Uma noite de São Bartolomeu no Brasil?

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Em seu clássico “Declínio e Queda do Império Romano”,  Edward Gibbon  afirma que a religião é o refúgio do crédulo, um instrumento político nas mãos dos estadistas inescrupulosos, fonte de riqueza e boa vida para o clero e, principalmente, motivo de riso para os filósofos. A isto poderíamos acrescentar outra coisa: as religiões também são o fermento das guerras civis.

A Noite de São Bartolomeu (24 de agosto de 1572) em Paris, França, é uma prova eloquente de como as desavenças religiosas e políticas podem rapidamente degenerar em conflitos sangrentos. O mesmo pode se dizer da Guerra Civil Inglesa (também chamada de Revolução Inglesa) que de 1642 a 1649 ceifou milhares de vidas de católicos e protestantes na Inglaterra.

Nos últimos meses, talvez embriagados pelo poder conquistado na Câmara dos Deputados (atualmente presidida por um pastor) os evangélicos tem se tornado mais e mais agressivos. Em Minas Gerais uma mulher foi presa destruindo a imagem ao lado de uma Igreja Católica http://g1.globo.com/mg/vales-mg/noticia/2015/03/mulher-e-presa-destruindo-imagem-de-igreja-com-golpes-de-enxada-em-mg.html . A perseguição a Mãe Dede de Iansã por evangélicos pode ter causado a morte dela na Bahia http://oglobo.globo.com/sociedade/religiao/parentes-de-ialorixa-morta-dizem-que-ela-teve-infarto-causado-por-perseguicao-religiosa-16396381 . Uma imagem da Virgem Maria foi quebrada e, depois, mijada em público no Amazonas http://portaldoamazonas.com/evangelicos-urinam-e-depois-queimam-imagem-de-nossa-senhora-na-regiao-de-cajazeiras . Isto para não falar dos linchamentos fatais que foram legitimados por jornalistas evangélicos como Rachel Sheherazade e das campanhas homofóbicas conduzidas por Malafaia, Marcos Feliciano e outros pastores de igual ou pior calibre.

Paciência tem limite. O brasileiro não é um povo pacífico, nem cordial. Nossa História é recheada de episódios de violências inenarráveis praticadas tanto por agentes do Estado quanto por milicianos inspirados por razões religiosas (guerra contra os invasores holandeses protestantes), raciais, econômicas, políticas, ideológicas e até trabalhistas.

Não sou religioso, apenas um observador atento dos fatos. Tenho percebido que os evangélicos, instigados por seus líderes políticos e midiáticos, estão brincando com fogo. Quando se queimarem não ficarei surpreso. Antes disto, porém, creio que o MPF e a PF precisam fazer algo, como por exemplo, infiltrar agentes policiais nos templos-caixas-registradoras para coletar informações. Em seguida os líderes políticos e religiosos que fomentam a intolerância e a violência evangélica contra aqueles que consideram ser os inimigos da fé e dos templos deles (gays, católicos, umbandistas, etc…).

É melhor que os responsáveis pela intolerância sejam identificados e respondam na forma da Lei, antes que toda legalidade seja destruída nas ruas. Uma reação direta e organizada dos membros das outras religiões e grupos sociais que tem sido perseguidos, agredidos, humilhados e sistematicamente provocados por evangélicos não é desejável, nem pode ser estimulada. Contudo, a inação do Estado pode ser percebida como conivência e neste caso as autoridades encarregadas de preservar a legalidade estarão flertando com a barbárie. Se o Estado se recusar a tomar providências as vitimas podem se convencer de que devem encontrar na vingança privada e coletiva um substituto necessário à  justiça que lhes tem sido negada.

Este tema é espinhoso e desagradável. Por isto, sugiro aos leitores acalmarem seus ânimos escutando Raul Seixas e Marcelo Nova enquanto as autoridades fazem o que deve ser feito.
 
https://www.youtube.com/watch?v=-9GqHQ2PHQs
 
Fábio de Oliveira Ribeiro

22 Comentários

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  1. A última frase deste

    A última frase deste parágrafo ficou sem sentido. Favor ler a seguinte versão:

     

    Não sou religioso, apenas um observador atento dos fatos. Tenho percebido que os evangélicos, instigados por seus líderes políticos e midiáticos, estão brincando com fogo. Quando se queimarem não ficarei surpreso. Antes disto, porém, creio que o MPF e a PF precisam fazer algo, como por exemplo, infiltrar agentes policiais nos templos-caixas-registradoras para coletar informações. Em seguida os líderes políticos e religiosos que fomentam a intolerância e a violência evangélica contra aqueles que consideram ser os inimigos da fé e dos templos deles (gays, católicos, umbandistas, etc…) devem ser intimados para responder por seus atos.

  2. Concordo, mas… deixo uma

    Concordo, mas… deixo uma “mas” bem grandão.  Este tema mexe com parte de gente um tanto carola (o rebanho), pra não dizer gente esquizofrência. Diante de uma medida de parar os religiosos fomentadores do ódio, podem acabar fortalecendo o argumento que a fé deles está sendo atingida e então sendo perseguidos, e assim chamar os carolas ficarão mais insanos do que estão. também não fazer nada esperando o circo pegar fogo, não é a melhor medida.

    Vê como é complexo este assunto e bem difícil de solução.

    É preciso que fique bem claro para todos que existe liberdade religiosa, e que se grupos forem contra a liberdade do outro, é processado.  Quem sabe com exemplos didáticos possa se fazer alguma, só não acabam com os esquizofrenicos. 

  3. Essas guerras históricas nada

    Essas guerras históricas nada tinham a ver com religião… Eram simplesmente brigas de poder entre a monarquia e burguesia…

    1. Errado. Cada grupo tinha sua
      Errado. Cada grupo tinha sua religião e a virulência do conflito foi maior justamente em razão da impossibilidade religiosa de coexistência ou acordo. O mesmo ocorreu na Inglaterra. E se o Estado não intervir para frear a “vontade de domínio” dos evangélicos isto vai ocorrer no Brasil também.

  4. Ótimo texto, Fábio. Acho que

    Ótimo texto, Fábio. Acho que só faltou mencionar a atual carnificina existente hoje no Oriente  Médio sobretudo devido a guerra entre sunitas e xiitas. Guerra essa fomentada pelas grandes potências do Ocidente.

  5. Uma noite de São Bartolomeu no Brasil?

    Desde o ano 2000 que alerto nos jornais nos jornais impressos ou através da internet,sobre as atitudes dos auto-intitulados “evangelicos” em nosso pais,e, vejo com preocupação o avanço do odio e intolerancia praticados por membros de tais igrejas, começaram apoiando certos candidatos,que uma vez eleitos,encheram os orgãos da administração publica, municipal,estadual e federal de “irmãos”, em os lugares possiveis da administração publica e privada estão fazendo seu proselitismo, em lojas, onibus, restaurantes, supermercados, estão ao menos distribuindo panfletos sobre a salvação, o cidadão está sendo achacado em todo e qualquer lugar por conhecedores da biblia e das maldições aos “impios” que teimam em não aceitar Jesus a maneira deles.

    Já citei que corremos o risco de o Brasil virar uma Irlanda, aqui e em varios locais, evangelicos invadem terras, destrouem o meio ambiente, fazem “barracos” que posteriormente são transformados em imovis de classe-media, pois os mentores das invasões são bancados por lojas de material de construção, até um pastor (deputado federal), tirou CPF e RG adicionais para ser socio de uma destas empresas, o processo está no STF.

    Ninguem toma providencias,eu mesmo já citei que autoridades se infltrassem a paisana em tais locais para flagrar crimes de intolerancia,ou incitação a desordem, tal como faziam os militares (quando infiltravam agentes do SNI para assistir missas e fazer relatorios dos sermões.

    A noite de São Bartolomeu aconteceu por um acumulo de ataques perpretadospor “protestantes” contra catolicos, em março de 1527 20.000 soldados alemaes e 10.000 mercenarios espanhois, instigados pelos discursos de odio porferidos por Lutero, invadiram Roma e no 1º dia mataram 20.000 pessoas, alem de estrupar e saquear tudo que puderam,o intento era matar tambem o Papa, mas ao topar com 190 guardas suiços em um corredor,1800 protestantes foram mortos contra 100  guardas suiços, o Papa escapou. este episodio é conhecido como  “A queda de Roma”, somando-se a este outros atentados como a matança de padres e freiras comandado por Henrique VIII e outros como Calvino,  o caldo foi fermentando e desembocou na noite de São Bartolomeu posteriormente.

    Sabemos que o brasileiro não é um povo pacifico, pessoas já foram mortas por causa de centavos, e causas banais, no dia em que canalizar sua ira contra os maus dirigentes deste pais, poderemos ter guerras civis violentas, e, até guerras religiosas, causadas por quem tinha o poder de cortar a erva-daninha enquanto ela estava em crescimento e nada fez.

    Enquanto isto os intolerantes vão continuar pregando o odio e suas ideias na “marra” nas TVs nos radios, nas ruas, pontos de onibus, de porta em porta, agua mole em pedra dura tanto bate …

    1. Sim, é possível

      Tenho feito na internet, através do Facebook, e até mesmo aqui no Nassif, o mesmo alerta que você tem feito. Até a comparação com a Irlanda, já usei na minha argumentação. O ovo da serpente está chocando na Câmara de Deputados; no Senado, por a eleição ser majoritária, a coisa ainda está sob controle, mas é só questão de tempo. Se o Ministério da Justiça e o Ministério Público, não cumprir com a sua obrigação de investigar esses pastores midiáticos, que exploram a boa-fé de pessoas – na maioria das vezes ingênuas, não tenho dúvida de como tudo vai acabar.

  6. ” A perseguição a Mãe Dede de

    ” A perseguição a Mãe Dede de Iansã por evangélicos pode ter causado a morte dela na Bahia http://oglobo.globo.com/sociedade/religiao/parentes-de-ialorixa-morta-dizem-que-ela-teve-infarto-causado-por-perseguicao-religiosa-16396381 . Uma imagem da Virgem Maria foi quebrada e, depois, mijada em público no Amazonas http://portaldoamazonas.com/evangelicos-urinam-e-depois-queimam-imagem-de-nossa-senhora-na-regiao-de-cajazeiras . “

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     Simbolos e sentimentos religiosos devem ser preservados, a promoção da intolerancia e do ódio às religiões e ideologias deve ser combatida pelo potencial de conflito social que trazem embutidos em si e que a história não cansa de dar exemplos.

    O problema é que essa intolerancia e esse discurso de ódio não são exclusividade de alguns lideres evangelicos apenas. Na sociedade como um todo, essa praga está mostrando sua face também em setores laicos, como vimos na parada gay desse ano, em que um travesti nu se colocou na cruz, usurpando um simbolo sagrado dos cristãos para sua causa e comparando seu sofrimento ao sofrimento do Cristo.

    Certos aspectos do neo-ateismo também têm se mostrado particularmente agressivos e intolerantes com os sentimentos religiosos, relacionando-os à ignorancia ao fanatismo, ao terrorismo, insinuando assim que os religiosos representam uma perigosa ameaça à sociedade, e assim seria preferível que eles simplesmente não existissem, proporcionando uma justificativa lógica e racional, ainda que não explicita ou intencional para qualquer maluco propor o cerceamento da liberdade religiosa ou a perseguição de religiosos, pois estariam apenas defendendo a humanidade de uma mal maior.

    Embrulhados em um discurso frequentemente preconceituoso e intolerante, além de simplorio intelectual e filosóficamente, acabam por promover um acúmulo de ressentimentos na sociedade, formam o caldo de cultura ideal para criar um oportuno bode expiatório na eventualidade não tão improvável assim, perda da precaria coesão social brasileira.

    Surpreende realmente a passividade com que as autoridades e a dita sociedade civil organizada assiste à propagação do fenômeno.

    Medidas urgentes precisam ser tomadas, a começar pela punição dos discursos de ódio propagados via internet contra religiões e ideologias. Quem conhece um pouco de história sabe a ameaça que a manipulação politica desses sentimentos tem potencial explosivo e deve ser interrompida o mais cedo possível.

     

     

     

     

     

    1. Resposta exemplar de alguém
      Resposta exemplar de alguém que confunde liberdade de religião com liberdade de agressão e transfere para o outro (o inimigo) a culpa das agressões cometidas por evangélicos. O acúmulo de pressão não é provocado por mim ou por quem exerce sua liberdade de expressão e sim por quem comete a agressão ao outro (gays, católicos, etc… ). Quando da reação os evangélicos não serão apenas vítimas, mas vítimas de seus próprios atos intolerantes. Melhor as autoridades começarem a enjaular os líderes evangélicos que fomentam a guerra civil.

      1. Jaulas

        “Melhor as autoridades começarem a enjaular os líderes evangélicos …”

        Tem certos casos que dão a impressão que a unica solução seria enjaular ou amordaçar mesmo. Mas eu ainda acho preferível apelar para o bom senso da sociedade civil organizada.

        1. Interessante … você
          Interessante … você acredita que há ou pode haver sociedade entre católicos devotos da Virgem e evangélicos que quebram a imagem da Virgem e mijam nela. Você diria que há sociedade se católicos irritados começarem a incendiar templos evangélicos?

          A inação estatal é perigosa. Aqueles que a desejam também são perigosos?

    2. Nunca vi Católicos, Espiritas ou Umbandistas…

      Promovendo culto numa sessão do Congresso Nacional, e no entanto:

      http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/06/deputados-interrompem-sess

      Com cartazes com cenas de sexo explícito e imagens sagradas, parlamentares da bancada evangélica interromperam nesta quarta (10) a votação de um dos pontos da reforma política – a análise sobre o fim do voto obrigatório – no plenário da Câmara em uma manifestação contra a profanação da fé durante a Parada Gay, que aconteceu em São Paulo no último domingo (7).

      Sob a presidência de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que também é evangélico, dezenas de parlamentares adentraram o plenário aos gritos de “respeito” e “família”. Eles contornaram os assentos dos parlamentares e subiram para a mesa e tribunas do plenário. De mãos dadas, rezaram o Pai-Nosso e encerraram a manifestação bradando “viva Jesus Cristo”.

      Autor de um projeto de lei, protocolado nesta semana, que torna crime hediondo a profanação de símbolos religiosos e a discriminação de religiões, chamada de “cristofobia”, o deputado Rogério Rosso (PDT-DF) fez um discurso em seguida. Ele afirmou que os manifestantes pró-LGBT estão “fazendo o que ninguém imaginava, que é unir todas as religiões”. Outros deputados da bancada também discursaram contra a Parada Gay.

      Ao final do ato, o deputado Roberto Freire (PPS-SP) reclamou do ato, que em nenhum momento foi repreendido pelo presidente da Casa. “Eu respeitei a manifestação mas não pode ter nenhuma reza neste plenário. Tem que se respeitar o plenário”, afirmou. Ele foi vaiado por alguns deputados da bancada evangélica. “Vamos respeitar a República laica brasileira”, completou.

  7. Acho que não dá

    infiltrar agentes policiais nos templos-caixas-registradoras para coletar informações.

     

    Acho que legalmente os religiosos podem falar o que quiserem no altar.

    A melhor maneira de pegar eles é o método clássico de pegar pilantras: seguindo o dinheiro.

     

     

      1. Igrejas, fundações, Ongs e

        Igrejas, fundações, Ongs e etc, só sáo isentas de impostos sobre renda ou lucros, porque, evidentemente, não são instituiições com intuito de se obter lucro.

        Isso não significa que não tenham que pagar diversos outros impostos, sobre folha de pagamento, sobre produtos e outros diversos.

        Nem que não tenham que ter contabilidade.

         

    1. Errado. Liberdade de religião
      Errado. Liberdade de religião não é igual a permissão para incentivar crimes, ódios e violências motivadas pela fé. A PF pode e deve agir.

      1. Teoricamente, mas….

        Na prática não acontece nada.

        Feliciano já falou (video no YouTube) que os negros eram amaldiçoados.

        Ninguém da policia nunca vai atrás de pastores.

        1. Este não é um bom argumento

          Este não é um bom argumento para desistir de invocar ao Estado o exercício de uma atividade pública que não pode ser limitada, reduzida ou evitada em razão da religiosidade do suspeito. Se os cidadãos agredidos permitirem a agressão por razões religiosas e desistirem de cobrar das autoridades o respeito à Lei, a única saída para aliviar o aumento da tensão será a vingança privada coletiva e esta não é nem desejável, nem legítima.

  8. Esses caras são tão

    Esses caras são tão evangélicos quanto o pessoal da AlQaeeda é muçulmano: neca. São um bando de loucos e/ou oportunistas com agenda própria. 

  9. Historicidade

    Penso que para escrever um artigo usando como pano de fundo um fato histórico o autor deveria conhecer a história menos superficialmente.

  10. Eu parei de ler quando ele

    Eu parei de ler quando ele citou uma suposta apologia ao linchamento atribuida a pessoa da Raquel.

    Não foi isso o que ela fez, mas ao citar algo falso como verdadeiro já demonstra que o texto padece do vício que atribui a terceiros…

    1. Há vídeos dela defendendo a
      Há vídeos dela defendendo a legítima defesa coletiva, algo que não é permitido pelo Código Penal. O linchamento (vingança privada coletiva que foi chamada eufemisticamente de legítima defesa coletiva) é crime.

      Você não quer entender isto ou entendeu tudo e está apenas legitimando os crimes que foram cometidos mediante incentivo jornalístico?

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