Suplicy pode ser trocado por Kassab ou Chalita

Por Filipe Rodrigues

Eu sou um daqueles que concorda, há muito tempo Eduardo Suplicy vem deixando a desejar como senador, mas o PT pensar em troca-lo pelo Kassab é o fim da picada. No Distrito Federal, através do governador Agnelo o partido vem defendendo a hipótese de apoiar a reeleição do suplente do Joaquim Roriz (Gim Argello). O PT apanha por que merece e muita gente ainda reclama das atuais alianças…

Senador do PT há 21 anos, Suplicy enfrenta a ameaça de ser trocado por Kassab ou Chalita 

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) é movido por uma ideia fixa. Fez da renda básica de cidadania o seu projeto de vida. Nas últimas semanas, ele ganhou uma obsessão nova: pega em lanças pelo direito de disputar a reeleição ao Senado em 2014 como candidato do PT. Faz isso porque o presidente da legenda, o companheiro Rui Falcão, já não considera sua candidatura como algo natural.

Signatário do documento que fundou o PT em 1980, ex-vereador, ex-deputado federal e representante da legenda no Senado há 21 anos, Suplicy deseja renovar o mandato. Mas convive com a ameaça de ver sua vaga negociada numa composição do PT com outras legendas.

Entre as alternativas em cogitação estão o neoaliado Gilberto Kassab (PSD) e o deputado Gabriel Chalita (PMDB), protegido do vice-presidente Michel Temer. Para complicar, na eleição de 2014 estará em jogo apenas uma cadeira de senador por Estado. Suplicy, 71 anos, tomou conhecimento de que sua vaga descera ao balcão por meio de uma entrevista de Rui Falcão.

Obteve a confirmação de que o PT de fato cogita abrir mão da candidatura ao Senado ao questionar o presidente do partido numa reunião da bancada de senadores petistas. “Entristecido” com a descortesia de não ter sido sequer avisado previamente, Suplicy informou ao mandachuva do PT que está disposto a guerrear pela vaga numa prévia.

“É natural que deputados federais e estaduais, prefeitos do PT cogitem cogitem disputar o Senado”, disse Suplicy em entrevista ao blog. “Assim também com o Gilberto Kassab e o Gabriel Chalita. Há ainda o Netinho, do PCdoB. Tudo bem. Mas que sejam feitas as prévias. Desse modo, eu considerarei democrático e legítimo.” Por ora, o compromisso de realização de primárias não foi assegurado ao senador.

Deu-se em 2006 a última eleição de Suplicy.  No ano anterior, contrariando decisão do diretório nacional do PT, ele rubricara o requerimento de convocação da CPI dos Correios, a comissão que desaguaria no mensalão. Pois nem nessa época o PT cogitou negar a legenda ao seu protofiliado. Suplicy foi candidato ao Senado sem adversários. Vai abaixo a transcrição da conversa em que o senador relatou os detalhes de sua nova realidade partidária.

– Em que momento surgiram dúvidas sobre a vontade do PT de tê-lo como candidato em 2014? Há cerca de um mês, numa entrevista ao ‘Valor Econômico’, fui surpreendido porque o presidente nacional do meu partido, autoridade máxima da legenda, disse que em 2014 o PT poderia abrir mão da candidatura ao Senado. Como estará em jogo naquele ano apenas uma vaga de senador, ficou implícito que ele se referia à vaga ocupada por mim. Disse que poderia ceder a vaga de candidato ao Senado numa composição com outro partido.

– O sr. não reagiu? O presidente Rui Falcão compareceu a uma reunião da nossa bancada no Senado, hoje somos 12 senadores. Eu disse a ele, perante todos: Rui, você fez uma declaração sobre a qual eu gostaria de ter sido consultado antes.

– E ele? Respondeu numa boa. Disse: ‘Olha, você também não me consultou previamente ao declarar que vai ser candidato ao governo de São Paulo em 2014.

– Mas o sr. tem a intenção de disputar o governo paulista? Eu expliquei para ele o que tinha acontecido. Na semana anterior, um repórter me fez uma visita no meu gabinete e me perguntou a respeito de 2014. Eu respondi que, se estiver com a boa saúde que estou hoje, a partir de 2013 estarei perguntando às pessoas que trabalham comigo, à população de São Paulo e aos filiados do PT o que acham melhor: se vou fazer conferências e escrever livros, se vou cantar com meus filhos Supla e João –às vezes brinco de cantar junto com eles—, se continuo meu trabalho no Senado ou até se me candidato ao governo de São Paulo. E o repórter simplesmente colocou numa matéria sobre o PT que eu seria candidato ao governo de São Paulo. Eu expliquei esse contexto ao Rui.

– Mas, afinal, o governo de São Paulo está nos seus planos? Depois dessa manifestação do presidente do meu partido, eu pensei muito nesse último mês. A conclusão a que cheguei é que serei candidato à reeleição para o Senado. É o que mais combina com os objetivos que tenho traçado para minha própria vida. Me permite maior mobilidade para, por exemplo, como presidente de honra que sou da Rede Mundial da Renda Básica, continuar viajando e atendendo aos convites que recebo para fazer palestras no Brasil e no exterior.

– Depois da manifestação de Rui Falcão e de sua conversa com ele o que aconteceu? Aconteceu que passei a receber estímulos. Fui convidado para comparecer, sábado retrasado, no 4o Congresso da Unas [entidade comunitária com atuação em Heliópolis]. Havia mais de 300 pessoas. Estava lá inclusive o Alexandre Schneider [PSD], que foi vice do José Serra na última eleição. Tinha alguns vereadores, o prefeito de Araçatuba e outros dirigentes políticos. A Cleide, presidente da Unas, disse: ‘estão dizendo aí que o senador Suplicy pode não ser candidato do PT em 2014. Queria saber aqui quem aceita isso’. Eu estimulei. Perguntei quem dos presentes achava que eu deveria ser o candidato do PT, e não uma pessoa de partido coligado. Todos levantaram a mão e disseram que devo ser o candidato.

– Essa aferição informal reforçou sua preferência pelo Senado? Não ficou nisso. No sábado que passou, teve uma reunião plenária para a avaliação dos mandatos do Paulo Teixeira e do Simão Pedro [respectivamente deputados federal e estadual do PT]. Foi no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo. Estavam lá prefeitos do interior, vereadores e lideranças de diversas regiões do Estado. Também umas 300 pessoas. O Paulo Teixeira, antes de me passar a palavra, disse que estava havendo um boato de que talvez eu não fosse o candidato do PT.

– Boato?  Pois é, eu fiz um aparte ao Paulo Teixeira e disse: não foi boato. Foi autoridade maior do partido, o presidente nacional que mencionou que talvez o PT abra mão da vaga para um candidato de partido coligado. Houve uma reação muito forte da plateia. Eu pedi, então, para fazer uma consulta. Uma senhora se levantou e falou: ‘Quero dizer que é inadmissível que você não seja o nosso candidato’. Foi feita uma consulta verbal. Pediram para levantar a mão todos os que achavam que deveria ser eu o candidato. Todo mundo levantou a mão. Foi unânime

– Mas não há outros candidatos à vaga de senador no PT? Eu disse inclusive nessa reunião que sou a favor de fazer prévias. Se houver algum outro candidato do PT ou mesmo de um dos partidos coligados, eu me disponho a debater e participar de uma eleição prévia. Tenho até um projeto de lei, já mandei cópia para o Rui Falcão, prevendo que os partidos, inclusive o PT, passem a fazer prévias envolvendo todos os filiados da legenda e todos os eleitores interessados em partipar. É um modelo que tem sido adotado em muitos países. Pela minha proposta, um cargo majoritário como o de senador também entraria nas prévias.

– Quando essa sua disposição de disputar prévias foi comunicada ao Rui Falcão? Quando ele deu a entrevista mencionando a possibilidade de o PT abrir mão da vaga de senador, eu encaminhei por e-mail. Escrevi que gostaria de participar da próxima reunião do diretório nacional do PT para discutir esses assuntos, inclusive minhas propostas de prévias e de financiamento de campanhas. Para o PT, eu inclusive tendo dito que o partido deve dar o exemplo. Não precisa nem de lei. Todas as contribuições de pessoas jurídicas e físicas devem ser divulgados no sítio eletrônico do partido e dos candidatos. Em tempo real.

– Será que é por isso que não o querem no Senado? [risos] Tenho dito ao partido e ao Rui Falcão que, já em 2006, na minha última campanha para o Senado, eu assim procedi. Coloquei na internet todas as minhas doações. Quem visitasse a minha homepage encontrava todas as contribuições de campanha. Fiz um dia um jantar de arrecadação de fundos. As pessoas poderiam contribuir com R$ 100 ou R$ 500. Mesmo esses nomes, todos eles, foram registrados no meu sítio eletrônico. Então, mandei ao Rui Falcão cópia desse meu projeto e também do outro que prevê que todos os partidos passem a realizar as prévias mais amplas, incluindo os cargos do Legislativo e do Executivo.

– O Rui Falcão respondeu ao seu e-mail? Ele me disse que já conhecia os meus projetos.

– E quanto à sua pretensão de comparecer à reunião do diretório, ele o convidou? Fiquei sabendo que o diretório se reuniria nos dias 7 e 8 de dezembro. Mas coincidiu que no dia 8 estava marcada a minha última aula na FGV. Não pude vir a Brasília.

– Mas houve um convite para que participasse da reunião do diretório? Ele não chegou a me avisar, mas fiquei sabendo e, como senador, eu teria direito à palavra no encontro.

– Como ficou resolvida, então, essa questão relacionada à sua candidatura ao Senado? Na reunião com a bancada do Senado, o Rui Falcão disse há a possibilidade de o PT ceder a vaga a um partido coligado. E isso ficou em aberto.

– E aí? Nesta quarta-feira (19), eu telefonei para o presidente do PT de São Paulo, o deputado estadual Edinho Silva. Perguntei a ele se, por acaso, no âmbito da direção estadual, havia essa cogitação. Ele me disse: ‘em absoluto, Eduardo. Imagina! Não há um movimento nesse sentido. Quero lhe assegurar que vou defender que você seja o nosso candidato ao Senado em 2014’. Disse a ele que gostaria de conversar. Combinamos de nos encontrar nesta sexta-feira (21). Estarei em São Paulo para um encontro que a presidenta Dilma e o presidente Lula terão, na quadra do Sindicato dos Bancários, com o povo da rua e os catadores de material reciclável. Fiquei de conversar nesta oportunidade com o Edinho.

– Em que medida a cogitação do Rui Falcão afetou o seu ânimo partidário? Fiquei um pouco entristecido. Ainda mais porque, cerca de dez dias depois da entrevista dele, houve a cerimônia do Congresso em Foco para a premiação dos melhores parlamentares do ano. Eu e o Pedro Simon fomos entrevistados pelo Congresso em Foco por estarmos sempre entre os melhores. Neste ano de 2012, na escolha do melhor entre todos os senadores, houve uma lista dos cinco melhores: Pedro Simon, Pedro Taques, Randolfe Rodrigues, Cristovam Buarque e eu, em primeiro. Foi uma pesquisa com internautas. Opinaram 200 mil internautas no Brasil inteiro. Daí, muitas pessoas me perguntaram: como é que o presidente nacional do partido diz aquele que foi considerado o melhor senador deste ano talvez seja substituído por um candidato de outro partido?

– Acha que Rui Falcão está cogitando ceder a vaga para quem? Seriam o Gilberto Kassab, do PSD, ou o Gabriel Chalita, do PMDB? São os dois mais mencionados.

– Ele chegou a mencionar esses nomes na reunião com a bancada? Não chegou a mencionar. Mas tem sido colocado como possibilidades.

– Os seus colegas de bancada se manifestaram? Na reunião da bancada desta semana, realizada na quarta-feira, eu perguntei aos outros 11 senadores do PT se algum deles avaliava que eu não deveria ser o candidato do partido. Todos disseram que acham que eu devo ser o candidato. Eu até disse a todos que agradeceria se pudessem transmitir essa opinião ao presidente Rui Falcão.

– Desde que chegou ao poder, o PT tem feito alianças heterodoxas. Na última eleição de São Paulo, aliou-se até ao Paulo Maluf. Acha que o partido se desfigurou? É possível que o querido presidente Rui Falcão esteja fazendo uma avaliação de que, para que o partido tenha maior força política em São Paulo, seja necessário formar a coligação cedendo alguns postos. Se o partido quiser ter um candidato a governador, possivelmente cederá a vaga de candidato a vice-governador. E como haverá apenas uma vaga em disputa para o Senado, talvez queiram também dispor dessa vaga. É uma reflexão política realista. Claro que, para outro partido grande e forte, é muito interessante ter o candidato da coligação ao Senado apoiado pelo PT. Mas acho, sinceramente, que uma forma democrática de resolver esse problema é fazermos a prévia entre os possíveis candidatos de outros partidos e do PT.

– Há outros candidatos ao Senado no PT? Já me informaram que talvez existam. É natural que deputados federais e estaduais, prefeitos do PT cogitem disputar o Senado. Assim também com o Gilberto Kassab e o Gabriel Chalita. Há ainda o Netinho, do PCdoB. Tudo bem. Mas que sejam feitas as prévias. Desse modo, eu considerarei democrático e legítimo. Se o próprio Rui Falcão, o Ricardo Berzoini, o Emídio de Souza, o Aloizio Mercadante, o Alexandre Padilha ou qualquer outro quiser disputar, poderá fazê-lo por meio das prévias. Tem outro nome que seria muito forte. Você sabe quem é.

– O Lula? Outro dia ele andou brincando com essa ideia. Soube que ele disse que o Senado é como se fosse o céu. Creio que saiu publicado. Ele chegou a citar o Darci Ribeiro, se não me engano, para dizer que entrar no Senado é como entrar no céu.

– Não vi nada a respeito, mas o Lula, se tivesse esse interesse, seria imbatível no PT, não? É claro que seria um candidato muito forte. Já tive a experiência de disputar prévias com ele, em 17 de março de 2002. Compareceram 172 mil filiados. Ele teve teve 84,4% dos votos. Eu tive 15,6%. Mais do que imaginavam. Naquela época, certo dia, a Marta [Suplicy] me disse: ‘Eduardo, tome cuidado, porque estão dizendo que você não vai ter nem 5% dos votos e que vai ser um desastre para sua carreira política participar dessa prévia’. Eu acabei participando. Não formulei críticas ao Lula, defendi ideias. Quando ele venceu, no mesmo dia eu disse que estaria empenhado na campanha dele até fechar as urnas, como realmente fiz.

– Supondo que ocorra o pior, que o PT escolha um candidato ao Senado de outro partido sem fazer prévias, o sr. cogita disputar o Senado por outra legenda? Não. Eu sou a favor da fidelidade partidária. Não seria correto da minha parte, deixar o PT em meio ao mandato de senador. Se viesse a ocorrer uma decisão de mudar de partido eu antes cumpriria o meu mandato e não seria, portanto, candidato por outro partido durante esse período em que sou senador. Continuo a defender aqueles princípios que levaram líderes sindicais e intelectuais, no segundo semestre de 79, a me convidarem para ser um dos fundadores do PT. Fizeram o convite porque acharam que o que eu defendia e o que o PT proclamaria no seu programa eram ideias coincidentes. Então, fui fundador do PT em 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion. Continuo a defender os mesmos princípios e ideais de construção de uma nação justa e civilizada, por meios democráticos.

– E depois de encerrado o mandato, consideraria a hipótese de deixar o PT? Sinceramente, a minha convicção, formada a partir da intereção que tenho com os filiados do partido, é a de que todos me querem dentro do PT e não agirão para que eu saia do partido. Essa é a minha convicção.

– O sr. diz que seus princípios e ideais não se alteraram. Mudou o PT? O que posso dizer é que, de minha parte, continuarei a lutar para que o partido seja cada vez mais incisivo na defesa da democracia, da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa, da ética na vida política.

– Considerando-se os últimos episódios, acha que sera ouvido? Ainda nesta semana, alguns senadores do PT expressaram solidariedade ao presidente Lula em função dessas denúncias do Marcos Valério. Em aparte ao senador Wellington Dias eu disse: olha, o testemunho que eu quero dar é que foram muitas as ocasiões, na minha convivência com o presidente Lula, em que ele disse a mim que, para nós do PT, a questão ética é fundamental. Para mim também a ética é essencial.

Luis Nassif

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