TV GGN 20h: A vacina do Butantã e o risco de prisão para a Lava Jato

Confira o comentário diário de Luis Nassif sobre os últimos acontecimentos da economia e política do Brasil nesta sexta-feira, 26 de março

Jornal GGN – Na abertura do programa, os dados diários da covid-19 no Brasil: 84.245 novos casos, com a média chegando a 76.146 – o segundo maior registro de casos, abaixo apenas dos 77.050 apurados nesta quinta-feira.

Na análise estadual, 14 estados mostram crescimento no número de casos, nove estados têm quadro de estabilidade e outros quatro estados mostram queda no total de casos.

Quanto ao total de óbitos, 3.650 pessoas perderam a vida nesta sexta-feira, enquanto a média de óbitos bateu o recorde visto em toda a pandemia, chegando a 2,4 mil mortes de média. Em termos estaduais, 16 estados aumentaram o total de mortes registradas, enquanto os dados ficaram estáveis em 10 estados e apenas um estado registrou queda.

Nassif conversa com Larissa Brussa, biotecnologista e membro da Rede Análise Covid-19 de divulgação científica. Em foco, a vacina anunciada pelo Instituto Butantan, a ButanVac. “Hoje, nós fomos surpreendidos com essa notícia do Instituto Butantan”, diz Larissa. “É uma vacina que, ao que tudo indica, vai ser bastante promissora para nós completarmos nossa estratégia de vacinação”

“Quanto às datas, foram divulgadas algumas datas que particularmente, eu e outros colegas da ciência achamos um pouco precipitados”, diz Larissa, ressaltando que os ensaios clínicos demoram certo tempo.

Sobre o funcionamento da produção de vacinas com vírus inativado, Larissa considera a estratégia “bastante interessante”. “Ela usa uma plataforma já bastante conhecida para a produção de vacinas, que é o uso de ovos embrionados de galinha. Eles conseguiram fazer uma técnica muito interessante de colocar o gene da proteína spike do novo coronavírus na sequência de um vírus que infecta esses ovos de galinha”, diz a pesquisadora.

“Com isso, esse vírus que foi construído de maneira sintética vai se reproduzir nos ovos das galinhas, se multiplicar milhões de vezes dentro dessas células e depois esse vírus é purificado, ele é inativado e também fragmentado”, ressalta a biotecnologista. “Esses fragmentos é que vão compor a vacina. Esses fragmentos vão ter a proteína spike do novo coronavírus, que foi utilizado para infectar os ovos. Então, é uma tecnologia muito interessante, uma sacada muito legal que o Butantan teve para produzir essa vacina”

“É interessante a maneira como o Brasil descobre a ciência”, diz Nassif. “Esse tempo todo, você pega em São Paulo, nas últimas gestões, o abandono de ciência e tecnologia (…) Quando termina o governo do FHC, a melhor equipe que tinha era a equipe de ciência e tecnologia (…) Eles poderiam ter feito aqui uma explosão tecnológica, e o Serra só via a universidade e a pesquisa como uma ameaça”

Para Nassif, “o medo supersticioso que o Bolsonaro tem de tudo que é de esquerda o Serra tinha de tudo quanto era conhecimento, que ele achava que a academia não gostava dele”.

Os ataques ao Instituto Butantan

“Um pesquisador da Fiocruz informou que existem estudos pré-clínicos para desenvolver, também, uma vacina da Fiocruz em parceria com a Biomanguinhos, mas nada oficial, apenas um pesquisador que informou sobre isso”, diz a repórter Patricia Faermann.

Nassif e a Patricia comentam os sucessivos ataques sofridos pelo Instituto Butantan nesses últimos anos com relação a verbas.  “A gente demonstrou que o Instituto Butantan vem sendo usado como vitrine de campanha desde o governo de Geraldo Alckmin”, diz Patricia. “Como todos sabem, o Butantan é referência em saúde pública e é responsável pela produção das vacinas de gripe”.

“As remessas das vacinas de gripe para o Ministério da Saúde, para as campanhas anuais, é feito pelo Instituto Butantan em São Paulo”, explica Patricia. “Só que mesmo as vacinas contra a gripe, hoje em dia, boa parte delas não é inteiramente do Instituto Butantan. São estruturas de parcerias público-privadas e parcerias com outras empresas”, diz a jornalista.

“Existem anos de um cenário de denúncias de desmonte do Instituto Butantan,  tanto em questão de estrutura, com manutenções que são feitas nas fábricas e laboratórios que nunca terminam, até a questão de pessoal”.

“A gente deu uma olhada nos relatórios do Instituto Butantan e, de forma muito curiosa, o último relatório é só até o ano de 2018. Ou seja, ainda não tem relatório das atividades do Instituto Butantan do governo de João Doria”.

“No ano de 2014, só para ter uma ideia, foram diversas vacinas produzidas, com um total de 93,6 milhões de doses distribuídas, entregues, pelo Instituto Butantan, ao Programa Nacional de Imunizações. Quatro anos depois, no último relatório (de 2018), as vacinas foram 77,139 milhões. Ou seja, houve uma redução de mais de 16 milhões de doses de vacinas, ao passo em que as demandas vão aumentando (…)”, ressalta Patricia Faermann.

“Também houve uma redução de pesquisadores: o número de pesquisadores em 2014, total, era de 153 pesquisadores no Instituto Butantan, para um total de 110. Ou seja, quase 40 pesquisadores que se perderam em quatro anos”. A íntegra da reportagem sobre os ataques sofridos pelo Instituto Butantan nos últimos anos pode ser vista clicando aqui.

Nassif ressalta outro ponto a ser explicado: os comercializadores de energia. “Tudo quanto é grande investidor, XP, BTG, todo mundo indo para os comercializadores de energia. Quando completar a privatização da Eletrobras, o mercado de energia vai explodir de preço e o lucro desses caras são as tarifas que os consumidores vão pagar”, diz Nassif

Ao comentar o noticiário do dia, Nassif critica a tributação dos cilindros de oxigênio, cujo aumento teve o aval do Ministério da Saúde. “É inacreditável a quantidade de asneira que ele (Eduardo Pazuello) fez. Pelo menos tem o almirante lá da Anvisa (Antônio Barra Torres) que colocou o compromisso com a pátria acima de lamber bota do Bolsonaro e impediu que a Anvisa fosse avacalhada”.

Sobre a reunião de 30 anos do Mercosul, que Bolsonaro deixou antes do final, Nassif diz que “é inacreditável, não tem jeito de enquadrar o Bolsonaro. Ele não sabe viver esse papel, ele não tem verniz, a menor informação e paciência para administrar isso. Ele (Bolsonaro) é um cara que se vangloria com a morte, e as únicas manifestações mais ou menos civilizadas é quando ele lê naquele estilo tatibitate dele (…)”

Em sua primeira coletiva, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga parece querer se desvencilhar do fantasma de Bolsonaro ao falar da importância da máscara e do isolamento.  “Só isso basta? Evidente que não, vai ter que ter uma noção clara de como vai ser esse conselho que o Bolsonaro só convidou governadores amigos”

“O Bolsonaro é tão lerdo que você tem a Fiocruz trabalhando em uma vacina brasileira e o Butantan trabalhando em uma vacina, e aí o Doria sai correndo e anuncia antes de estar pronta”

O risco de prisão para a Lava-Jato

Nassif faz um comparativo entre as fábulas gregas e a operação Lava-Jato: “os procuradores de Curitiba acharam que podiam ser semideuses, quiseram brigar com os semideuses. Semideuses são só o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e o STF (Supremo Tribunal Federal), para baixo é tudo cara pálida”

“Você tinha um juiz em Brasília que era o mais terrível de todos (…) Em Curitiba, você tinha os procuradores que eram a marca da maldade. Nenhum respeito por ninguém, vê o que fizeram de humilhação com a dona Marisa e hoje o TJ-SP reconheceu o óbvio: que o triplex não era dela. E o que a Lava-Jato dizia: era lavagem de dinheiro. Todo conceito de lavagem de dinheiro é você pegar o dinheiro, pode ir para outro lugar e voltar. Aqui não, eles criaram a lavagem de apartamento”.

“Você também tinha desembargadores impiedosos com a justiça e com a imagem da Justiça Federal em Porto Alegre, um ministro do STJ implacável endossando todas as arbitrariedades. Então, se formava um ciclo de terror que era a Lava-Jato”, explica Nassif.

“Essa molecada tão despreparada achou que eram os novos poderosos, não perceberam que eles tinham um roteiro fixo (…) E tentaram avançar sobre os ministros do STJ pegando um fato concreto: filhos de ministros que têm escritórios de advocacia muito requisitados e que ficaram mais requisitados com a Lava-Jato”, explica Nassif.

Diante dessa tentativa, o STJ responde: “agora, o Humberto Mesquita (Humberto Martins, presidente do STJ) resolve atuar de ofício, ameaçando busca e apreensão em cima do pessoal da Lava-Jato, Deltan, Paludo (…) Se fosse pegar o poder arbitrário dele, se fosse manter o espírito da Lava-Jato, esse pessoal estaria preso. Mas não pode, não pode. Você tem algo que é nebuloso que é essa atuação de filhos de ministros do STJ (…)”.

“Você tinha um conjunto de linchadores, e vamos linchar os linchadores? Não. Isso é fazer o jogo dos linchadores. Então, essa atuação do presidente do STJ e os procuradores da Lava-Jato, esse pessoal tem que ser julgado, condenado e pagar pelos crimes que fizeram. Não pode um presidente do STJ chegar e decretar, de ofício, investigação. De jeito nenhum”, diz Nassif.

“Esse pessoal tem que ser esmagado pelo discurso do Direito, tem que ser desmoralizado pela volta da Constituição e dos códigos. Fazer o jogo deles, usar todos os abusos que eles fizeram contra eles, é endossar”, afirma Nassif.

Redação

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