quinta, 28 de março de 2024

Maior estudo sobre dispersão do novo coronavírus no Brasil é publicado na Science

Estudo sequenciou 427 genomas do novo coronavírus (SARS-CoV-2) de 21 estados brasileiros e foi realizada em conjunto por 15 instituições brasileiras, entre elas a Unicamp, além de instituições britânicas.

do Jornal da Unicamp

Maior estudo sobre dispersão do novo coronavírus no Brasil é publicado na Science

por Liana Coll

O maior estudo de vigilância genômica da Covid-19 na América Latina foi publicado nesta quinta-feira (23) na Science, uma das revistas acadêmicas mais prestigiadas do mundo. A pesquisa, focada na dispersão do vírus no Brasil, sequenciou 427 genomas do novo coronavírus (SARS-CoV-2) de 21 estados brasileiros e foi realizada em conjunto por 15 instituições brasileiras, entre elas a Unicamp, além de instituições britânicas. Entre os resultados, os pesquisadores detectaram mais de 100 introduções distintas do vírus no Brasil.

“Os dados mostram que houve vários eventos de introdução do vírus no Brasil, mais de 100, principalmente de pessoas que estavam voltando da Europa e dos Estados Unidos. A partir dessa introdução maciça, antes dos eventos de contenção e de isolamento social, o vírus se disseminou principalmente em três grandes grupos, que tiveram maior sucesso e que se espalharam no Brasil”, explica o professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp José Luiz Proença Módena, que esteve envolvido no estudo. O pesquisador coordena Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (LEVE) do IB, cuja equipe também participou da pesquisa.

audiodescrição: fotografia colorida da equipe do LEVE, no laboratório, posando para foto
No LEVE, parte da equipe que trabalhou no estudo

Nos três grandes grupos de vírus preponderantes, que englobaram 76% dos vírus detectados até abril, José Luiz observa que foram identificadas mutações associadas a formas graves da Covid-19. “Todos eles têm uma mutação pontual na proteína spike, que é uma proteína do vírus associada à patogenicidade, com a doença mais grave e com aumento da carga viral”, diz.

A maior parte das introduções do vírus no Brasil foi identificada nas capitais com maior incidência de vôos internacionais, como São Paulo, Minas Gerais, Ceará e Rio de Janeiro. Apenas uma pequena parcela dessas introduções resultou nas linhagens que se dispersaram no país por transmissão comunitária, ou seja, por transmissões cuja origem da infecção não é possível de rastrear e que circulam entre pessoas que não viajaram.

audiodescrição: figura interna do estudo
Figura do estudo que mostra os mapas com as rotas de disseminação do vírus na primeira e segunda ondas de dispersão

Medidas de isolamento insuficientes

Os resultados demonstram que intervenções como o fechamento das escolas e do comércio no final de março, embora insuficientes, ajudaram a reduzir a taxa de transmissão do vírus. Inicialmente, essa taxa foi superior à 3, o que significa que uma pessoa transmitia para três pessoas o vírus. Após as medidas, os valores caíram para entre 1 e 1,6, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro.

“A partir das medidas de isolamento social a taxa de disseminação do vírus cai, mas não é suficiente para barrar a transmissão do vírus, que continua se espalhando interessantemente agora a partir de longas distâncias pelo tráfego de pessoas incluindo a malha área dentro do Brasil chegando a todos os confins do país”, diz José Luiz.

audiodescrição: ilustração do estudo com gráficos
Em “A” está o número acumulado de casos notificados de SARS-CoV-2 (azul) e os óbitos (cinza) no Brasil. Em “B”, os estados são coloridos de acordo com o número de casos cumulativos confirmados até 30 de abril de 2020 (em milhares). Em “C” e “D” o número de reprodução do vírus ao longo do tempo para as cidades de São Paulo (C) e Rio de Janeiro (D). Foto: reprodução/Science

Cooperação entre instituições

O trabalho teve início com uma atividade do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), financiada pela Fapesp. As instituições envolvidas na pesquisa são: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Universidade de São Paulo (USP); Universidade Fderal de Minas Geral (UFMG); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Fundação Getúlio Vargas (FGV); Universidade Federal de Uberlândia (UFU); Universidade Federal de Roraima (UFRR); Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto; Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). Entre as instituições britânicas envolvidas está a Universidade de Oxford.

Em Campinas e região, o professor José Luiz Módena destaca que houve um esforço grande do LEVE e de profissionais da área de saúde da Unicamp: equipe do Laboratório da Patologia Clínica e Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Hospital de Clínicas, profissionais do Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) e profissionais do Hospital de Sumaré.

Da Unicamp, além de José Luiz Módena, são autores do estudo: Mariene Amorim; Fabiana Granja; Marcia T. Garcia; Maria Luiza Moretti; Maurício Perroud Jr.; Terezinha Castiñeiras; Camila Simeoni; Julia Forato; Andrei Sposito; Angélica Schreiber; Magnum Santos e Patricia A F Leme.

“O esforço possibilitou com que conseguíssemos sequenciar, de Campinas, de 66 genomas completos desse vírus que ajudaram na construção dos dados agora pouco publicados”, avalia. Ele também afirma que a pesquisa é um “exemplo de como a abordagem transnacional, multicêntrica pode contribuir rapidamente para o conhecimento e para a construção de ciência de qualidade que possa ajudar a resolver os problemas da sociedade”.

Confira o artigo publicado na Science.

Veja também a entrevista do professor José Luiz Proença Módena para a série Em que pé está:

 

Redação

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