Cena de guerra na América Latina: cadáveres do coronavírus nas ruas do Equador

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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No país liderado pelo impopular Lenín Moreno, ambulâncias, hospitais e funerárias estão colapsados. Guayaquil teve 300 corpos retirados em uma semana

Jornal GGN – Estas imagens não são da Itália ou da China, mas de um país mais próximo do Brasil, o Equador, que oficialmente registra 2.302 casos confirmados pelas autoridades e 79 mortes de Covid-19. Mas as ruas de cidades como Guayaquil revelam que os números ultrapassam os anunciados, em cenário de terror de um país latino-americano que mostra ter perdido a guerra contra o coronavírus.

Foram nas redes sociais que familiares e equatorianos denunciaram os corpos de mortos tirados no chão, sem resgate de ambulâncias, que estão saturadas por emergências sanitárias dos centenas de infectados. A demora de 72 horas até 5 dias que alguns dos familiares tiveram que esperar para que autoridades recolhessem os cadáveres também indica, em outra ponta, que os números de falecidos no país são maiores.

O GGN separou algumas imagens divulgadas:

No país liderado pelo conservador e impopular Lenín Moreno, não somente as ambulâncias e hospitais estão colapsados – como registra uma das gravações com corpos depositados em um banheiro ao lado de pacientes com coronavírus sendo tratados (abaixo) -, mas também o sistema funerário. Entre os decretos, que nos países vizinhos tratam de quarentenas e fechamentos de fronteiras, o presidente precisou convocar uma força-tarefa para enterrar todos os falecidos.

https://twitter.com/ElLiberalDiario/status/1244775478990340097

Publicamente, o governo equatoriano reage como se ainda estivesse com o controle da situação. De acordo com o jornal local El Comercio, somente na província de Guayas, aonde está a cidade de Guayaquil, mais de 300 cadáveres foram recolhidos em diferentes domicílios pela polícia equatoriana na última semana de março, após uma espera de, pelo menos, 72 horas.

Em entrevista à BBC (aqui), o comandante da Armada Nacional, Darwin Jarrín, que assumiu nesta segunda-feira (30) o comando militar e policial da província, disse que o Ministério da Saúde está cumprindo com o protocolo, entregando a ata de falecimento, em seguida a polícia translada os cadáveres aos cemitérios e as forças armadas enterram.

A própria prefeita de Guayaquil, Cyntia Viteri, denunciou a ineficácia do governo de Lenín Moreno: “Não retiram os mortos de suas casas, os deixam tirados nas calçadas, caem na frente dos hospitais, ninguém quer ir retirar. O que acontece com nossos doentes? As famílias vagueiam por toda a cidade, tocando as portas, para que atenda um hospital público, onde já não há camas”.

 

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. Como já falamos há duas semanas atrás, infelizmente alguns ficarão mais atentos (de fato, assustados) quando virem as cenas por aqui. Inclusive será a pá de cal em governantes que estavam cegos para isto e pior, atrasando processos, criando empecilhos para pronto ataque. Como vimos já ontem, basta pegar pelo colapso e afastamentos de equipes em hospitais de ponta na rica capital paulista, há poucos dias do início dos números de casos. É pouco possível que famílias, até por questão de sobrevivência dos demais, deixarão de repetir este padrão de esperar por sistemas de coletas de corpos, já direcionados aos locais públicos como hospitais, que venham recolher em pouco tempo os cadáveres que surgirão. As cenas perturbarão a muitos, mas é quase impossível que deixem de acontecer ao longo do tempo.

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