Depreciação de vacina Covid-19 atinge SUS, ciência e tecnologia brasileira

"Junto com os milhares de afetados pela Covid-19, o SUS é a principal vítima dessa guerra insana", analisa médico sanitarista Adriano Massuda

Jair Bolsonaro em posse de Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde – Foto: Agência Brasil

Jornal GGN – A vacinação contra Covid-19 já começou em 47 países. Conhecido por seus avanços na biomedicina e produção mundial de vacinas, o Brasil, contudo, não está nesta lista. Nessa mesma onda, a OMS (Organização Mundial de Saúde) começou uma campanha global de imunização. Mas o Brasil, governado por Jair Bolsonaro, ainda segue atrás.

“Caso quem tome a vacina se transforme em jacaré, super-homem, nasça barba em mulher, ou homens passem a falar fino, eles não têm nada a ver com isso”, foi a fala do presidente brasileiro, na contramão dos esforços mundiais de conscientização para a vacina.

“A insinuação de bizarras mutações, estratégia retórica para desacreditar a vacinação, é mais um capítulo da guerra insana travada por Bolsonaro e seus discípulos negacionistas contra medidas para o controle da pandemia no Brasil”, analisou Adriano Massuda, em artigo para a Piauí.

Para o médico sanitarista, professor da FGV-EAESP e pesquisador do FGV-Saúde, a gestão militarizada de Bolsonaro elegida para a Saúde, sob o comando do general Eduardo Pazuella, causa um risco ainda maior: ameaça o modelo do SUS.

Destacando que o Plano Nacional de Imunizações (PNI) brasileiro, lançado nos anos 70, nasceu como referência internacional por atingir coberturas acima de 95% da população-alvo, o plano foi fortalecido graças ao conceito do próprio Sistema Único de Saúde.

“Com a expansão da cobertura de serviços de atenção básica promovida pelo SUS, o PNI ganhou eficiência. Além de vacinar, equipes de saúde da família fazem busca ativa por pessoas que vivem no território de abrangência sob sua responsabilidade.”

Ainda, associado a condicionalidades criadas no programa de transferência de renda, o Bolsa Família, a cobertura foi ainda maior, adotando também o suporte das Forças Armadas para levar as vacinas nas áreas mais remotas do país. O modelo tripartite do SUS, que conta com o apoio e a articulação entre governo federal, estadual e municipal, garantiu o sucesso do PNI.

Ainda neste conjunto de estruturadas aliadas, os laboratórios públicos centenários brasileiros, como a Fiocruz e o Butantan, garantem a produção dessas vacinas.

“Com o aumento organizado de demanda por diferentes tipos de vacinas e insumos para atender as necessidades do SUS, o Ministério da Saúde desenvolveu uma sofisticada política que utiliza o poder de compra governamental para fomentar o fortalecimento do complexo industrial da saúde brasileiro. Por meio de parcerias com o setor privado, laboratórios públicos passaram a absorver novas tecnologias com vistas a abastecer o país com medicamentos e demais produtos estratégicos para a saúde.”

Nesse sentido, a saúde pública se aliou ao desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil. “Mas para que essa pressa? Qual o motivo de tanta ansiedade? O questionamento do general que ocupa o Ministério da Saúde no lançamento do plano nacional de vacinação causou espécie. Apesar de ter se desculpado no dia seguinte, demonstra um absurdo descolamento da realidade e um despreparo absoluto para comandar a força mais preciosa que o país dispõe para enfrentar essa guerra – o SUS”, expôs Adriano Massuda.

“Junto com os milhares de afetados pela Covid-19, o SUS – que finalmente tem sua importância sendo reconhecida – é a principal vítima dessa guerra insana”, concluiu o pesquisador.

 

Redação

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