Uma reforma administrativa com foco errado

Não existe nada pior na administração pública do que as medidas tomadas de afogadilho. Principalmente quando mexem com processos internos da máquina pública.

A estrutura do Estado é diferente de uma empresa privada. Na empresa privada há um objetivo unificador: o lucro. E toda uma literatura a respeito da organização de cada setor, identificando as melhores práticas.

O setor público é diferente. Ele deve refletir a própria estrutura social e política da República. Por isso mesmo não se move por manuais, mas por construções sociais e econômicas personalíssimas.

***

A transformação de secretarias de direitos humanos em Ministérios foi uma dessas obras sociais construídas ao longo de anos. Abriu-se espaço para as novas bandeiras. Esses espaços foram sendo apropriados por representantes dos mais diversos setores. Depois, ganharam status de Ministério, podendo transitar por outros ministérios através de políticas horizontais.

Era como cada minoria se visse representada na estrutura do governo – e do Estado.

Em cima do novo modelo, foi construída toda uma engenharia social, de consolidação de laços com segmentos da sociedade e de formas de relacionamento intra-governo, como ocorre com a Secretaria de Direitos Humanos, das Mulheres, da Igualdade Racial e assim por diante.

Internamente, foram anos e anos para aprimorar as formas de relacionamento com outros Ministérios e autarquias.

***

O mesmo aconteceu com outras políticas horizontais voltadas para produtividade, como é o caso do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).

Hoje em dia é setor estratégico para qualquer país. Seu faturamento global supera os das próprias indústrias petrolífera e automobilística. Caminha para ser a próxima revolução industrial, com a chamada Internet das Coisas.

Em vários países tornou-se peça central na formulação de políticas econômicas e principalmente na formulação das agendas futuras.

No Brasil, apenas o setor industrial de TICs tem faturamento superior a R$ 100 bilhões, com mais de 130 mil empregos diretos. Além disso, foi responsável pela construção de vários centros de P & D (Pesquisa e Desenvolvimento) bancados por setores produtivos.

A reforma administrativa anunciada pretende extinguir a Secretaria de Política de Informática, hoje ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Na outra ponta, a junção do Ministério da Previdência com o do Trabalho criará um pterodáctilo que não dará conta nem de uma coisa ou outra.

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Ora, mesmo deixando de lado as diferenças entre Estado e iniciativa privada, nenhum dos dois ambientes pode-se basear em análises simplórias de superposição de funções para definir  enxugamento.

Em todas as organizações há setores-âncora para cada atividade horizontal, cujas ações são distribuídas pelos diversos departamentos. Cabe a esses setores definir a formas de implementação de cada politica corporativa da qual ele é responsável.

Há um grande desafio pela frente, que consiste na desburocratização do Estado. É tarefa ciclópica mas, seguramente, não é esse o caminho percorrido pela reforma administrativa.

Implementada de afogadilho, ela poderá destruir grande parte dessa cultura do setor público, que permitiu avanços substanciais em diversas frentes. Praticamente paralisou os trabalhos nesses órgãos, substituiu o entusiasmo pela descrença, desmontará programas vitoriosos.

Tudo isso pela economia de alguns salários de Ministérios e Secretários, de valor ínfimo perto do orçamento público.

Luis Nassif

31 Comentários

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  1. ela ouve demais seus críticos.

    a presidente parece que ouve demais seus críticos sem ter, ela própria, um filtro crítico. a maioria dos críticos da presidente não querem a melhoria do governo, mas sua destruição ou queda. ela acaba por implementar, como fez com o tal ajuste, a destruição que outros queriam fazer.

  2. Ai, meu Deus…

    Tinha escrito um comentário que achei tããão inspirado… Mas minha conexão  caiu (obrigada, Vivo!) e perdi tudo. Perda total mesmo, pois não tenho saco de tentar reconstruir o texto a essa hora da noite (alguns até chamariam de madrugada). Vou retomar apenas o iniciozinho (+ ou -):

    Há alguém na direita que dê tanta porrada em Dilma quanto Nassif? Falo de porradas diárias, às vezes mais de um post-cacetada por dia…

    E agora mudando completamente o rumo do que havia escrito, acrescento:

    Quando havia um risco maior de impeachment, isso me parecia uma temeridade. Parecia que Nassif se preparava para escrever, no pós-impeachment, aquela matéria na base do “eu não disse?”. Ficar bem na foto sendo mais importante que resistir ao golpe em andamento.

    Agora o risco é menor, eu sei. Dilma até deixou de ser o alvo principal, pois a direita, sem muita esperança de derrubá-la, parte para cima de Lula, tentando inviabilizá-lo para 2018. Mas às vezes parece – parece mesmo! – que Nassif fica cascavilhando para desancar a presidenta.

    Todo mundo não achava que havia ministérios demais? Por que é que agora a fusão de alguns ministérios destrói a “engenharia social”? Será que as questões relativas aos negros e às mulheres não cabem mesmo num Ministérios dos Direitos Humanos? Será que Nassif não está repercutindo a insatisfação de quem perdeu algumas vantagens em termos de $$ e status? Será o Benedito que tudo o que essa mulher faz merece uma cacetada implacável enrolada num blá-blá-blá tecnocrático? 

    Cansada, sabe? 

    Imagine ela…

    1. Uma no cravo outra na ferradura

      Não é só isso Aninha,

      Olha o que estava na minha caixa de e–mails, do GMAIL, isto é, os dois títulos que “massacram” a Presidenta foram colocados em evidência no Newsletter. O assinante nem precisa ir às páginas do GGN. Fica a pergunta, porque aquele “post” que diz que o Aércio está detonando o PSDB (como se precisasse) não veio para o News, ou aquele que diz com todas as letras que o Temer é golpista e é aliado do playboy carioqueiro.

      Essa “política” de uma no cravo e outra na ferradura, o mainstream jornalístico, tornou a formula que os “meio–PIG’s” encontraram para justificar uma pretensa isonomia de tratamentos. Quem primeiro implementou essa formula (canhestramente, diga–se) foi a record News do Heródoto. Perceba, sempre que vai ter uma matéria que é negativa para o PSDB, ou ao Xuxú da Opus, lá vem “cacetada” prá cima do agora partido da “chave de porta de cadeia” mesmo que falsa, mentirosa ou inventada.

      Quando percebo isso ocorrendo chego a concordar com a “Bobonews” com os Waacks, Leitoas, Cristiane’s, Leilane’s… não mandam recados, são diretos, conservadores, vendidos, e de direita e só entrevistam seus reflexos, a esquerda que vá catar seus coquinhos…

      Aliás, é o que estou fazendo…

      Política

       (1) Dilma e a falta de conhecimento
      sobre o exercício do poder

      (2) Política

      A paralisia de Dilma para enfrentar a crise

      Até agora, a presidente da República não manifestou o menor gesto em direção à normalização econômica; por Luis Nassif

      Leia +

      1. Prezadoa newsletter é

        Prezado

        a newsletter é montada automaticamente. E não consta que o sistema tenha um algoritmo tucano. Se eu quisesse ficar bem com o PSDB simplesmente não teria escrito o post nem colocado em destaque no Blog.

        Vamos parar com esse patrulhamento. Acaba repetindo os mesmos padrões da direita.

    2. Prezada,em dois momentos

      Prezada,

      em dois momentos cruciais para o mandato de Dilma – a possibilidade do JN endossar a reportagem da Veja e na tentativa do golpe paraguaio do TSE – quem segurou a peteca fui eu, dando a cara para bater, me expondo perante a mídia e a direita e sendo alvo de ataques e processos de Gilmar.

      Aqui sempre se criticou essa visão sobre excesso de ministérios. É só conferir em posts nos últimos anos. Sempre se mostrou aqui que o status de Ministério a várias secretarias foi uma maneira de fortalece-las politicamente sem ampliar os gastos públicos, pelo fato de manterem a mesma estrutura.

      O que você pretende?

      1. Se Dilma desmonta o modelo anterior de gestão, devo acatar (mesmo sendo contra) em nome da governabilidade.

      2. Se o BC infla a dívida pública com juros absurdos, devo acatar em nome da governabilidade.

      3. Se o ajuste fiscal amplia a recessão e a crise de governabilidade, devo acatar, em nome da governabilidade.

      4. Se amanhã a Dilma ceder e apoiar as desvinculações orçamentárias, devo acatar, em nome da governabilidade.

      Ou seja, deve-se acatar todos os princípios da oposição, para que a oposição não entre.

      Me explique a lógica disso.

    3. Boas intenções não são suficientes!
      Eu leio este blog quase diariamente há muito tempo. Acredito uns 10 anos ou mais.

      Ainda lembro o comentário que fiz no primeiro artigo do Nassif sentando o pau na Dilma.
      Eu disse “Parabéns Nassif, vc conseguiu! ”

      Porque todos estavam pedindo. Paciência tem limites!
      Continuamos votando, mas, sim, as porradas são diárias PORQUE este Governo merece.

      Boas intenções não são suficientes!

      Abraço

  3. Pesca?

    “Primeiro ministro da Aquicultura e Pesca, o catarinense José Fritsch lançou um “manifesto” em que lamenta a extinção do Ministério e faz várias críticas à decisão da presidente Dilma”.

    O Brasil poderia fazer com o pescado o que faz na pecuária.

    Nossa produção de peixes é ínfima, comparativamente.

    Enfim, escolhi Lula.

    Deu Dilma, novamente.

    http://redeglobo.globo.com/globouniversidade/noticia/2013/03/brasil-sera-um-dos-grandes-produtores-de-pescado-em-2030.html

     

     

  4. Perfeito. Infelizmente a

    Perfeito. Infelizmente a nossa presidente Dilma dia mais, dia menos, se complica e põe a perder o sonho de um Brasil mais justo, mais social e equilibrado.

  5. Estamos vendo os efeitos

    Estamos vendo os efeitos terríveis que é um país ter um cabeça de planilha na presidência. Mexe no que não precisa – como Secretaria de Política da Informática – e não atua no que precisa – como essas vergonhas agências de regulação, que não regulam nada. Gente da minha família está vivendo o drama da Unimed.  E é revoltante como a agência que regular o setor deixou o barco correr, a empresa implodir e depois foi ver como ia salvar os náufragos do navio. 

  6. Estados

    Do meu ponto de vista, acharia melhor fortalecer o poder central e administrativo e acabar com os Estados, Governadores e todo a aparelhagem pública, jurídica e parlamentar relacionada a eles. Ainda, haveria maior facilidade tributaria e fiscal.

    Os antigos estados permaneceriam como unidades onde o Governo Central teria um centro de coordenação de politicas centrais e comunicação com os respectivos municípios.

    Brasil poderia ser, então, uma república integral, com municípios fortes. Hoje, com a advinda da informática, nada justifica a proliferação de mini-repúblicas dentro da nação brasileira.

    Apenas o fato de copiar os EUA não justifica essa enorme estrutura em cada Estado (e ainda com aquelas assembleias extremamente inúteis). Os EUA não servem de exemplo, pois o poder é único e central (econômico) e a representação política é uma brincadeira entre o Boi caprichoso (Democratas) e o Garantido (Republicanos).

    1. Na verdade, caro alexis, o

      Na verdade, caro alexis, o Boi Capichoso é azul (seria portanto Republicano) e o Boi Garantido é vermelho (Democrata).

  7. Coisas da incompetência
    São apenas contatações da notória incompetência que grassa neste governo Nassif. Mexe-se onde não se deve, deixa-se de mexer onde deve. Junte-se alguns “pitis”, preferencialmente dominicais para dar impressão de seriedade e/ou “gravidade”, e fica escancarada a voluntaridade de quem pouco sabe o que está fazendo. O voluntarismo dos cegos num estande de tiro ao alvo.
    Um exemplo bom é a atual campanha salarial na Petrobras. Em ano algum pegaram os petroleiros tão “mansos” e dispostos a fazer um acordo rápido, do tipo que todo patrão gosta, mas metem os pés pelas mãos e acham que esta é a hora de avançar para retirada de conquistas trabalhistas históricas, querem dividir a empresa já fazendo com que os sindicatos aceitem mais que uma mesa de negociações, e dar reajuste abaixo do que foi dado para os diretores, no caso o IPCA do período. Ou seja, internamente sabemos que boa parte dos petroleiros nem estão dispostos a obterem ganho real, mas não, justamente com a empresa fragilizada, passando o que está passando, eles acham que tem que partir para a briga, investindo justamente contra a turma que bate os recordes de produção e dão as manchetes que ajudam a empresa nas boas notícias. Uma turma que somados salários, assistência médica, benefícios educacionais, etc, não chega a 7% dos custos operacionais. O governo Dilma é cheio de gente que não é do ramo. Mas a arrogância e falta de senso de oportunidade, infelizmente sobram.
    Um abraço.

    1. Isto é fácil de responder…

      A Petrobrás tem ainda mais uns 50 poços de petróleo para perfurar. E querem resgatar as perdas da supervalorização e recente queda das ações na bolsa, na conta dos brasileiros.

      Este Governo fraco já abriu o bico.

      O Governo e Ministérios pararam de fazer o trabalho. No mandato do Lula, ele juntou os ministros e mais uns empresários e foram todos para China e Oriente médio. Vender os produtos brasileiros.

      Neste governo acabou. Parou o trabalho. O Governo fez as desonerações e cadê os resultados. Tem que fazer o dever de casa e visitar as empresas e ver o que está acontecendo. Porque demanda interna tem e muita.

      Um exemplo é o setor automobilístico. Pega a turma e vai pros EUA ver porque os veículos lá são mais barato que aqui.

      Primeira coisa a fazer é mandar todos os responsáveis pela parte economica embora.

  8. Sempre técnica

    A Presidenta sempre foi técnica, faltou-lhe a experiência política e o lidar com as demandas sociais.

    Como ela trabalhou com as comunidades ribeirinhas na época de construção das hidrelétricas na Amazônia é um bom exemplo disso: desenvolvimento por cima de tudo, inclusive sobre a população.

    Não é de se estranhar que ela aja dessa maneira, seu histórico lhe permite essa análise: desmonte dos setores do governo que não tem importância para o desenvolvimento econômico do país e implementação de politicas econômicas de entrega de lucros ao mercado externo visando confiança desse setor..

    E a população no meio do tiroteio 

     

    http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2015/03/01/dilma-esquece-que-e-agua-e-sangue-que-correm-em-hidreletricas-na-amazonia/

  9. Jungmann definitivo: “O país vive uma paralisia frenética!”

    Uma reforma administrativa com foco errado

    … e pensar que venho aqui agora martelando incessante, no ritmo minimalista, o diapasão john cage:

    e… o mundo muda segundo o foco de atenção

    resta-nos então ficar esperando godot na encruzilhada das ilusões perdidas:

    “Try again. Fail again. Fail better”

    [Tenta outra vez. Falha outra vez. Falha melhor] Samuel Beckett

    também conhecido na douta tradução-interpretação à lusitana:

    “Ten­taste sem­pre. Sem­pre falhaste. Não te apo­quen­tes. Tenta de novo. Falha de novo. Falha

    melhor”, do mesmo insofismável Samuel Beckett acima.

     

     

  10. Camarão que dorme a onda leva.

    Ora, ora, Nassif, uma perspectiva é que foi exatamente essa “configuração social” que se alterou!

    A fragmentação foi tal que cada setor passou a olhar pro seu umbigo, pras próprias demandas e… tchau pra articulação com as demais…

    É essa a eterna sina dos partidos trabalhistas no poder e sua relação com “as bases”…

    Qual o “cimento” entre cada uma das demandas de grupos específicos, um “programa de governo”, um “projeto de país”, uma “coalizão partidária? Isso não está desconecctado do parlamento, não, por mais que a chantagem e o achaque sejam – até mesmo por causa disso – a nota cada vez mais distintiva e a face mais evidente legislatura após legislatura.

    Veja o exemplo do nosso Gunter Zibell: pra ele o governo “recuou” ou até mesmo “vendeu” – e não, simplesmente, per-deu – a pauta LGBT. Então, tchau!

    Do meu ponto de vista é uma reacomodação – ou mesmo reação – em bases conservadoras. A “esquerda” esteve no centro do poder federal nestes últios 12 anos e não conseguiu aumentar significativamente sua participação no parlamento, preferiu o executivo. Note que até diminuiu na última legislatura (mesmo com emprego recorde em 2014, bem antes do famigerado “ajuste fisal)!

    Querem o quê, que a reação fique esse tempo todo olhando a “esquerda”  governar e esperando o poder central cair nas mãos pra se mover? É o contrário. A disputa pela hegemonia se dá de outra forma.

    Parece até que, no cômputo geral, a direita leu Gramsci melhor, mesmo com todos os preconceitos vulgares (esse é o papel dos “ex-esquerdistas”, aliás, que muitos desprezam).

    A esquerda que a direita gosta também teve um papel importante no sucesso da reação: enfraqueceu no que pôde e não cresceu nada.

  11. Deus nos acuda!

    Esse governo tá mais perdido que cego em tiroteio, só nos resta apelar pra entidade suprema vir nos socorrer, porque a depender  dos administradores atuais a vaca vai pro brejo!

  12. Cristianismo e Burocracia

    Cristianismo e Burocracia

    Quando vamos pensar a relação entre o Estado e os estamentos burocráticos é de bom tom deixar a bíblia em casa.

    Esta regrinha básica de etiqueta foi esquecida por Miriam Belchior, Nelson Barbosa, Guido Mantega, Zé Eduardo Cardoso e pela senhora Dilma Rousseff.

    Lula havia iniciado uma política de valorização do servidor público que foi muito além da salarial. Os principais cargos passaram a ser ocupados por servidores de carreira, a capacitação era simples e abundante e havia uma relação estreita com organismos internacionais para cooperação técnica. Policia Federal, CGU e Ministério Público se regozijavam com a inédita autonomia operacional.

    Na burocracia federal, 60% das pessoas são conservadoras irremediáveis, 10% progressistas convictas e 30% dançam conforme a música.

    Em 2010, esses 30% flutuantes estavam ao lado de Lula e não apenas votaram em Dilma, mas criavam um caldo cultural que impunha limites a atuação dos 60% de conservadores.

    Com a eleição de Dilma, o entendimento que prevaleceu nas instâncias decisórias foi de inconformismo com os privilégios da burocracia. Foi iniciada uma política de redução dos salários reais dos servidores, gestores tiveram sua mobilidade funcional restringida, licenças para doutorado inviabilizadas. Até mesmo a licença capacitação se tornou letra morta com exigências infra-legais.

    Assim, os 30% flutuantes mudaram de lado e isolaram os 10% progressistas que passaram a pregar no deserto.

    Passou a ser aceitável entregar intimação de madrugada a filho de ex-presidente da República após festa de aniversário do pai. Sigilo funcional se tornou pequeno entrave regimental ao exercício da função, contra o interesse público. Vazamentos seletivos passaram a ser comuns nos inquéritos da polícia.  Atrasos de pagamento aos bancos públicos de programas federais chegaram a grande imprensa.

    O governo Dilma não entendeu que técnicos também são atores políticos. Por isso, não são portarias que podem limitar politicamente a atuação da burocracia.

    Nada contra começar uma guerra. Mas você não pode iniciá-la sem saber como vai fornecer água e comida à população.

    Nem mesmo preparar sua tropa o Governo foi capaz. Maquiavel já mostrava há cinco séculos que uma guerra se trava com exército próprio e gestão de Rh petista não compreendeu a já batida lição.

    Um exemplo é dos anacrônicos concursos públicos. O sistema de seleção de funcionários públicos, além de privilegiar o decoreba, não incorporou as mudanças na concepção do Estado vindas com o petismo ou até mesmo com o iluminismo.

    Não é possível selecionar delegados da PF que considerem a legalidade um entrave à justiça. O mundo desenvolvido inteiro trabalha com investigações que respeitam às leis e os direitos humanos e obtém bons resultados no combate ao crime. O arbítrio pleno da autoridade policial é coisa de países africanos que pouco controlam a criminalidade. E cadê isso nos concursos públicos?

    Desde a Constituição de 1988, o Brasil incorporou uma série de direitos aos cidadãos como a moradia, a alimentação, à saúde e à dignidade humana. Tudo isso requer grandes vultos financeiros. Mas não dá para selecionar servidores do Tesouro que ficam no lugar fácil do “a Constituição não cabe no orçamento” e não saibam a diferença entre previdência e seguridade e que há um orçamento de seguridade. Cadê os concursos públicos incluindo as “agencies” americanas que financiam de forma inteligente, com aval do Tesouro americano, políticas de moradia, educação e de apoio a veteranos de guerra?

    A carreira de especialista em políticas públicas do Ministério do Planejamento é um dos mais cobiçadas do Brasil, com salário inicial de quase R$ 16 mil por mês. No entanto, teve o concurso cancelado de forma humilhante pelo TCU pois os idealizadores do concurso puseram de uma forma tosca uma oposição entre conhecimento e prática. Quando a questão essencial é qual conhecimento e qual prática.

    O comércio em torno da preparação de concursos em Brasília identificou alguns “papas” para os concursos de especialista em políticas públicas. Uma dessas referencias é famosa por ter concebido o sistema de seleção, enfatizar nos cursinhos os pontos essenciais do concurso e de dar aulas no curso de formação da Enap. No entanto, há relatos vergonhosos de algumas críticas rasteiras em suas aulas como o chavão de que o “Bolsa-familia não ensina a pescar”, sem mesmo uma reflexão sobre a condicionalidade das crianças estarem matriculadas nas escolas e com frequência comprovadas e dos dados estatísticos que mostram exatamente o contrário.

    Esse é um exemplo do fracasso do governo federal na capacitação dos servidores que em momento algum são levados à refletir sobre as mudanças no Estado nos últimos 13 anos. ENAP e ESAF são anacrônicas e não incorporaram os anseios da população expressos pelas urnas. Ambas são escolas acomodadas que apenas repetem os mesmos cursos e os mesmos conceitos por décadas.

    Os dirigentes petistas não compreenderam que capacitação não é privilégio. Não há problema em servidores conhecerem as melhores práticas pelo mundo. Contudo, é preciso adequar a capacitação ao projeto de Estado. Liberdade de cátedra é coisa da academia, no governo a capacitação deve ser focada na construção de um projeto nacional.

    Enfim, parece que há muito Velho Testamento e pouco Gramsci no pensamento dos gestores públicos.

  13. Uma reforma administrativa com foco errado

    Apesar de a gestão pública ser diferente da gestão de empresas privadas não significa que ela reflete a estrutura social e política do Estado. A base da diferenciação está no arcabouço jurídico. O Direito público tem regras, princípios e aplicações. Por esta razão, a gestão pública difere da gestão de empresas privadas. Segundo Celso Ribeiro Bastos direito é: “… o conjunto de normas e princípios que regem a atividade do Estado, a relação deste com os particulares, assim como o atuar recíproco dos cidadãos, e de que o direito administrativo é um dos ramos do direito público interno…”. “A divisão se justifica por existirem diferentes níveis de relação jurídica entre os cidadãos (uns com outros) e entre esses e o Estado, a Administração Pública.” – Francisco Mafra. “As relações jurídicas entre os cidadãos particulares ocorreriam dentro do direito privado. Já as relações nas quais estariam presente o Poder Público ou, mesmo, o interesse público, seriam pautadas pelo direito público.” -, Edimur Ferreira de Faria. Segundo Francisco Mafra “O direito privado se dividiria, fundamentalmente, em dois ramos, ou seja, o civil e o comercial. Já o direito público é composto de vários sub-ramos, quais sejam, o direito constitucional, o administrativo, o penal, o previdenciário, o eleitoral, internacional público e privado, processual civil e penal, do trabalho, tributário e financeiro”. Plácido e Silva define o direito público como o conjunto de leis, criadas para regular os interesses de ordem coletiva, ou, em outros termos, principalmente, organizar e disciplinar a organização das instituições políticas de um país, as relações dos poderes públicos entre si e destes com os particulares, membros de uma coletividade, e na defesa do interesse público. O setor público se move sim por manuais. A confusão ocorre pela falta de gestores públicos profissionais, cujo efeito uma gestão amadora ou falta de gestão, dando a impressão de que o setor público se move por construções sociais e econômicas personalíssimas. O Brasil é um dos maiores exemplos. Por isto, é urgente que se profissionalize a gestão pública, criando os planos de cargos, carreiras e salários, onde a indicação política ou empresarial para ocupar função seja uma exceção. Tecnicamente não há erro em criar secretarias e depois transformá-las em ministérios. O erro está em dar forma a uma estrutura não profissional, onde as atribuições e competências são exercidas por pessoas de pouca qualificação ou sem nenhuma habilitação. Neste caso, o personalismo é o que direciona as ações do gestor e os resultados dos órgãos, resultando contradições, desordem administrativa e gerencial. Anos e anos para aprimorar as formas de relacionamento com outros Ministérios e autarquias não produz uma boa gestão. A boa gestão é construída a partir da criação de processos e integração funcional entre os órgãos. Considerando que a premissa deste pensamento está equivocada podemos concluir e constatar que a conclusão é falha e distorcida. A ideologia do estado mínimo busca o controle econômico, social, político e cultural das nações de países periféricos pelos centros econômicos. Mesmo que ignoremos esta ideologia ainda assim o estado mínimo não funcionaria como foi proposto pelo Consenso de Washington porque não se pode criar uma estrutura de cima para baixo, ou seja, definir primeiro o tamanho do Estado para depois construir a sua estrutura administrativa. Sem considerar a necessidade organizacional. Qualquer administração pública ou privada para funcionar bem precisa ter uma estrutura que atenda a sua necessidade organizacional. Para isto, é fundamental que se faça um planejamento, levando em consideração as suas necessidades para atender o público interno e externo, conforme estabeleça a constituição e as demais leis. Depois se constrói os processos de funcionamento e integração. Falta capacidade intelectual e profissional no Brasil para reconstruir o Estado brasileiro por meio do uso de boas práticas gerenciais. Consultorias têm em excesso, mas falta qualificação.

    1. Para fazermos uma reforma
      Para fazermos uma reforma tributária que de certo que nos faça andar para frente, é sempre importante fazer o oposto do que diz ou pensam advogados e a OAB.

      Temos que estar sempre atentos ao que diz a comunidade jurídica para fazer o contrário sempre.

      Sabe porque? Porque há faculdades de administração, publica inclusive, e duvido que um dos advogados citados cursou qualquer.

      A comunidade jurídica normalmente olha apenas para si mesma. É sempre um risco lhes dar ouvidos.

  14. Toda essa ginástica para
    Toda essa ginástica para explicar que o estado ultrapassou todas as medidas de equilíbrio. O estado é perdulário e isto favorece toda sorte de desmandos.

  15. “A reforma administrativa

    “A reforma administrativa anunciada pretende extinguir a Secretaria de Política de Informática, hoje ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.”

    A Ciência da Tecnologia é a fase precedente que pode ultrapassar a superioridade da fase atual, a fase da Política da Informática, na qual o valor percorre uma corrente interna. 

    O que elevaria o Estado a quebrar os obstáculos de sua passividade com os bancos – seu conteúdo presumido – recua, deixando de ser um risco a quem lhe corresponde noutro terreno onde não possa se manifestar; porque extingue-se o modo direto de formar a unidade digital objetiva da representação monetária. 

    Os nossos administradores estão à margem da ideia estratégica da esfera que lhes é própria.

  16. O Estado tem um objetivo

    O Estado tem um objetivo unificador: os juros que pagam a banca. No Brasil e em todo o  mundo de hoje.

    Alguém já disse que é pela divida pública que a burguesia compra o Estado Nacional.

  17. Á Dilma falta critério para a reforma

    Nem preciso dizer que para calar as vozes contrárias só o que a tradição na administração pública já consagrou há milênios e vem dando certo desde tempos imemoriais.

    Sem conhecimento de como funciona uma máquina pública eficaz não adianta ficar mexendo aqui e acolá.

    Não demora nem um minuto para um levantar e gritar: Lampeduza! Il gato pardo.

    Dilma, para de errar e usa a Astrologia, o Tarot e a Geometria.

    Eu garanto.

  18. A estrutura do Estado é

    A estrutura do Estado é diferente de uma empresa privada. Na empresa privada há um objetivo unificador: o lucro [  o Estado foi criado em função de uma força enorme de unificação: roubar, roubar e roubar mais

  19. Resumo o governo esta perdido

    Resumo o governo esta perdido não sabe que lado vai correr.

    Em uma democracia, o governo não faz nada além do que foi “combinado” com o eleitor e o voto é o aval para estas ações.

    O que acontece no Brasil é um tipo de monarquia, um  reinado temporário, tem uma constituição mas o rei ou rainha não precisam obedecer.

    Falta muito para ser uma republica,  para ser uma democracia e  para ser uma federação.

     

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