AMB propõe selecionar jovens endividados com FIES para ocupar Mais Médicos

Análise sobre fim de parceria com Cuba no Mais Médicos não é compartilhada por outras entidades: ‘vai estourar a cota das emergências dos hospitais’ diz Amupe 
 
Foto: Agência Brasil
 
Jornal GGN – Entidades de classe e que representam a saúde pública analisam de forma diferente a saída de Cuba do programa Mais Médicos, iniciativa lançada em 2013, pelo então governo Dilma, para suprir a carência de profissionais da saúde em municípios do interior e nas periferias.
 
Hoje, o programa conta com cerca de 16 mil médicos, cerca de 8,3 mil deles são cubanos. Na última quarta-feira (14), o governo de Cuba decidiu deixar o programa em razão de “declarações ameaçadoras e depreciativas” do presidente eleito Jair Bolsonaro que, de fato, chegou a dizer que “expulsaria” os profissionais do país caribenho, além de questionar a qualificação dos cubanos propondo a modificação do acordo para exigir a revalidação do diploma. 
 
O anúncio foi recebido com preocupação pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) que, nem nota divulgada na última quinta-feira (15), destacou que a saída dos cubanos irá afetar 28 milhões de pessoas. “Entre os 1.575 Municípios que possuem somente médico cubano do programa, 80% possuem menos de 20 mil habitantes. Dessa forma, a saída desses médicos sem a garantia de outros profissionais pode gerar a desassistência básica de saúde a mais de 28 milhões de pessoas”, afirmou a entidade.
 
Em entrevista para o G1, o presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), José Patriota, disse que a saída dos médicos cubanos irá impactar no tratamento de mais de 1,6 milhão de pernambucanos. A situação será agravada no Sertão, onde proporção chega a ser de 22 profissionais cubanos para três ou quatro brasileiros. Em todo o estado de Pernambuco, há 414 médicos cubanos em atuação.
 
“É a visita ao acamados, subnutrição, pré-natal. Coisas que podem ser resolvidas preventivamente, já que falta educação e informação à população. Tirando o médico, em três ou quatro meses, vai estourar a cota das emergências dos hospitais”, disse ao site de notícias.
 
Patriota, que também é prefeito da cidade de Afogados da Ingazeira pelo PSB, cidade localizada a 386 quilômetros de Recife, avalia que cidades do sertão do Pajeú e do Araripe ficarão sem assistência preventiva. “Temos cidades, como Verdejante, que contam basicamente com os médicos cubanos. A cidade pode ficar sem ninguém”, completou.
 
Para a Associação Médica Brasileira (AMB), porém, a saída dos cubanos é analisada de forma positiva. Em nota, publicada neste sábado (17), a entidade disse que o programa deixou o governo brasileiro “submisso aos humores de Cuba”:
 
“Com a criação do Mais Médicos, o governo brasileiro transferiu de forma temerária para Cuba parte da responsabilidade pelo atendimento na atenção básica de saúde. Isso deixou o Brasil submisso aos humores do governo de outro país. Os impactos negativos previstos são os que estamos comprovando agora”.
 
Para solucionar o vazio de 8,3 mil médicos, número que corresponde à saída dos cubanos, focados na atenção básica, preventiva, a entidade propõe incentivar a adesão de mais médicos jovens no programa, endividados com o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). 
 
“Durante o período em que os médicos atuarem no programa, as parcelas do financiamento ficam suspensas. Além disso, haverá o benefício de descontos no montante geral da dívida, de acordo com o tempo de permanência e o município ou região escolhido”.
 
Outra proposta da associação é usar o atual efetivo de médicos das Forças Armadas em áreas de difícil acesso, como as indígenas, aumentando o número desses profissionais por concurso. A AMB também propõe a mudança do Piso de Atenção Básica (PAB) aumentando o valor a ser repassado pela União à atenção básica nos municípios para que contratem mais médicos. 
 
A entidade, que sempre foi crítica ao Programa Mais Médicos e que, em outubro, divulgou carta aberta afirmando que a eleição de Bolsonaro “mostrou o anseio da nação por mudanças”, e chegou a propor o nome do seu presidente, Lincoln Ferreira para assumir o ministério da Saúde, diz que o país tem médicos suficientes para ocupar as vagas:
 
“Sabemos que não faltam médicos no Brasil. Hoje, somos 458.624 médicos. Essa crise será resolvida com os médicos brasileiros”. Pensamento que não é compartilhado por outros analistas do setor. José Patriota, da Amupe, por exemplo, avaliou na mesma entrevista ao G1 que os médicos brasileiros têm perfil de carreira distinto dos médicos cubanos.
 
“Os médicos cubanos têm um foco na prevenção. A saúde da família é uma especialidade que tem cada vez menos profissionais. O médico brasileiro vai ao interior para a residência, passa de seis meses a um ano e vai embora, atrás de uma nova especialidade. Além disso, muitos acumulam contratos e plantões para complementar a renda”. 
 
Redação

5 Comentários

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  1. Fossem justos e humanos e sugeririam mandar os médicos que

    já se “fizeram na vida” principalmente explorando a população com mensalidades abusivas em seus planos médicos. Gente que já não precisa de dinheiro e sim de praticar humanismo para aprenderem a consultar os clientes:

    – sem exames pois em cidades pequenas não tem laboratórios de análises.

    – olhando, falando e principalmente tocando as pessoas

  2. É por isso que Bolsonaro odeia a Rede Globo

    Ex-diretor do Mais Médicos: Enquanto OMS, milhões de brasileiros e ‘comunistas’ da Globo News tiram o chapéu para os médicos cubanos, adeptos de Bolsonaro espalham mentiras

     

    Fonte: Vi o Mundo – https://www.viomundo.com.br/blogdasaude/ex-diretor-do-mais-medicos-enquanto-oms-milhoes-de-brasileiros-e-comunistas-da-globo-news-tiram-o-chapeu-para-os-medicos-cubanos-adeptos-de-bolsonaro-espalham-mentiras.html

    O que dizem os “comunistas” da Globo News

     

    [video:https://youtu.be/mxyUV2ft2Eg%5D

     

     

  3. O Mais Médicos, usando

    O Mais Médicos, usando mão-de-obra estrangeira é um programa emergenccial, mas é complementado por outras ações de longo prazo, como a facilitação do acesso a pessoas de baixa renda aos cursos de medicina, através de bolsas, cotas, Prouni e FIES.

    Universitários que pagam 9 mil de mensalidade e que ganharam sua BMW do papai ao completarem 18 anos não vão nunca querer atender pobres em regiões remotas do país.

    Quanto mais pessoas de origem humilde se formarem em medicina, maior a possibilidade deles trabalharem mais próximos às suas raízes, talvez até mesmo nas cidades do interior onde nasceram e onde ainda tem familiares.

    O retrocesso é muito maior do que parece inicialmente.

     

  4. Menos Médicos

    Então temos 9000 médicos formados, desempregados devendo o Fies?

    Médicos brasileiros vão ocupar estas vagas e aparecer somente no dia do pagamento.

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