TV GGN 20h: Lula, de estadista da paz a preso político

Confira a análise de Luis Nassif da entrevista que o ex-presidente concedeu ao Jornal GGN nesta sexta-feira, 26 de fevereiro

O programa começa com uma análise dos dados da covid-19: foram registrados 65.169 casos nesta sexta-feira, 18,3% acima do visto sete dias atrás e 17,5% acima do apurado 14 dias atrás.

A variação de sete dias mostra crescimento dos casos registrados em 13 estados, estabilidade em nove estados e queda em cinco estados – só que as quedas têm como referência uma base elevada de casos.  Rio Grande do Sul apresentou o maior avanço no total de casos, com 87,1% de alta nos casos em sete dias, seguido por Goiás, Tocantins, Distrito Federal, Espírito Santo e Minas Gerais.

Na parte de óbitos, foram registradas 1337 mortes nesta sexta-feira, mas a média diária semanal atingiu um novo pico: 1153 vidas perdidas. Os estados que estão puxando o registro de óbitos são Ceará (90,3% de alta no número de óbitos), Santa Catarina, Tocantins, Rio Grande do Sul e Pará.

“É um quadro terrível, e o que acontece hoje: aquele genocida que tem a cadeira de presidente da República deu uma entrevista sugerindo às pessoas que enfrentem o isolamento, criticando máscara para crianças (…). Uma coisa que mexe com vida, que interfere, é ouvido por milhões de pessoas e fica ‘isso é uma opinião minha’. O que faz o Supremo, o que faz o Congresso: o Congresso e o mercado estão regojizando-se com essa questão de Petrobras, é inacreditável. Instituições sem caráter”.

“O Lula fazendo campanha, criticando Bolsonaro, tudo bem, faz bem, mas não tem novidade (…) O que procurei fazer: o pessoal perdeu a noção”, afirma Nassif. “O Brasil é um país tão atrasado, a mídia é tão atrasada, as instituições são tão atrasadas, que eles não se deram conta do tamanho do Lula como estadista mundial”.

“O nível de ambição dele, o nível de expectativa dele não é do cidadão comum (…) O Collor tinha um pouco disso também, lá trás. Não é do cara comum, ele não quer riqueza – ele quer a petulância de mudar países e mundos”, diz Nassif após referência a Ortega y Gasset. “E quando o homem comum vê aquele negócio, é tão grande aquilo – imagina, um sujeito tentar fazer a paz entre Palestina e Israel, fazer o meio campo entre Obama e o Chavez, articular G8, articular G20”, ressalta Nassif. “É tão grande essa dimensão que o homem comum não consegue entender”

“A intenção nessa entrevista foi, de um lado, recuperar essa memória que ficou sufocada por essa campanha incessante. Fazer o Lula lembrar tudo o que ele já fez e atuou, principalmente a partir de 2008”, afirma Nassif. “O sucesso que ele faz entre 2008, 2010, o discurso da redução de desigualdade, os resultados conseguidos, a maneira como ele conseguia o meio campo de pacificador, que ele ganhou todo mundo. Ganhou Merkel, ganhou Tony Blair, ganhou Obama (…) Virou um personagem do mundo”.

“Agora, imagina um sujeito desse tamanho em um país atrasado. No país do Roberto Civita. No país da Globo. Um cara desse tamanho aqui, e assim como a Justiça libera procuradores e delegados a fazerem o que quiserem, a mídia estimula os jornalistas. Você pega os diálogos desses despreparados (…) da Lava-Jato: ‘ah, o nine’. ‘ah, ele vai ter 10% de desconto se for na manicure’. Ironizavam quando morreu o irmão, ironizavam quando morreu o neto”

“Então, a minha ideia era mostrar essa dimensão do Lula, e ele dá um bom depoimento. E depois contrapor ele com a casa invadida, com policiais federais entrando no seu quarto, revirando a sua cama, levando a sua mulher à morte (…) E quando ela (dona Marisa Letícia) morreu, você pega as conversas da Lava-Jato: ‘ah, ela já tinha pressão alta, agora vão querer pôr a culpa na gente’. A insensibilidade, a ferocidade que toma conta dessas mentes, quando envoltas nesses climas de paroxismo, é demais”, reitera Nassif.

“Na questão da diplomacia internacional, quais os pontos relevantes: ele (Lula) orientando toda a socialdemocracia europeia, sendo convidado para dirigir a Internacional Socialista – que junta a socialdemocracia europeia e abrindo mão, por características totalmente diferentes. A participação dele (Lula) nos Fóruns Mundiais, na OCDE – que ele foi convidado várias vezes para ir na OCDE, e ele não aceitou porque era uma bobagem. Ele sendo convidado para participar do G8, a articulação dele com o G20”

“Todo esse ponto foi importante para salientar o momento – obviamente, com toda a assessoria do Celso Amorim – o momento em que ele virou personagem global. O Brasil virou um dos maiores países do mundo em termos de influência geopolítica. Eu lembro que ali eu falava ‘puxa vida, a minha geração vai poder legar para os filhos algo melhor do que recebemos’. Daí foi um engodo, um engano”, lembra Nassif.

“O segundo ponto foi o chamado republicanismo ingênuo – até brinquei: falei ‘Deus chegou, vou dar uma mão pra esse presidente, um metalúrgico que tá fazendo tanta coisa boa, vou dar um ensaio pra ele de golpe que é o Mensalão para ver se aprende’. E não aprendeu, efetivamente”, pontua Nassif. “Ele até falou uma coisa interessante: no tempo dele, fizeram a indicação do Luiz Edson Fachin e ele não indicou. Não disse a razão. Disse que ele era muito bem recomendado, mas não disse a razão”.

“Ele falou um negócio muito interessante de um recadinho que recebeu, um bilhetinho que ele recebeu de um ex-presidente, depois ele falou que era o Sarney, para ele tomar cuidado com três indicações: Forças Armadas, Receita e Procuradoria-Geral da República, o Ministério Público. Eles não tem um voto, mas são capazes de derrubar presidentes”

“Também provoquei em relação a três pontos que ele falhou: a questão da Procuradoria-Geral da República, a questão do mercado e a mídia”, pontua Nassif.

Outros pontos também foram abordados durante o programa, como o tempo em que Lula ficou internado no Hospital Israelita Albert Einstein: “em uma determinada noite (…) disse que o Lula pensou em sair do seu apartamento e ir até no da Dilma para conversar com ela sobre a possibilidade dele assumir a candidatura para a Presidência”.

“E, nesse mesmo dia, ele ouviu da Dilma que o direito era dela, que o combinado desde o início era que ela seria a candidata, que ela não iria ceder (…) Ele disse dois pontos: que a Dilma era a pessoa mais leal que ele já conheceu, lealdade a toda prova. E no segundo ele desconversou: ele falou ‘eu queria me candidatar a presidente, mas jamais aceitaria se não fosse com a concordância da Dilma’. Obviamente a Dilma não concordou”.

“E outro ponto foi um episódio interessante: estava internado, em seus últimos dias, o Roberto Civita, que foi o responsável (…) de toda aquela campanha deplorável da Veja, inclusive contra os filhos. Ele foi visitar o Roberto Civita com a dona Marisa, e chegou lá (não foi na revanche, desejou melhoras e tudo), e o Roberto Civita – ele disse que o Ricardo Kotscho já publicou isso – pediu desculpas pelo que tinha feito com os filhos dele”

“Fora isso, ele fez os discursos colocando-se como crítico de Bolsonaro, como oposição. Ele falou algumas coisas, que a oposição não tem que contemporizar, a oposição tem que ser oposição. Você tem que ser uma alternativa de poder”.

“Um ponto importante: ele (Lula) falando do Conselhão, que foi essencial para fazer grandes pactos e grandes ideias. Ele disse que, no primeiro Conselhão que ele montou, ele soube que o Jorge Gerdau estava articulando com os empresários para ter uma frente. A articulação do Gerdau, provavelmente, era para implantar programas de qualidade dentro do governo (…) Mas o que fez ele: na hora do Conselhão, ele colocou os extremos juntos. Ao lado do Gerdau, colocou um sujeito de central sindical (…) Todo o ponto dele consistia nisso: juntar pessoas diferentes e tentar chegar a acordos e sínteses (…)”, explica Nassif.

Outro ponto relevante é apontado: o papel de Lula como gestor. Segundo Nassif: “O que ele fazia: tinha a reunião, ele estimulava que as pessoas levassem ideias, que tinham que passar por três crivos: o que é bom para o país, o que é bom para o povo, e o que é bom para o meu governo”.

“Quando ele comprava a ideia, ele falava ‘a ideia não é mais do ministro, a ideia é do governo, porque tem que ter abrangência’. E aí, ele pegava aquela ideia, a secretária dele criava um jornal diário e passava para todos os ministros para eles saberem o que estava acontecendo. E cada qual agregava contribuições”, explica Nassif. “O que ele fazia era ajustar e facilitar a interação entre os ministros. O Haddad uma vez me falou: que o Lula ligou para ele dizendo ‘Haddad, tô precisando de uma notícia boa de educação’, o Haddad falou ‘ah, eu tenho uma aqui mas o Palocci tá encrespando’. Ele liga para o Palocci e resolve aquela questão”.

Redação

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