Inconsciente consciente, uma crônica sempre atual, por Matê da Luz

Inconsciente consciente, uma crônica sempre atual

por Matê da Luz

Consciência. Você sabe o que esta palavra significa assim, na prática? É, eu também achei que sabia, até iniciar, há uns bons – e conturbados!– quatro ou cinco anos, um processo de encontro com uma pessoa deveras importante: eu mesma.

Importante pra mim, é claro, por diferentes razões, mas especialmente porque convivo comigo desde que nasci e, apesar de parecer óbvio e sem sentido fazer este tipo de observação, é necessário recordar que o que me moveu foi a tal reforma íntima, aquela que venho abordando em diferentes forma sde comunicação, e quem me conhece bem (ou nem tanto) pode atestar a relevância destes movimentos de reencontro.

Alguns pontos me incomodam desde sempre e por aprendizados obtidos em terapias (psico e de choque, um tanto de choque, diga-se),compreendo que o incômodo está, em grande parte das vezes, na gente com a gente mesmo, e não no outro, como costumamos bradar aos ventos. Se eu me incomodo com o que fulano faz, é muito mais assertivo investigar o que e porque tenho esta sensação do que pedir, exigir ou, pior ainda, esperar que o outro mude para que meu conforto seja restabelecido. Parece fácil assim, e agora, mas confesso: é um processo tão delicado e de tantas nuances que até pra mim, que tenho gosto pelas cores fortes, machuca. Porque, outro fato, este aprendido por meio das ciganices com as quais a vida me presenteia, mudar se parece com uma minicirurgia de afastar o que está implementado e trazer hábitos novos, condizentes com o que desejamos. Ao mesmo tempo.

E assim chego nesta fase de eclipse. Eclipse de mim mesma. Cortei o remédio de ansiedade, cortei mais da metade do consumo diário de bastonetes de nicotina sugados, cortei pensamentos e atitudes que me afastam da minha natureza, que não deve ser muito diferente da sua, por crença e premissa. Cortei os ciclos viciados em me levar quase sempre pro mesmo lugar. E sabe o quê? Não ficou tudo cor de rosa. Não ficou tudo lindo e brilhante. Pa ser sincera, cortei a nicotina toda, só fumo quando a coisa aperta absurdamente – o que é quase nunca ou quase sempre, dependendo da época do mês. 

Os fogos de artifício dos estopins de alegrias pontuadas foram substituídos, então, pela linear felicidade de simplesmente ser. E, ai, como é difícil pra mim, que adoro os mimos da vida bem delineados, pontuados e identificados, me contentar com o estável. Mas tem estado tão pleno que nem as vontades de estourar um ou dois rojões surge como tentação. A malícia agora está em manter: a vida como ela é, seguindo cursos mais e mais próximos do natural, do efetivamente simples e feliz, por estradas de cuidados com alimentação, sono, hidratação e substâncias que o próprio corpo produz. Vê: não precisa ter dinheiro pra isso. Observa: o capitalismo, o atual cenário do mundo, não podem incomodar estas decisões. Fica mesmo mais difícil lidar consigo mesmo quando se assume a responsabilidade pela caminhada, porque é quase confortável desopilar culpas e medos e receios e a não mudança no outro.

Vou seguir, faça chuva ou faça sol, esta minha rota. Entendendo que algumas flores vão ser lindas e perfumadas e que pertencem àquele ou este arbusto, sabendo que as pedras vão aparecer tanto quanto os terrenos planos, macios e lisos, enquanto percorro a beirada da praia, acompanhada por um mar de fé, força e foco. Foco não mais na busca em si, mas na vivência propriamente dita. Não tem como não ser lindo, lindo mesmo, de verdade, viver assim – cada vez mais perto do meu renascimento para o Orixá, cada vez mais próxima de mim. 

 

 

Mariana A. Nassif

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Para viver não precisa de

    Para viver não precisa de muito.

    Mas um ser desejante nunca está satisfeito.

    Salvo provarem ao contrário, a única espécie desejante é a humana.

    Se o que determinasse nossa conduta e comporamento fosse o instinto, tudo já estaria  pré definido. Mas não…é o desejo. Mas não desejo de algo. É SÓ DESEJO.

  2. A vida como ela é.

    A gRoubo no inconsciente. Estamos fritos.

    O importante é ser feliz como somos. E o que somos? Um amontoado de átomos, gens, moléculas con algo que chamamos de consciência?

    O que é a tal consciência? A capacidade de pensar, planejar os atos e suplantar os instintos? Ou seriam os instintos a soma dos fatores anteriores?

    Que respondam os entendidos. Respostas não as tenho, mas perguntas é o que não faltam.

    Penso, logo existo? Penso, penso, penso e questiono: existimos ou somos mera projeção mal acabada de um avatar qualquer numa simulação imaterial que nos fazer crer na materialidade?

    Não sei, só sei que não sei.

    Continues sendo tu mesma, porque eu já não sei mais o que sou de tanto pensar, pensar e questionar a minha própria existência. Tenho um buraco negro na consciência que suga todas as minhas certezas. Quando devolve, vem tudo transformado em dúvidas.

    Acho que vou morrer afogado em dúvidas. Mas espero que daqui há uns cinquenta anos. Serão meus cinquenta anos de cinzas etéreas dúvidas.

    Abraço!

    Fui!

     

  3. A vida como ela é.

    A gRoubo no inconsciente. Estamos fritos.

    O importante é ser feliz como somos. E o que somos? Um amontoado de átomos, gens, moléculas con algo que chamamos de consciência?

    O que é a tal consciência? A capacidade de pensar, planejar os atos e suplantar os instintos? Ou seriam os instintos a soma dos fatores anteriores?

    Que respondam os entendidos. Respostas não as tenho, mas perguntas é o que não faltam.

    Penso, logo existo? Penso, penso, penso e questiono: existimos ou somos mera projeção mal acabada de um avatar qualquer numa simulação imaterial que nos fazer crer na materialidade?

    Não sei, só sei que não sei.

    Continues sendo tu mesma, porque eu já não sei mais o que sou de tanto pensar, pensar e questionar a minha própria existência. Tenho um buraco negro na consciência que suga todas as minhas certezas. Quando devolve, vem tudo transformado em dúvidas.

    Acho que vou morrer afogado em dúvidas. Mas espero que daqui há uns cinquenta anos. Serão meus cinquenta anos de cinzas etéreas dúvidas.

    Abraço!

    Fui!

     

  4. muito bonito…

    e o que é bonito para os peregrinos não é o que acontece; é estarmos abertos para que aconteça

    porque só há um lugar para que as transformações se concretizem…dentro de nós

    e uma vez abertos, elas podem acontecer em qualquer tipo de caminho………………………………

    tanto no das flores como no das pedras, porque para despertar é preciso apenas estar aberto

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador