energia e que “coincidentemente” tem tudo a ver com os podres poderes e  o mesmo modus operandi que atua na tentativa de destruição da petrobras, e nunca é tarde para lembrar que a estatal brasileira domina a tecnologia de extração de petróleo em águas ultra profundas.  Interessante notar que a maioria dos cientistas e pesquisadores de métodos alternativos de energia na atualidade, são oriundos da América Latina . Aproveitam para mostrar como o Brasil construiu o estádio de Brasília com vistas a Copa do Mundo, onde seus benefícios energéticos foram escondidos do povo pela nossa mídia mercenária.  O sucesso de motores que funcionam a base de óleo vegetal fora vislumbrado por Rudolf Diesel já no final do século retrasado, e posto em prática quase um século mais tarde por engenheiros brasileiros.  Mostra também como e porque o nome de Tesla é maldido e excomungado até hoje nos EUA. Retrata, como agem as grandes corporações quando seus interesses são contrariados, e como tecnologias importantes para o avanço da humanidade são escondidas por décadas, se o seu uso não vier acompanhados de lucros exorbitantes, as expensas da sociedade . Revela, como atua a indústria da morte e o assassinato de reputações para aqueles que não se curvam a interesses globalistas escusos. E o mais relevante de todo o documentário, existe tecnologia para extrair energia quase que eterna, a baixíssimo custo, e no entanto, não há o necessário interesse em dispô-la para o consumo universal, por razões óbvias, e por uma penca de motivos elencados ao longo do documentário.   Vale a pena assistir!

    [video:http://youtu.be/yQqeTpx38bI%5D

  6. Divertido!

    Então a forma de se defender de mais essa bomba é falar que a denunciante não era flor que se cheire? Ora, isso é o óbvio! Ou alguém lembra de algum caso de um “santo” que tenha denunciado um esquema de corrupção?

  7. Mas a questão de funfo é:


    Mas a questão de funfo é: desde 2009 a alta administração da PB tinha ou não tinha ciência dos fatos? O comportamento, a vida funcional da ex-gerente Venina, nada disso interessa, uma vez que ela não é quem está sendo investigada ou quem teria, por dever de ofício, de tomar as devidas providências…

    Pois bem, se a alta administração da PB, por meio dos recorrentes avisos acerca do que estava acontecendo na empresa, tinha ciência dos fatos, significa que quem foi depor na CPI mentiu?

    Creio que tais questões é que devem ser esclarecidas, não?

    1. Por favor, leia o post antes de comentar.

      Por favor, leia o post  antes de comentar. Providências foram tomadas. Engraçado que os tucanos não só sabiam como participaram diretamente da roubalheira, mas tudo bem, ninuguém se importa que a Casa Grande roube no atacado, alguns até acham bonito: Cadeia só pro PPPP – Preto, pobre, puta e petista. Se vc se interessar em saber quem realmente rouba nesse pais e tem imunidade prá isso, leia os últimos posts, segue link

      http://www.osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/

  8. Dilma, Graça e Venina: O que diria Confúcio?

    A coluna de hoje do Josias é uma Ode às Ações de Dilma.

    http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2014/12/14/apertem-os-cintos-a-presidenta-do-brasil-sumiu/

    Ele, ingenuamente, tenta listar a “Inação de Dilma”, mas, à la Lao Tsé, ela tem seguido a Estratégia da Ação pela Inação (o correto seria “Não-Ação”).

    http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/espiritualidade/agir-ou-nao-agir-eis-a-questao

    E, a maior prova do sucesso desta Estratégia é o próprio rancor de Josias.

    Falando em Corrupção no Estado, impossível esquecer Confúcio, o “inventor dos “Concursos Públicos”.

    Dilma, busque nele inspirações:

    Livro 2, Verso 19

    O Duque de Ai perguntou,
    “Que devo fazer para obter o apoio do povo?”

     Confúcio respondeu,
    “Eleve os honestos (Graça Foster) sobre os malfeitores, e terá apoio do povo. Eleve os malfeitores  (o “Lindo Casal” Venina/Paulinho) sobre os honestos e não terá o apoio do povo.”

    http://www.anesp.org/todas-as-noticias/2014/9/15/confcio-e-o-concurso-pblico

     

     

    1. A pequenez…
      A pequenez não está em Dilma, certamente. Josias ? A inação é o wu-wei de Lao Tsé. Dificílimo!

      “Seja humilde, e permanecerás íntegro. Curva-te, e permanecerás ereto. Esvazia-te, e permanecerás repleto. Gasta-te, e permanecerás novo. O sábio não se exibe, e por isso brilha. Ele não se faz notar, e por isso é notado. Ele não se elogia, e por isso tem mérito.E, porque não está competindo, ninguém no mundo pode competir com ele”.Lao-Tsé.

      “Existe um aprendizado que nos faz entender o que somos. A partir desta compreensão surge uma maneira totalmente nova de entender: wu wei. Isto significa fazer através da não interferência, deixando acontecer. É a capacidade de deixar o fluxo da vida em poder daquele que é a própria dimensão de nós mesmos e que Lao outrora chamou de TAO.” Em Wu wei, a arte de viver o Tao, de Theo Fisher.

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