Temporão defende reforma fiscal para financiar a saúde pública

Da Carta Capital

Temporão defende imposto maior para fumo, álcool e carros
 
Dentre as alternativas de financiamento para o SUS o ex-ministro da saúde fala ainda em taxar alimentos processados
 
O ex-ministro da Saúde e diretor executivo do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (ISAGS), José Gomes Temporão, defendeu hoje que a reforma fiscal é fundamental para viabilizar o financiamento e a sustentabilidade da saúde pública brasileira. Para ele, sem um reordenamento tributário não haverá recursos suficientes para que o Sistema Único de Saúde (SUS) una qualidade e universalidade. O ex-ministro participou na manhã desta segunda-feira, 30, do seminário Diálogos Capitais: Saúde, os desafios da saúde no Brasil do século XXI, promovido por CartaCapital.
 
Dentro do escopo de uma reforma fiscal Temporão destaca medidas que poderiam angariar recursos, como a tributação de grandes fortunas e outras que, além de gerar dinheiro, contribuiriam para a saúde da população, como elevar a carga tributária sobre cigarros, bebidas alcoólicas e alimentos processados.

“O Brasil tem uma das menores taxas de fumantes do mundo, 15% da população, mas consome cerca de cinco milhões de maços de cigarros, pois o cigarro ainda é muito barato”, afirma. Sobre o álcool, o ex-ministro fala que, além do problema da dependência, o uso abusivo contribuiu com a elevação dos índices de violência e acidentes de trânsito. “São 100 mil mortes por homicídios e acidentes de trânsito por ano. A indústria automotiva também poderia contribuir de alguma forma”, afirmou Temporão, porém sem dar mais detalhes de como isto poderia ser feito.

Temporão defendeu também a urgência na desconstrução de alguns mitos sobre a saúde no Brasil, um deles o de que “é possível fazer mais com menos”. Para o ex-ministro é fundamental que se fortaleça a ideia de que saúde de qualidade é cara, inclusive para que a gestão seja mais eficiente. “Gestão não é ‘O’ tema. A falta de recursos, sim.”

Outro passo fundamental para a sustentabilidade do SUS, segundo Temporão, seria a destinação de 15% das receitas brutas da União à saúde. A proposta de vinculação foi apresentada pelo governo ao Congresso em 2013, caminha a passos lentos dentro da Casa, mesmo após mudanças no texto original.

O ex-ministro também elenca algumas ações que otimizariam o sistema público de saúde, como a valorização das carreiras, inclusive com a proibição de médicos trabalharem também no sistema privado; formação de gestores; e um novo papel dos órgãos de controle que, muitas vezes, engessam a administração.

“Politicamente, o sistema público expressa a necessidade de reforma do Estado, mostra que a administração pública não foi concebida para prestar serviço. Não se trata apenas da gestão de hospitais, mas da gestão de toda uma rede de serviços”, afirmou.

Temporão também enxerga problemas culturais, um deles é a falta do sentimento de pertencimento dos cidadãos ao sistema. Na sua visão, em países que adotaram o sistema universal a estrutura é vista como um patrimônio. Neste sentido, as constantes notícias negativas veiculadas pela mídia são um desserviço.

Para o secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Hêider Aurélio Pinto, também presente no debate, essa falta de pertencimento fica evidente nas pesquisas realizadas pelo Ministério. Quando questionadas sobre a experiência pessoal no SUS, a maioria tem respostas positivas, mas as críticas aparecem quando os entrevistados respondem perguntas genéricas. “Há muita diferença entre a representação social e a experiência de atendimento”, afirmou.

Por fim os debatedores discutiram a questão da saúde privada no Brasil. Hoje, 52% de todos os gastos em saúde foram para o sistema privado, seja na contratação de planos e seguros, seja nos pagamentos diretos, especialmente para a compra de medicamentos.

O dado mostra que a saúde no Brasil também é tratada de forma ideológica, uma vez que mesmo os sindicatos, representantes dos trabalhadores, embora defendam o acesso à saúde, têm como pleito constante a contratação privada de planos, via empregadores.

“No Congresso, também, ninguém obviamente é contra o SUS, mas há projetos para que as empresas sejam obrigadas a contratarem planos de saúde”, lembra Temporão. A questão, para o ex-ministro, é saber que saúde o Brasil quer. “Os Estados Unidos gastam 18% do PIB num sistema ineficiente. Na Inglaterra, saúde é questão da sociedade, não dos médicos”, concluiu.

 

Redação

4 Comentários

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  1. A ilusão do aumento de impostos

    Quem acredita que é só aumentar os impostos que todos os deficits do governo estarão cobertos, acredita que o dinheiro dos ricos está todo embaixo da cama, prontinho para ser confiscado e transformado em leitos de hospital, medicamentos e ambulatórios novinhos…

    Acontece que esse dinheiro está aplicado de várias maneiras, e quem o confiscar jogará na rua da amargura todos aqueles que dependem direta ou indiretamente da forma como esse dinheiro é aplicado. Nesse momento de recessão, aumentar a carga tributária vai piorar ainda mais a recessão e jogar mais gente no desemprego. Altas cargas tributárias são boas apenas em países onde a excelência do governo em gerir o dinheiro do impostos é amplamente reconhecida, como por exemplo os países do norte da Europa. Em países como o nosso, onde a competência e a honestidade do governo são aquelas que conhecemos, é crucial que a carga tributária seja a menor possível, para que a escassa poupança da população não seja drenada pelo governo e possa ser investida em empreendimentos privados que fazem a economia crescer.

  2. Não precisa nem ler.
    É aquela
    Não precisa nem ler.

    É aquela velha balela!

    Precisamos é reformar a Federação, a Constituição e o pacto Federativo como um todo.
    Temos cheque especial da China.

    Todo o resto, é conversa pra boi dormir.

  3. Fico pensando na qualidade

    Fico pensando na qualidade dos ministros de saúde desde 2003 e comparo com atual. O titular da pasta deu as caras hoje (dia de combate a AIDS) e disse que “a melhor profilaxia é o tratamento dos doentes”.

  4. Impostos

    E continuam querendo aumentar impostos que afetam os mais pobres, que fumam, bebem e fazem muito sacrifício para ter um carro.

    Os impostos no Brasil para os mais ricos são ridículos, por que nunca pensam em reorganizar a taxação injusta do país? 

    Tem medo do que?

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