Diretora de faculdade de saúde cria núcleo para doar Ivermectina em MG

Em 2020, Dóris Andrade teve apoio de Bolsonaro para disputa eleitoral. Facsete confirma ação, mas nega envolvimento

Dóris Andrade, diretora-geral da Facsete, com o filho, Ivan Andrade, também diretor da instituição – Foto: Reprodução / Instagram

do Brasil de Fato

por Igor Carvalho

Diretora-geral da Faculdade de Sete Lagoas (Facsete), a cirurgiã-dentista Dóris Camargo Martins de Andrade organizou um grupo de médicos e empresários de Sete Lagoas, no interior de Minas Gerais, para doar Ivermectina para a população local, como forma de tratamento preventivo à covid-19.

Brasil de Fato teve acesso ao relato da reunião da última segunda-feira (19), que circulou, via Whatsapp, entre os participantes. O encontro aconteceu em uma sala que fica no centro de Sete Lagoas, dentro de um prédio comercial que pertence à família de Doris Andrade e que até março de 2020 era alugado pela Facsete.

Durante o encontro, Doris Andrade informou ao grupo que deveriam adquirir 20 mil comprimidos de Ivermectina para começar a atender a população de Sete Lagoas.

“A princípio será feita a profilaxia. Será doada dose para dois meses e assim evitar que as pessoas se contaminem e, se por ventura, se contaminarem, serão atendidas gratuitamente pelos médicos voluntários” (sic), explica o texto.

Ivan Fernando Martins de Andrade, diretor administrativo e acadêmico da Facsete, e filho de Dóris Andrade, confirmou o conteúdo do texto ao Brasil de Fato e disse que o encontro realmente aconteceu. O herdeiro nega que a faculdade tenha envolvimento com a empreitada de sua mãe.

“Esse grupo de médicos chegou a solicitar um espaço da faculdade e eu não permiti”, explica Ivan Andrade. “Não sei como saiu essa notícia vinculando o nome da Facsete com esse projeto, que é um projeto ainda, não está em andamento. A Facsete não tem nada com esse projeto.”

Sobre a doação do medicamento à população de Sete Lagoas, o diretor da Facsete não discorda.

“Eu tomo Ivermectina para piolho e verme desde criança. Se tem efeito preventivo para a covid, ou não, é um remédio que não é prejudicial para ninguém. Na minha opinião, se um médico receitar para uma família, é uma decisão da família, tomar ou não.”

Apesar da aparente proximidade com a ciência, Ivan Andrade, que é formado em odontologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, não esconde nas redes sociais o desprezo pelas medidas sanitárias recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O diretor da Facsete publicou fotos no feriado do Natal, em Belo Horizonte, em que 25 homens aparecem aglomerados e sem máscara. Em outro registro, em outubro de 2020, quase 50 pessoas aparecem abraçadas em Caraíva, no sul da Bahia, onde um surto de coronavírus surgiu após o fluxo de turistas no final de 2020.


Ivan Andrade aparece ao lado de amigos, todos sem máscara, em dezembro de 2020, durante a pandemia / Foto: Reprodução / Instagram

Não há comprovação científica da eficácia do uso de cloroquina e hidroxicloroquina contra a covid-19, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as instituições de saúde brasileiras.

A Ivermectina, assim como a Cloroquina e Hidroxicloroquina foram adotadas, pelo próprio governo federal, como tratamento para prevenir o coronavírus — parte do chamado “kit covid”, com drogas que supostamente (e sem comprovação científica) seriam eficazes no “tratamento precoce da doença”.

Diversos especialistas já se pronunciaram acerca do uso da Ivermectina no combate e prevenção  covid-19. Médicos têm relatado casos em que o uso da substância levou pacientes à falência hepática, ou seja, o paciente precisa de um transplante de fígado para sobreviver.

Eleição e patrimônio

Dóris Andrade é filiada ao PTB e seria candidata à vice-prefeita de Sete Lagoas, na chapa com o pastor Coronel Peçanha (Cidadania), nas eleições de 2020. Em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), gravou um vídeo apoiando a candidatura da dupla.

A chapa foi cassada, pois o Coronel Peçanha pediu a transferência de domicílio eleitoral para Sete Lagoas fora do prazo determinado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dóris Andrade e o PTB desistiram de um candidatura própria.

Ao TSE, Dóris Andrade declarou ter R$ 7,9 milhões em patrimônio. Entre as propriedades estão empresas no ramo da educação, carros, imóveis e a Agropecuária Martins Andrade Ltda, uma fazenda de criação de bovinos para corte, em que é sócia dos dois filhos, Ivan Andrade e Cláudio Humberto Martins de Andrade, diretor financeiro da Facsete.


Ivan Andrade com amigos em Caraíva, no sul da Bahia, em outubro de 2020, durante a pandemia / Foto: Reprodução / Instagram

Edição: Leandro Melito

Redação

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