Relembre: governo testou antiparasitário em pacientes Covid-19 graves

Em outubro, o GGN trouxe com exclusividade que o antiparasitário Nitazoxanida foi testado em pacientes com pneumonia

Foto: Reprodução/TV Brasil

Jornal GGN – Em pleno aumento do número de casos e mortos por Covid-19 no Brasil, em outubro, o governo de Jair Bolsonaro resolveu anunciar a próxima “salvação” contra o coronavírus – depois da cloroquina. A nitazoxanida, um medicamento sem comprovação de efeitos positivos em pacientes com a doença, que o Ministério da Ciência decidiu investir recursos públicos para testar. A imprensa divulgou amplamente o caso, no mês de outubro. O GGN trouxe com exclusividade que o antiparasitário foi testado também em pacientes graves. Confira, abaixo:

Exclusivo: governo testou antiparasitário Nitazoxanida em pacientes com pneumonia e não divulgou resultados

Por Patricia Faermann

Exaltado pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, como a nova esperança para “salvar vidas” do coronavírus, o antiparasitário Nitazoxanida (também chamado pelo nome comercial Annita), não somente foi comparado com um placebo pela prévia da pesquisa feita pelo governo, como também foi testado em pacientes em estado mais grave da doença, apresentando pneumonia, mas nenhum sinal dos resultados obtidos foi divulgado pela pasta.

A polêmica do novo fármaco tutelado pelo governo de Jair Bolsonaro foi introduzida no início da semana, quando o ministro realizou uma cerimônia, junto ao presidente, anunciando que uma pesquisa financiada pela pasta comprovaria a eficácia em pacientes leves de Covid-19.

“Em resumo, nós temos agora uma ferramenta que o Ministério da Saúde pode utilizar para ajudar a salvar vidas”, comemorou o ministro, que apresentou estes supostos resultados diante de uma imagem de um gráfico não real que indicaria a redução do vírus no paciente. Questionado sobre o estudo, a pasta informou que aguardava a publicação de uma revista científica.

Nesta sexta (23), um pré-print da pesquisa foi disponibilizado na revista científica “medRxiv”, que destacou, junto à publicação que se tratava de “relatório preliminar” que “não foi certificado por revisão” e que, assim, não deveriam “ser usados para orientar a prática clínica ou comportamento relacionado à saúde”.

Com os devidos cuidados, a prévia do estudo ainda revelou mais polêmicas: a de que o antiparasitário tinha efeito, nos 5 primeiros dias, comparável ao de um placebo, ou seja, a nada. “Em pacientes com Covid-19 moderada, não houve diferença na resolução dos sintomas, após cinco dias, entre os grupos que usaram nitazoxanida e os que tomaram placebo”, traz o artigo (acesse aqui).

Ainda, apesar de confirmar a segurança do medicamento, não provocando efeitos adversos graves nos pacientes, após uma semana, a Nitozoxanida obteve redução de carga viral em pacientes leves, segundo o estudo, mas não apresentou a redução dos sintomas nestes pacientes. Assim, o objetivo do estudo -de comprovar a eficácia do medicamento contra o coronavírus- não foi alcançada.

Ao analisar o registro de ensaios clínicos feitos com o mesmo fármaco na “Clinical Trials”, que é hoje a maior base de dados sobre estudos clínicos do mundo, o GGN encontrou não somente o registro desta pesquisa, como também de outra, realizada no mesmo período, pelo governo brasileiro com a Nitozoxanida.

Enquanto que o divulgado publicamente foi intitulado “Efeitos do uso precoce de nitazoxanida em pacientes com COVID-19” (acesse aqui), o segundo chama-se “Terapia com nitazoxanida para pacientes com pneumonia COVID-19” (aqui). A diferença, como o próprio nome diz, é que o teste foi feito em pacientes hospitalizados com pneumonia, ou seja, casos mais graves da doença.

A metodologia aplicada nestes pacientes foi similar à do primeiro estudo: metade do grupo (que neste caso totalizaram 500 pessoas) foi medicado com nitazoxanida de 500mg, a cada 8 horas, durante 5 dias, e a outra metade com um placebo, nos mesmos horários e duração.

E ao contrário do que ocorreu com o estudo em pacientes “precoces”, ou seja, que tiveram sintomas leves, os resultados deste segundo estudo financiado pelo governo Bolsonaro não foram publicados.

As informações registradas na “Clinical Trial” indicam que a pesquisa iniciou no dia 19 de abril deste ano e teria sido concluída no dia 2 de outubro. Entretanto, não há informações nem na “Clinical Trial”, ou na revista científica “medRxiv”, se a pesquisa foi efetivamente concluída e os resultados obtidos.

 

Redação

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