Jornal GGN – O grande atraso de operacionalizar a vacinação junto aos municípios e a falta de organização do Ministério da Saúde do governo Bolsonaro, somado à desinformação e ao desestímulo provocados pelo presidente vão afetar diretamente na imunização completa dos brasileiros. A avaliação é do médico epidemiologista Expedito José de Albuquerque Luna, em entrevista ao GGN. “Até agora, não temos uma diretriz clara para esse planejamento da vacinação por parte dos municípios.”
Luna é pesquisador do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (IMT) da USP, professor da Faculdade de Medicina da Universidade e ex-diretor de doenças transmissíveis na Secretaria de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde.
Ao GGN, ele afirmou que o governo não trouxe o caráter de operacionalização no documento informado nesta quarta (16), uma vez que a tarefa para imunizar a população não se limita ao cronograma, que está diretamente ligado à produção e disponibilidade das vacinas e de seus insumos. Segundo Luna, começa na coordenação junto aos 5.500 municípios brasileiros, que devem enviar um conjunto de informações ao Ministério da Saúde.
“Há um atraso na operacionalização desse plano. Principalmente no que diz respeito aos municípios. Na rede do SUS, os municípios são responsáveis por ofertar os serviços de saúde, ou seja, quem vacina são as Secretarias Municipais. Esses serviços já deveriam ter sido mobilizados, para organizar o microplanejamento. Isso está muito atrasado”, afirmou.
“O município tem que informar quantas unidades de vacinação tem, quantos profissionais vão estar envolvidos, qual a situação da rede de frio, situação da rede de informática para registrar os dados, situação da rede de vigilância epidemiológica para captar os possíveis eventos adversos que podem ocorrer depois da vacina, quantos profissionais vão precisar de treinamento”, explicou.
De acordo com o especialista, que tem experiência na gestão pública, soma-se a isso as trocas de Prefeituras que ocorrerão em 2021. O planejamento, segundo ele, deveria ocorrer antes das mudanças de prefeitos, recebendo o programa já encaminhado por parte do governo federal. “Nós estamos muito atrasados”, enfatizou.
Ainda sobre o plano, como epidemiologista, Expedito Luna afirma ser “frontalmente contra” a exigência do termo de consentimento por parte da população brasileira, que historicamente já tem uma ampla aceitação em campanhas de vacinação. Mas regras como este termo e mesmo a obrigatoriedade da vacina, para ele, somente provocam o efeito contrário, de afastar os cidadãos.
“Nós temos que convencer as pessoas a buscar a vacina. (…) Essa questão da obrigatoriedade é uma cortina de fumaça que atrapalha a mobilização para a vacina”, defendeu. Contudo, destacou que já existem mecanismos, hoje, no país, de induzir a população, como inserir a vacinação entre os critérios para usuários do Bolsa Família, podendo também estender esta exigência nas matrículas escolares, entre outras formas.
Em meio ao atraso exposto, a campanha de desinformação e a “paralisia” por parte do governo federal, Luna afirma que agora o Ministério da Saúde parece ter “assumido a sua competência” e o SUS terá competência para levar adiante um plano nacional e a distribuição de todas as vacinas que forem obtidas para os estados e municípios do Brasil. “Todos os envolvidos, quem trabalha nesse campo da vacinação do país tem a expectativa que seja possível chegar a um acordo e que haja um plano único do país”, concluiu.
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