Pandemia e qualidade de vida: estudo aponta tristeza, ansiedade e solidão como sentimentos frequentes

Em entrevista ao blog do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, a coordenadora do estudo, Celia Landmann Szwarcwald, pesquisadora titular da Fiocruz, revela que mais de 50% dos adolescentes que responderam a pesquisa relataram problemas no estado de ânimo.

do CEE Fiocruz

Pandemia e qualidade de vida: estudo aponta tristeza, ansiedade e solidão como sentimentos frequentes

por Daiane Batista

Durante o primeiro ano da pandemia da Covid-19 no Brasil, o sentimento frequente de tristeza e depressão atingiu 40% dos adultos brasileiros, e a sensação de ansiedade e nervosismo foi reportada por mais de 50% deles. É o que revela estudo sobre comportamentos realizada no Brasil, em 2020, pelo Instituto de Comunicação e Informação Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Estadual de Campinas. O estudo ConVid-Pesquisa de Comportamentos, que deu origem a duas pesquisas, uma com adultos no inicio da pandemia e outra com adolescentes, mostrou, também, que os problemas relacionados ao sono do brasileiro durante a crise sanitária atingiram mais de 40% entre os que não apresentavam problemas de sono, e quase 50% dos que já apresentavam e tiveram o problema agravado. Os sentimentos de tristeza e de ansiedade e os problemas do sono revelaram prevalências mais elevadas em adultos jovens, mulheres e pessoas com diagnóstico prévio de depressão. 

Em entrevista ao blog do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, a coordenadora do estudo, Celia Landmann Szwarcwald, pesquisadora titular da Fiocruz, revela que mais de 50% dos adolescentes que responderam a pesquisa relataram problemas no estado de ânimo. “Esses adolescentes tiveram o que chamamos de irritabilidade, uma espécie de frustração, mudança de humor e nervosismo”, destacou.

Foram coletados informações via web de 44.062 adultos e 9.470 adolescentes de 12 a 17 anos. 
De acordo com a pesquisadora, não se esperava que a pesquisa revelasse número tão grande de problemas de saúde mental. “Os dados servem para subsidiar providências para amenizar a situação, e, embora alarmantes, são dados que tratam de um momento passageiro”, avalia. 

Para Celia Landmann, o número alto de adolescentes com irritabilidade pode ter piorado em decorrência do aumento do sedentarismo na pandemia. Isso porque durante a primeira onda de casos de Covid-19 no Brasil, alguns lugares utilizados para práticas de atividades esportivas, inclusive, lugares públicos, ficaram fechados. “A prática de esporte coletivo ficou impedida, o que levou esses adolescentes a ficarem muito sedentários, além disso, começou-se a exagerar, também, no consumo dos alimentos ultraprocessados, fatores muito nocivos à saúde”, observa.  
Ela cita outro problema, ainda, que afetou o comportamento e a qualidade de vida das famílias: as condições sociais e econômicas, associadas à incidência dos problemas com o sono, durante a pandemia. “Tivemos um grande percentual de pessoas que perderam seus empregos, principalmente, trabalhadores informais”. 

Entre os entrevistados, 55% relataram diminuição da renda familiar e 7% ficaram sem rendimentos, sendo que a perda no rendimento afetou a população mais pobre. Já em relação ao trabalho, 18% ficaram sem trabalhar, sendo os mais afetados aqueles que trabalhavam por conta própria, e cerca de 51% ficaram sem trabalhar. “As famílias que tiveram dificuldades financeiras relataram um agravamento dos problemas no estado de ânimo, ficaram mais tristes, irritadas e tiveram mais problemas no sono”, destaca Celia. 

Segundo a pesquisadora, o sono é importante tanto para a manutenção da saúde física e emocional quanto para o bem-estar. “A qualidade do sono afeta não só a saúde mental como pode também afetar nossa saúde física. Nas pesquisas, observo que temos dado pouca atenção aos problemas do sono, uma questão muito importante que está relacionada com estado de ânimo das pessoas”, explica. 
Para Celia Landmann, uma das causas para os problemas de sono na pandemia pode ter sido o excesso de atribuições. “Vemos famílias que têm crianças e idosos em casa, com pouca ajuda de pessoas externas, justamente por causa dessa restrição de contatos, então muitas famílias ficaram com excesso de atividades, não só no caso dos que estavam trabalhando em home office, como em relação às tarefas domésticas. Esse excesso, pode deixar as pessoas mais preocupadas, o que pode também afetar a qualidade do sono”. 

Outro problema revelado pela pesquisa e que traz preocupação, destaca Celia, é a solidão, sentimento que atinge, principalmente, os idosos. “A pesquisa revelou que os idosos foram muitos afetados, por terem que ficar afastados. Ser do grupo de risco da doença os afetou muito, desencadeando um sentimento de solidão muito grande”. 

A ConVid – Pesquisa de Comportamentos resultou em quatro artigos científicos publicados no Espaço Temático do fascículo de março de 2021 dos Cadernos de Saúde Pública (CSP), da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz).

Redação

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